LEITURA: UMA PRÁTICA À LIBERDADE LINCK, Ieda M. Donati¹ SILVA, Kelly Rosalba Melo². Resumo Este artigo está diretamente relacionado com o Projeto: Leitura Uma Prática à Liberdade, vinculado à Unicruz Universidade Cruz Alta, desenvolvido desde 2002, no turno inverso das aulas dos participantes, todos os dias da semana com atividades complementares, visando a aprendizagem dos envolvidos. O mesmo tem como objetivo destacar que a leitura enquanto objeto transformador em nosso ensino / aprendizado é o único hábito que está presente em todos os nossos momentos de nossas vidas. E, acima de tudo, está integrado no desenvolvimento como viabilizador sistemático de nossa linguagem, escrita e personalidade. Com essas aquisições bem definidas, os alunos participantes do projeto compreendem, a partir de atividades lúdicas e dinâmicas aquilo que lêem. E é, com a ajuda de monitores de áreas diversas, professores e bolsistas, que temos o objetivo de despertar nessas crianças e jovens o prazer da leitura, atendendo e conduzindo à formação de novos leitores, capazes de transformar o meio em que vivem. Palavras-chave: Formação; Busca; Autonomia; Construção. Introdução Considerando as desigualdades do mundo atual, é fundamental a importância da educação, da cultura e da informação como pilares no conhecimento e na cidadania. Um dos meios pelo qual esse objetivo pode ser alcançado é através da leitura. O indivíduo deve ser capaz de construir seu próprio conhecimento, pois somos alfabetizados para poder ler e assim desenvolver uma cultura acadêmica. Aprofundarse nas idéias de grandes pensadores, saber o que aconteceu ou o que está acontecendo, são prazeres que a leitura proporciona.
Nos livros, um universo sem fim espera por nós, basta seguir as palavras para que possamos penetrar nelas, como se fôssemos personagens ocultos no meio de tantas frases e palavras. O livro é uma espécie de passaporte para uma viagem que começa desde a primeira linha, mas que não se sabe jamais onde poderá terminar. Uma viagem onde cada um faz a sua maneira, mas para que essa possa acontecer, é preciso que todos tenhamos um livro à mão. É com este objetivo que o projeto Leitura: Uma Prática á Liberdade, foi criado para que: crianças e jovens,desde já, comecem a atividade mais importante de suas vidas, o ato de ler. Para atingir esses objetivos, buscou-se parcerias para desenvolver diversas técnicas e metodologias, que se integrassem ao Projeto como Subprojetos, os quais abrangem desde oficinas de Reiki, afetividade, teatro, dança, leitura, interpretação, bem como aulas profissionalizantes na área de informática, fotografia, cabeleireiro e Língua Inglesa. Nosso foco é a leitura, até porque as crianças e os jovens não são treinados a pensar ou refletir sobre narrativas e fábulas. O pensar e o refletir não surgem de repente nas pequenas mentes, vêem devagar com a interpretação de uma leitura. Para que isso aconteça é necessário que eles sejam estimulados de forma que passem a gostar da leitura, não por obrigação, mas pelo simples fato de saber que estão formando o seu próprio processo de construção de conhecimento em diversas áreas. Por isso, deve-se levar em conta que cada leitura é única. Ler antes de qualquer coisa é um ato de liberdade, que nos faz acreditar na possibilidade de ir além, ousar e repensar o passado, com os olhos de hoje para anunciar um futuro melhor amanhã. Metodologia O nosso público alvo foi inserido na leitura de forma lúdica. Buscamos um crescimento gradativo, a partir de leituras que os participantes já possuíam. Introduzimos uma maneira sistemática de evoluir o saber através de técnicas e dinâmicas de leitura e produção textual, por alguns ainda desconhecidas.
