PREVENÇÃO E TRATAMENTO NO ABUSO DE ÁLCOOL E DROGAS



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Metodologia para os acampamentos e assentamentos do MST PREVENÇÃO E TRATAMENTO NO ABUSO DE ÁLCOOL E DROGAS Me ajude quando eu menos merecer. Princípios básicos - Tudo que vejo no outro existe também em mim de alguma maneira. - Aquilo que faço para outro, faço dentro de mim comigo mesmo. - O mal pode ser curado somente com o bem. - O ser humano é a sua consciência. (Edição 14.12.2010) O grupo do trabalho dos vários setores do MST e Conscientia Instituto de psicanálise e consultoria coordenação) 1

PREVENÇÃO E TRATAMENTO NO ABUSO DE ÁLCOOL E DROGAS - despertar o ser reprimido Índice Pag. 1 Objetivo e justificativa 3 2 Publico 4 3 Como a estrutura socioeconômica induz para drogas 5 4 Vantagens e desvantagens de uso de drogas 5 5 Conceito sobre o ser humano como pano de fundo 6 6 Autoconhecimento e autoconfiança 10 7 Prevenção 11 8 Processo de tratamento 11 9 Grupos de autoconhecimento 13 10 Ferramentas para pessoas próximas 14 Anexos 1 Imagem do ser humano 18 2 Riquezas humanas e empecilhos 19 3 Atitude de censura 20 4 Trauma: uma atitude de censura crônica 21 5 Atitude de inveja 22 6 Perfeccionismo, mania de grandeza, egocentrismo 23 7 Perguntas de autoconhecimento 24 8 Formulário sobre Plano de cooperação 25 9 Sobre opções de tratamento para o publico geral 26 2

1 Objetivo e justificativa Alcoolismo ou dependência de drogas pode ser visto como qualquer outra doença, que tem sua múltiplas origens. Podemos dizer que o ser humano manifesta seu mal estar de modos diferentes; doenças físicas, doenças psíquicas e/ou dificuldades de adaptação social. De modo geral as causas estão em seguintes questões: - A degradação da sociedade causada pelo desenvolvimento desenfreado do capitalismo selvagem e seus valores anti-humanistas é provavelmente a causa maior do mal estar. Um trabalhador é tão alienado da finalidade e dos frutos do seu trabalho que depois chegando à hora de se folgar, ele se aliena varias maneiras para esquecer a humilhação que passou na posição de assalariado com um salário miserável. E uma parte significativa de pessoas não tem trabalho. Muitos jovens não vêem perspectivas de trabalho. A ociosidade é a mãe de todos os vícios, como se fala. - Na infância a família ou pessoas próximas tiveram seus problemas especiais como carência de amor, rejeição da criança, alcoolismo, agressividade e/ou conduta de humilhação, o que afeta negativamente o desenvolvimento da criança. - O ser humano tem suas fraquezas genéticas, doenças hereditárias no nível físico e psíquico. Há também questões ambientais, poluição, comida com tóxicos etc. - A própria pessoa tem a seu jeito de lidar com possibilidades e desafios (problemas) da vida de modos diferentes; de modo mais construtivo ou mais destrutivo. Cada um de nos temos nossas atitudes e intenções perante a vida. Algo que não é racional, algo que pertence à conduta da pessoa, ao uso de vontade implicando na responsabilidade. O uso de álcool e drogas é inclusive muitas vezes uma tentativa para tentar resolver os seus problemas. Nesse conceito o principio básico de prevenção e tratamento está no pensamento socrático: Conhece a ti mesmo - seja saudável! Consciência sobre o si mesmo, consciência sobre as suas origens e consciência sobre a sociedade são elementos essências no lidar com dependência. Nesse contexto o termo consciência engloba: - auto-conhecimento conhecer a si mesmo; suas intenções, atitudes, costumes emocionais, seus valores, suas riquezas humanas e seus empecilhos (limitações) - compreensão sobre o ser humano conhecer as pessoas próximas, mãe e pai, como elas são sem esperar algo irreal, conhecer as influencias e experiências, boas e más que passou sem remoer ou condenar por injustiças que passou - consciência sobre as estruturas e uso doentio do poder, consciência da doença da sociedade - sentimento e crença na vida, naquilo que é sã, verdadeiro e bonito O uso abusivo de álcool e outros drogas é um problema serio da sociedade em geral, isto se reflete nos acampamentos e assentamentos também. Antigamente o problema era mais focado no álcool mas atualmente a droga tem se tornado mais e mais complicado sendo que a dependência é criada muito rapidamente e desestruturação da pessoa nos seus valores e na sua ética é fulminante com certas drogas como crack. O simples cigarro cria uma dependência forte e causa vastos danos de saúde. 3

Drogas alteram a vida psíquica e fisiológica do usuário. Ela reprime e altera a consciência. Então uma pessoa drogada é reprimida, ela se auto-mutila. Como despertar o ser humano verdadeiro numa pessoa mutilada por droga e/ou pela sociedade? De modo que agro business envenena os campos, droga business (industria farmacêutica) envenena pessoas em busca desvairada de lucros e poder. A estrutura socioeconômica é o maior repressor da consciência humana. É difícil promover agro ecologia se não cuidamos da ecologia humana. Pessoa dependente não oferece nenhum perigo para os poderes da sociedade. Ela é uma presa fácil, ela consume desvairadamente e assim gera lucros, ela é uma peça necessária no capitalismo que alimenta o sistema. Ela faz parte do sistema vicioso como um escravo dos poderes. 2 Publico Os próprios usuários são o alvo principal, mas este programa procura dar subsídios e ferramentas também para quem lida com os dependentes: - familiares dos usuários ou pessoas de convivência - educadores - militantes e lideranças do movimento - coletivo onde usuários fazem parte, núcleo de base e comunidade - grupo especializado que recebe uma formação (multiplicadores do programa) A formação é feita em níveis diferentes de aprofundamento dependendo da necessidade com o conjunto dos militantes do MST. A abordagem é de levantar a problemática, discutir, despertar consciência e sugerir modos de como lidar com esta problemática. 3 Como a estrutura socioeconômica induz para drogas A estrutura socioeconômica de classes aliena, explora, estressa e reprime o cidadão sendo que ela o submete numa constante competição e no dinheirismo (superficialismo) e no outro lado incentiva para um prazer imediato, o consumismo. Isto é a maior causa da problemática do mal-estar dos povos. A mudança da estrutura econômica é o objetivo do MST. É importante todos nos conscientizar sobre o efeito do capitalismo no nosso interior, nos nossos valores e hábitos, refletindo em dois aspectos: 1 dinheirismo (quem tem capital = dinheiro, tem o poder, deus é dinheiro, posse de capital significa direito de exploração) leva as conseqüências: - exploração (o capitalista tem o poder legalizado de exploração sobre o trabalho dos outros e sobre os recursos naturais) - superficialidade (tudo é valorizado por dinheiro em função do possível lucro, perda do sentido verdadeiro da vida) - consumismo (mais consumo e produção dão maior fluxo financeiro que significa maior lucro) - alienação (quem trabalha como empregado não tem poder de decisão portanto não tem direito a responsabilidade real) 4

