Emprego das interjeições em contos infantis em português



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Transcrição:

MASARYKOVA UNIVERZITA V BRNĚ Filozofická fakulta Ústav románských jazyků a literatur Portugalský jazyk a literatura Bc. Linda Hříbalová Emprego das interjeições em contos infantis em português Magisterská diplomová práce Vedoucí práce: Mgr. Iva Svobodová, Ph.D. Brno 2012

Prohlašuji, že jsem diplomovou práci vypracovala samostatně s využitím uvedených pramenů a literatury. Taktéž prohlašuji, že tištěná verze je shodná s elektronickou. V Brně dne.

Chtěla bych touto formou poděkovat Mgr. Ivě Svobodové, Ph.D. za cenné rady, ochotu a trpělivost při vedení mé práce. Dále mé rodině a blízkým přátelům za podporu.

Índice Introdução... 6 Parte teórica... 8 1. Estatuto linguístico das interjeições... 8 2. Descrição linguística das interjeições... 12 2.1. Propriedades morfológicas... 12 2.2. Propriedades semânticas... 14 2.3. Propriedades fonético-fonológicas... 16 2.4. Propriedades sintáticas... 16 3. Função das interjeições no processo de comunicação... 18 4. Onomatopeias... 21 4.1. Definição das onomatopeias... 21 4.2. Tipos das onomatopeias... 22 4.3. Função das onomatopeias... 23 5. Classificação das interjeições... 24 Parte prática... 36 6. Introdução... 36 7. Metodologia... 38 8. Contos infantis... 41 9. Parte analítica... 42 9.1. Análise segundo a maior frequência de cada tipo de interjeição... 42 9.1.1. Interjeições primitivas e puras... 43 9.1.2. Onomatopeias... 48 9.1.2.1. Influência da língua inglesa... 48 9.1.2.2. Onomatopeias mais frequentes... 49 9.1.2.3. Particularidades das onomatopeias... 51 4

9.1.2.4. Propriedades morfológicas... 52 9.1.2.5. Propriedades fonético-fonológicas... 53 9.1.3. Interjeições secundárias... 55 9.1.4. Interjeições verdadeiras... 58 9.1.5. Locuções interjetivas... 59 9.2. Interjeições na frase... 63 9.2.1. Interjeições primitivas... 63 9.2.2. Onomatopeias... 65 9.2.3. Interjeições secundárias... 66 9.2.4. Verdadeiras interjeições... 67 9.2.5. Locuções interjetivas... 68 10. Conclusão... 69 11. Referências bibliográficas... 72 12. Dicionários... 74 13. Páginas da internet... 76 5

Introdução O presente estudo constará de duas partes principais: a teórica e a prática. O objetivo da parte teórica será apresentar as definições das interjeições, descrever as suas principais características, classificá-las, de acordo com as respetivas teorias, e analisar os seus traços diferenciadores pelas que diferem das outras classes gramaticais. Na parte prática, procederemos à nossa própria investigação, que consistirá na procura e na análise das interjeições em contos infantis. A escolha deste tema como o tema da tese final tem sua justificação empírica. Durante os meus estudos universitários, primeiro na Universidade de Masaryk em Brno e depois também nas Universidades de Coimbra e do Porto, reparei num uso bastante frequente destas expressões peculiares. O que se destacou foi a capacidade de contribuírem significativamente para que o texto falado se tornasse mais autêntico, dinâmico e vivo. Além disso, achei-as sempre muito peculiares tanto do ponto de vista formal, como do ponto de vista semântico. Ao entrar a aprofundar os conhecimentos relativos a este fenómeno linguístico, reparámos que os autores das gramáticas normativas e dos diferentes estudos linguísticos que se ocupam desta problemática, não apresentavam definições homogêneas, o que é natural sendo que o mesmo se dá também em outras classes gramaticais. No nosso trabalho, formado por cinco capítulos, serão incluídas, logo no primeiro capítulo, as diferentes opiniões: uns considerarão as interjeições como uma classe lexical igual às outras e defini-las-ão sob o ponto de vista emotivo como as palavras que exprimem emoções, sentimentos e sensações (Bechara:2001;p.330, Gomes:2006;p.33), outros irão rejeitar esta ideia e definirão a interjeição apenas como uma palavra sem esta pertencer a uma classe lexical (por ex.: Cunha e Cintra:2001;p.396, Back e Mattos:1972;p.349-350, A. de Morais Silva:1831;p.22., Carone:1986;p.47). No segundo capítulo descreveremos as características das interjeições dos pontos de vista formal, semântico e fonológico. Também analisaremos a função sintática das interjeições, e a sua integração na oração, sendo que também aqui nos encontraremos com várias discussões sobre se a interjeição é, ou não é, constituinte da frase. 6

No terceiro capítulo partiremos das opiniões dos linguistas de que as interjeições são constituintes da frase. Este terceiro capítulo terá como finalidade a de enumerar as funções sintáticas que podem, então, ser desempenhadas pelas interjeições. O quarto capítulo será dedicado à problemática das onomatopeias que representam um caso importante na área por nós estudada. A intenção de dedicarmos às onomatopeias um capítulo à parte condiz com a estrutura encontrada no estudo de João da Silva Correia, o qual nos serviu de base na parte prática 1. Também Gonçalves (Gonçalves:2002;p.346) classifica as onomatopeias como um grupo separado de sentido imitativo dentro dos gritos articulados. Devido à aparente semelhança entre estes dois fenômenos linguísticos consideramos importante distingui-los para não criar confusão. Neste quarto capítulo definiremos e caracterizaremos as onomatopeias dos pontos de vista formal e semântico, e à continuação, enumeraremos os seus diferentes tipos. Na parte final, descreveremos várias funções e papéis que elas desempenham na frase ou no texto. No último capítulo classificaremos as interjeições segundo vários critérios. Ao contrário da homogeneidade que existe nas classificações das interjeições checas, no caso de português, de acordo com o que foi referido acima, as classificações das interjeições apresentam uma considerável variabilidade, que também será refletida nesta parte teórica. A parte prática deste trabalho consistirá em nossa própria investigação, dedicada ao problema de uso das interjeições nos contos infantis portugueses e brasileiros. Escolhemos justamente os contos de fadas por se tratar do género literário que, junto com as histórias em quadrinhos, apresenta o número mais elevado de ocorrências de interjeições e de locuções interjetivas. A ideia da realização desta pesquisa surgiu inicialmente do desejo de desenvolver um trabalho que abrangesse o uso de interjeições em diferentes tipos de textos, mas a extensão limitada estabelecida pelas normas relativas à elaboração das teses finais, não nos permitiu fazer um estudo tão extenso. Por isso escolhemos o tipo textual que se mostrou ser o mais prototípico no âmbito do fenómeno por nós estudado, e, por isso, também o mais interessante e o mais apropriado para o nosso estudo. 11 CORREIA, João da Silva, Considerações gerais sobre a denominação, as espécies, os domínios e os processos da interjeição. [online]. [cit. 2011-03-11] Disponível em: <http://cvc.institutocamoes.pt/bdc/etnologia/revistalusitana/32/lusitana32_pag_234.pdf> 7

