1º Ten Al ROBÉRIO ALVES TEIXEIRA AVALIAÇÃO DA FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO E DAS INDICAÇÕES DO TESTE ERGOMÉTRICO EM MILITARES DA ATIVA



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Transcrição:

1º Ten Al ROBÉRIO ALVES TEIXEIRA AVALIAÇÃO DA FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO E DAS INDICAÇÕES DO TESTE ERGOMÉTRICO EM MILITARES DA ATIVA RIO DE JANEIRO 2009

1º Ten Al ROBÉRIO ALVES TEIXEIRA AVALIAÇÃO DA FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO E DAS INDICAÇÕES DO TESTE ERGOMÉTRICO EM MILITARES DA ATIVA Trabalho de conclusão de curso apresentado à escola de saúde de exército como requisito parcial para aprovação no Curso de Formação de Oficiais do Serviço de Saúde, especialização em Aplicações Complementares às Ciências Militares Orientador(a): Gustavo de Mathia RIO DE JANEIRO 2009

T266i Teixeira, Robério Alves Avaliação da fisiologia do exercício e das indicações do teste ergométrico em militares da ativa/ Robério Alves Teixeira. - Rio de Janeiro, 2009. 39 f ; 30 cm Orientador: Gustavo de Mathia Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) Escola de Saúde do Exército, Programa de Pós-Graduação em Aplicações Complementares às Ciências Militares, 2009. Referências: f. 37-39. 1. Brasil - Exército. 2. Aptidão Cardiorrespiratória. I. Mathia, Gustavo de. II. Escola de Saúde do Exército. III. Título. CDD 616

1º Ten Al ROBÉRIO ALVES TEIXEIRA AVALIAÇÃO DA FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO E DAS INDICAÇÕES DO TESTE ERGOMÉTRICO EM MILITARES DA ATIVA COMISSÃO DE AVALIAÇÃO GUSTAVO DE MATHIA HOSPITAL SOUZA AGUIAR Orientador Cap PAULO CÉSAR RODRIGUES CORRÊA EsSEx Co-orientador Profª ANA CLÁUDIA DA S. VILA NOVA - UFRRJ Avaliador RIO DE JANEIRO 2009

AGRADECIMENTOS Agradeço aos instrutores e companheiros do CFO 2009. Ao meu orientador Gustavo de Mathia, amigo de longa data. Ao meu co-orientador, Capitão Paulo César pela paciência e colaboração neste trabalho.

RESUMO Todo o militar da ativa está obrigado ao treinamento físico. A atividade física é conhecida em melhorar a aptidão física e reduzir a morbidade e mortalidade de inúmeras doenças crônicas. A atividade física melhora a qualidade de vida das pessoas e uma boa aptidão cardiorrespiratória é determinada para se proteger contra doenças cardiovasculares. Baixa atividade física e aptidão cardiorrespiratória reduzida são preditores de mortalidade por doenças cardiovasculares futuras. Testes ergométricos e espirometrias são medidas importantes para avaliar as funções cardiovasculares e respiratórias. O objetivo deste estudo foi investigar a medida da aptidão cardiorrespiratória. A relação positiva entre atividade física e um teste ergométrico é muito mais consistente do que entre atividade física e parâmetros espirométricos. Em conclusão, os testes de esteira devem ser usados com critério. Palavras-chave: treinamento físico militar, fisiologia, aptidão cardiorrespiratória ABSTRACT All active-duty military is obligated to physical training. Physical activity is known to

improve physical fitness and to reduce morbidity and mortality from numerous chronic conditions. Physical activity improves peoples quality of life and good cardiorespiratory fitness has been found to protect against cardiovascular diseases. Poor physical activity and reduced cardiorespiratory fitness are predictors of future mortality from cardiovascular diseases. Treadmill tests and spirometric tests are important measurements for evaluating cardiovascular and respiratory functions. The purpose of this study was to investigate measured cardiorespiratory fitness. The positive relation between physical activity and a treadmill test is much more consistent than that between physical activity and spirometric parameters. In conclusion, treadmill tests should be used with criterion. Key words: military physical training, physiology, cardiorespiratory fitness

LISTA DE ABREVIATURAS PA Pressão Arterial FC Frequência Cardíaca VO2 Consumo de Oxigênio VO2 máx Consumo Máximo de Oxigênio ATP Molécula de Armazenamento de Energia celular DAC Doença Arterial Coronariana MET Múltiplos da Taxa Metabólica de Repouso ECG Eletrocardiograma IPE Índice de Percepção de Esforço TFM Treinamento Físico Militar EME Estado Maior DE Exército

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 9 2 O TREINAMENTO FÍSICO MILITAR... 11 2.1 HISTÓRICO... 11 2.2 OBJETIVOS... 12 2.3 BENEFÍCIOS... 12 3 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO... 14 3.1 OS MÚSCULOS NO EXERCÍCIO... 14 3.1.1 Efeitos do Treinamento Atlético sobre os Músculos... 15 3.2 A RESPIRAÇÃO NO EXERCÍCIO... 16 3.2.1 Consumo de Oxigênio e Ventilação Pulmonar no Exercício... 16 3.2.2 Gases Sanguíneos Durante o Exercício... 16 3.3 SISTEMA CARDIOVASCULAR NO EXERCÍCIO... 17 3.3.1 Fluxo Sanguíneo Muscular... 18 3.3.2 Efeito do Treinamento sobre a Hipertrofia Cardíaca e sobre o Débito Cardíaco... 19 3.3.3 Papel do Débito Sistólico e da Freqüência Cardíaca no Aumento do Débito Cardíaco... 19 3.3.4 Relação entre o Desempenho Cardiovascular e a VO2 máx... 19 3.3.5 Efeito da Cardiopatia e da Idade Avançada Sobre o Desempenho Atlético... 20 4 AVALIAÇÃO FUNCIONAL... 21 4.1 OBJETIVOS DE UMA AVALIAÇÃO FUNCIONAL... 21 4.2 UNIDADES METABÓLICAS... 21 4.2.1 O Consumo Máximo de Oxigênio (VO2 máx)... 22 4.3 MÉTODOS UTILIZADOS PARA MENSURAÇÃO DA CAPACIDADE AERÓBICA... 23 4.3.1 Testes Máximos e Submáximos... 23 4.3.2 Testes Utilizados na Mensuração da Capacidade Aeróbica... 24 4.3.3 Testes Ergométricos... 24 4.3.4 Considerações Gerais... 25 5 AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE CARDIORRESPIRATÓRIA... 27 5.1 AVALIAÇÃO MÉDICA... 28 5.1.1 Exame Médico... 28 5.1.2 Exames Complementares... 28 5.1.3 Recomendações antes do Teste... 29 5.1.4 Condições em que são Indicações os Testes de Esforço... 29 5.1.5 Condições onde são Contra-Indicações os Testes de Esforço... 30 5.1.6 Variáveis a serem Controlados Durante o Teste... 30 5.1.6.1 Índice de Percepção de Esforço (IPE)... 30 5.1.6.2 Freqüência Cardíaca... 31 5.1.6.3 Pressão Arterial (PA)... 32 6 DISCUSSÃO... 33