- imediatismo (tudo ao curto prazo, destruição dos recursos naturais e humanos) 2 competição e concorrência leva para: - conflitismo (conflito estrutural entre empregador e empregado) - inimizidade (outro pode pegar o seu lugar) - individualismo e narcisismo (cada um por si, egocentrismo, egoísmo) - megalomania (eu tenho que ser melhor que outros, eu posso tudo, tem que ser grande) - inveja (desigualdades provocam comparações e inveja) Nós todos somos filhos do capitalismo. Somos contaminados pelos valores e hábitos capitalistas. E isto é uma das grandes causas de abuso de drogas. Uma pessoa drogada ou alcoolizada na oferece risco ao sistema do poder. Droga fortalece e é o instrumento da estrutura de dominação que hoje se chama capitalismo, antes chamava de colonialismo e feudalismo. 4 As vantagens e desvantagens de uso de drogas Droga é um remédio para tentar curar uma doença, e realmente álcool e drogas ilegais também tem efeitos muito positivos. Drogas legalizadas se compra na farmácia, pinga no buteco (bar) ou no supermercado, droga ilegal no mercado paralelo. Qual é a diferença entre pílulas antidepressivas ou um copo de pinga? Os dois são usados para aliviar depressão, se tornar mais alegre. Qual é a diferença entre pílulas calmantes e maconha? As drogas alteram quimicamente o funcionamento natural do cérebro afetando o humor e o funcionamento da consciência. Quem usa droga busca normalmente seguintes vantagens: - sensação de liberdade, alegria eufórica, prazer, felicidade quase ilimitada... - libertação de timidez, insegurança, medo e ansiedade - sensação de grandeza, parece que tudo pode, parece que é admirado e desejado por todos inclusive sexualmente - fuga da consciência da carência afetiva e revolta contra ela - fuga da consciência de problemas e erros cometidos como se assim conseguisse escapar as dificuldades - fuga da consciência de solidão, tristeza, depressão, de falta de sentido de vida - fuga da responsabilidade de usar suas riquezas humanas e possibilidades - sensação de aproveitar ou ter coragem de comer o fruto proibido - possibilidade de poder e dinheiro participando no trafico No outro lado há um custo do abuso, que também deve ser conscientizada: - perda gradativa de saúde psíquica e física - perda de relacionamentos afetivos verdadeiros - dificuldade de inserção social e de trabalho - desestruturação econômica da vida - na ilegalidade risco de prisão - aumento de probabilidade de morte violento As vantagens e desvantagens existem simultaneamente. Para pode avaliar os pesos da balança de forma equilibrada é necessário evitar moralismo, evitar julgar e (auto)culpar ou condenar. A conduta de censura impede a conscientização e a motivação para mudança de atitudes. 5

Quando a pessoa tem um insight (uma percepção profunda) de que ela está meio que obcecada para planejar como ter a próxima dose, e depois deste passo quando ela avalia que está perdendo algo muito importante usando droga (por exemplo, família, trabalho, animação na vida, alegria, entusiasmo, criatividade, livros que queria ler, saúde, relacionamentos afetivos, respeito dos outros), é que ela pode se sentir motivada para se esforçar em fazer uma mudança de hábitos na vida. Esse insight só pode acontecer num clima de aceitação e afeto. Todo tipo de repressão afasta e impede o contato com a própria consciência. 5 Conceito sobre o ser humano como pano de fundo Aqui será apresentado o pano de fundo da metodologia. Os princípios sobre - o ser humano e suas relações com outros e - os valores universais de amor (aplicados coletivamente na estrutura social) são a base tanto na prevenção como no tratamento individual ou grupos de auto-ajuda. O amor é compreendido como afeto por outro e por vida. O amor se manifesta em boas ações. Ele representa a ética universal na conduta do ser humano e na organização do coletivo e da sociedade (, o que está muito longe da realidade praticada). O ser humano é em sujeito histórico, o passado tem muita importância. A relação com os pais é aspecto fundamental no desenvolvimento da criança. As injustiças da parte das pessoas próximas como da própria sociedade, tem um forte efeito. Isto não elimina a responsabilidade do ser humano pelas suas escolhas de como encarar as coisas da vida. Só existe responsabilidade na liberdade e a liberdade implica na responsabilidade. O ser humano atua em três dimensões: - Atividade psíquica: Ele pensa, sente e age no sentido espiritual (metafísico). Ele reflete sobre suas ações, ele pensa sobre a finalidade de sua vida e sobre a existência depois da morte. Na vida psíquica existe um eterno mistério, à vontade, a liberdade de escolha/conduta, de como encarar a vida. O aspecto espiritual é o mais profundo, depois vem o sentir e finalmente o intelectual (pensar). (Se não quiser não é necessário de considerar o aspecto metafísico.) - Atividade fisiológica: Ele funciona no sentido neurológico, hormonal e imunológico. Em outras palavras, ele trabalha/age nos seus processos fisiológicos. Ele cresce, se movimenta, digere alimento, recebe energias, fica doente, recupera a saúde, se desenvolve sexualmente e finalmente o corpo perde a vida. - Atividade social: Ele desenvolve seus contatos com outras pessoas já como feto. Ele sente o ambiente externo com sua conduta/atitude (liberdade responsabilidade). Ele recebe influência dos seus pais e de outras pessoas do seu meio ambiente, e depois mais e mais da sociedade. Os valores da sociedade têm muita influência tanto nos aspectos bons como nos maus. Ele tem tendência de imitar aquilo que é mais comum ou dominante, inclusive aquilo que é doentio ou injusto. O ser humano tem uma necessidade natural de amor. Amor pode ser escrito como afeto, sentimento positivo, aceitação, confiança, curiosidade, gratidão... Amor significa querer bem e fazer o bem. Receber o amor dos pais é uma experiência mais feliz e importante que a criança possa ter. Aí ela se sente amada e sente a liberdade de poder existir. O ser humano quer contato com outros, fazer parte do coletivo, descobrir a realidade e realizar suas potencialidades. Em outras palavras, ele quer sentir a própria existência. A finalidade de vida está no amor, sentir amor e agir de acordo, fazer o bem. Leo Tolstoi, literato russo, afirmou que somente no amor que a verdade apareça. A pratica psicanalítica 6

