Pensão de soldo vitalício dos ex-voluntários da Pátria da Guerra do Paraguai: análise inicial.



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Transcrição:

Pensão de soldo vitalício dos ex-voluntários da Pátria da Guerra do Paraguai: análise inicial. Fernando da Silva Rodrigues 1 Ocorrida a mais de cento e quarenta anos, a chamada Guerra do Paraguai envolveu quatro nações da América do Sul opondo, de um lado, o Paraguai, e de outro, a Argentina, o Brasil e o Uruguai. Embora tenha sido o maior conflito desta parte do continente, e tendo se estendido por mais de cinco anos, muitas de suas facetas ainda permanecem praticamente inexploradas, como por exemplo, a abordagem da participação dos diversos grupos étnicos e sociais na campanha, em especial como esses indivíduos aparecem nas memórias de combatentes daquela guerra, bem como nos diversos documentos, tais como fotografias, revistas, jornais e pinturas, permitindo detectar sua presença, bem como sua persistência nos documentos de época que, lidos ou vistos de forma rápida, muitas vezes induzem o leitor a não distingui-lo, homogeneizando-os. Nessa pesquisa, pretendemos divulgar os dados iniciais e começar uma análise com maior profundidade dos processos de pedido de pensão de soldo vitalício dos ex- Voluntários da Pátria que combateram na Guerra do Paraguai, identificando os grupos étnicos e sociais, as regiões de origem dos recrutados, e os discursos jurídicos utilizados pelo solicitante, além da bibliografia, tanto de caráter memorialístico quanto historiográfico, sobre a Guerra do Paraguai (1864-1870), também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança, recorrendo principalmente aos discursos historiográficos e às fontes documentais que se encontram no Arquivo Histórico do Exército, com o intuito de encontrar possibilidades de superar contradições, imprecisões e mitos que ainda persistem em relação ao assunto e que dificultam a compreensão desse fato histórico comum aos quatro países vizinhos na América do Sul que hoje buscam caminhos de integração. Em relação a pesquisa, pretendemos ainda, proceder o exame dos materiais de apoio ao ensino escolar da História principalmente livros didáticos 1 Doutor em História Política pela UERJ, professor da Graduação em História da UNIABEU Centro Universitário e pesquisador do PROAPE-UNIABEU, professor Adjunto I do Programa de Pós- Graduação em História da Universidade Severino Sombra e pesquisador do Arquivo Histórico do Exército. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História ANPUH São Paulo, julho 2011 1

permitindo a identificação, nesses materiais, da presença dos aspectos contraditórios, imprecisos e míticos sobre o tema, revelando então os possíveis usos sociais e políticos desse ensino de história. Pretende-se que essa pesquisa contribua para o aprimoramento do ensino escolar da História, e que possibilite a confecção de um guia de fontes para o estudo da Guerra do Paraguai no Arquivo Histórico do Exército, principalmente, nesse momento que o acervo recebeu o registro de Memória do Mundo da UNESCO do ano de 2009, concedido através do Arquivo Nacional. Com relação ao Arquivo Histórico do Exército, poderemos desenvolver um trabalho bastante complexo, a partir, das fontes que tratam da participação dos brasileiros na Guerra do Paraguai, e das relações diplomáticas e militares entre o Brasil, a Argentina, o Uruguai e Paraguai. Quanto a Historiografia da Guerra do Paraguai, essa sofreu mudanças profundas desde o desencadeamento do conflito, sofrendo influência específica de cada tempo histórico sobre os pensamentos dos autores, o que facilitará nossa compreensão de como foram possíveis às diversas variações de narrativas. Durante e após a guerra, a historiografia dos países envolvidos limitou-se a explicar suas causas como devida apenas à ambição expansionista e desmedida de Francisco Solano Lopes. A partir dos anos 1960, uma segunda corrente historiográfica, mais comprometida com a luta ideológica contemporânea desta década entre o capitalismo e o comunismo, e direita e esquerda, apresentou a versão de que o conflito bélico teria sido motivado pelos interesses do Império Britânico que buscava a qualquer custo impedir a ascensão de uma nação latino-americana poderosa militarmente e econômica, uma corrente com tendência esquerdista, que tornou o Paraguai o grande exemplo de nacionalismo frustrado. A partir dos anos 1990, novos estudos propuseram razões diferentes, revelando que as causas se deveram aos processos de construção dos Estados nacionais dos países envolvidos. Com esta investigação científica, procuraremos dar uma contribuição historiográfica mais profunda e inovadora ao colocar na pauta da discussão os questionamentos político-sociais dentro do Exército, Instituição pública que teve projeção durante o Império e toda a vida republicana do Brasil. O uso da documentação escrita (manuscrita e impressa) e da catalogação elaboradas durante a investigação ajudará a desenvolver essa pesquisa. É importante Anais do XXVI Simpósio Nacional de História ANPUH São Paulo, julho 2011 2

