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Transcrição:

ATROFIA RENAL UNILATERAL DEVIDO À OCLUSÃO POR NEFRÓLITO EM UM CÃO - RELATO DE CASO UNILATERAL RENAL ATROPHY DUE TO NEPHROLITH OCCLUSION IN A DOG CASE REPORT Patrícia Alvim SCARABUCCI 1 ; Bibiana Zoppas PIEREZAN 2 e Rafael Almeida FIGHERA 3 1 Estudante de mestrado, Universidade Federal de Uberlândia, p.scarabucci@hotmail.com 2 Estudante de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul 3 Professor do Departamento de Patologia, Universidade Federal de Santa Maria Resumo: Descreve-se um caso de nefrolitíase renal em um canino, fêmea, não castrada, sem raça definida, de oito anos de idade com queixa principal de disúria. À radiografia abdominal foram identificados cinco cistólitos e marcada diferença no tamanho dos rins (3,9 cm versus 2,8 cm). O paciente foi submetido à cistotomia para remoção dos urólitos e nefroureterectomia esquerda. O diagnóstico anatomopatológico foi de atrofia difusa acentuada e a lesão foi interpretada como rim em estágio terminal. A presença de um cálculo na pelve renal permitiu estabelecer como mais provável patogênese a oclusão renal (renal shutdown). Essa é uma das primeiras descrições de oclusão renal por nefrólito como causa de atrofia renal em cães. Palavras-chave: rim; nefrolitíase; canino; rim em estágio terminal Keywords: kidney; nephrolithiasis; canine; end-stage kidney Revisão de literatura: Atrofia renal é caracterizada pela diminuição do volume renal devido à perda de néfrons. Essa lesão ocorre principalmente devido à doença renal crônica progressiva, como parte de um processo denominado em anatomopatologia como rim em estágio terminal. Menos comumente, outras patogêneses são mencionadas na literatura, dentre elas a obstrução do trato urinário inferior (TUI) (DAVRAN et al. 2014). Os sinais clínicos dependem do grau de obstrução do TUI e da hidronefrose concomitante (RUBIN, 1997). Nefrólitos e tumores de pelve renal têm sido incriminados como causa de atrofia renal em cães e gatos. O diagnóstico, nestes Anais do 38º CBA, 2017 - p.2082

casos, é feito por exames de imagem (ADAMS, 2013) e o tratamento pode ser clínico ou cirúrgico, dependendo da gravidade da lesão (RUBIN, 1997). Este relato teve como objetivo descrever um caso de atrofia renal unilateral devido à oclusão por nefrólito em um cão. Descrição do Caso: Um canino, fêmea, não castrada, sem raça definida, de oito anos de idade foi admitido no Hospital Veterinário Universitário da Universidade Federal de Santa Maria. Na anamnese constatou-se apatia, inapetência, disúria e hematúria com evolução de um mês. No exame físico observou-se desidratação, mucosas hipocoradas, dispneia e presença de estruturas intra-abdominais palpáveis, em região mesogástrica, de aspecto firme e regular. O hemograma revelou anemia arregenerativa, normocítica normocrômica (volume globular [VG]: 10% e hemoglobina [HB]: 3,2g/dL de sangue), trombocitopenia (69.000/µl) regenerativa, leucocitose (50.900 leucócitos/µl) com desvio à esquerda (49.882 neutrófilos segmentados/µl, 2.545 bastonetes/µl e 509 metamielócitos/µl). Na bioquímica clínica, o perfil hepático (albumina [ALB], alanina aminotransferase [ALT] e fosfatase alcalina [FAL]) e o renal (creatinina e ureia) estavam dentro dos valores considerados normais para a espécie. À radiografia abdominal foram identificadas cinco estruturas radiopacas no interior da vesícula urinária, que variavam de 1,7 a 3,6cm em seus maiores eixos. À ultrassonografia evidenciou-se discreto conteúdo anecoico na vesícula urinária e estruturas hiperecogênicas formadoras de sombra acústica. O rim direito tinha 3,9cm em seu maior eixo, com cápsula regular, diferenciação corticomedular preservada e pelve sem sinais de alteração. O rim esquerdo tinha 2,8cm em seu maior eixo, com cápsula irregular e diminuição da diferenciação corticomedular. O paciente foi submetido à cistotomia para remoção dos urólitos e nefroureterectomia esquerda, sendo realizada transfusão sanguínea no transcirúrgico. Após o término do procedimento, permaneceu com sonda uretral para acompanhamento do débito urinário. A vesícula urinária foi irrigada com 100ml de solução salina gelada a 0,9%, a cada 4 horas, nas primeiras 24 horas. No decorrer do período pós-cirúrgico, recebeu associação de amoxicilina com ácido clavulânico (15mg/kg, SC, BID), enrofloxacino (5mg/kg, IV, BID), tramadol (5mg/kg, SC, TID), dipirona (25mg/kg, IV, TID), omeprazol (1mg/kg, IV, SID) e fluidoterapia de manutenção (50ml/kg/dia de NaCl a 0,9%). Na análise química dos urólitos Anais do 38º CBA, 2017 - p.2083