Parte teórica 1. Estatuto linguístico das interjeições Comecemos por procurar a resposta à pergunta colocada: O que é uma interjeição?. A resposta poderia ser dubitativa e ambígua: Grito, palavra, frase? Ora, parece que é um assunto que gera muitas discussões. Existem diferentes opiniões: umas que defendem que as interjeições são palavras e que constituem uma classe lexical separada representada por gritos, instintivos ou até frases emocionais, e outras que estipulam o contrário. Neste capítulo incluiremos as definições encontradas em diferentes gramáticas normativas, dicionários e estudos linguísticos sobre as interjeições. Apesar de as interjeições serem incluídas nas gramáticas, dicionários e nos estudos linguísticos, além de poucas exceções são tratadas de uma forma muito concisa. Nas gramáticas normativas ocupam sempre um dos últimos lugares, sendo consideradas a última classe lexical, precisamente por não desempenhar nenhuma função sintática. As definições usadas pelas gramáticas normativas são homogéneas (Bechara:2001;p.330, Rocha Lima:2010;p.189, Gomes:2006;p.339). As interjeições expressam sentimentos, sensações e emoções, mas existe algo mais que as distingue das outras classes de palavras. J. S. Barbosa 2 menciona que as interjeições deviam ser relatadas nas gramáticas normativas logo no início antes dos nomes e de outras classes de palavras porque pertencem à linguagem primitiva, ou seja, são as primeiras palavras que aprendemos quando nascemos. Entre os gramáticos que analisam as interjeições sob o ponto de vista emotivo, mencione-se o gramático e linguista brasileiro E. Bechara, que julga que a interjeição é a expressão com que traduzimos os nossos estados emotivos (Bechara:2001;p.330). Para Rocha Lima é simplesmente a palavra que exprime emoção (Rocha Lima:2010;p.189). Também A. Gomes, considera as interjeições palavras que têm a 2 SOARES BARBOSA, Jeronymo, Grammatica philosophica da língua portugueza. [online]. [cit. 2011-12-11] Disponível em: <http://books.google.cz/books?id=- 10SAAAAIAAJ&printsec=frontcover&vq=barbosa+1871&hl=pt- PT#v=onepage&q=interjei%C3%A7%C3%B5es&f=false> 8

função emotiva, exprimindo sentidos e emoções (Gomes:2006;p.339). Para C. Henriques são manifestações emotivas ou expressivas do falante, caracterizadas como palavras ou expressões ligadas à primeira pessoa do discurso (Henriques:2007;p.107). Todas estas gramáticas definem as interjeições como uma classe lexical. Outros linguistas, como por exemplo Cunha e Cintra (Cunha e Cintra,2001;p.396), Eurico Back e Geraldo Mattos (Back e Mattos,1972;p.349-350), definem a interjeição como uma palavra, locução ou uma espécie de grito equivalente a uma frase que de maneira nenhuma pode caracterizar-se como uma classe de palavras. Defendem esta opinião argumentando que as interjeições aparecerem só na linguagem falada onde têm um valor afetivo e expressivo. António de Morais Silva na sua antiga gramática ainda do século XIX diz que as interjeições são: paixões violentas que se exprimem em uma, ou poucas palavras, as que equivalem a uma sentença 3. Também Lopes na sua análise considera esta opinião equívoca, sendo imprópria a inclusão nas 10 classes lexicais por uma outra razão: segundo ele, a interjeição não é só uma palavra. Na realidade, a interjeição é uma frase de situação do tipo frasícula (frase muito reduzida) que possui a peculiaridade de não admitir a primeira articulação, isto é, a possibilidade de ser segmentada em morfemas 4 Acrescenta: Trata-se, portanto, de uma representação figurativa associada a uma entonação peculiar manifesta mediante diversas modalidades de frase, tais como a apelativa ( Socorro!), a interrogativa ( Hem!), a dubidativa ( Hum!), a imperativa (Psiu!), a negativa(hum-hum), a optativa (Tomara!), a exortativa (Coragem!) etc. 5 Sobre a impossibilidade de dividir a interjeição em morfemas fala também Carone e completa: 3 DE MORAIS SILVA, António, Diccionario da lingua portugueza. 1831 [online]. [cit. 2011-12-11] Disponível em: <http://books.google.cz/books?id=okzdaaaayaaj&pg=pr42&dq=interjei%c3%a7%c3%b5es&hl =pt-pt&ei=2jy4trrfe8-fwb6472ebg&sa=x&oi=book_result&ct=result&redir_esc=y#v=onepage&q=interjei%c3%a7%c3%b5 es&f=false> 4 LOPES, Carlos Alberto Gonçalves, Análise crítica de alguns tópicos da gramática normativa adotada nas escolas brasileiras. [online]. [cit. 2012-02-13] Disponível em: <http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_3/2309-2323.pdf> 5 Ibid. 9

