COMPREENDENDO A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER: UMA REFLEXÃO ACADÊMICA 1 BISOGNIN, Patrícia 2 ; SIQUEIRA, Alessandro 2 ; BÖELTER, Débora Cardoso 2 ; FONSECA, Mariana 2 ; PRUNZEL Marizani 2 ; GONÇALVES, Thais da Rosa 2 ; DIAZ, Claudia Maria Gabert 3 ; COLOMÉ, Juliana Silveira 4. RESUMO Este trabalho objetivou compreender a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher por meio de uma reflexão sobre seus antecedentes, estratégias de ação e possibilidades de atenção em saúde. Foi desenvolvido em janeiro de 2011, durante a disciplina de Políticas Públicas em Saúde, por meio de um ensaio reflexivo. A mulher, vista no passado como objeto de reprodução, conquista espaços e autonomia. Com base nestas mudanças, o Ministério da Saúde desenvolveu a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher - PNAISM, a qual prioriza o atendimento integral a todas as mulheres. No cotidiano dos serviços de saúde, o discurso de integralidade nem sempre se efetiva na prática assistencial, seja pela escassez de recursos, despreparo ou falta de motivação dos profissionais de saúde, deixando lacunas no processo de trabalho, bem como a ausência de reflexões críticas na perspectiva da transformação. Descritores: Enfermagem; Saúde da Mulher; Atenção à Saúde da Mulher; Políticas Públicas. 1 Trabalho desenvolvido na disciplina Políticas Públicas em Saúde do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). 2 Acadêmica do Curso de Enfermagem. Centro Universitário Franciscano RS. E-mail: patrícia.bisognin@ibest.com.br 3 Enfermeira. Mestre. Docente do Curso de Enfermagem UNIFRA; Gerente Assistencial da Unidade Tocoginecológica HUSM. E-mail: cmgdiaz@bol.com.br 4 Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA. Doutoranda em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande - FURG. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Empreendedorismo Social da Enfermagem e Saúde (GEPESES/UNIFRA). Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: julianacolome@yahoo.com.br. 1
1. INTRODUÇÃO A mulher representava na sociedade o valor referente à reprodutividade, refletida na atenção obstétrica. Com o passar dos anos, a luta feminista amplia esta visão, identificando outras necessidades além das que tratavam os antigos programas de assistência a mulher 1. O anseio de uma perspectiva ampliada da atenção da saúde da mulher, desde as primeiras décadas do século passado, desencadeou transformações que dão origem a diretrizes e ações programáticas no campo das políticas, tributadas à organização e à mobilização de setores civis e governamentais, protagonizadas pelo movimento feminista 2. Com base nestes fatos e considerando que a saúde da mulher é prioridade, o Ministério da Saúde, elaborou o documento Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) Princípios e Diretrizes, em parceria com diversos setores da sociedade. Teve como objetivo melhorar as condições de vida e saúde das mulheres brasileiras, contribuir para a redução da morbimortalidade feminina e ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher no Sistema Único de Saúde, garantindo os direitos legalmente constituídos 3. No entanto, a história das mulheres na busca pelos serviços de saúde expressa discriminação, frustrações e violações dos direitos e aparecem como fonte de tensão e malestar psíquico-físico. Por essa razão, a humanização e a qualidade da atenção implicam na promoção, reconhecimento, e respeito aos seus direitos humanos, dentro de um marco ético que garanta a saúde integral e seu bem-estar 3. Entre as principais causas de morte da população feminina estão às doenças cardiovasculares, câncer de mama, de pulmão e de colo de útero, diabetes, entre outros. Porém, esse perfil epidemiológico da população feminina apresenta diferenças importantes de uma região a outra do País. Conforme a PNAISM, o diagnóstico tardio do câncer de mama, em média 60%, representa um grande desafio, pois interfere na perspectiva de cura e na qualidade de vida dessas mulheres. Frente a essa realidade, que representa um problema de saúde pública, sentiu-se o interesse e a necessidade de discutir tais questões, que refletem a qualidade da atenção à saúde da mulher, apresentando como objetivo: compreender a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher por meio de uma reflexão sobre seus antecedentes, estratégias de ação e possibilidades de atenção em saúde. 2