7 CONCLUSÃO... 36 REFERÊNCIAS... 37

1 INTRODUÇÃO Todo militar do serviço ativo está obrigado ao treinamento físico militar. A melhoria da aptidão física contribui para o aumento significativo da prontidão dos militares para o combate, e os indivíduos aptos fisicamente são mais resistentes à doenças e se recuperam mais rapidamente de lesões do que pessoas sedentárias (BRASIL, 2002). Estudos comprovam que a atividade física pode melhorar o rendimento intelectual e a concentração nas atividades rotineiras, levando a um maior rendimento no desempenho profissional. Trabalhos científicos têm demonstrado que a inatividade física, além de reduzir a capacidade física do indivíduo, acarreta vários riscos para a saúde e, também, que o baixo nível de aptidão física está relacionado com o aumento da prevalência de mortalidade precoce (CHAITMAN, 2003). O exercício físico, além de estar relacionado com a prevenção de doenças, também está com a reabilitação de doenças crônicas, tais como a hipertensão arterial e doenças pulmonares obstrutivas, com a normalização do metabolismo dos lipídeos (PRADO et. al., 2002) e com o sucesso de programas de controle de peso. Finalmente, tem sido demonstrado que a atividade física está relacionada com uma boa saúde mental (GUYTON e HALL, 1996). Por outro lado, baixa condição cardiorrespiratória está associada com mortes prematuras em indivíduos com massa corporal normal ou com sobrepeso e obesidade, independente de outros fatores de risco, incluindo fumo, hipertensão arterial e diabetes tipo 2 (OLIVEIRA e ANJOS, 2008). A aptidão cardiorrespiratória, sendo, sem dúvida o aspecto que deve receber maior atenção quando se trata de avaliação da aptidão física relacionada à saúde, é entendida como a capacitação de se realizar trabalho e depende da eficiência dos sistemas respiratório, cardiovascular, de componentes sanguíneos adequados, além dos componentes celulares específicos que ajudam o corpo a utilizar oxigênio durante o exercício (KODAMA, 2009). A avaliação funcional representa a mensuração e interpretação da capacidade de mobilização metabólica (bioenergética) a partir do resultado obtido de um protocolo (teste) específico. Na área militar os testes de aptidão, sobretudo os cardiovasculares, desenvolveram-se a partir da necessidade dos combatentes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), onde os soldados deveriam estar preparados para o combate e na utilização da

performance nos esportes de alto rendimento, como fator de afirmação política das nações, devendo as performances máximas, absolutas, derivadas sobretudo de um treinamento, com técnicas e táticas que lhes são impostas para um melhor rendimento (DELGADO, 2004). Na avaliação da potência aeróbica utilizam-se alguns aparelhos denominados ergômetros, que apresentam vantagens e limitações. O objetivo deste trabalho, justificado pela importância prática no cotidiano militar, é realizar uma revisão bibliográfica, avaliando a fisiologia do exercício, além dos métodos de avaliação do condicionamento cardiorrespiratório, em especial o teste ergométrico e estudar a possibilidade e a necessidade da aplicação deste método diagnóstico na rotina do treinamento físico e na avaliação médica, com objetivo de detectar doença cardíaca (coronariana) precocemente em militares de tropa, ou seja, indivíduos sem doença cardíaca conhecida e assintomáticos. 2 O TREINAMENTO FÍSICO MILITAR

2.1 HISTÓRICO A realização de atividades físicas e esportivas ultrapassou os muros das academias e clubes. Já há algum tempo empresas de diversos setores econômicos e de diferentes portes se utilizam de atividade física durante o horário de trabalho como um fator adjuvante na melhoria do rendimento de seus funcionários. A melhora no rendimento e a diminuição do absenteísmo se tornam notórias. O Exército Brasileiro desde seus primórdios tem no treinamento físico um importante aliado na manutenção das condições físicas de seus militares. Embora talvez desvinculado das novas teorias sobre os benefícios de tais atividades, intuitivamente sempre proporcionou a seus soldados condições de uma saúde melhor. A tecnologia moderna apenas aperfeiçoou e adequou tal treinamento às condições ideais de saúde e bem estar (TEIXEIRA, 2008). Os primeiros registros da realização de atividade física para a área militar no Brasil datam de 1810, com a criação da Academia Real Militar, porém sem padronizações ou embasamentos fisiológicos. A partir da 2ª década do século XX houve a criação, em 1929, do Curso Provisório de Educação Física, que funcionou nas instalações da Escola de Sargentos de Infantaria, na Vila Militar, no Rio de Janeiro. Em 1930, foi criado o Centro Militar de Educação Física, na Fortaleza de São João, também sediada no Rio de Janeiro, o qual veio a ser transformado na Escola de Educação Física do Exército, no ano de 1933. A publicação, em 1934, do Regulamento de Educação Física, atendia integralmente ao método francês, preconizado pela Escola Superior de Educação Física de Joinville-le-Point. A partir da década de 30, e principalmente após a década de 70 do século passado, o Exército Brasileiro reconheceu a necessidade e a importância do Treinamento Físico Militar (TFM) e sua avaliação para a operacionalidade da Força Terrestre. Desde 2005, a Diretoria de Pesquisa e Estudos de Pessoal e Fortaleza São João é o órgão responsável no âmbito do Exército, entre outras missões, por assessorar os escalões superiores quanto à doutrina do TFM e promover sua interação com as atividades de ensino, pesquisa e desporto. Para esses fins, enquadra a Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx), o Instituto de