Não sendo as interjeições um tipo de vocábulo, não as podemos classificar como uma classe de palavra. As interjeições ah, ui não podemos dividir em morfemas e só ditos com certa entonação, em tom exclamativo podem levar um significado (Carone,1946;p.47). Também Gonçalves, no seu estudo A interjeição em português, fala sobre a condição e função das interjeições na frase: Enunciar uma interjeição não significa exprimir apenas algo, mas bem mais do que isso: manifestamos, representamos, utilizando-a como um objecto discursivo numa estratégia elaborada e dirigida a um alocutário. E é a este nível que a interjeição se relaciona com os constituintes da frase ou com a frase em si mesma. (Gonçalves:2002;p.12) Vejamos como alguns dicionários definem as interjeições. O dicionário Priberam define a interjeição tanto como uma palavra como uma voz: voz, palavra ou locução que exprime com energia os afetos do ânimo 6. Também o dicionário Porto Editora diz que interjeição é: vocábulo ou expressão de carácter sugestivo usada para traduzir um sentimento ou reação súbita (dor, alegria, admiração, etc.), para dar uma ordem, para chamar a atenção ou ainda para imitar um som 7. A definição do dicionário de Houaiss parece ser semelhante às outras definições, contudo, acrescenta a possibilidade de as interjeições formarem frases. Segundo Houaiss (Houaiss,2007), a interjeição é: palavra invariável ou sintagma, que com entonação peculiar, geralmente sem combinar-se gramaticalmente com elementos de oração, formam, por si sós, frases que exprimem uma emoção, uma sensação, uma ordem, um apelo ou descrevem um ruído (p.ex.: psiu! Oh! Coragem! Meu Deus!). Mattoso Câmara partilha a mesma ideia, que a interjeição pode ser uma frase, dizendo que a interjeição é verdadeira palavra-frase, pela qual o falante, impregnado de emoção, procura exprimir o seu estado psíquico num momento súbito, em vez de se exprimir por uma frase logicamente organizada (Câmara,1977;p.147). 6 "interjeição", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2010, http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx?pal=interjeição [consultado em 08-05-2012]. 7 Infopédia. [online]. [cit. 2011-05-08] Disponível em: <http://www.infopedia.pt/pesquisa.jsp?qsfiltro=0&qsexpr=interjei%c3%a7%c3%a3o > 10

Afastemo-nos agora da questão de se considerar ou não as interjeições como classe lexical e vejamos, em que todos os gramáticos concordam: todos estão de acordo com que as interjeições são uma classe fechada e autónoma não tendo nenhumas relações com outras palavras. As interjeições são dependentes do contexto, mas não transmitem mais do que a atitude do falante. O conteúdo concreto das interjeições só se revela através do contexto. Caldas 8 divide as interjeições em 1. Interjeições com a função de representação e 2. Interjeições com a função expressiva. As interjeições com a função de representação dividem-se em arbitrárias (por exemplo: bingo!) que não são imitação dos sons, e onomatopaicamente motivadas que são as onomatopeias que conhecemos das histórias em quadrinhos. A maioria das interjeições tem a função expressiva e dividimo-las em palavras de sensações, expressões de sentimentos (os dois grupos ainda divididos entre positivas e negativas) e expressões de atitudes (com subdivisão de neutras: indiferença ou surpresa e avaliativas: negativas e positivas). Curiosamente, o problema relativo às interjeições e à sua autonomia lexical, ocorre também em castelhano. Vejamos algumas das opiniões. Amador (Amador:1998;p.358) no seu livro sobre a gramática espanhola mostra várias opiniões de diferentes gramáticos espanhóis. Menciona a definição da Real Academia Espanhola que já não define a interjeição como uma palavra, mas antes como uma voz com a qual exprimimos uma impressão causada por algo que vemos, sentimos, ouvimos, recordamos, queremos ou desejamos. Os gramáticos gregos classificavam as interjeições como os advérbios, não sendo parecidas com nenhumas outras classes de palavras e ligando-se com o verbo. Também o autor da primeira gramática espanhola, António de Nebrija, aceita a opinião dos gregos classificando as interjeições como advérbios. O gramático latino Donato e outros gramáticos espanhóis seguem a opinião de Nebrija, justificando a inclusão nos advérbios pelo facto de as interjeições serem vozes que exprimem o afeto interior da alma e por serem invariáveis. E não sendo núcleos sintagmáticos (coordinantes ou subordinantes), só podem ser percebidos como parte independente da oração. 8 CALDAS DE, Raoni Naraoka, Estudo linguístico comparativo sobre onomatopeias em histórias em quadrinhos:português-alemão. [online]. [cit. 2011-12-11] Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/dlm/alemao/pandaemoniumgermanicum/site/images/pdf/ed2011-2/10_raoni_caldas_onomatopeias.pdf> 11

Calvo 9 inclui as interjeições nos advérbios chamados de actitud oracional (que explica como uma atitude do falante para o conteúdo do seu discurso) sendo as interjeições os elementos que manifestam a atitude do falante. Segundo ele, as interjeições não têm o significado específico suportando só de maneira expressiva uma situação afirmativa, negativa, dubitativa ou de qualquer outra do enunciado. 2. Descrição linguística das interjeições No presente capítulo apresentaremos as propriedades morfológicas, semânticas, fonético-fonológicas e sintáticas das interjeições. 2.1. Propriedades morfológicas As interjeições caracterizam-se pela sua peculiaridade formal, o que é uma das principais características que as distingue das outras classes gramaticais. Do ponto de vista formal, podemos dividir as interjeições em simples (constituídas por uma só palavra) e em locuções interjetivas (constituídas por duas ou mais de duas palavras) que são derivadas das frases ou palavras que perderam o seu significado original. Em linguagem contemporânea, ao desejarmos enunciar o número máximo de informações em pouco tempo, predominantemente utilizamos, para este fim, as interjeições simples. São palavras invariáveis, ou seja, não são submetidas nem à flexão nominal (as palavras não variam em género, número ou grau), nem à flexão verbal (não existem as categorias gramaticais de pessoa, tempo, modo, aspeto ou voz), com a exceção de algumas poucas interjeições que em certos contextos podem variar em grau, tendo depois um valor ainda mais expressivo. Isto acontece sobretudo nas interjeições secundárias - palavras derivadas pelo processo de conversão. Por exemplo na expressão: Verdade, verdadinha! a palavra derivada pelo processo de conversão verdadinha - 9 GONZÁLEZ CALVO, José Manuel, Sobre partes de la oración: artículo, pronombre, adverbio, interjección. [online]. [cit. 2012-03-10] Disponível em: <http://cvc.cervantes.es/literatura/cauce/pdf/cauce14-15/cauce14-15_09.pdf > 12