mostra que a consciência aparece somente no amor, e como a consciência é a essência da vida humana, o ser humano existe no amor. Fedor Dostoievski escreveu: Onde não há amor, não há razão. Por outro lado ele demonstrou a complexidade humana observando: Quem você mais ama, você mais agride. O termo sentir conforme Michaelis Moderno Dicionário da língua Portuguesa significa: perceber por meio de qualquer um dos sentidos experimentar uma reação física, perceber algo que se passa no próprio corpo ter consciência, conhecer, notar É comum usar as palavras sentimento e emoção quase como sinônimos, mas estes palavras poderiam ser definidas de modo que elas tem um significado diferente. Abaixo há uma maneira de separar o seu significado. Sentir como verbo captar, aceitar consciência numa conduta de amor com a vida, e emoção como um sintoma de perigo e/ou de luta contra consciência. TIPOS DE SENTIMENTOS EMOÇÔES Sentimentos (quer captar) amor alegria gratidão entusiasmo confiança São sentimentos ligados à vida; contato, aceitação, convivência, consciência, e querer se esforçar para realizar os objetivos que tem no nível equilibrado (stress equilibrado) Emoções (não quer captar) insegurança, angustia, medo indiferença, depressão euforia, paixão irritação, raiva arrogância, agressividade São emoções em situação de perigo ou ameaça real (stress equilibrado) e/ou da própria atitude de negação da consciência e/ou da vida (stress causado pela própria conduta errônea) J. C. Ismael reflete no seu livro Sócrates - A Arte De Viver (2004, Editora Agora) sobre pensamentos do Sócrates quase 2500 anos atrás: O amor é a experiência que mais aproxima o homem do divino. Compreender a natureza do amor espiritual livra os amantes de desgostos, levando-os assim a usufruí-lo em toda a alegria e plenitude. Ao desejar o amor do outro, deve conhecer-se profundamente e não pretender privá-lo de nada que o impeça de ser ele mesmo. Amor também é renuncia, e ela deve existir quando ocorre as despersonalização (desequilíbrio psíquico) dos amantes, quase sempre resultado da busca obsessiva pelo prazer físico, em vez do espiritual. Para que a relação amorosa não se transforme em fonte de frustrações e ódio, os amantes precisam tomar diversas cautelas e é aí que entra o exercício da razão, dominando o julgo da paixão. Entre elas, a principal é afastar a inveja quando um deles está numa posição intelectual, social ou financeira mais alta, pois a inveja é o veneno que destrói os mais sólidos relacionamentos. Alguma coisa misteriosa lateja neles, sempre voltada a destruí-los e é contra ela que os apaixonados precisam lutar incansavelmente. É ela que leva o amante a sentir alegria com a desgraça de quem ama, e igual tristeza com suas conquistas: um sentimento inexplicável que, nascido num lugar sombrio da alma, está alem da inveja. O conceito sobre o ser humano pode ser descrito em forma de um desenho: 7

No desenho pode se tirar seguintes conclusões: A UNIÃO DO PSÍQUICO E DO FÍSICO A atividade psíquica afeta o aspecto físico e vice-versa. Sentimentos bons contribuem com o equilíbrio da atividade neurológica, hormonal e imunológica e assim, contribuem para a saúde física, enquanto os sentimentos negativos, como medo, raiva e amargura causam desequilíbrio (stress) e doenças. COMPORTAMENTO É CONSEQUENCIA DE AÇÃO INTERNA. O ser humano usa sua vontade para agir no seu espiritual, no seu sentimento, pensamento e com esta base reage para estímulos externos. Vontade significa liberdade e assim responsabilidade. Assim, ele afeta com a sua vontade a atividade fisiológica também. O SER HUMANO É A SUA CONSCIENCIA. Nesse contexto o termo consciência engloba as dimensões espiritual, de sentir e de pensar (intelectual), ela é uma percepção do próprio ser (individuo) no meio do universo (tudo que existe). Para que sua existência tenha sentido, o ser humano deve estar consciente do seu ser e do meio onde vive. A consciência é o aspecto mais essencial da existência, sem consciência a vida perde o seu sentido, assim é possível a seguinte simplificação: você é sua consciência. TUDO QUE VEJO NO OUTRO EXISTE TAMBÉM EM MIM DE ALGUMA MANEIRA. Todos nós temos, de alguma maneira, as riquezas humanas, como amor, consciência, senso ético, criatividade, bom senso, coragem, alegria, capacidades físicas etc. No outro lado mesmo que o ser humano, conforme sua essência é bom, ele nasce imperfeito com falhas na sua estrutura psicogenética. Assim, no nível existencial ninguém é perfeito em nenhum aspecto. Por tanto, todos nós temos todos os tipos de falhas em maior ou menor grau. Nesse sentido todas as falhas que eu enxergo no outro, existem também em mim de algum modo. Como também todas as riquezas humanas que vejo no outro, existem em mim também de alguma maneira. Somos como espelhos internos entre nós. Vide o anexo sobre a identificação. AQUILO QUE FAÇO PARA OUTRO, FAÇO DENTRO DE MIM COMIGO MESMO. Aquilo que eu faço com outros, faço dentro de mim na minha ação metafísica, no meu modo de sentir e de pensar; exemplificando, se eu faço bem para o outro, eu já estava agindo bem dentro de mim, mas se eu ofendo o outro, eu já estava agindo mal no meu interior prejudicando a mim mesmo. NINGUEM FAZ MAL CONSCIENTEMENTE. 8