Pesquisa da Capacitação Física do Exército (IPCFEx) e a Comissão de Desportos do Exército (CDE) (BRASIL, 2002). 2.2 OBJETIVOS - Desenvolver, manter ou recuperar a aptidão física necessária para o desempenho da função do militar. - Contribuir para a manutenção da saúde do militar. - Assegurar o adequado condicionamento físico necessário ao cumprimento das missões. - Cooperar para o desenvolvimento de atributos da área afetiva. - Estimular a prática desportiva em geral. - Atender fundamentalmente ao interesse da Força e ao cumprimento da sua missão institucional. - Atender da melhor forma aos interesses do militar relacionados a saúde e bem estar, tendo objetivos e benefícios mais duradouros no tempo e proporcionando uma melhor qualidade de vida. - Promoção da saúde antes de um instrumento de adestramento militar. Sendo assim, cabe ressaltar que a individualidade biológica deve ser respeitada e priorizada, mesmo que em detrimento da padronização de movimentos (BRASIL, 2002). 2.3 BENEFÍCIOS - Reduzir a inatividade física, além de melhorar a capacidade física do indivíduo, reduzindo vários riscos para a saúde e, também reduzir a prevalência de mortalidade precoce. Reduzir o surgimento de moléstias como as cardiopatias, diabetes e osteoporose, entre outras. Combatendo o sedentarismo a fim de eliminar diversos outros fatores como a obesidade, hipertensão, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, entre outros. - Reabilitação de doenças crônicas, tais como a hipertensão arterial e doenças pulmonares obstrutivas, com a normalização do metabolismo lipídeo, com o sucesso de programas de controle de peso e com a prevenção da perda de independência de idosos com osteoartrite.

- Agir sobre a saúde mental e humor dos praticantes. - Tornar os militares mais aptos para suportarem o estresse debilitante do combate. - Aumentar a prontidão dos militares para o combate, bem como a resistência a doenças. - Aumentar os níveis de auto-confiança e motivação. - Melhorar o rendimento intelectual e a concentração nas atividades rotineiras, levando a um maior rendimento no desempenho profissional. - Desenvolver atributos da área afetiva que, estimulados e aperfeiçoados, irão atuar eficazmente sobre o comportamento, exercendo papel fundamental sobre a personalidade (BRASIL, 2002). 3 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 3.1 OS MÚSCULOS NO EXERCÍCIO

O denominador comum final nas provas atléticas é o que os músculos podem fazer, a força que podem fornecer quando necessário, a potência que podem alcançar na realização do trabalho e o tempo durante o qual podem continuar em atividade. A força de um músculo é determinada principalmente pelo seu tamanho, com força contrátil máxima entre 3 e 4 kg por cm² de área transversa do músculo. Por conseguinte, o homem bem provido de testosterona e portanto, com músculos correspondentemente maiores será mais forte do que as pessoas sem a vantagem da testosterona (SLOAN et. al., 2009). Além disso, o atleta que hipertrofiou seus músculos por meio de programa de treinamento com exercícios também terá maior força muscular (GUYTON e HALL, 1996). A força de contenção dos músculos é cerca de 40% maior do que a força contrátil. Isso é, se o músculo já estiver contraído, e a seguir, uma força tenta distendê-lo, como ocorre ao se pousar após um salto, isso requer cerca de 40% mais força do que a que pode ser conseguida por contração com encurtamento. Obviamente, isso complica ainda mais os problemas dos tendões, das articulações e dos ligamentos (SARAH e HALL, 2008). Além disso, podem resultar em laceração interna do próprio músculo. Com efeito, a distensão de um músculo em contração máxima constitui uma das melhores maneiras de produzir o mais alto grau de dor muscular. A potência da contração muscular é diferente da força muscular, visto ser a primeira uma medida da quantidade total de trabalho que o músculo pode realizar em determinado período de tempo. A potência é determinada não só pela força da contração muscular, mas também por sua distância de contração e pelo número de vezes que se contrai a cada minuto (BRAUNWALD, 1998). Em geral, a potência muscular é medida em quilogramametros (kg-m). Isto é, um músculo que consegue levantar um peso de 1 kg até a altura de 1 m ou que consegue deslocar algum objeto lateralmente contra uma força de 1 kg por distância de 1 m em 1 minuto possui potência de 1 kg-m/min. A medida final do desempenho muscular é a resistência (endurance). Ela depende, em grande parte, do apoio nutritivo para o músculo, mais que tudo, da quantidade de glicogênio que foi armazenada no músculo antes do período de exercício. A pessoa com dieta rica em carboidratos armazena muito mais glicogênio nos músculos do que a pessoa com dieta mista ou com dieta rica em gorduras. Assim, a resistência é acentuadamente aumentada por uma dieta rica em carboidratos. Embora tenha sido enfatizada a importância de uma dieta rica em

carboidratos e de grandes reservas de glicogênio muscular para o desempenho atlético máximo, isso não significa que apenas os carboidratos são utilizados para o suprimento de energia muscular, significa, simplesmente, que os carboidratos são usados preferencialmente. Na verdade, os músculos empregam grande quantidade de gordura para energia sob forma de ácidos graxos e ácido acetoacético, bem como quantidades menores de proteínas sob forma de aminoácidos. Com efeito, até mesmo nas melhores condições, nas provas atléticas de resistência com duração de mais de 4 a 5 horas, as reservas de glicogênio dos músculos são depletadas e passam a ter pouca valia para energizar a contração muscular. Nesse estágio, o músculo depende de energia de outras fontes, principalmente das gorduras (GUYTON e HALL, 1996). 3.1.1 Efeitos do Treinamento Atlético sobre os Músculos Um dos aspectos fundamentais do desenvolvimento muscular durante o treinamento atlético é o seguinte: Os músculos que funcionam sem qualquer sobrecarga, até mesmo quando exercitados durante horas, conseguem pouco aumento de sua força. Por outro lado, os músculos que se contraem com sua força máxima de contração irão desenvolver força muito rapidamente, até mesmo quando as contrações forem realçadas apenas poucas vezes por dia. Baseando-se nesse princípio, experimentos relacionados com o aprimoramento muscular mostraram que seis contrações máximas ou quase máximas efetuadas em três séries separadas três vezes por semana proporcionam aumento aproximadamente ideal da força muscular, sem produzir fadiga muscular crônica. O tamanho básico dos músculos de uma pessoa é determinado principalmente pela hereditariedade, somada ao nível de secreção de testosterona que, nos homens, produz músculos consideravelmente maiores que nas mulheres. Todavia, com o treinamento, os músculos podem ficar hipertrofiados, talvez por 30 a 60%. A maior parte dessa hipertrofia resulta do maior diâmetro das fibras musculares (McARDLE e KATCH, 2003). 3.2 A RESPIRAÇÃO NO EXERCÍCIO A abreviação para a velocidade de utilização do oxigênio no metabolismo aeróbico máximo é VO2 máx. Embora a capacidade respiratória seja alvo de pouca