varia em grau. O sufixo diminutivo no elemento repetido funciona como sufixo de avaliação para dar maior ênfase à expressão. 10 Aos traços específicos do ponto de vista formal pertence a capacidade de formar rimas, por exemplo: tiquetaque (onomatopeia com que se exprime o ruído proveniente de um movimento regular e cadenciado). Outro traço importante é a quantidade vocálica das interjeições que se depreende da diferente duração dos fonemas neles contidos. Sobre este aspeto falaremos também no capítulo 2.3. dedicado aos aspetos fonético-fonológicos das interjeições. Mencionemos como um exemplo a interjeição primitiva aaaaaaaah ou a onomatopeia méé (balido de ovelha). Também a elipse de elementos é um processo característico das interjeições, sobre tudo das palavras derivadas pelo processo de conversão: Silêncio! Esquerda, rodar! Outro processo importante do ponto de vista formal é a repetição vocabular. Segundo o estudo de João da Silva Correia 11, algumas interjeições usam-se repetidas para dar maior ênfase ao sentimento que denotam. A repetição do mesmo termo linguístico pode ser assindética (o elemento repetido é ligado somente por vírgula), o que é mais comum: Longe, longe! Velho, velho! ou sindética (o segundo elemento é separado por conetivos, neste caso conjunção e) Rico e rico! Também temos locuções interjetivas onde o elemento repetido é acompanhado pela conjunção: estúpido, mas estúpido! ou pelo advérbio: longe, muito longe! Destaque-se também, como a última peculiaridade das interjeições do ponto de vista formal, as combinações atípicas dos fonemas: atchim 12, tch, tsk (Gonçalves:2002;p.347). Herculano de Carvalho até diz que se trata duma configuração fónica inteiramente alheia ao sistema do português (Carvalho:1979 em Gonçalves:2002;p.347). 10 CORREIA, João da Silva, Considerações gerais sobre a denominação, as espécies, os domínios e os processos da interjeição. [online]. [cit. 2011-03-11] Disponível em: <http://cvc.institutocamoes.pt/bdc/etnologia/revistalusitana/32/lusitana32_pag_234.pdf> 11 Ibid. 12 Ibid. 13

2.2. Propriedades semânticas Interjeições são palavras semanticamente plenas, também chamadas lexicais ou nocionais, possuindo uma significação própria também quando são isoladas, fora da frase. O sentido das interjeições depende muito do contexto e da entoação. A mesma interjeição pode exprimir vários sentimentos, até mesmo opostos. Por isso é sempre importante o tom de voz ou os gestos que a acompanham para reconhecer o significado da interjeição. Por exemplo a interjeição ah pode aparecer em vários contextos com diferentes significados: Ainda agora estava a acabar de te escrever, senti uma coisa a magoar-me, ah! 13 (a interjeição ah exprime a dor) ah!, era a escova de dentes. 14 (a interjeição ah exprime a compreensão) ah, como a vida teria sido diferente se eu tivesse dito não! 15 (a interjeição ah exprime o arrependimento) Depois, há os Descobrimentos e blá blá, somos todos heróis, o mar, o fado, caravelas e saudade, ah que saudades do Império (do cinema, bem entendido...), Camões, Fernão Mendes Pinto, o Centro Cultural de Belém e para o ano, se Deus quiser e não houver bronca entretanto, a CEE. 16 (a interjeição ah exprime a saudade) Como vemos nos exemplos anteriores, a interpretação da interjeição ah é contextualmente dependente, adquirindo vários sentidos e exprimindo sentimentos diferentes de acordo com o contexto. Por outro lado, por exemplo, as interjeições Ui! ou Oh, já são semanticamente mais unívocas, sendo acompanhadas por uma entoação num texto falado, por ex.: Ui! Que frio!, Oh! Ninguém esperava isto! (Gomes:2006;p.339). 13 Paulo Alexandre Rocha & Diana Santos, CETEMPúblico: Um corpus de grandes dimensões de linguagem jornalística portuguesa. par=ext494723-nd-95a-1 [online]. [cit. 2011-05-08] Disponível em: <http://www.linguateca.pt/acdc/> 14 Paulo Alexandre Rocha & Diana Santos, CETEMPúblico: Um corpus de grandes dimensões de linguagem jornalística portuguesa. par=ext494723-nd-95a-1 [online]. [cit. 2011-05-08] Disponível em: <http://www.linguateca.pt/acdc/> 15 Paulo Alexandre Rocha & Diana Santos, CETEMPúblico: Um corpus de grandes dimensões de linguagem jornalística portuguesa. par=ext769213-nd-95a-2 [online]. [cit. 2011-05-08] Disponível em: <http://www.linguateca.pt/acdc/> 16 Paulo Alexandre Rocha & Diana Santos, CETEMPúblico: Um corpus de grandes dimensões de linguagem jornalística portuguesa. par=ext9781-nd-91b-2 [online]. [cit. 2011-05-08] Disponível em: <http://www.linguateca.pt/acdc/> 14

Do ponto de vista semântico, segundo a origem das interjeições, ou seja, segundo o significado original, podemos dividir as interjeições em primárias e secundárias. As interjeições primárias são as que pertencem inerentemente às interjeições, não foram derivadas das outras classes lexicais e na maioria das vezes nem sabemos a origem. As secundárias são as que passaram a ser interjeição por conversão. Pronunciando-se numa certa entoação perderam o seu significado original, por exemplo a interjeição secundária em português olha! já perdeu a conotação semântica com o verbo olhar e quase que não tem nada a ver com esse verbo, serve só para chamar atenção de alguma pessoa. A origem das interjeições é muito variada. Todas as partes da oração podem contribuir para formá-las, quando a interjeição deriva do ruído, possível de segmentar em fonemas. Mas, por outro lado, há interjeições que são originalmente nomes: (Cuidado! Fogo!) outras que são adjetivos: (Bravo! Bom!), verbos: (Olha! Anda!) advérbios: (Aqui! Como? Já!), conjunções (Pois), e até pronomes: (Que?). 17 Ao mesmo tempo há interjeições que, apesar de serem mencionadas nos dicionários, caem em desuso. As interjeições, tal como outros elementos linguísticos, são também dialetologicamente variáveis, sendo usadas de um modo diferente nas variedades (variantes) e subvariedades (subvariantes) diatópicas da língua portuguesa. Relembre-se que para exprimir o mesmo sentimento existem diferentes expressões no Brasil e em Portugal, ou no caso extremo, a mesma interjeição apresenta diferentes sentidos em diferentes variantes da língua portuguesa. A. Gomes menciona como exemplo a expressão Jesus!, a qual pode ser substituída noutras variedades por Santinho! Viva! ou Saúde! (Gomes:2006;p.340). No que se refere às interjeições primitivas, estas dependem sobretudo do repertório fonético de cada língua. Há muitos fonemas (ou combinações de fonemas) que em diferentes línguas conotam diferentes significados, por exemplo Ai! em português e espanhol exprime dor, enquanto que em alemão conota a alegria ou a surpresa (Lenz:1922 em Amador:1998;p.358). 17 CORREIA, João da Silva, Considerações gerais sobre a denominação, as espécies, os domínios e os processos da interjeição. [online]. [cit. 2011-03-11] Disponível em: <http://cvc.institutocamoes.pt/bdc/etnologia/revistalusitana/32/lusitana32_pag_234.pdf> 15