Por isso, iniciamos o projeto com um desafio, no qual os alunos teriam que produzir um texto através de uma frase inicial e desenvolvendo o seu imaginário no desenrolar da história. Com isso mostramos que, sem dúvida, o ato de ler é usualmente relacionado à escrita, e o leitor é visto como decodificador da letra. Envolver os participantes em passeios culturais, lúdicos e educativos relacionados com a leitura foi significativo para o crescimento de cada um. Assim, este artigo, é resultado de várias oficinas de leitura, apresenta as respostas obtidas através do uso de uma seqüência de estratégias de estudo e produção de textos que consideram cada novo leitor uma nova leitura. A metodologia utilizada no Projeto Leitura: Uma Prática à Liberdade, partiu de uma problematização: Como desenvolver a leitura como um meio atrativo para as crianças, tratando de exercitar a escrita na Língua Portuguesa? O aluno desenvolvera autonomia em seus exercícios, a partir de uma leitura proposta que possa o levar além do imaginário, despertando assim o interesse pela mesma, objetivando a melhora de seu empenho na escola regular. Tem-se como meta inserir as leituras na aprendizagem, na formação e prática dos alunos, construindo assim uma ponte que o proporciona autodinamismo para suas atividades. Basicamente se tornará um recurso de comunicação, a fim de pesquisar, viabilizar, intensificar ou mesmo armazenar o resultado decorrente das interações, como textos, mensagens, dinâmicas, trabalhos, entre outras atividades realizadas com os participantes. Muitas vezes as necessidades dos alunos durante sua aprendizagem vão além do que se espera. Portanto, nosso trabalho tem como principal ação auxiliar o aluno a buscar novos métodos de leitura. Encontra-se aí um suporte para pesquisa, onde é necessário buscar formas para a construção de técnicas construtoras de um leitor. Não se trata apenas de utilizar a qualquer custo as leituras no contexto educacional, mas sim incentivar o aluno a rever seu modo de pensar, a partir de atividades propostas pelo grupo. Leitura: Uma Prática À Liberdade, Apresentando Alguns Resultados
O projeto Leitura: uma prática à liberdade, desenvolvido numa escola de periferia de Cruz Alta, como já dito, visa despertar o interesse e gosto à leitura, dos alunos envolvidos. Através da leitura, busca-se desenvolver a autonomia entre os alunos através de atividades e dinâmicas que proporcionem o reconhecimento de direitos e deveres sobre o processo de ensino / aprendizagem. O interesse dos participantes em estarem cientes de suas responsabilidades, surpreende a cada novo encontro, que perceberam a importância de valorizar um ser que, embora pequeno em tamanho, seja gigante em espírito e vida. A leitura é considerada apenas a largada para a busca de um novo presente e criação de uma geração, muitas vezes, excluídas pela sociedade e carentes de um olhar público para enunciar suas capacidades. Nesse projeto, trabalha-se com a perspectiva de que além de enriquecer o vocabulário, a leitura tem um papel moralizador diante da sociedade, pois ela está diretamente ligada à cultura em um meio sócio-econômico modalizador de novos profissionais para o mercado de trabalho. Mas acima disso, leva-se em conta que as crianças participantes do projeto têm um vocabulário próprio, um tanto limitado pelo meio social em que vivem. Um dos nossos desafios é também mudar essa realidade com a ajuda livros e oficinas oferecidas pelos executores do mesmo. A partir desta disposição, surgem dentro do projeto os nossos subprojetos, que vão desde oficinas de teatro e dança até cursos gratuitos de informática para os participantes. Esta etapa do projeto de informática proporcionou aos alunos um entendimento acerca das ferramentas das tecnologias disponíveis. Encaminhar crianças à busca de suas responsabilidades, mediante o conhecimento mais próximo da sociedade letrada, facilitará o mesmo a sair de uma realidade descrente e violenta, a partir da idéia de que existe um mundo onde se busca e constrói o melhoramento de seu presente e futuro. O projeto Informática Educativa: Uma Possibilidade Real de Inclusão Social proporcionou aos alunos uma ampliação dos seus conhecimentos na área da informática, buscando melhorar a sua auto-estima, pois o computador ainda está atrelado à inclusão das pessoas na sociedade.