preocupação no desempenho dos tipos de provas atléticas de alta velocidade, adquire suma importância no desempenho máximo dos eventos atléticos de resistência (CHENG et. al., 2003). 3.2.1 Consumo de Oxigênio e Ventilação Pulmonar no Exercício O consumo normal de oxigênio no homem adulto jovem, em repouso, é de cerca de 250 ml/min. Todavia, em condições máximas, pode aumentar para 3600 ml/min em um homem comum destreinado, para 4000 ml/min em um homem comum treinado atleticamente e para 5100 ml/min em homens corredores de maratona. Em números redondos, tanto o consumo de oxigênio quanto a ventilação pulmonar total aumentam por cerca de 20 vezes entre o estado de repouso e a intensidade máxima do exercício. A capacidade respiratória máxima é cerca de 50% maior do que a ventilação pulmonar real durante o exercício máximo. Obviamente, isso proporciona um elemento de segurança para os atletas, fornecendo-lhes uma ventilação extra que pode ser requisitada em certas condições, como: exercício nas grandes altitudes, exercício em condições muito quentes, e anormalidades do sistema respiratório. O aspecto importante é que o sistema respiratório normalmente não constitui o fator mais limitante para o fornecimento de oxigênio aos músculos durante o metabolismo aeróbico muscular máximo. A seguir será visto que a capacidade do coração em bombear sangue para os músculos costuma ser um fator mais limitante (McARDLE e KATCH, 2003). 3.2.2 Gases Sanguíneos Durante o Exercício Devido à grande utilização de oxigênio pelos músculos durante o exercício, é de se esperar que a pressão de oxigênio do sangue arterial diminua acentuadamente durante atividades atléticas intensas, enquanto a pressão de dióxido de carbono do sangue venoso aumenta muito acima do valor normal. Todavia, esse normalmente não é o caso. Ambos os valores permanecem quase normais, ilustrando a extrema capacidade do sistema respiratório de proporcionar aeração muito adequada do sangue, até mesmo durante o exercício intenso. Não é preciso que haja alguma anormalidade nos gases sanguíneos para que a respiração seja estimulada durante o exercício. Na verdade, a respiração é estimulada

principalmente por mecanismos neurogênicos. Parte dessa estimulação resulta da estimulação direta do centro respiratório pelos mesmos sinais nervosos que são transmitidos do cérebro para os músculos para a realização do exercício. Acreditase que parte disso resulte de sinais sensoriais transmitidos para o centro respiratório pelos músculos em contração e pelas articulações em movimento. Toda essa estimulação nervosa da respiração é normalmente suficiente para proporcionar quase exatamente o aumento necessário da ventilação pulmonar para manter os gases respiratórios no sangue oxigênio e dióxido de carbono, dentro de valores quase normais (McARDLE e KATCH, 2003). 3.3 SISTEMA CARDIOVASCULAR NO EXERCÍCIO O sistema cardiovascular é constituído pelo coração e por todos os vasos sanguíneos do corpo. O coração então é responsável através da sua contração, pelo bombeamento de sangue para os vasos sanguíneos, fazendo assim com que chegue a todos os tecidos corporais oxigênio e nutrientes, fundamentais para a vida e para que cada tecido e órgão execute suas funções. As pessoas que se exercitam regularmente, de forma moderada, morrem menos de doença cardíaca isquêmica, 30% a 40% menos do que os sedentários. Estudos mostram que em pacientes com obstrução parcial de duas ou mais artérias coronárias, o treinamento físico leva a resultados benéficos com a dilatação e diminuição do estreitamento da luz do vaso sanguíneo coronariano, diminuindo a possibilidade de eventos cardíacos agudos. A doença coronariana começa na parede da artéria com o depósito de gordura em placas que poderão levar ao estreitamento e obstrução completa impedindo o fluxo normal do sangue. O segredo do efeito benéfico do exercício sobre as artérias também parece estar nessas paredes. O esforço físico e o conseqüente aumento da demanda de sangue pelos músculos levam ao aumento do diâmetro das artérias, que se dilatam para permitir o fluxo aumentado. As artérias doentes com deposito de gordura perdem essa capacidade, levando a um fluxo menor do que o necessário durante o esforço. A dilatação das artérias é mediada por composto químico, o oxido nítrico que é produzido nas paredes das artérias. A produção desse composto está diminuída nos quadros de doença cardíaca. O exercício leva ao aumento da pressão sobre as paredes das artérias, estimulando a produção de óxido nítrico. Estudos mostram que

após quatro semanas de treinamento a produção de óxido nítrico está normalizada em pacientes com doença arterial conhecida (GUYTON e HALL, 1996). 3.3.1 Fluxo Sanguíneo Muscular O denominador comum final da função cardiovascular no exercício consiste em fornecer oxigênio e outros nutrientes aos músculos. Para essa finalidade, o fluxo sanguíneo muscular aumenta drasticamente durante o exercício. Deve-se observar não apenas o grande aumento de fluxo. O próprio processo contrátil diminui temporariamente o fluxo sanguíneo muscular, visto que o músculo em contração comprime os vasos sanguíneos intramusculares; por conseguinte, as poderosas contrações tônicas podem causar fadiga muscular rápida, devido à falta de suprimento de oxigênio e nutrientes em quantidades suficientes durante a contração contínua. Por conseguinte, o fluxo sanguíneo muscular pode aumentar no máximo por cerca de 25 vezes durante o exercício mais intenso. Cerca de metade desse aumento do fluxo resulta da vasodilatação intramuscular causada pelos efeitos diretos do aumento do metabolismo muscular. A outra metade decorre de múltiplos fatores, dos quais o mais importante é, provavelmente, a elevação moderada da pressão arterial que ocorre no exercício, geralmente um aumento de cerca de 30%. A elevação da pressão não apenas força maior quantidade de sangue pelos vasos sanguíneos, como também distende as paredes das arteríolas e reduz ainda mais a resistência vascular (BUCHHEIT e GINDRE, 2006). Por conseguinte, aumento de 30% na pressão arterial quase sempre pode mais do que duplicar o fluxo sanguíneo, essa elevação é somada ao grande aumento do fluxo já causado pela vasodilatação metabólica. A produção de trabalho muscular aumenta o consumo de oxigênio, enquanto este, por sua vez, dilata os vasos sanguíneos musculares, aumentando, assim, o retorno venoso e o débito cardíaco. Uma pessoa normal destreinada pode aumentar o débito cardíaco em pouco mais de quatro vezes, enquanto o atleta bem treinado pode ter aumento de cerca de cinco vezes (CHAITMAN, 2003). 3.3.2 Efeito do Treinamento sobre a Hipertrofia Cardíaca e sobre o Débito Cardíaco Os maratonistas devem alcançar débitos cardíacos máximos cerca de 40%