2.3. Propriedades fonético-fonológicas Do ponto de vista fonológico, a interjeição realiza-se por vários processos, dos quais o mais importante é a entoação. A entoação pode mudar completamente de significado da interjeição: por exemplo, na interjeição Senhor! é o tom o fator semanticamente decisivo que contribui para a interpretação correta da enunciação (indignação ou ameaça) à qual pode atribuir também a propriedade exclamativa, interrogativa ou até imperativa: Tu calas-te? Ou no campo das interjeições do sentimento: Isto pode ser? Outra característica importante do ponto de vista fonológico é a intensidade com que é pronunciada a palavra. Por vezes a intensidade das expressões exclamativas é tão forte que se cria outro acento nas primeiras sílabas e ao mesmo tempo permanece o acento na sílaba onde estava, como no caso da palavra: espan...toso! Como já mencionámos no capítulo 2.1. que tratou sobre a quantidade vocálica, também a duração dos sons é muito importante e pode afetar fonema e sílabas. Há muitíssimas interjeições deste tipo: enooorme! Podemos notar o mesmo prolongamento nos fonemas iniciais dalgumas interjeições admirativas: fffortissimo! Também é frequente fazer uma pausa entre sílabas nas mesmas interjeições admirativas: Dis tin tí ssi mo! 18 2.4. Propriedades sintáticas Já o nome mostra que as interjeições (inter-jeições, ou intercalações o nome vem do latim onde interjectione quer dizer interrupção ou interposição) se enquadram de modo autónomo na enunciação sendo consideradas como uma explosão afetiva intercalar. 19 Correia 20 denomina as interjeições profrase, ou seja, um sinal linguístico equivalente a uma frase. Não podem ser consideradas como uma parte da oração porque se equiparam com uma oração inteira. As interjeições na maioria das vezes têm existência autónoma, ou seja, não entram em construções sintáticas. Por si mesmas 18 CORREIA, João da Silva, Considerações gerais sobre a denominação, as espécies, os domínios e os processos da interjeição. [online]. [cit. 2011-03-11] Disponível em: <http://cvc.institutocamoes.pt/bdc/etnologia/revistalusitana/32/lusitana32_pag_234.pdf> 19 Ibid. 20 Ibid. 16

levam um significado, e sendo assim são equivalentes a uma frase, o que as distingue das outras classes de palavras. Lenz, gramático espanhol, não considera a interjeição como uma parte de oração, nem como uma oração, mas antes como equivalente a uma oração. Não obstante, as exclamações como bravo! e também os vocativos podem considerar-se como partes da oração. E os imperativos podem substituir orações completas, uma vez que o sujeito no enunciado Vem! é expresso tão claramente como em Vens? Acrescenta que a interjeição é un elemento humano sendo a pronúncia duma interjeição acompanhada pelos gestos e movimentos das mãos sem entrar nas relações gramaticais com a língua. (Lenz:1922 em Amador:1998;p.358) O caráter independente das interjeições dentro da oração faz com que a interjeição não possa nunca perder o seu acento prosódico 21, ou seja, não pode figurar como proclítica à palavra seguinte, nem no caso das interjeições repetidas. Por exemplo: Ai mísero de mim! Ai infeliz! 22 Os dois ai têm de levar o acento prosódico, tanto como no caso da repetição olha, olha que não pode ser pronunciado como uma palavra por sinalefa: olhaolha. (Amador:1998;p.358) As interjeições que podem entrar em construções sintáticas são sobretudo aquelas que se usam mais frequentemente para designar movimento ou sons, chamadas onomatopeias. Tornam-se substantivos ou verbos tendo a função de predicado, sujeito, objeto direto e indireto. Nesses casos não se separam do resto da frase por vírgula na escrita, nem por pausa no discurso oral, como vemos nos exemplos a seguir. As funções que podem ser desempenhadas pelas interjeições são: - sujeito: o tiquetaque mantinha-se imperturbável. 23 - objeto direto: palavras que fazem tiquetaque 24 E com uma brutalidade extraordinária e fulminante, dado que ergueu a cadeira e rebentou o sobrolho do 21 Acento prosódico é aquele que aparece em todas as palavras que possuem duas ou mais sílabas e recai na sílaba tónica, enquanto que o acento gráfico marca a sílaba tónica só de algumas palavras sendo o acento da escrita. 22 CALDERÓN DE LA BARCA, Pedro, A vida é sonho. [online]. [cit. 2012-03-11] Disponível em: <http://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=ai%2c%20pobre%20de%20mim%2c%20ai%20infeliz%20 segismundo&source=web&cd=3&ved=0cdiqfjac&url=http%3a%2f%2fwww.casaraodobelvedere.co m.br%2fcalderon%2findex_arquivos%2fa%2520vida%2520e%2520sonho_primeira%2520jo RNADA.doc&ei=WVVfT9WyO43mtQa_ndy2Bg&usg=AFQjCNGShMLDljWspRtsVkps2OZMpyLwF A&cad=rja> 23 Paulo Alexandre Rocha & Diana Santos, CETEMPúblico: Um corpus de grandes dimensões de linguagem jornalística portuguesa. par=ext114119-clt-95a-1 [online]. [cit. 2011-05-08] Disponível em: <http://www.linguateca.pt/acdc/> 17