Conforme Sócrates ninguém faz mal conscientemente. Quando a pessoa age com má intenção, ela não está no seu equilíbrio, mas acredita que tem o direito e o motivo de agir atacando o bem e a verdade, ela está com uma conduta de ignorância (atitude de negar a consciência). REJEIÇÃO DA CONSCIENCIA CAUSA TRAUMA. Aquilo que a pessoa mais quer evitar ter consciência, ganha o maior poder no seu interior. Por exemplo, se a pessoa foi agredida e reage querendo esquecer isto, como se esquecendo a agressão ela não existisse, ela mantém o assunto na sua memória ativado por tanto a sensação da agressão continua. Lutando contra a consciência ela luta contra si mesma, isto causa trama. Quando a pessoa rejeita uma consciência importante, ela rejeita a sua própria essência, a si mesma. Isto causa uma sensação de ser rejeitada. Uma rejeição é sempre uma injustiça, aí a pessoa reage com defesa como se fossem os outros que estão a rejeitando. Ela não percebe que é ela mesma quem a rejeita. Assim ela sente facilmente que os outros são seus inimigos (paranóia). ATIVIDADE INTERNA PÕE UM FILTRO NA PERCEPÇÃO DA REALIDADE. De modo como a pessoa age no seu interior, ela colore a sua percepção do mundo externo. Por exemplo, quando ela está desconfiada ou agressiva, ela tem tendência de sentir como se outros estejam desconfiados e agressivos com ela. Quando ela está numa conduta de curiosidade e alegria, ela sente facilmente que os outros estão assim. O ser humano tem tendência de projetar a sua atividade interna no seu meio ambiente. O MAL PODE SER CURADO SOMENTE PELO BEM. Irritação não cura raiva. Frustração não cura dor de cabeça. Raiva alimenta maldade. Proibir medo aumenta medo. Somente o bem pode curar o mal. Amor, fazer bem, cura. Fazer bem perante uma ação má significa impedir a ação negativa e conscientizar a maldade.... O ser humano é visto de forma dialética; riquezas humanas e empecilhos, vide o anexo 2. Todos nos temos todas as riquezas, nunca se deve duvidar isto. E todos nos temos todos os tipos de empecilhos, tais como hábitos negativos de espirituar e sentir, censura, e censura crônica = trauma, inveja, mania de grandeza, perfeccionismo, e egocentrismo, vide respectivamente anexos 3-6. Nos os desenvolvemos de modo diferente e em graus diferentes. A sua conscientização é essencial na prevenção e tratamento da dependência química ou de outros. Todos os empecilhos estão fundados no egocentrismo ou narcisismo, uma conduta fortemente incentivada pelo capitalismo. De modo geral, os empecilhos (as atitudes patológicas como são chamadas na psicanálise integral) são as condutas nossas que adotamos durante a vida no sentido de distorcer, omitir e impedir a essência da vida que é simplesmente uma perfeição. São estas condutas patológicas que fazem parte das causas de alienação e destrutividade, e assim fazem parte das causas da dependência de drogas como também de outros problemas psíquicos. Os empecilhos são chamados pecado original na religião crista. Elas pertencem assim ao livre arbítrio, livre escolha. Somente na responsabilidade existe liberdade, a aceitação da responsabilidade desemboca na libertação. A consciência é a própria essência da vida humana. A consciência existe somente no amor; quanto que as condutas de medo, frustração e raiva são ações de negação do próprio ser. Como se diz, não são os problemas que fazem a pessoa ficar desequilibrada mas a sua luta contra a consciência dos seus problemas e das suas riquezas. 9

6 Auto-conhecimento e autoconfiança O abuso de álcool e outras drogas tem sua origem na busca de algo de bom mesmo que o método seja facilmente destrutivo. Umas pessoas sabem se limitar nesse sentido e outros tem mais dificuldade. O que existe dentro da vida psíquica que possa levar ao abuso e dependência. Provavelmente os mesmos fatores de desequilíbrio que nos outras doenças. Um dos caminhos mais importantes de tratamento é auto-conhecimento; desenvolver a consciência sobre si mesmo, consciência dos próprios hábitos internos (modo de espirituar e sentir), valores e intenções. Por isso os métodos de autoconhecimento são importantes para desenvolver o equilíbrio. Uma pessoa que conhece a si mesma sabe lidar com as situações da vida, tanto dificuldades como motivos de grande alegria. Uma pessoa insegura, com baixa autoestima não sabe lidar com desafios e alegrias, ela tem bloqueios e distorções psíquicas. Ela realmente não pode confiar nela mesma. Falta de autoconfiança é um sintoma útil porque sinaliza que a pessoa não poder confiar nela mesma com toda razão. Um dos métodos eficientes e simples para se conhecer é a identificação. Ela significa que um fator externo, por exemplo, um comportamento de uma outra pessoa, desperta uma percepção em você sobre você mesmo, você se identifica através do outro. As vezes se usa o termo espelhamento psíquico. Aquilo que você está vendo no outro e que toca em você de modo significativo, causando sensação de alegria, confiança ou medo, raiva, é um contato importante com o seu interior. Este contato é a consciência que você recebe através do outro, e você pode reagir com aceitação (sensação agradável) ou rejeição (sensação de perigo ou ameaça). Quando você percebe algo em outra pessoa e se identifica com aquilo, é o momento de auto-percepção. Você aceita a consciência que o outro despertou sobre você mesmo. Isto leva ao alivio, a uma leveza. Ou pode ser que você rejeita a percepção ficando angustiado, irritado ou com raiva. Por exemplo, quando uma característica, atitude ou comportamento de outra pessoa o irrita em excesso, é provável que você esteja se vendo através dela, direta ou indiretamente, por exemplo: - A conduta autoritária, dominante ou prepotente de seu companheiro o irrita demasiadamente, então você está se identificando, tendo a consciência de sua prepotência. Isto você provavelmente não gosta de ter. Você sente como se esta consciência fosse um perigo (e interpreta que a outra pessoa seja sua inimiga). Você reage rejeitando a percepção e assim rejeitando a pessoa. - Uma pessoa tem costume de sempre reclamar e criticar. Você fica muito irritado. A conduta dela de negação desperta a consciência de sua negatividade, sua atitude de dar poder para as coisas ruins (concentrando toda a sua atenção nelas, por exemplo). Você fica descontente com a conduta descontente da outra. - A timidez de seu colega pode deixar você meio bloqueado. É provável que você se identifique na timidez, mas não quer ter contato com esta percepção. Você não quer perceber sua própria atitude perfeccionista, fantasiosa, invejosa e /ou crítica que são comuns de timidez. Então você reage bloqueando a consciência, e assim bloqueando a si mesmo. - A iniciativa e a responsabilidade de outro pode provocar a consciência da sua passividade, sua conduta preguiçosa. Nesse caso você tem consciência de modo indireto, através da conduta oposta à sua. 10