maiores do que os obtidos pela pessoa não-treinada. Isso resulta principalmente do fato de que as câmaras cardíacas dos maratonistas aumentam cerca de 40%, juntamente com o aumento das câmaras, a massa cardíaca aumenta 40% ou mais. Por conseguinte, não apenas os músculos esqueléticos se hipertrofiam durante o treinamento atlético, mas também o coração. Todavia, o aumento do coração e a maior capacidade de bombeamento só ocorrem nos tipos de treinamento atlético de resistência, e não nos tipos de velocidade. Apesar de o coração do maratonista ser consideravelmente maior que o da pessoa normal, o débito cardíaco em repouso é quase exatamente o mesmo da pessoa normal. Todavia, esse débito cardíaco normal é obtido por grande débito sistólico, com freqüência cardíaca reduzida. Por conseguinte, a eficácia do bombeamento do coração em cada batimento cardíaco é 40 a 50% maior no atleta bem treinado do que na pessoa destreinada (GUYTON e HALL, 1996). 3.3.3 Papel do Débito Sistólico e da Freqüência Cardíaca no Aumento do Débito Cardíaco. O aumento da freqüência cardíaca é responsável, sem dúvida alguma, por maior proporção do aumento do débito cardíaco do que o aumento do débito sistólico durante o exercício intenso. Em condições normais, o débito sistólico atinge seu valor máximo quando o débito cardíaco só aumentou até a metade de seu valor máximo. Qualquer aumento posterior no débito cardíaco deverá ocorrer por aumento da freqüência cardíaca (McARDLE e KATCH, 2003). 3.3.4 Relação entre o Desempenho Cardiovascular e a VO2 máx Durante o exercício máximo, tanto a freqüência cardíaca quanto o débito sistólico aumentam por cerca de 95% em relação aos seus níveis máximos (GAYA et. al, 2009). Como o débito cardíaco é igual ao débito sistólico multiplicado pela freqüência cardíaca, constata-se que o débito cardíaco é cerca de 90% do máximo que a pessoa pode atingir. Isso contrasta com o valor aproximado de 65% do máximo para a ventilação pulmonar. Por conseguinte, pode-se perceber facilmente que, em condições normais, o sistema cardiovascular é muito mais limitante para a VO2 máx do que o sistema respiratório. Por esta razão, propõe-se freqüentemente

que o desempenho que pode ser obtido pelo maratonista depende sobretudo de seu coração, visto ser ele o elo mais limitante no fornecimento de oxigênio suficiente aos músculos em atividade. Por conseguinte, a vantagem de 40% no débito cardíaco máximo que o maratonista possui em relação ao homem destreinado comum representa, provavelmente, o único benefício fisiológico importante de seu programa de treinamento (McARDLE e KATCH, 2003). 3.3.5 Efeito da Cardiopatia e da Idade Avançada Sobre o Desempenho Atlético Em virtude da limitação crítica imposta pelo sistema cardiovascular sobre o desempenho máximo nas provas atléticas de resistência, pode-se compreender facilmente que qualquer tipo de cardiopatia capaz de reduzir o débito cardíaco máximo irá acarretar redução quase correspondente da potência muscular passível de ser alcançada (THOMAS et. al., 2009). Assim, uma pessoa com insuficiência cardíaca congestiva tem quase sempre dificuldade em atingir até mesmo a potência muscular necessária para sair da cama, muito menos para andar pelo quarto (STEVEN et. al., 2008). O débito cardíaco máximo das pessoas de idade mais avançada também diminui muito, verificando-se redução de até 50% entre os adolescentes e uma pessoa com 80 anos. Nesse caso, também se verifica que a potência muscular máxima passível de ser alcançada apresenta-se acentuadamente reduzida (BRAUNWALD, 1998). 4 AVALIAÇÃO FUNCIONAL A avaliação funcional representa a mensuração e interpretação da capacidade de mobilização metabólica (bioenergética) a partir do resultado obtido de

um protocolo (teste) específico (CORTEZ et. al., 2006). 4.1 OBJETIVOS DE UMA AVALIAÇÃO FUNCIONAL O principal objetivo, para a realização de uma avaliação funcional, inclui a investigação do processo de adequação dos ajustes fisiológicos às demandas metabólicas que ultrapassam as necessidades de repouso que representam a identificação da capacidade aeróbica máxima do avaliado. É possível encontrar outros objetivos, a partir dos dados coletados do teste ergométrico, entre eles: Identificação da capacidade aeróbica máxima; Observação do comportamento do eletrocardiograma (ECG) durante o esforço progressivo; Possibilitar a correta prescrição de exercícios baseados nos resultados, Servir como parâmetro comparativo do grau de evolução do treinamento físico, quando aplicado de forma regular; Possibilitar a comparação com avaliações futuras; Avaliar o grau da dor precordial; Determinar o grau de comprometimento de uma coronariopatia; Avaliar a resposta pressórica e cronotrópica ao esforço; Avaliar a capacidade laborativa (ANDRADE et. al., 2002). 4.2 UNIDADES METABÓLICAS Para a interpretação de uma avaliação funcional, é necessário uma total familiarização com uma série de variáveis metabólicas. São utilizados três parâmetros fisiológicos, que são o consumo de oxigênio (VO2), o MET e a Kcal consumida. 4.2.1 O Consumo Máximo de Oxigênio (VO2 máx) O consumo máximo de oxigênio (VO2 máx), é definido como a maior quantidade de oxigênio que um indivíduo é capaz de captar ao respirar ar