empregado sem que este tivesse tempo de dizer ai nem ui, obviamente disse-os depois. 25 - adjunto adverbial de modo: Gomes adiantou que há um orçamento que aponta para os 400 mil contos, ao que Guterres respondeu com um cauteloso upa. 26 -objeto indireto: E, atónitos, os espectadores assistiram às denúncias do regabofe do grande capital, do comunista Agostinho Lopes, à defesa do cidadão médio, pelo centrista Baião Horta, aos upa, upa de Carneiro Jacinto, comentando o score do PS na sondagem, ao apelo de Vitorino para que os socialistas sejam humildes face àqueles números e aos lamentos de um professor brasileiro de Educação Física, que se queixava por fax de que não o deixam trabalhar. 27 3. Função das interjeições no processo de comunicação Neste capítulo falaremos sobre a função das interjeições e o papel que desempenham na língua, falada e escrita. Também neste aspeto os linguistas frequentemente discordam. A interjeição, junto com a entoação da frase, constitui uma expressão mais visível da afetividade da língua. Mas não se limita a expressar os sentimentos, também desempenha outras funções linguísticas, como chamar alguém, despertar interesse, provocar uma ação, acalmar, desafiar, mandar alguém sair, seduzir, exprimir stress, surpresa, etc. De um modo geral podemos constatar que as interjeições enriquecem o discurso e a enunciação ajudando a exteriorizar imediatamente o que o narrador sente e o que o ouvinte ouve. As interjeições, num certo contexto do discurso, exprimem rápida e exatamente algumas enunciações, substituindo assim tanto as frases simples como as frases compostas. Diferentes meios paralinguísticos, como por 24 Paulo Alexandre Rocha & Diana Santos, CETEMPúblico: Um corpus de grandes dimensões de linguagem jornalística portuguesa. par=ext1136641-clt-94b-1 [online]. [cit. 2011-05-08] Disponível em: <http://www.linguateca.pt/acdc/> 25 Paulo Alexandre Rocha & Diana Santos, CETEMPúblico: Um corpus de grandes dimensões de linguagem jornalística portuguesa. par=ext871691-soc-98a-1 [online]. [cit. 2011-05-08] Disponível em: <http://www.linguateca.pt/acdc/> 26 Paulo Alexandre Rocha & Diana Santos, CETEMPúblico: Um corpus de grandes dimensões de linguagem jornalística portuguesa. par=ext1351078-soc-95b-2 [online]. [cit. 2011-05-08] Disponível em: <http://www.linguateca.pt/acdc/> 27 Paulo Alexandre Rocha & Diana Santos, CETEMPúblico: Um corpus de grandes dimensões de linguagem jornalística portuguesa. par=ext22900-pol-95a-1 [online]. [cit. 2011-05-08] Disponível em: <http://www.linguateca.pt/acdc/> 18

exemplo mímica, gestos ou sinais corporais acompanham o emprego das interjeições no discurso. As interjeições também servem para chamar a atenção e para cumprimentar. David F. Rodrigues 28 menciona que as interjeições também servem para exprimir cortesia ou descortesia verbal dependendo dos contextos em que aparecem e estabelecendo assim relações interpessoais. Os gritos articulados produzidos pelo homem, como ah! eh! hã? são considerados como verbalmente descortês pertencendo só à linguagem informal. Herculano de Carvalho 29 considera que a origem destes gritos pronunciados (interjeições primitivas) está no som que produziam antigamente os falantes espontaneamente para exprimir tais sentimentos como a dor, a surpresa, o medo, e outros, ou seja um som produzido instintivamente e não intencionalmente. E este som passou a ser transcrito e transformado em interjeições primitivas. Uma interjeição pode exprimir tanto a cortesia, como a descortesia, dependendo dos contextos. Rodrigues 30 menciona como exemplo a interjeição alto! que pode ser voz de comando usada para mandar parar ou suspender determinada ação ou atividade 31 ou segundo o dicionário Priberam exclamação usada para ordenar uma paragem 32, por exemplo neste contexto: Alto! Gritou a polícia, levantando a mão. 33 E neste caso não podemos falar sobre a cortesia ou descortesia tratando-se duma ordem emitida por alguma autoridade. Também pode servir para manifestar desacordo com o que acaba de ser dito e para interromper o discurso : No exemplo: Alto lá, não te admito que me fales dessa maneira! 34 já podemos considerar o uso da expressão alto como descortês uma vez que intervém no discurso. Esta interjeição é usada com o 28 RODRIGUES, David.F, Cortesia linguística e interjeição em Português Europeu, Actas do XIX encontro nacional da APL. 2003:Lisboa. Pág.653 [online]. [cit. 2012-03-11] Disponível em: <http://www.apl.org.pt/docs/actas-19-encontro-apl-2003.pdf> 29 CARVALHO, Herculano De, 1973, Tomo 1:194 a 198 em RODRIGUES, David.F, Cortesia linguística e interjeição em Português Europeu, Actas do XIX encontro nacional da APL. 2003:Lisboa. Pág.653 [online]. [cit. 2012-03-11] Disponível em: <http://www.apl.org.pt/docs/actas-19-encontro-apl-2003.pdf> 30 RODRIGUES, David.F, Cortesia linguística e interjeição em Português Europeu, Actas do XIX encontro nacional da APL. 2003:Lisboa. Pág.653 [online]. [cit. 2012-03-11] Disponível em: <http://www.apl.org.pt/docs/actas-19-encontro-apl-2003.pdf> 31 Ibid. 32 "alto", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2010, http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx?pal=alto [consultado em 24-06-2012]. 33 RODRIGUES, David.F, Cortesia linguística e interjeição em Português Europeu, Actas do XIX encontro nacional da APL. 2003:Lisboa. Pág. 659 [online]. [cit. 2012-03-11] Disponível em: <http://www.apl.org.pt/docs/actas-19-encontro-apl-2003.pdf> 34 Ibid. 19

mesmo significado nas expressões alto aí e alto lá, e dependendo do contexto, pertence ao âmbito formal ou informal. Em geral, as interjeições são aplicáveis a várias situações e o seu significado varia segundo o contexto e a situação. As interjeições desempenham um papel muito importante sobretudo na fala das crianças sendo usadas para substituir algumas palavras pertencentes a classes de palavras mais complexas. Através das interjeições designam pessoas, coisas, animais ou até uma ação. As interjeições no texto escrito dinamizam e enriquecem o texto e são usadas sobretudo para exprimir reações imediatas dos participantes da comunicação. As interjeições que imitam as vozes das pessoas, dos animais e também sons provocados pelos objetos inanimados aparecem, por exemplo, nos livros de banda desenhada e na literatura infantil. O texto com as interjeições parece ser mais realista, mais comunicativo e mais atrativo para o leitor. Além disso, as interjeições podem ser um fator de expressão da cultura do falante, como diz Adriana Leite do Prado Rebello: Desejos, pensamentos e até estratégias de persuasão podem ser representados pelas interjeições, que, com seu poder de transmitir um sentido completo, também atuam como uma das formas de expressão da cultura do falante suas ideias, crenças e costumes. 35 O emprego dos elementos interjetivos como os atos de discurso reflete a cultura do indivíduo, caracteriza o falante do ponto de vista regional e social e informa-nos sobre o seu estado emocional, entre outros aspetos. O emprego das interjeições também pode revelar o grau da formalidade de uma dada situação. 36 Wierzbicka 37 considera as interjeições como características marcantes das culturas baseando-se na própria investigação sobre as interjeições. Rebello escreve um estudo baseando-se na investigação da Wierzbicka e dividindo entre 4 grupos de interjeições: emotivas, volitivas, cognitivas e persuasivas. Depois de ter realizado o estudo sobre o emprego das interjeições na imprensa no Rio de Janeiro 35 REBELLO, Adriana Leite do Prado Rebello, Psiu! Do português L1 ao português L2. A interjeição como fator de identidade cultural. [online]. [cit. 2011-03-11] Disponível em: <http://www.filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno08-16.html> 36 Ibid. 37 WIERZBICKA, Anna, Cross-cultural pragmatics - the semantics of human interaction. Berlin-New York: Mouton de Gruyter, 1991 em REBELLO, Adriana Leite do Prado Rebello, Psiu! Do português L1 ao português L2. A interjeição como fator de identidade cultural. [online]. [cit. 2011-03-11] Disponível em: <http://www.filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno08-16.html> 20