3. METODOLOGIA Trata-se de um ensaio reflexivo, de caráter qualitativo, que determina o estudo como uma modalidade em que os dados são coletados através de interações sociais e analisados subjetivamente pelo pesquisador 4. Foi desenvolvido na disciplina de Políticas Públicas em Saúde, no período de janeiro de 2012, por meio de um processo dialógico entre os autores, sendo possível estabelecer momentos de reflexão e discussões sobre o tema. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES O movimento da Reforma Sanitária teve início na década de 80 e influenciou a implementação do PAISM (Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher) que se caracterizou pelas propostas de descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços. 5 No ano de 2004, o Ministério da Saúde elaborou o documento da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher Princípios e Diretrizes (PNAISM), a partir da avaliação das políticas anteriores, buscando preencher as lacunas deixadas, como: climatério/menopausa; queixas ginecológicas; infertilidade e reprodução assistida; saúde da mulher na adolescência; doenças crônico-degenerativas; saúde ocupacional; saúde mental; doenças infecto-contagiosas; atenção às mulheres rurais, dentre outras 3. No entanto, essa abordagem evidencia a perspectiva de resolução de problemas, priorizando a saúde reprodutiva e, em particular, as ações para redução da mortalidade materna - pré-natal assistência ao parto e anticoncepção. Embora se tenha mantido como imagem-objetivo de atenção integral à saúde da mulher, a definição de prioridades dificultou a atuação sobre outras áreas estratégicas do ponto de vista da agenda ampla de saúde da mulher. Apesar dos avanços no sentido da integralidade e uma ruptura com as ações verticalizadas do passado, os problemas não foram tratados de forma isolada, havendo a incorporação de um tema novo como a violência sexual 5. A atenção integral à saúde da mulher refere-se ao conjunto de ações de promoção, proteção, assistência e recuperação da saúde, executadas nos diferentes níveis de atenção à saúde, devendo nortear-se pelo respeito a todas as diferenças, sem discriminação de qualquer espécie e sem imposição de valores e crenças pessoais. Esse enfoque deve ser incorporado aos processos de sensibilização e capacitação para humanização das práticas em saúde. 3
Estudos realizados para avaliar os estágios de implementação da Política de Saúde da Mulher demonstram a existência de empecilhos na implantação dessas ações e, embora não se tenha um panorama abrangente da situação em todos os municípios, pode-se afirmar que a maioria enfrenta dificuldades políticas, técnicas e administrativas 3. Os princípios da política ressaltam acreditar na importância do acolhimento nas redes de saúde, disponibilidades dos recursos tecnológicos, informações e orientações às comunidades sobre prevenções e tratamentos. No cotidiano dos serviços de saúde, o discurso de integralidade nem sempre se efetiva na prática assistencial, seja pela escassez de recursos, despreparo ou falta de motivação dos profissionais de saúde, deixando lacunas no processo de trabalho, bem como a ausência de reflexões críticas na perspectiva da transformação. 5. CONCLUSÃO No decorrer do estudo sobre a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher, pode-se perceber que esta foi criada a partir de muitas lutas, com inicio na implementação do SUS, com maior impulso na 8ª Conferência Nacional da Saúde. A partir de 2004, deixa-se de ser PAISM, e cria-se a PNAISM, que vem com o objetivo de proporcionar saúde, e não apenas provocar mudanças na qualidade de vida das mulheres, visando a integralidade, o atendimento desde a infância, adolescência, idade adulta e mulher idosa. Este desafio inclui a consciência crítica e coletiva de que a saúde publica é uma responsabilidade do governo, juntamente com a sociedade para alcançar avanços na área. Apesar da permanência de muitos conflitos após a sua implementação, sabe-se que a atenção integral à saúde da mulher redimensiona o significado do ser feminino no contexto social, expressando uma mudança de posição das mulheres, no momento em que o cuidado não mais se restringe apenas a reprodutividade e ao ciclo gravídico-puerperal. REFERÊNCIAS 1 Benites AP, Barbani N. História de vida da mulher e saúde da família, algumas reflexões sobre gênero, 2009. 4
2 Gomes R. Desafios da Atenção à Saúde Integral da Mulher-Ciencias da Saúde Coletiva,vol16 n 5 Rio de Janeiro, 2011 3 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 4 Severino AJ. Metodologia do trabalho científico. 23ª ed. São Paulo: Cortez, 2007. 5 Correa SO, Piola SF. Balanço 1998-2002: aspectos estratégicos, programáticos e financeiros. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. 5