observou-se presença de carbonato, cálcio, magnésio, amônio e fosfato, os quais deram origem aos cristais de fosfato amoníaco magnesiano e carbonato de cálcio. Os exames laboratoriais foram repetidos três/seis dias após o procedimento cirúrgico. O hemograma evidenciou melhora da anemia (VG: 23% e 26%, respectivamente), leucocitose (41.000/µl e 27.100/µL, respectivamente) com desvio à esquerda menos intenso (38.130 e 23.577 neutrófilos segmentados/µl e 820 e 542 bastonetes/µl, respectivamente) e monocitose (2.050/µl). Na bioquímica clínica, o perfil renal manteve-se estável nos dois momentos. No exame ultrassonográfico abdominal observou-se mesentério reativo e moderada presença de líquido livre. Na radiografia torácica, realizada devido à crepitação à ausculta pulmonar, havia radiopacidade de padrão alveolar em lobo médio pulmonar e discreta radiopacidade difusa de padrão alveolar em região de mediastino esternal. Foi administrada furosemida (3,5mg/kg, IV, em dose única). O paciente recebeu alta com prescrição de ração terapêutica renal (120 gramas por dia), amoxicilina com ácido clavulânico, enrofloxacino, dipirona e omeprazol, nas mesmas doses utilizadas durante a internação, porém por via oral. Foi solicitado retorno em cinco dias para reavaliação e remoção das suturas. No retorno, o paciente estava clinicamente bem. O hemograma revelou melhora da anemia (VG: 29%) e o leucograma estava dentro dos parâmetros de normalidade (13.300 leucócitos/µl e 11.430 neutrófilos/µl). Na bioquímica clínica, o perfil renal permaneceu inalterado. Na biópsia renal esquerda observou-se, macroscopicamente, rim com 3 x 1,8 x 1,5 cm, com superfície multilobulada e azulada. Havia um urólito intra-pélvico e leve dilatação de pelve (hidronefrose). Histologicamente, havia infiltrado inflamatório composto por linfócitos e plasmócitos em áreas multifocais do interstício renal, marcada deposição de tecido conjuntivo, atrofia glomerular difusa, dilatação tubular, proteinose tubular e presença de moderada quantidade de cilindros hialinos intratubulares. Áreas de agudização, caracterizadas por degeneração e necrose do epitélio tubular, foram vistas aleatoriamente. O diagnóstico morfológico foi de atrofia difusa acentuada e a lesão foi interpretada como rim em estágio terminal. Concomitantemente havia acentuada hiperplasia do urotélio pélvico. Discussão: Nefrolitíase é incomum em cães e gatos (Rubin, 1997). Os nefrólitos representam apenas 1-4% de todos os urólitos de cães e gatos submetidos a Anais do 38º CBA, 2017 - p.2084