apresenta-nos a conclusão que o grupo das emotivas é o mais utilizado, o que segundo ela bem reflete o caráter emotivo do povo brasileiro. 4. Onomatopeias No presente capítulo definiremos as onomatopeias, apresentaremos possíveis classificações das onomatopeias e diferentes funções da linguagem falada e escrita. 4.1. Definição das onomatopeias Onomatopeia é palavra de origem latina influenciada pelo grego, constituída de dois radicais: ónoma nome, poiéo fazer (Liceu Literário Português:2002;p.147). O termo onomatopeia significa a formação das palavras através da imitação dos sons e ruídos naturais, e também inclui as palavras formadas neste processo. O processo onomatopaico pode criar palavras e diferentes classes gramaticais e uma parte dessas onomatopeias são as interjeições. 38 Onomatopeias são as palavras que pretendem imitar sons e ruídos naturais, como por exemplo o som produzido pelos animais (miau - som do miado de um gato), sons de natureza (splash pessoa ou objeto caindo na água), de máquinas (bip - produzido por uma máquina ou robot), etc. Aliás, a imitação dos sons e ruídos naturais é sempre imperfeita porque o falante só é capaz de pronunciar os fonemas que aprendeu a pronunciar. Como já foi antecedido, cada linguagem designa os sons e ruídos conforme o repertório fonético de cada língua, razão pela qual as onomatopeias são diferentes em diferentes línguas. Isto explica porque depois em português um cão faz au au, enquanto que em checo haf haf. O galo em português canta cocoricó, enquanto que em inglês o mesmo faz cock-a-doodle-doo. Por serem as histórias em quadrinhos americanas mais conhecidas no mundo, as histórias de quadrinhos portuguesas adoptaram muitas onomatopeias do inglês, por exemplo: blingue-blingue (o som de bater duas jóias em prata, platina ou diamante) 38 CALDAS DE, Raoni Naraoka, Estudo linguístico comparativo sobre onomatopeias em histórias em quadrinhos:português-alemão. [online]. [cit. 2011-12-11] Disponível em: < http://www.fflch.usp.br/dlm/alemao/pandaemoniumgermanicum/site/images/pdf/ed2011-2/10_raoni_caldas_onomatopeias.pdf> 21

vindo da onomatopeia bling-bling em inglês e mudado devido à preferência de português por acabar a palavra com a vogal, bangue-bangue (o ruído produzido pelo revólver)que é o mesmo que bang bang em inglês. Cof-cof é a onomatopeia derivada da palavra inglesa cough para imitar o ruído provocado pela tosse. Entre outros exemplos podemos mencionar: click, crack, crunch,... pronunciando-se em português com a pronúncia inglesa. Na realidade estas onomatopeias têm pouco a ver com o som que produzem, mas isso já foi dito e esclarecido. 39 As onomatopeias não são criadas espontaneamente pelo falante, mas são criadas com o objetivo de imitar e reproduzir sons. Sendo assim, dizemos que são convencionalmente construídas, não são naturais. Apesar de haver algumas onomatopeias tradicionais, os autores criam onomatopeias diferentes segundo o que ouvem. Formam só uma pequena parte do léxico total da língua apesar de o número das onomatopeias estar a crescer. O inventário é totalmente aberto, ou seja, o falante pode criá-las à sua vontade, mas as onomatopeias funcionam dentro da economia da língua e por muito perfeita que seja a sua imitação, não fogem às regras da combinação fonemática da língua. Além disso, aquelas que se usam com mais frequência, convertem-se em substantivos. 4.2. Tipos das onomatopeias Houaiss (Houaiss:2007) distingue entre onomatopeias linguísticas que têm a forma semelhante às palavras comuns e não linguísticas que tentam imitar os sons com maior fidelidade utilizando combinações das letras diferentes e parecendo assim mais reais. A seguir, distingue as onomatopeias brutas que são invariáveis e sintaticamente autónomas, ou seja, não se combinam com outras palavras, por exemplo: tiquetaque e onomatopeias gramaticalizadas que são derivações das onomatopeias brutas, por exemplo: tiquetaquear. 39 RODRIGUES, Sérgio, What língua is esta? [online]. [cit. 2012-02-03] pp. 27-30 Disponível em: <http://books.google.cz/books?id=rgnowzwzhwic&pg=pa30&dq=onomatopeias&hl=pt- PT&sa=X&ei=YP1ITbsKMiohAfY7aScDg&ved=0CDwQ6AEwAzgK#v=onepage&q=onomatopeias&f=false> 22