atmosférico, ao nível do mar, transportar aos tecidos pelo sistema cardiovascular e utilizá-lo durante em um esforço físico por unidade de tempo. É expresso em mililitros ou litros por minuto, ou ainda, mais acertadamente, é ajustada ao peso do indivíduo. Constitui-se numa medida de potência e que, trata-se de um consumo de oxigênio, que permite enunciar quantitativamente a capacidade individual de transferência de energia aeróbica. Assim sendo, trata-se de um dos fatores mais importantes que determinam a capacidade de sustentar um exercício de alta intensidade por mais de quatro ou cinco minutos. Durante um esforço físico, o VO2 tende a aumentar com a carga de trabalho, até atingir um ponto onde se verifica um platô, e não mostra qualquer aumento adicional (ou aumenta apenas ligeiramente) com uma carga de trabalho adicional é denominado consumo máximo de oxigênio, captação máxima de oxigênio, potência aeróbica máxima ou simplesmente VO2 máx. Em geral, admite-se que isso representa a capacidade individual de ressíntese aeróbica de ATP. Um trabalho adicional somente será realizado através das reações de transferência de energia da glicólise com subseqüente acúmulo de ácido lático e fadiga. O consumo máximo de oxigênio (potencia aeróbica máxima) é determinado e/ou influenciado por diversos fatores relacionados com o sistema cardiovascular e com a musculatura esquelética. No sistema cardiovascular, pode-se distinguir o volume sanguíneo, a contratilidade do miocárdio, a hipertrofia cardíaca, a resistência total periférica e a freqüência cardíaca máxima, enquanto no nível de musculatura esquelética, a capilarização, o fluxo sanguíneo, a condutância vascular e a capacidade oxidativa e outros fatores como a idade, sexo, constituição corporal, ambiente, etc., sendo relativamente constante em um dado indivíduo, embora também possa diminuir por falta de atividade física aeróbica, ou aumentar após um período de treinamento aeróbico (DELGADO, 2004). 4.3 MÉTODOS UTILIZADOS PARA MENSURAÇÃO DA CAPACIDADE AERÓBICA Os métodos utilizados para a medida da capacidade aeróbica podem ser amplamente classificados de duas formas: Direta e Indireta. A metodologia direta realiza a medida do consumo de oxigênio diretamente, através de métodos químicos

e físicos, com um custo operacional elevado, os quais podem ser desejáveis em certas situações de investigações laboratoriais, sendo, no entanto, a medida de maior precisão. As metodologias indiretas são baseadas na relação lineares que existe entre a freqüência cardíaca (FC) e o VO2, medido quando as requisições e produção energética tenham chegado a equilíbrio (steady-state). Esses tipos de avaliação são feitos utilizando-se nomogramas, fórmulas, análises de regressão, desenvolvidos a partir de medidas diretas e com o objetivo de predizer o VO2 do indivíduo partindo de um teste físico. Neste trabalho serão abordadas apenas as técnicas indiretas, onde o consumo de oxigênio é calculado em função de equações de predição, visando, sobretudo aplicação prática nas avaliações físicas (DELGADO, 2004). 4.3.1 Testes Máximos e Submáximos Algumas controvérsias têm surgido com relação à utilização de testes máximos ou submáximos. Aqui, entende-se por teste máximo aquele no qual o indivíduo é levado a sua exaustão voluntária e tende a levar o avaliado ao máximo de sua captação de oxigênio, ou o teste é interrompido por sinais ou sintomas que impeçam seu desenvolvimento. De uma forma geral para aquelas pessoas que apresentam um baixo risco, com menos de 30 anos e que realizam atividades físicas rotineiras, bem como para os atletas, os protocolos de avaliação máximos serão os mais indicados. Uma das mais importantes aplicações do teste máximo além da predição do estado funcional é em relação ao diagnóstico de doenças coronarianas (RIOU et. al., 2009) O teste submáximo é aquele em que o indivíduo é levado a atingir um nível de esforço pré-estabelecido e o valor de VO2 máx é obtido através de um previsor sem, portanto impor um stress orgânico intenso durante a realização do teste. De maneira geral os testes de esforço de caráter máximo apresentam maiores riscos que os submáximos, devendo ser controlados por pessoas experientes. Embora os testes de exercícios submáximos não sejam tão eficazes na identificação de condições de doenças, eles são apropriados para avaliar

condicionamento cardiorrespiratório antes e depois de programas de exercícios. Os protocolos de avaliação submáximo, serão mais indicados para pessoas com a faixas etárias superiores a 30 anos, com algum tipo de fator de risco coronário primário presente, sem o hábito de prática de atividade física regular e na ausência de um médico ou alguns equipamentos de segurança. Os testes submáximos são bastante úteis para determinação da aptidão cardiorrespiratória, quando um teste diagnóstico não se faz necessário, isto é, em indivíduos com o consumo máximo de oxigênio sejam inferiores as obtidas em protocolos máximos, estes oferecem menos riscos para o avaliado, sendo assim realizados em curto espaço de tempo, facilitando a sua operacionalidade (DELGADO, 2004). 4.3.2 Testes Utilizados na Mensuração da Capacidade Aeróbica A captação máxima de oxigênio pode ser determinada através de inúmeras tarefas que ativam grandes grupos musculares, desde que o exercício seja de intensidade e duração suficientes para engajar ao máximo a transferência de energia aeróbica. As formas habituais de exercícios incluem andar ou correr numa esteira rolante, subir e descer de um banco ou pedalar. Logo, quanto aos tipos, de testes que podem ser aplicados na avaliação da capacidade aeróbicos tem-se: - Testes de campo: com baixo custo operacional e com possibilidade de avaliação em massa. - Testes ergométricos: são testes que utilizam ergômetros, que são instrumentos que medem trabalho (DELGADO, 2004). 4.3.3 Testes Ergométricos Na avaliação da potência aeróbica pode-se usar alguns aparelhos denominados ergômetros. Dentre os principais ergômetros podemos citar a bicicleta e a esteira rolante. Ambos apresentam vantagens e limitações que devem ser cuidadosamente analisados, para determinação do instrumento a ser utilizado. Para cada ergômetro existe uma grande variedade de protocolos que

submetem o testado a uma determinada quantidade de esforço. Enquanto alguns protocolos são comuns a vários ergômetros, outros são ergômetros-dependentes. Todos os protocolos apresentam virtudes e limitações, mas são os objetivos do teste. A população a ser testada e a disponibilidade de tempo e material que decidirão o melhor ergômetro e protocolo (DELGADO, 2004). 4.3.4 Considerações Gerais Existe um grande número de protocolos que apresentam pontos positivos e negativos, porém a escolha de um determinado teste deverá necessariamente ter como orientação a interferência dos seguintes fatores: objetivos do teste; população a ser testada; disponibilidade de material. Cada um dos testes apresenta características específicas. As diferenças entre os protocolos emergem do amplo espectro de variações existentes que permitem um grande número de combinações. Podem ser encontrados os seguintes fatores envolvidos em um teste: - Formas operacionais: o grau de utilização de recursos materiais durante a realização de um teste indica seu nível de complexidade. Caso seja realizado em laboratório, com a utilização de vários instrumentos como eletrocardiógrafo, ergômetro, analisador de gases, desfibrilador, entre outros, pode ser considerado como um teste complexo. Em situações onde é realizado em campo, empregando poucos recursos de instrumentos, como, por exemplo, o teste de Cooper de andar e correr 12 minutos, pode ser considerado como simples. - Fonte de energia: dependendo do teste ergométrico, é possível avaliar as diferentes fontes energéticas existentes. O teste de cicloergometria de Balke tem como objetivo principal avaliar a capacidade aeróbica. Já um teste utilizando o cicloergômetro, como o de Wingate, tem como objetivo avaliar a capacidade anaeróbica; - Demanda metabólica: um teste ergométrico, para avaliação da capacidade aeróbica, pode impor uma demanda metabólica máxima ou submáxima. Quando da realização de um teste máximo, como por exemplo, o protocolo de Jones em cicloergometria, se analisa a capacidade máxima aeróbica de trabalho do avaliado. Durante a realização de um teste submáximo, o resultado obtido representa uma extrapolação do resultado máximo previsto para o avaliado, sem expor o mesmo a

