Qualidade e Segurança do doente: Novas Práticas, novos conhecimentos. Margarida Eiras (ESTeSL) novembro 2012

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Transcrição:

Qualidade e Segurança do doente: Novas Práticas, novos conhecimentos Margarida Eiras (ESTeSL) novembro 2012

Agenda A Cultura de Segurança do Doente indicador fundamental das unidades de saúde Avaliação da Cultura de Segurança do Doente na prestação de cuidados Cultura de Segurança do Doente que caminho????

Cultura de Segurança To Err is Human: Building a Safer Health System (IOM, 1999) Dados conhecidos dos hospitais USA 44.000/98.000 mortes/ano em resultado de erros médicos 7.000 mortes evitáveis relacionadas com o medicamento Custos estimados de 17/29 biliões de dólares Erros clínicos no internamento - 8ª causa de morte

Avaliar a Cultura de Segurança Dados conhecidos no UK (NHS, 2000) (i) 400 pessoas morrem/ano envolvendo dispositivos médicos (ii) 10 000 eventos adversos são notificados por reacção ao medicamento (iii) 1 150 pessoas com passagem por instituições psiquiátricas cometeram suicídio (iv) 28 000 queixas relacionadas com o tratamento nos hospitais (v) 400 milhões/ano são gastos em resultado das queixas (vi) 1 bilião, custo estimado para as infecções hospitalares (15% poderiam ser evitáveis) (vii) 850 000/ano eventos adversos (em 10% das admissões) (viii) 2 biliões/ano de custos por dias adicionais de internamento

Cultura de Segurança RECOMENDAÇÃO DO CONSELHO sobre a segurança dos doentes, incluindo a prevenção e o controlo de infecções associadas aos cuidados de saúde (Junho 2009) 1. Desenvolver políticas e programas nacionais 2. Informar e responsabilizar o cidadão 3. Desenvolver sistemas de notificação e de aprendizagem 4. Promover o ensino e a formação 5. Classificar e medir a segurança do doente 6. Partilhar conhecimentos, experiências e boas práticas 7. Desenvolver e promover a investigação 8. Desenvolver estratégia de prevenção e controlo das infeções associadas aos cuidados de saúde

Cultura de Segurança 1. Cultura onde todos os profissionais aceitam a responsabilidade da segurança (dos próprios, dos colegas, dos doentes e das visitas) 2. Cultura que assume a segurança acima dos objectivos financeiros ou operacionais 3. Cultura que incentiva e gratifica a identificação, comunicação e solução de acontecimentos de segurança 4. Cultura que promove a aprendizagem organizacional em resultado dos acidentes 5. Cultura que providencia recursos adequados, estrutura e accountability para manter os sistemas de segurança efectivos

Cultura de Segurança Principais pilares de uma cultura de segurança 1. Reduzir atos/ambientes não seguros - É reconhecido que os acidentes resultam de ações ou ambientes não seguros. a) Desenho dos processos de trabalho (procedimentos, NOCs) b) Implementação de ações de verificação Resultado: Minimizar a ocorrência de comportamentos não seguros que poderão conduzir a acidentes. Por exemplo confirmar o nome do doente permite diminuir a probabilidade de troca de identificação.

Cultura de Segurança 2. Melhoria contínua do sistema de segurança Não ignorar a responsabilidade individual! Enfoque no sistema e não no indivíduo Quando um near miss ou um incidente ocorre é importante detectar o que falhou, criar ou melhorar procedimentos que evitem que volte a ocorrer.

Cultura de Segurança 3. Notificar e aprender com os erros É importante a existência de um sistema de notificação, de modo a que posteriormente se evite o mesmo erro (comunicação, aprendizagem e partilha). 4. Incrementar uma cultura proactiva Pensar sobre o que poderá correr mal num serviço leva a que os profissionais actuem de forma a que esses possíveis acontecimentos não ocorram efectivamente (prevenção).

Cultura de Segurança 5. Trabalho de equipa e coesão de grupo Os profissionais de diferentes áreas devem partilhar ideias sobre possíveis erros, incidentes e ocorrências, conduzindo a novas ideias que poderão não só evitar esses acontecimentos, como também melhorar o desempenho do sistema. A coesão do grupo conduz à melhor comunicação entre profissionais e diminuição da atitude de culpa.