frisar que uma parte do Fundo do qual pretendemos trabalhar, até os dias de hoje, não teve procura para realização de trabalhos acadêmicos, principalmente, a parte referente aos processos de pedido de pensão de soldo vitalício dos ex-voluntários da Pátria da Guerra do Paraguai, que poderão revelar de forma mais clara a origem regional, étnica e social de uma parte dos recrutados para o conflito. Atualmente, ainda, existem documentos, que ainda não foram analisados e que trarão grande contribuição para a historiografia brasileira, pois, tratam da formação do pensamento político e social, e das relações diplomáticas entre os países beligerantes, além de preencher lacunas existentes nos estudos sobre o conflito. Logo, pretendemos desenvolver esta pesquisa, utilizando principalmente os documentos impressos e manuscritos do Fundo da Guerra do Paraguai, pertencente ao acervo do antigo Ministério da Guerra (atualmente Comando do Exército), além dos acervos pessoais de alguns militares que combateram no conflito, e que se encontram no Arquivo Histórico do Exército, Instituição do qual sou pesquisador desde o ano de 2000, de tal maneira que já possuo contato prévio com a documentação existente, além do fato de ser uma continuidade dos estudos realizados com a minha dissertação de mestrado defendida em 2005, que faz uma abordagem do processo intervencionista do Estado no sertão centro-oeste e norte através das missões civilizadoras do General Rondon e dos estudos realizados com a minha tese de doutorado defendida no ano de 2008, que faz uma abordagem dos tipos de discriminações utilizadas na seleção dos Oficiais do Exército brasileiro no período de 1905 a 1946. O projeto está sendo coordenado pelo Prof. Dr. Fernando da Silva Rodrigues, Professor do curso de Graduação em História da UNIABEU Centro Universitário, Professor do Programa de Pós-Graduação em História (Mestrado) da Universidade Severino Sombra, e pesquisador do Arquivo Histórico do Exército. Pretende-se envolver nessa pesquisa alunos do curso de graduação em História do Centro Universitário UNIABEU, com bolsa institucional e bolsa da FAPERJ, em parceria com o Laboratório de Estudo sobre Militares na Política da UFRJ, coordenado pelo Prof. Dr. Renato Luís do Couto Neto Lemos; com o Núcleo de Estudos das América da UERJ, coordenado pela Profª. Dra. Maria Teresa Toríbio Brittes Lemos, e do qual sou professor convidado; com o Laboratório de Estudos sobre Militares do CPDOC/FGV, coordenado pelo Prof. Dr. Celso Corrêa Pinto de Castro; e com o GT. Estudos políticos Anais do XXVI Simpósio Nacional de História ANPUH São Paulo, julho 2011 3