uma intensidade elevada durante o teste; - Duração total o teste: um teste para mensurar o VO2 máx, deverá ter como faixa de tempo ideal um mínimo de 8 e máximo de 15 minutos. Esta faixa de tempo permite a obtenção de dados fisiológicos suficientes para uma análise de comportamento físico durante o exercício; - Tipo de carga: a forma de aplicação de carga durante a realização de um teste, pode ser de forma única (protocolo de banco de Harvard) ou de forma variada (protocolo de banco de Balke). - Tempo de duração dos estágios: dependendo do tempo de duração de um estágio, é possível o aparecimento do Steady State; como exemplo desta metodologia está o teste de Ellestad. - Existência de pausas: os procedimentos de execução dos testes podem ser divididos em dois grupos, contínuos e descontínuos. Nos protocolos contínuos não existe interrupção do teste em nenhum momento durante sua realização (protocolo de Fox em cicloergometria). Nos protocolos descontínuos, mais característicos para população de cardíacos, é possível estabelecer um período de repouso durante a execução, podendo ainda ser de forma ativa ou passiva. - Múltiplos da Taxa Metabólica de Repouso (METs): é a relação entre a energia gasta em uma atividade e o gasto do metabolismo de repouso. Considerando 1 MET como aproximadamente 3,5 ml/kg,min de O2. - Consumo de Energia por Minuto (kcal/min): o dispêndio de energia é calculado, multiplicando as quilocalorias gastas por minuto (kcal/min) pela duração da atividade em minutos (DELGADO, 2004). 5 AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE CARDIORRESPIRATÓRIA Talvez esta seja uma das avaliações mais temidas pelos profissionais que trabalham com avaliação física, a explicação para isso é que a realização de um

teste de condicionamento cardiorrespiratório implica, necessariamente em um risco do avaliado vir a manifestar algum comprometimento cardiológico, no entanto, os resultados dos testes de condicionamento cardiorrespiratório devem ser utilizados para prescrever recomendações de exercícios e permitir ao avaliador ou professor de educação física avaliar mudanças positivas ou negativas no trabalho de condicionamento cardiorrespiratório (NUNES et. al., 2005). Diante do que foi apresentado, e defendendo a prática da realização da avaliação da capacidade aeróbica, fica a questão de como fazer a avaliação da capacidade aeróbica com riscos mínimos. Segundo DELGADO (2004), para minimizar riscos, é aconselhável uma série de procedimentos, para que o trabalho se desenvolva com total segurança. Essa seqüência progride da avaliação inicial ao teste e à programação de condicionamento, com oportunidade para re-testes e revisões periódicas do programa à medida que são obtidos ganhos em condicionamento. Seqüência de atividades recomendadas para minimizar o risco do teste de condicionamento cardiorrespiratório: Declaração de consentimento; Histórico de saúde; Avaliação médica; Testes do condicionamento em repouso, composição corporal e psicológico; Aplicação de testes submáximos; Testes para função lombar; Prescrição de atividade de condicionamento cardiorrespiratório; Prescrição de atividades para força e endurance muscular; Revisão das atividades prescritas; Retestes periódicos.

5.1 AVALIAÇÃO MÉDICA A Avaliação Médica deve ser realizada por um médico, se possível com formação em Medicina do Esporte. Um exame clínico consta, basicamente, de duas partes. Na primeira é realizado o exame médico, e na segunda, serão solicitados alguns exames complementares. Recomenda-se a realização de uma rotina mínima de exames físicos e laboratoriais como parte integrante da avaliação médica (LAUKKANEN et. al., 2009). 5.1.1 Exame Médico Nesta etapa, deverá ser realizado um exame sumário abrangendo aspectos cardiovasculares, pulmonares e ortopédicos, incluindo-se ai os seguintes tópicos: freqüência e regularidade de pulso; pressão arterial deitado, sentado e de pé; ausculta pulmonar com atenção especial para a uniformidade dos sons respiratórios em todas as áreas (ausência de estertores, roncos e sibilos); palpação do impulso cardíaco apical; ausculta cardíaca com atenção especial para os sopros, galopes, cliques e atritos; palpação e ausculta das artérias carótidas, abdominais e femorais; palpação e inspeção dos membros inferiores para verificação de edema e de pulsos arteriais; ausência ou presença de xantomas ou xantelasmas e problemas ortopédicos (OLIVEIRA e ANJOS, 2008). 5.1.2 Exames Complementares Feito em consultório ou laboratório, dependendo do exame. Serve para confirmar ou controlar com mais precisão o perfil patológico do avaliado. Em geral, enquadram-se os exames: - Dentário: semestralmente ou anualmente uma visita ao dentista para tratamento ou para evitar futuros problemas nos dentes que poderão vir a afetar a saúde; - Otorrinolaringológico: para evitar focos nas amídalas, carne esponjosa obstruindo o nariz ou desvio no septo. - Radiológico: serve para assegurar ao médico a integridade do coração, pulmões e vísceras, além de controle pela comparação dos exames posteriores com o inicial.