O projeto foi realizado na Empresa cruz-altense New Life Informática, instalada no Shopping Érico Veríssimo, cujo espaço e uso dos computares foi cedido pelo Senhor Fernando, intermediado pelos Acadêmicos do Curso de Comunicação Social, que já participam do Projeto Leitura: Uma Prática á Liberdade que acontece desde 2002, no Núcleo Habitacional Santa Bárbara de Cruz Alta/RS. Uma coisa é certa, esperamos realmente que mais empresas particulares se envolvam no Projeto a exemplo da nossa primeira parceira, New Life Informática, já que não dá mais para ficar apenas analisando o aumento dos índices da violência de forma passiva ou mesmo colocando mais grades em busca de proteção. Mas para que isso aconteça de maneira coerente e justa, existe um acompanhamento dos alunos, visitas regulares as suas casas, comprometendo os responsáveis a estimularem os participantes a buscarem cada vez mais a leitura como algo prazeroso e requisito indispensável ao aprendizado. Nascer em uma família de leitores é algo muito raro hoje em dia no Brasil, portanto, buscou-se juntamente com a comunidade e a escola, uma espécie de união entre ambas, pois sabemos, que os alunos do projeto precisam de incentivo para qualquer de suas ações ou atitudes. Qualquer política de expansão precisa passar pelo estimulo à formação de bibliotecas. Apesar deste ser um ponto sobre o qual é difícil de agir, temos bons motivos para não desanimar, pois já esteve pior em governos anteriores. Realmente, os resultados do projeto foram satisfatórios e por isso pretendemos dar continuidade ao mesmo e divulgá-lo sempre que for possível. Para que todos aqueles que ainda não conhecem nosso trabalho, o tenham como objeto inspirador para novas práticas pedagógicas a favor da leitura. Pois, só assim, atenderemos as solicitações dos alunos, pais e toda a Comunidade escolar engajada na busca de um mundo melhor. Considerações finais Uma coisa é certa: a leitura está presente em todos os momentos de nossas vidas. O ato de ler, considerado em sua dimensão mais ampla, constitui um dos mecanismos por meio do qual é possível compreender melhor o mundo.
Outro aspecto inegável é que o hábito de leitura não basta, temos que ter o gosto pela mesma, para que consigamos incorporá-la às atividades do nosso cotidiano e do nosso aluno. A pessoa que lê é de fácil diálogo, é crítica e sujeita à mudança. É lamentável saber que a responsabilidade pela orientação desta prática e pela formação do leitor é atribuída somente à escola. Este fato mostra a importância do professor no processo, sendo fundamental que ele se disponha a trabalhar com a leitura, na prática. Por isso é necessário esclarecer e questionar certos conceitos de leitura e, ainda, atender para a questão da falta da mesma, bem como de recursos físicos e humanos para conduzir o processo de formação de leitores. Teoricamente, todo professor sabe que é preciso despertar as crianças e os jovens para o prazer da leitura, mas é necessário viabilizar a deselitização, através de um processo constante de conscientização, envolvendo tanto os educadores, sejam eles pais, professores, bibliotecários e as autoridades governamentais, que possuem o poder decisório. Esse processo deve visar à responsabilidade dos educadores e governantes, no sentido de que propiciem à comunidade em geral o acesso real e concreto à leitura. Esta certeza é o que deve motivar a implantação de projetos de leituras, envolvendo toda a comunidade escolar, num clima de parceria e construção coletiva, tendo o educando como alguém que merece ser envolvido pelo prazer de ler. Nossa experiência mostra que a participação e o comprometimento dos envolvidos aumenta gradativamente, pois se aplicarmos uma metodologia, na qual o aluno realmente assuma o papel de sujeito, considerando sua a individualidade, o coletivo será repensado e, com certeza, melhorado. Apenas para concluir: leitura é um processo que liberta e constrói o indivíduo, na sua particularidade e no seu contexto social. Ela também assegura homens mais complexos, o que significa uma comunidade mais capaz de compreender, criticar e modificar seu entorno. Isso parece utópico, mas não é, pois há muitos recursos simples, eficazes e disponíveis para auxiliar os alunos a se tornarem leitores, principalmente se
trabalharmos de forma séria, agradável e comprometida. Eis aí a relevância de se perceber a leitura como caminho à autonomia, e por que não ao prazer. Bibliografia BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Martins Fontes, 1973. BONAMIGO, Rita Inês Hofer. Cidadania: Considerações e Possibilidades. POA.Ed. Dacasa, 2000. BRANDEN, Nathanael. O poder da Auto-estima. São Paulo: Saraiva, 1998; CATTANI & AGUIAR, Vera Teixeira de. In.:ZILBERMAN, Regina. (org.) Leitura em crise na escola, 11 ed. Porto Alegre. Mercado Aberto, 1993. CONDEMARIN & ALLIENDE. Leitura, teoria e avaliação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. DEMO, Pedro. Cidadania Tutelada e Cidadania Assistida. SP: Ed. Autores Associados, 1989. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo, 1986. ZILBERMANN, Regina. (org.). Leitura em crise na escola. 11ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.