centros de análises de cálculos (ROSS et al., 1999; RUBIN, 1997; ADAMS, 2013; LULICH e OSBORNE, 2017), porém, acredita-se que a prevalência seja maior considerando a dificuldade de remoção do urólito do trato urinário superior e o fato da busca desses em exames de imagem não ser rotineiramente realizada (ADAMS, 2013). Nefrólitos são, em sua grande maioria, achados incidentais de imagem ou necropsia. Entretanto, ocasionalmente, podem causar necrose da pelve renal, pielonefrite asséptica ou hidronefrose (ROSS et al.,1999). Mais raramente, entretanto, a presença de um cálculo intrapélvico pode levar a compressão constante e, consequentemente, a atrofia renal. Quando apenas um rim é afetado pelo cálculo, pode ocorrer atrofia unilateral. Nestes casos, o rim contralateral sofre hipertrofia compensatória (NOVAK e CRAIG, 2011). Urólitos de carbonato de cálcio correspondem a apenas 0,5% dos casos caninos, formando-se em ph abaixo de 7,5, principalmente em fêmeas (77,8%) castradas (55,9%), e das raças Shih-Tzu, Bichon Frisé, Pug, Schnauzer Miniatura, Chihuahua e SRD (sem raça definida) (LULICH e OSBORNE, 2017). Urólitos de fosfato de amônio magnesiano (estruvita), são formados em ph acima de 7,0 e responsáveis por 36,8% dos casos nesta espécie. Urólitos de estruvita são mais comuns em fêmeas (82,2%), principalmente naquelas castradas (67%) e das raças Shih-Tzu, Schnauzer Miniatura, Dachshund, Pug e Bichon Frisé (LULICH e OSBORNE, 2017).. As opções para o manejo da nefrolitíase são dissolução medicamentosa, remoção cirúrgica e desintegração do cálculo por litotripsia. Os procedimentos cirúrgicos que podem ser apropriados para remover nefrólitos em animais incluem nefrolitotomia, pielolitotomia e nefrectomia. A nefrectomia deve ser o último recurso sendo reservado para casos complicados por severa pielonefrite ou hidronefrose e quando o rim contralateral está funcional (RUBIN, 1997). Conclusão: A nefrolitíase tende a ser assintomática e geralmente é apenas um achado de necropsia ou de imagem radiográfica ou ultrassonográfica. Porém, em alguns casos, podem provocar uma atrofia renal importante devido a um fenômeno ainda pouco entendido e denominado de oclusão renal (renal shutdown). Quando unilateral, o rim contralateral sofre hipertrofia e compensa a lesão. Apesar de rara em cães, essa Anais do 38º CBA, 2017 - p.2085

lesão e suas manifestações clínicas precisam ser conhecidas pelos clínicos de pequenos animais. Referências: ADAMS, L. G. Nephroliths and Ureteroliths: a New Stone Age. New Zealand Veterinary Journal, Wellington, v.61, n.4, p.212-216, 2013. DAVRAN, R.; HELVACI, M. R.; DAVARCI, M. Left Renal Atrophy. International Journal of Clinical and Experimental Medicine, Madison, v.7, n.6, p.1603-1606, 2014. LULICH, J. P.; OSBORNE, C. A. Lower Urinary Tract Urolithiasis in Dogs. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C.; CÔTÉ, E. Textbook of Veterinary Medicine: Diseases of the Dog and the Cat. Saint Louis: Elsevier, 2017, p.4821-4836. NOVAK, J. M; CRAIG, L. E. Pathology in Practice. Journal of the American Veterinary Medical Association, New York, v.238, n.7, p.863-865, 2011. ROSS, S. J.; OSBORNE, C. A.; LULICH, P. J.; POLZIN, D. J., ULRICH, L. K.; KOEHLER, L. A.; BIRD, K. A.; SWANSON, L. L. Canine and Feline Nephrolithiasis: Epidemiology, Detection and Management. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, Philadelphia, v.29, n.1, p.231-250, 1999. RUBIN, S. I. Chronic Renal Failure and Its Management and Nephrolithiasis. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, Philadelphia, v. 27, n.6, p.1331-1354, 1997. Anais do 38º CBA, 2017 - p.2086