e militares contemporâneo da UEL, coordenado pelo Prof. Dr. Francisco César Alves Ferraz. Quanto à abordagem das fontes, teremos tanto em nível quantitativo (História Serial) como em nível qualitativo, através de uma análise intratextual. As origens das fontes históricas são diversas, pois serão usados tanto documentos privados como oficiais, neste caso, sendo a principal origem da documentação utilizada nesta pesquisa. A abordagem qualitativa, realizada através da análise intratextual, visa investigar as fontes bibliográficas, as revistas civis e militares, os acervos pessoais, as correspondências oficiais e os relatórios emitidos pelos diversos órgãos do Ministério da Guerra e pelo próprio Ministério, cujos textos deverão ser observados enquanto discurso de época a ser compreendido e questionado quanto à formulação dos atores políticos, ao papel da elite militar e à construção do Estado e da Nação. Para uma abordagem quantitativa, pretendemos realizar uma análise serial dos processos individuais de pedido de soldo vitalícios dos ex-voluntários da Pátria retornados da Guerra do Paraguai, principal instrumento para obter o benefício do Estado, de forma que possamos construir uma tabela com os tipos recrutados na sociedade brasileira (origem étnica, origem social etc.). Existe no acervo do Arquivo Histórico do Exército, uma quantidade ainda não avaliada de processos, que não foram utilizados em pesquisas acadêmicas, datados do início do século XX. No processo constatamos dados pessoais do ex-voluntário da Pátria como nome, naturalidade, posto e graduações na Instituição Militar, organização militar que serviu, cor da pele, origem social. Em alguns processos já verificados por amostragem encontramos certidão de nascimento, que nos ajudará na identificação da origem dos recrutados para o conflito. A documentação da Guerra do Paraguai do Arquivo Histórico do Exército é proveniente da Secretaria do Gabinete do extinto Ministério da Guerra depositada neste Arquivo entre as décadas de 1930 e 1960. É uma documentação autêntica composta por Ordens do Dia (impressas) relativas aos diversos Comandos durante a Campanha e correspondência entre as autoridades aliadas (brasileiras, argentinas e uruguaias) em códices manuscritos. Esse acervo faz referência importante aos aspectos econômicos e sociais que podem ser revelados numa leitura atenta e análise sistemática das informações sobre recrutamento, armamento, treinamento, transporte e cuidados médicos não só dos Anais do XXVI Simpósio Nacional de História ANPUH São Paulo, julho 2011 4

comandantes e Oficiais como também de milhares de combatentes anônimos que refletem um pouco da diversidade étnica, cultural, social e econômica da população brasileira no século XIX. Já os assuntos tratados pela correspondência (manuscritos) entre os diversos comandantes brasileiros e estrangeiros tratam desde a administração militar, movimentações de tropas, requisições matérias, até o transporte de prisioneiros paraguaios para o Brasil. As fontes impressas são 16 (dezesseis) volumes encadernados, com um total de 2.700 folhas e 20 litografias. As fontes manuscritas são compostas de 64 volumes encadernados com um total de 13.920 folhas e 15 pacotes com um total de 1.500 folhas. O acervo está disponível totalmente ao pesquisador por ter mais de 130 anos de produção. Utilizaremos também uma vasta bibliografia de apoio que servirá para balizar as nossas discussões teóricas, metodológicas e historiográficas e contextualizar a construção dessa pesquisa. As obras de apoio foram encontradas na Biblioteca Nacional, na Biblioteca do Exército, no Arquivo Histórico do Exército e no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Na totalidade nossas fontes se encontram no Arquivo Histórico do Exército e são constituídas de: fontes manuscritas, compostas da Série Ministério da Guerra; Fundo da Guerra do Paraguai; e Processos individuais dos ex-voluntários da Pátria da Guerra do Paraguai (1907 a 1953). Acervos Pessoais, composto de documentos do Duque de Caxias, do General Osório e do General Sampaio. E fontes impressas, compostas de Ordens do Dia da Guerra do Paraguai; Relatórios do Ministério do Negócio da Guerra (1864-1930); e Coleção de Leis do Brasil. Com relação a fundamentação teórica essa pesquisa será contextualizada na História de formação de um Estado Nacional no Brasil, tomando como base no campo de uma Nova História Política 2 com enfoque no poder do Estado e na formação de elites institucionais como mecanismo de controle da sociedade, abordaremos principalmente o conceito de Estado, de elite e raça, pela grande relevância e para melhor compreensão da nossa investigação científica que servirá para o bom desenvolvimento deste trabalho. 2 REMOND, René (org.). Por uma história política. Rio de Janeiro: UFRJ/FGV, 1996, Uma história presente (p. 1336). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História ANPUH São Paulo, julho 2011 5

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