- Sangue: constitui-se num exame importantíssimo, pois verifica a quantidade de hemácias ou glóbulos vermelhos, leucócitos, taxa de colesterol, glicose e etc. - Urina: verificam os elementos anormais, microscopia da sedimentação, densidade e reação; - Fezes: verificação da existência ou não de parasitas intestinais, ainda que na sua forma ovular (DELGADO, 2004). 5.1.3 Recomendações antes do Teste De acordo com ANDRADE et. al. (2002), para a realização do teste de esforço, é necessário orientar o avaliado no sentido da execução de certos procedimentos básicos que deverão ser seguidos, antes da realização do mesmo: - A informação contendo o horário e a data da realização do teste; - Chegar ao local de avaliação com pelo menos 20 minutos de antecedência; - Trazer, caso possua, um ECG em repouso, recente; - Estabelecer um intervalo mínimo de 2 horas entre a última refeição e a realização do teste; - Evitar abusos e excessos na noite anterior - Ter uma noite repousante entre 6 e 8 horas de sono; - Evitar o uso de sedativos; - Evitar fumar com pelo menos 4 horas de antecedência da realização do teste; - Evitar qualquer tipo de atividade física no dia do teste; - Providenciar vestimenta adequada para realização do teste (bermuda e tênis); - Comunicar qualquer tipo de alteração no estado de saúde ocorrida nas 24 horas que antecederam à realização do teste. 5.1.4 Condições em que são Indicações os Testes de Esforço Existem indicações para o teste de esforço, entre elas as dez principais indicações do teste ergométrico são: - Confirmação do diagnóstico de doenças coronarianas; - Avaliação do comportamento de arritmias cardíacas no esforço; - Avaliação da hipertensão e de sua terapêutica; - Avaliação da terapêutica antianginosa;

- Avaliação da eficiência da terapia cirúrgica; - Avaliação de dor precordial e dispnéia a esforços; - Avaliação de resultados de programas de reabilitação cardíaca; - Detecção de pacientes em alto risco de coronariopatia e morte súbita; - Avaliação de paciente pós-infarto; - Avaliação da tolerância do esforço (DELGADO, 2004). 5.1.5 Condições onde são Contra-Indicações os Testes de Esforço Para a realização de uma avaliação funcional, existem alguns pontos que são considerados totalmente contra-indicados para a aplicação de um teste ergométrico: -Grupo das insuficiências coronarianas: Infarto do miocárdio recente, angina do peito instável, lesão de tronco de coronária esquerda ou equivalente. -Grupo da valvulopatias: Estenose aórtica grave. -Grupo dos distúrbios funcionais: Hipertensão arterial não controlada, Insuficiência cardíaca descompensada, arritmias potencialmente graves. -Grupo de outros comprometimentos: miocardites e pericardites, angina instável ou de repouso, intoxicação medicamentosa, limitação física ou emocional, qualquer enfermidade aguda, febril ou grave, embolia pulmonar, desequilíbrios metabólicos e eletrolíticos (DELGADO, 2004). 5.1.6 Variáveis a Serem Controlados Durante o Teste Durante a realização de um teste de esforço, torna-se necessário, para uma perfeita segurança do avaliado, a constante mensuração e análise de variáveis como IPE (Índice de percepção de esforço), FC e PA. 5.1.6.1 Índice de Percepção de Esforço (IPE) O índice de percepção de esforço, em sua versão original, é composto por uma escala de quinze categorias graduadas de seis a vinte, onde cada número ímpar associa-se a uma descrição verbal. Dentre as características principais do IPE, durante a realização de uma

avaliação funcional, destacam-se: 1) Trata-se de uma escala de 15 pontos, numerada de 6 a 20, que representa, respectivamente, os níveis mínimo e máximo de cansaço; 2) O IPE e a FC, estão linearmente relacionados entre si e com a intensidade de trabalho; 3) Existe uma boa relação entre IPE e vários fatores fisiológicos como VE (volume minuto), lactato e VO2; 4) A escala do IPE tem demonstrado ser um indicador confiável do nível de esforço físico; 5) O IPE fornece ao avaliador um dado objetivo através do qual pode comparar o grau relativo de fadiga de um teste para outro; 6) Serve como parâmetro para interromper um teste; 7) Obtém-se o valor da escala, interrogando o avaliado a cada minuto; 8) O IPE apresenta uma grande relação com os fatores indicativos de fadiga muscular; 9) A escala não é perfeita, e deve ser interpretada no conjunto com o bom senso, além de outros parâmetros clínicos, fisiológicos e psicológicos envolvidos na avaliação (DELGADO, 2004). 5.1.6.2 Freqüência Cardíaca A freqüência cardíaca refere-se ao número de vezes que o coração bate a cada minuto. Contrações simultâneas dos lados direito e esquerdo do coração (os ventrículos) são contadas como um batimento. Como a freqüência cardíaca responde ao esforço com um aumento que, no caso do esforço de caráter dinâmico, é proporcional à intensidade de trabalho e ao consumo de oxigênio, a mensuração da FC pode ser usada para determinar a intensidade do exercício. A freqüência cardíaca durante ou após um exercício pode ser usada como medição da aptidão física e também para avaliar a aptidão respiratória em termos de cálculo aproximado da capacidade do corpo utilizar o oxigênio que está sendo transportado pelo sangue (VO2 máx), apesar da freqüência cardíaca sozinha somente medir o stress no coração o que é uma pequena parte da imagem global do estado de uma pessoa. Enquanto um sistema cardiocirculatório bem condicionado é altamente

desejável para todos, o treinamento para melhorar o sistema cardíaco não irá necessariamente criar adaptações em determinados músculos necessários para uma ótima performance. Entretanto, o inverso é verdadeiro. Através de uma otimização o treinamento dos músculos o atleta irá quase certamente ver as grandes melhoras no sistema cardiocirculatório (CHAITMAN, 2003). 5.1.6.3 Pressão Arterial (PA) A mensuração da PA representa um dos principais parâmetros clínicos a ser controlado em um teste de esforço. Dependendo do comportamento apresentado durante a execução de um teste ergométrico pode ser identificado algum comprometimento cardíaco. A pressão arterial é a pressão que o sangue bombeado pelo coração exerce dentro do sistema arterial durante um ciclo cardíaco, é a força motriz da circulação do sangue, provocada pelo bombeamento do coração que oscila entre pressão sanguínea sistólica e diastólica. A pressão arterial, como produto da ejeção do coração e da resistência periférica, é modificada através de influências sobre um ou ambos parâmetros. Para uma pressão com regulação ótima, portanto, é sempre decisiva uma ação conjunta ordenada do volume cardíaco e da resistência periférica. O comportamento normal da pressão arterial em um esforço do tipo dinâmico é representado por um aumento progressivo da pressão sistólica correspondente à intensidade do esforço e por uma redução ou manutenção da pressão diastólica, resultando em uma maior pressão média e, por conseguinte uma maior perfusão tecidual (CHAITMAN, 2003). 6 DISCUSSÃO