Nogueira 40 divide as onomatopeias em não-vocabulizadas que não têm combinações fonéticas e ortográficas comuns para a língua, e vocabulizadas que são adaptações à estrutura vocabular da língua. Acrescenta que as onomatopeias mostram de modo redundante o que já foi designado por outras unidades da língua. A sua marginalidade não as exclui do sistema linguístico. A sua construção e o seu caráter estão submetidos às possibilidades do sistema fonológico. 4.3. Função das onomatopeias As onomatopeias usam-se muito na literatura infantil e nas histórias em quadrinhos, onde é preciso dizer o máximo com poucas palavras e também como uma reprodução sonora fiel. As onomatopeias nas histórias em quadrinhos começaram a utilizar-se na década dos 1890 e continuaram a desenvolver-se e melhorar ao longo do século XX. 41 Sobre a função das onomatopeias nos quadrinhos fala também Djota Carvalho no seu livro A educação está no gibi 42 e menciona que nas histórias em quadrinhos se usam também como efeitos visuais sendo assim a sua cor e forma utilizada para acentuar uma cena. Segundo Edgar Silveira Franco, o termo onomatopeia é de origem grega, da palavra onomatopoiiā que designa o ato de representar uma palavra reproduzindo seu som de forma gráfica 43. Franco relembra que as onomatopeias são típicas das histórias 40 NOGUEIRA, Rodrigo de Sá, Estudos sobre as onomatopeias, 1950 em DE CALDAS, Raoni Naraoka, Estudo linguístico comparativo sobre onomatopeias em histórias em quadrinhos:português-alemão. [online]. [cit. 2011-12-11] Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/dlm/alemao/pandaemoniumgermanicum/site/images/pdf/ed2011-2/10_raoni_caldas_onomatopeias.pdf> 41 CALDAS DE, Raoni Naraoka, Estudo linguístico comparativo sobre onomatopeias em histórias em quadrinhos:português-alemão. [online]. [cit. 2011-12-11] Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1982-88372011000200010&script=sci_arttext > 42 CARVALHO, Djota, A educação está no gibi. [online]. [cit. 2011-12-11] Disponível em: <http://books.google.cz/books?id=rrjfdczr3dec&pg=pa44&dq=onomatopeias&hl=pt- PT&sa=X&ei=LPxIT5DcGoSChQeYyJWEDg&ved=0CFkQ6AEwCA#v=onepage&q=onomatopeias&f =false> 43 FRANCO, Edgar Silveira, Hqtrônicas do suporte papel à rede Internet. [online]. [cit. 2011-12-15] Disponível em: <http://books.google.cz/books?id=w7qrrzutrdqc&pg=pa49&dq=onomatopeias&hl=pt- PT&sa=X&ei=19pIT66iCIHKhAerxb2FDg&redir_esc=y#v=onepage&q=onomatopeias&f=false> 23

em quadrinhos e a sua função é a de possibilitar o contato mais direto entre o escritor e o leitor. Despertam a fantasia dos leitores e tornam as expressões mais vivas. Se a onomatopeia desempenha um papel sintático na frase passando a outra classe gramatical, deixa de ser onomatopeia propriamente dita. Muitas vezes torna-se substantivo ou verbo, ou seja, gramaticaliza-se. Apresentadas as características e propriedades mais importantes das interjeições e onomatopeias, e o seu estatuto nas gramáticas e dicionários de português, podemos deduzir as seguintes conclusões-comparações: 1. As interjeições servem para exteriorizar sentimentos, sensações ou estados psicológicos do falante, podendo ser tanto as palavras já existentes na língua, como sons inarticulados. Por outro lado, as onomatopeias são reprodução de sons de origens diferentes não produzidos por falantes - através dos fonemas de que a língua possui, introduzindo-os na língua falada ou escrita. 2. As interjeições formam parte do léxico duma língua, enquanto que as onomatopeias são consideradas como empréstimos ligados a um contexto particular, por exemplo, às histórias em quadrinhos. 5. Classificação das interjeições As interjeições são uma classe de palavras pouco estudada e investigada que abrange palavras ou grupos de palavras diferentes do ponto de vista semântico, formal e funções que têm. Com isto está relacionada a diversidade que existe na classificação interna das interjeições. As gramáticas normativas não trazem uma só divisão das interjeições, mas sempre fazem distinção entre os sentimentos e sensações que descrevem dor, alegria, surpresa e muitos outros. A seguir, apresentaremos algumas classificações das gramáticas e estudos linguísticos que tivemos à disposição. As gramáticas tradicionais limitam-se a apresentar uma classificação estereotipada dividindo as interjeições segundo as emoções que expressam, e eventualmente, do ponto de vista formal, em interjeições simples ou locuções interjetivas, como vemos nos exemplos a seguir: 24

E. Bechara (Bechara:2001;p.331-32) divide as interjeições em 15 grupos segundo o que expressam: 1. de exclamação: viva! 2. de admiração: ah, oh! 3. de alívio: ah, ch! 4. de animação: coragem, eia, sus! 5. de apelo ou chamamento: ó, olá, alô, psit, psiu! 6. de aplauso: bem, bravo! 7. de desejo ou ansiedade: oh, oxalá, tomara! 8. de dor física: ai, ui! 9. de dor moral: oh! 10. de dúvida, suspeita, admiração: hum, hem, hein! 11. de impaciência: arre, irra, apre, puxa! (e não registrado oficialmente pucha!) 12. de imposição de silêncio: caluda, psiu! 13. de repetição: bis! 14. De satisfação: upa, oba, opa! 15. De zombaria: liau! Também fala das locuções interjetivas que caracteriza como um conjunto de palavras com valor de interjeição, por exemplo: ai de mim! ora bolas! com todos os diabos! Infopédia 44 apresenta-nos também uma divisão entre as interjeições simples e locuções interjetivas, distinguindo depois várias subdivisões segundo a emoção que expressam: 44 Infopédia. [online]. [cit. 2011-05-08] Disponível em: < http://www.infopedia.pt/$interjeicao> 25

C. Cunha e L. Cintra (Cunha, Cintra:2001;p.396-397) também classificam as interjeições segundo os sentimentos por elas expressas e mencionam também locuções interjetivas. Sugerem a seguinte divisão: 1. de alegria: ah! Oh! No Brasil também: oba! Opa! 2. de animação: avante! coragem! Eia! Vamos! 3. de aplauso: bis! Bem! Bravo! viva! 4. de desejo: oh! oxalá! 5. de dor: ai! Ui! 6. de espanto ou surpresa: ah! Chi! Ih! Ué! No Brasil também: puxa! 7. de impaciência: hum! Hem! Irra! 8. de invocação: alô! Ó! Olá! Psiu! Psit! 9. de silêncio: psiu! Silêncio! 10. de suspensão: alto! basta! Alto lá! 11. de terror: ui! Uh! Locuções interjetivas são depois expressões formadas por mais de uma palavra, por exemplo: ai de mim! Ora, bolas! Raios te partam! Valha-me Deus! (Cunha e Cintra,2001;p.396-97) Rocha Lima (Rocha Lima:2010;p.189) distingue 7 grupos entre as interjeições sem levar em consideração locuções interjetivas: 1. de alegria: ah, oh, olá! 2. de desejo: oxalá, tomara! 3. de dor: ai, ui! 4. de chamamento: á, alto, psiu! 5. De silêncio: psiu, caluda! 6. De advertência: cuidado, alerta! 26