- A alegria e o sucesso de outro pode revelar seu costume de rejeitar as suas possibilidades remoendo e exagerando dificuldades. Você se identificou pelo oposto, mas não quer ter contato com esta pessoa para evitar o despertar desta consciência. As vezes se usa o termo espelhar, como se o outro fosse o nosso espelho. O espelhamento não se trata no nível do comportamento externo, mas interno, por isso, identificação nas condutas internas. Com o comportamento forçado a pessoa pode até tentar enganar a si mesma para não aceitar a consciência. Mas que nós temos aquela característica, que nos angustia ou irrita em algum grau, e pode bem ser que a manifestamos de modo diferente. Pessoas próximas, como mãe, pai, filho ou pessoas que tenham poder, como chefe, um colega ou cliente importante, despertam consciência profunda e importante. Muitas vezes, justamente por este motivo, estes relacionamentos são excepcionalmente difíceis. A identificação (o espelhamento) é a ferramenta mais pratica de autoconhecimento. Para te conhecer preencha o formulário em anexo 7, Perguntas de autoconhecimento, e reflita suas respostas conforme o texto no rodapé do formulário. 7 Prevenção A prevenção tem como o objetivo a conscientização sobre a problemática; causas sociais e individuais, conseqüências, como lidar com pessoas em risco e noções sobre possíveis tratamentos. A conscientização será feita com as crianças e jovens nas escolas, nos acampamentos, nos assentamentos, nas comunidades, entre os militantes em reuniões, cursos e campanhas. Será formado um grupo de militantes com uma formação básica de prevenção e de tratamento. Este grupo é preparado para trabalhar em: - conscientização de modo geral - desenvolver e distribuir material educativo impresso - abordagem individual (seja preventivo ou de tratamento) - organização e orientação dos grupos de auto-ajuda - divulgação de informação de como encaminhar casos mais graves para clinicas de desintoxicação e/ou as comunidades terapêuticas disponíveis ao publico em geral 8 Processo de tratamento A prevenção e o tratamento começam já no próprio coletivo com regras de convivência e conseqüências para que o coletivo funcione como uma estrutura nesse sentido. Quando num núcleo de base se percebe que um dos companheiros está em risco de cair no abuso ou dependência a ação de conscientização e aplicação das regras deveria ser imediata. A organicidade (regras e disciplina que ajudam desenvolver autodisciplina) e as atividades (trabalho útil é uma boa ação, amor colocado na pratica) que o movimento dispõe e incentiva são grandes forças preventivas de abuso de drogas seja legais ou ilegais. O processo de tratamento seja no nível individual ou no nível de grupo (em grupos de autoajuda) segue os seguintes princípios adaptados caso ao caso: 11

1 Admitir o problema, aceitar a consciência que se tornou dependente - ninguém procura ajuda antes de admitir que tenha um problema serio - a condição para poder fazer algo construtivo para um problema é o reconhecê-lo de modo amplo e profundo evitando se criticar, se culpar, se condenar e colocar exigências de se livrar do problema - primeiro tem que aceitar o problema, aprender conviver com ele sem querer se livrar dele 2 Conscientizar sobre o seu passado - descrever por escrito espontaneamente historia da própria vida desde primeiras memórias ano por ano e conectar os acontecimentos com o que aconteceu no Brasil ou no mundo, descrever os pais ou as pessoas mais próximas e modo delas de encarar a vida, tanto coisas boas como as errôneas - descrever por escrito um inventario pessoal, um balanço da vida, o que realizou até agora tanto coisas boas como ruins, escrever uma lista das pessoas que já alegrou e outra que já magoou bastante - descrever por escrito os sintomas psíquicos (como angustia, insegurança, falta de capacidade de concentração, medo, frustração, amargura, raiva etc.), e sintomas físicos (como fraqueza, cansaço, tosse, dor de barriga, tensão, taquicardia etc.) e conscientiza-se sobre eles permitindo os e sentindo os de modo aberto (sem fugir do sintoma que é um alarme útil e assim sinal de saúde) 3 Conscientizar as causas pessoais da dependência - descrever e escrever as vantagens e desvantagens do uso de álcool e/ou drogas com profundidade - conscientização de como tem assimilado os valores invertidos da sociedade, como se tornou um escravo da sociedade alienante - refletir como tem assimilado possíveis condutas erradas das pessoas mais próximas desde sua infância - conscientizar sobre suas próprias condutas, atitudes e valores que tem adotado durante a vida identificando se nas questões que o anexo Riquezas humanas e empecilhos aborda, refletindo sobre sua responsabilidade, por tanto liberdade 4 Planejar mudança e praticar novos valores e hábitos - estudar e despertar os valores humanistas e/ou metafísicas universais da vida tanto no nível individual como coletivo/social podendo usar, por exemplo, a abordagem apresentada no próximo capitulo - planejar as mudanças necessárias na própria conduta e nos hábitos passo por passo ou de modo radical absolutista, esta escolha muito pessoal - despertar motivação para a mudança re-estudando as vantagens e desvantagens da dependência 5 Praticar a mudança - colocar o plano em ação - estudar e refletir sobre a vida, sobre o ser humano, sobre valores universais de amor e de boa ação, despertar a motivação continuamente - ajudar outras/os companheiras/os com o mesmo problema e procurar sempre a ajudar outros de modo geral, treinar para sair do egocentrismo 12