Avaliar a Cultura de Segurança Hospital Survey on Patient Safety Culture (HSPSC) Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ) Objetivo avaliar e monitorizar: a cultura de segurança da unidade/serviço o compromisso da liderança com a segurança do doente o erro e a notificação de incidentes e eventos adversos 42 questões, avaliadas por uma escala de likert de cinco pontos 12 dimensões da cultura de segurança do doente testado, implementado e revisto nos USA desde 2004 também usado em alguns países da Europa

Avaliar a Cultura de Segurança Dimensões - definidas com base no documento da AHRQ Hospital Survey on Patient Safety Culture (AHRQ Publication No. 04-0041, September 2004) Resultados (% de positivos) USA (2004) ES (2008) PT* (2011) 1 Trabalho em equipa 74 72 73 2 Expectativas do supervisor/gestor e acções que promovem a SD 71 62 62 3 Apoio à SD pela gestão 60 25 48 4 Aprendizagem organizacional - melhoria continua 71 54 68 5 Percepções gerias sobre a SD 56 48 59 6 Comunicação e feedback acerca do erro 52 44 54 7 Abertura na comunicação 61 48 52 8 Frequência da notificação 52 47 44 9 Trabalho entre unidade 53 42 51 10 Dotação de profissionais 50 28 47 11 Transições 45 54 59 12 Resposta ao erro não punitiva 43 53 41 * Estudo piloto conduzido pela APDH/DGS em 7 hospitais portugueses

Recomendações ao nível nacional Incrementar uma política para a segurança do doente que permita: 1) Reforçar a articulação entre os níveis nacional, regional e local e criar estruturas regionais/locais onde não existam; 2) Aperfeiçoar competências basilares para a segurança do doente e gestão do risco (Cultura de segurança, Gestão do risco, Comunicação e Trabalho em equipa, Transições, etc ); 3) Implementar/desenvolver o sistema de notificação para estimular a aprendizagem;

Recomendações ao nível nacional Incrementar uma política para a segurança do doente que permita: 4) Adotar indicadores associados ao contrato programa da instituição, que permitam acompanhar o desenvolvimento da segurança do doente ao nível nacional, regional e local, e facilitem a identificação das intervenções necessárias; 5) Envolver e informar o doente/familiar sobre a segurança do doente; 6) Criar e promover redes de conhecimento sobre a segurança do doente; 7) Motivar a investigação na área da segurança do doente (potenciando linhas de financiamento).

Recomendações ao nível local 1) Nomear focal point da instituição/serviços para a segurança do doente e constituir a estrutura de gestão do risco; 2) Implementar plano de ação para a segurança do doente (que inclua as ações da política nacional, as áreas problemáticas identificadas a nível local e estratégias para envolver e informar o doente/família); 3) Implementar e/ou desenvolver o Sistema de Notificação; 4) Promover a formação interna para sensibilizar e desenvolver competências em segurança do doente e gestão de risco; 5) Criar mecanismos de comunicação organizacional eficazes

Cultura de Segurança que caminho? Problema: Preparação inadequada da alta hospitalar

Cultura de Segurança que caminho? Fatores Humanos Politicas e Procedimentos Utilização de sapatos ruidosos Muitas pessoas nos corredores (visitas e profissionais de outros sectores - cozinha, farmácia, material clinico, ) Falta de conhecimento e sensibilidade sobre a temática Falta de cultura de segurança Falta de normas e protocolos Inapropriados (bater com os carros, macas ou camas contra as portas para abri-las) Ruído Elevador antigo com porta interior ruidosa Campainhas das enfermarias Alarmes Carros de transporte de material, roupa e alimentação degradados Toque de telefones/ telemóveis Design Arquitetónico desadequado Elevadores avariados e os existentes encontram-se dentro dos serviços (um elevador por ala) Isolamento acústico inexistente (chão em mármore) O acesso aos serviços periféricos faz-se pelo interior de outros serviços Equipamentos Fatores do Ambiente / Trabalho

Campanha Anti-ruído

Cultura de Segurança que caminho? Problema: Prevenção de Erros de Medicação no Desenvolvimento da Atividade de Enfermagem