- refletir sobre suas ações em cada dia mas mesmo tendo quedas não passar a se condenar, criticar ou depreciar, mas voltar continuar o processo 6 Avaliação e de reformulação do plano - repetir os passos anteriores quando considerado útil - avaliar periodicamente o andamento do processo com terceiros; pessoas de confiança, educador, liderança etc. - voltar para trás no processo quando necessário - este processo continua o resta da vida Os passos são processados por própria pessoa dependente por si e/ou com a orientação de um companheiro que tenha formação no tratamento ou em um grupo de auto-ajuda. (Como formar estes grupos de auto-ajuda deve ser planejado em seguida.) 9 Grupos de autoconhecimento O objetivo é auto-conhecimento com ajuda dos outros, conscientização das condutas, de como cada um no grupo está usando suas riquezas e possibilidades e como está distorcendo-as ou impedindo-as. O objetivo é olhar para dentro de si e não ficar nas questões externas, por exemplo: - não ficar discutindo, fez isto ou não fez; - evitar perguntar por que, o porquê que leva para justificativas, fuga da consciência; - não procurar culpados a serem condenados, sendo que todos estão cometendo algum tipo de erro. Uma pessoa tomando iniciativa no coletivo pode chamar as pessoas interessadas e que precisam de ajuda dos outros. As reuniões devem ser bem organizadas com o tempo, começando na hora marcada e acabando conforme previsto, mínimo uma vez por semana. A disciplina dá uma sensação de respeito e valorização. A reunião pode ser de, por exemplo, uma hora e meia para duas horas conforme o grupo prefere. A reunião pode ter os seguintes passos: - uma curta mística e apresentação, talvez 10 minutos - apresentação e discussão do tema do dia, por exemplo 40 minutos, o roteiro de temas pode ser o seguinte (pode ser mudar a ordem e modificar os temas, pode se chamar uma pessoa externa para expor o tema): - Quem sou eu? Como é ser humano? - Responsabilidade e liberdade - Porque os poderes querem que uso drogas? - Consciência e princípios de relacionamento humano - Culpa e vergonha - Trauma e dor - Inveja e inversão - Prazer e felicidade - Perfeccionismo e mania de grandeza (megalomania) - Porque eu tomo drogas? - Angustia e depressão - Valores e princípios da vida e da sociedade - Amor e felicidade - Falar de mim e outros falar de mim. Por exemplo, durante 40 minutos uma ou varias pessoas falam de si, dos seus sentimentos, dando um depoimento do momento, procurando se conscientizar perante os outros. Os outros podem dar um 13

retorno procurando sintetizar, esclarecer e aprofundar aquilo que entenderam em tom de aceitação e amor. Pode haver um dialogo. Se o grupo é grande pode se combinar que os mais velhos no processo fazem esta reflexão do retorno. - Encerramento pelo coordenador do dia com pequeno resumo da conscientização e uma curta mística que pode ser, por exemplo, a oração da serenidade: Concedi-me Senhor a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para modificar aquelas que posso, e sabedoria para distinguir umas das outras. ou um silencio, meditação conforme o espírito do grupo. De vez em quanto, é possível mudar o conteúdo da reunião para que uma pessoa que está no processo de recuperação com mais tempo e experiência doe um depoimento pessoal bem profundo para reflexão de todos. É bom procurar ter informações e idéias de como outros grupos de auto-ajuda, como alcoólicos anônimos AA, narcóticos anônimos NA etc. funcionam e renovar a própria metodologia de modo constante. O grupo de auto-ajuda pode também adotar a metodologia de critica e autocrítica no seu processo, o método que muitos no movimento tem experiência. Usa-se como o pano de fundo o conceito do ser humano apresentado no capitulo 5 e os princípios da Critica construtiva do capitulo 10.1. A conscientização é feita no espírito de máxima aceitação e inclusão, sem ameaças e reclamações. Normalmente, a cobrança necessária é feita num outro momento, separado desta conscientização. Todos se reúnem em um círculo. O objetivo é que todos sejam falados ou criticados dialeticamente pelos membros do coletivo de modo organizado. Pode-se planejar o seguinte processo: - Escolhe-se uma ou duas pessoas para serem coordenadoras para que elas zelem pelo espírito de tolerância, tentando impedir possíveis falas repressivas. - Fixa-se o tempo da reunião. Define-se quanto tempo se pode dedicar para cada pessoa a ser falada, por exemplo, entre 20 60 minutos. - Escolhe-se uma pessoa para controlar o tempo. Ela avisa cinco minutos antes do tempo acabar, e depois avisa o fim do tempo de cada fala. - Primeiro falam, por exemplo, três pessoas ao lado direito da pessoa a ser falada, depois qualquer um pode pedir para falar. Quando as falas ou o tempo estão no fim, a pessoa criticada (conscientizada) pode expressar o que está pensando e sentindo, e então pode surgir um diálogo entre ela e os participantes. - Depois o processo continua com a pessoa ao lado direito até que todos sejam criticados. A conscientização coletiva de condutas é uma ferramenta importante para o desenvolvimento das pessoas de modo geral. 10 Ferramentas para pessoas próximas As pessoas mais próximas do adicto são as mais importantes para ajudá-lo. São familiares, amigos, companheiros de núcleo de base, educador, coordenador, namorada/o etc. Pode se até organizar um grupo de apoio especifico com estas pessoas que pode ser chamado o grupo de aproximidade. Este grupo toma uma iniciativa e responsabilidade especial para tentar ajudar o adicto. Muitas vezes os relacionamentos se tornaram pesados e difíceis com conflitos, frustrações, desespero e raiva, ódio. Por isso é importante de lidar com a pessoa 14

dependente com o principio: O mal pode ser curado somente com o bem. Há um ditado importante: Me ame quando menos mereço. Em seguida hão duas maneiras ou ferramentas como comunicar e planejar melhor o contato com o drogado para não cair tão facilmente nas brigas ou desistências: 10.1 Crítica construtiva dialética A critica é o meio mais comum e talvez mais eficiente de autoconhecimento e assim, o meio mais importante de ajudar ou outros. Diz-se que criticar é fácil, mas é difícil aceitar a crítica. Mesmo que precisamos de critica para desenvolver, não gostamos dela. A percepção de uma dificuldade, fraqueza, má intenção ou um erro parece ser uma grande ameaça. É por isto que os casais brigam, os pais brigam com os amados filhos e ao contrario, e o mesmo acontece em todos os relacionamentos. O ser humano não quer consciência não quer a si mesmo. Critica deveria sempre objetivar a conscientização, não a repressão. Como consciência funciona melhor no amor, a critica deveria sempre expressada com amor. Por exemplo, a educação dos filhos precisa de colocação de limites, mas a colocação de limites sem amor é uma agressão. Normalmente estamos irritados na hora de criticar. Em seguida há alguns princípios e um procedimento de critica construtiva dialética: Expresse suas observações de modo aberto e tolerante, numa dosagem ponderada, conforme os seguintes princípios: 1 Conscientize-se sobre seu estado emocional. Se você está excessivamente irritado, angustiado ou com medo, conscientize sua emoção e as possíveis atitudes atrás dela, tais como sua intolerância, suas expectativas irrealistas, seu hábito de exagerar os problemas e/ou a sua destrutividade de dar tanto poder para o erro do outro. 2 Observe o estado emocional do outro. Se ele está muito angustiado, irritado, cansado ou com raiva, procure falar sobre estas emoções com o objetivo de permitilas, para assim poder levá-lo a aceitar a percepção das mesmas e assim se acalmar. Ou espere uma oportunidade quando o outro está mais no seu equilíbrio. 3 Reforce a consciência sobre o bem na vida dele: - As riquezas humanas na pessoa dele, tais como sua criatividade, iniciativa, alegria, coragem... - Os conhecimentos, as experiências boas - As realizações boas dele, como ele tem contribuído com o coletivo. - As possibilidades que a vida lhe oferece. 4 Mostre como ele está agindo contra ele mesmo rejeitando as suas riquezas e oportunidades, lembrando que aquilo que a pessoa faz com os outros, ele já tem praticado dentro dele com ele mesmo. - Por exemplo, se ele ofende o outro, ele já tinha sentido e pensado no sentido ofensivo dentro dele. Aí se pode falar: Parece que você não está se respeitando, isto é injusto. - Ou se ele acusa outros, pode se dizer: Me parece que você está se culpando, se condenado. - Perante uma rejeição é possível dizer: Será que você está se rejeitando? - Quem agride o outro (agressão física deve ser impedida) deveria ouvir: Você está se agredindo no seu interior, no seu modo de sentir e pensar. 5 Demonstre como esta atuação dele causa conseqüências negativas para ele mesmo. A pessoa mal intencionada está numa conduta de egocentrismo e não se 15

importa nas conseqüências para outros, ela está voltada só para ela mesma. (Lembra-se, ninguém faz mal conscientemente, pelo menos a si mesmo.) Avalie como a sua critica está sendo aceita. Desenvolva seu modo de se expressar mais próximo possível da zona de aceitação dele. Não exige e nem espere ele que concorde contigo. Observe os princípios abaixo: Princípios para fazer a crítica A critica deve ser justa, baseando-se em fatos, feita em momento e espaço apropriados e de modo fraternal, visando ajudar o/a companheiro/a, sendo ao mesmo tempo terna, sincera e firme. Algumas dicas gerais: - Evite criticar quando estiver muito nervoso irritado ou com raiva. Observe e reflita se sua intenção é realmente ajudar a outra pessoa. - Expresse a crítica de forma que ela seja sua percepção e não como se fosse uma verdade. - Formule a crítica do modo que você gostaria de recebê-lo. - Fale de modo aberto e direto, sentindo o quanto é possível falar. - Concentre a crítica nas ações ou condutas erradas e não na pessoa. - Não acuse, condene ou repita a crítica. Não reclame. Não exagere ou generalize. - Evite colocar culpa. Não condene. - Evite argumentação, às vezes é simplesmente melhor expressar a sua visão sobre o assunto e deixar o outro refletir sozinho. - Não tente mudar a personalidade da pessoa. - Procure aplicar o método socrático de levar a pessoa a perceber seu erro através de suas perguntas. - A reação mais comum perante a critica é defesa, não espere ou exija que sua crítica seja aceita. Princípios para receber a critica - Preste atenção, mantenha a mente aberta, esteja preparado de ouvir coisas quais você não vai gostar, mas que podem ser valiosas para você. - Não entre na atitude de defesa, procure escutar e entender o que a outra pessoa pensa sobre sua atuação, faça perguntas esclarecedoras para obter mais informações. - Reconheça que compreende o que a outra pessoa está falando. - Lembre-se que ninguém é perfeito em nenhum aspecto, então, de alguma maneira, temos todos os tipos de falhas (como também qualidades humanas). - Lembre que a crítica é um dos meios mais importantes de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. 10.2 Plano de desenvolvimento de cooperação Nas situações complexas ou comportamentos muito problemáticos, é possível usar uma ferramenta especifica, o formulário anexo 8, Plano de desenvolvimento de cooperação. O seu preenchimento tem os seguintes passos: 1 Escolher uma problemática importante (como abuso de álcool e dificuldade de coletivo saber lidar com isto) defini-la de modo espontâneo. 2 Preparar uma lista descritiva de ações (reações, hábitos, comportamentos) costumeiras que pessoas têm nessa situação. Descrever as ações problemáticas tanto das pessoas que causam o problema, como também delas, que não sabem lidar com o problema ou que lidam de modo destrutivo. Não se deve apontar 16

ninguém, as ações são descritas impessoalmente. Assim se transforma a problemática para uma lista de ações comuns. 3 Introduzir os conceitos básicos sobre o ser humano para o coletivo. 4 Preparar um plano de ação pratica em dois aspectos: - aspecto interno: em relação de cada ação descrita no ponto 1, refletir e discutir, e escrever na coluna esquerda qual é a possível conduta (atitude) atrás desta ação/comportamento como, por exemplo, uma conduta de egocentrismo, censura, inveja (destrutividade), idealização de si ou outros etc., o objetivo é que na discussão todos se identificam nas condutas refletidas e com esta consciência, tenham maior equilíbrio de lidar com as ações problemáticas - aspecto externo: desenvolver regras e planejar providencias praticas para prevenir e impedir ações destrutivas, definir conseqüências de não cumprimento de regras, e incentivar a pratica de boas ações 5 Durante o processo cuida-se do seu próprio equilíbrio conscientizando-se as próprias decepções, angustias e raivas, como também atitudes atrás destas emoções. O plano de desenvolvimento de cooperação tem o objetivo de dirigir a atenção separadamente - ao nível das questões internas, quer dizer à conscientização de condutas, - e ao nível de um planejamento pratico de providencias concretas. O motivo para separar estas duas dimensões é para não confundir e misturar os dois aspectos. Misturar os dois aspectos leva normalmente à confusão, conflitos e brigas, o que impede o desenvolvimento da cooperação. 17

Anexo 1.. 18

Anexo 2 RIQUEZAS HUMANAS E EMPECILHOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 RIQUEZAS HUMANAS as capacidades e virtudes essenciais Capacidades de percepção - Sentidos de ver, ouvir, cheirar, sabor e tato Capacidade de lembrar - Capacidade de captar o passado. Intuição - O sexto sentido ou o sentido espiritual/metafísico, crença Amor - Capacidade de sentir bem; amor, alegria, gratidão, entusiasmo... Responsabilidade, coragem, iniciativa... - Capacidade de iniciativa interna Criatividade - Capacidade de fantasiar, criar algo novo Capacidade de avaliação - Bom senso Senso ético - Honestidade, senso de justiça Senso estético - Capacidade de apreciar beleza Autodisciplina - Capacidade de controlar suas vontades e impulsos destrutivos Capacidade de aprendizagem - Capacidade de adquirir e acumular conhecimentos e experiências Aptidões especiais individuais - Ex. matemática, musica, arte... Capacidades físicas - Ação, beleza e força Reflexões: O ser humano sente suas capacidades quando as usa. Mas se não as usar, 6 começa a perder contato e a crença nelas. O ser humano usa suas riquezas baseado na sua intenção, atitudes e valores. Ele age de modo virtuoso quando vive de acordo com a sua essência. 1 2 3 4 5 7 EMPECILHOS desvios - atitudes que impedem as riquezas e possibilidades Hábitos negativos - Alimenta angústia e medo. - Alimenta amargura e raiva. - Não consegue ficar calmo e contente Censura - Fica angustiado ou com medo/raiva quando fica sabendo dos seus erros. - Se defende e explica muito. - Omite problemas e evita iniciativas. - Condena e coloca a culpa nos outros e em si mesmo. - Alimenta o sentimento de vítima. - Fica freqüentemente doente. - Reage contra a consciência que é despertada sobre si mesmo, através do comportamento do outro. Idealização - Idealização de si mesmo (perfeccionismo, mania de grandeza, obsessão de controle) - Coloca exigências duras e sem limites em si e nos outros, vive nas expectativas. - Se acha responsável por tudo, acha que sabe tudo e melhor, se sente como insubstituível. Inveja - Reage negativamente perante possibilidades e idéias novas. - Exagera e fica preso nos problemas. - Concentra toda atenção no negativo. - Fica alegre com a desgraça dos outros. - Fica passivo e sem vontade. - Sente maldade e age destrutivamente. Projeção - Sente suas más intenções nos outros. - Fica facilmente desconfiado. - Sente que os outros são seus inimigos. Inversão - Acha que trabalhar/estudar é burrice e vagabundagem/destruição é força. - Sente que alegria e sucesso é algo proibido e o sofrimento correto. Egocentrismo - Todas as atitudes acima se baseiam no egocentrismo.. 19

Anexo 3 ATITUDE DE CENSURA A atitude de censura significa esconder alguma informação, reprimir consciência. A censura significa uma fuga da consciência e/ou uma luta contra ela. A fuga é uma conduta mais ligada com medo e luta mais com raiva. Muitas vezes a censura é chamada uma reação de defesa, uma reação contra consciência, como se a consciência fosse algo perigoso. Isto deve ter a sua origem numa crença emocional invertida (ao contrario da razão), que, por exemplo, se a pessoa não vê as suas dificuldades ou falhas, elas não existam. E ela acha que quando ela começa a percebê-las, que é aí que elas começam a existir. Objetivo esconder a percepção, fechar os olhos, fugir e/ou lutar contra, atacar a própria percepção, a consciência Emoção típica angústia, medo, ansiedade, decepção, depressão, e/ou nervosismo, irritação, raiva, agressividade Condutas ligadas á censura rigidez, autoritarismo, intransigência indiferença, negligência Exemplos de técnicas de censura muitas explicações e justificativas acusar os outros, colocar culpa nos outros ou na situação considerar-se como vítima dos outros e da vida atitude de moralismo, condenar pelos erros atitude de omissão crítica continua, habito de reclamar e remoer pensamentos negativos fuga com drogas, ingestão excessiva de comida, remédios alienação, fuga às fantasias fechar-se na crença que assim vai evitar a ser rejeitado e machucado por outros psicosomatização: dor de cabeça, tensão muscular, gastrite, resfriados repetitivos, stress, câncer, doenças circulatórias e do coração,... (Tal chamada inconsciência pode ser visto como um produto de censura, uma conseqüência de a pessoa reprimir constantemente a percepção que tem.) 20