O TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS



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O TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS Resumo SANTOS, Jéssica Thais 1 - FAESP ALMEIDA, Ivana Cristina de Lima 2 - Universidade Positivo Grupo de Trabalho - Educação e Saúde Agência Financiadora: não contou com financiamento Em estudos realizados sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), identificou-se que a sua terminologia é conhecida pela sociedade atual, por ser um dos transtornos mais indicados em crianças no âmbito escolar. Nas duas últimas décadas, verificou-se um grande aumento de crianças encaminhadas a neurologistas, psiquiatras, psicólogos e psicopedagogos, com a queixa de que apresentam dificuldades de aprendizagem e de comportamento, genericamente identificadas como hiperatividade. Em decorrência desse fato, percebeu-se a importância de investigar e compreender a visão das professoras que convivem com alunos com o diagnóstico do TDAH e a dos especialistas da área de saúde a respeito da relação do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) com a aprendizagem escolar das crianças. Para isso, foram utilizados como procedimentos metodológicos a pesquisa bibliográfica e de campo com aplicação de entrevistas semiestruturadas aos professores de uma escola municipal localizada em Curitiba e aos profissionais da área da saúde, totalizando oito especialistas. Na escola, foram entrevistados quatro professores de uma turma de terceiro ano do ensino fundamental por terem alunos diagnosticados com o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). E na área da saúde, quatro profissionais. Os dados e as análises desenvolvidas apontam que o TDAH é mais facilmente detectado quando a criança inicia seus estudos, pois é no ambiente escolar que a criança tem que seguir rotinas e cumprir tarefas; e que, embora o TDAH seja conhecido pelos profissionais da educação entrevistados, muitos desconhecem seus sintomas e apresentam dificuldades para desenvolver a aprendizagem escolar da criança portadora do Transtorno. Palavras-chave: TDAH. Criança. Educação. Saúde 1 Graduada em Pedagogia Licenciatura, pela Faculdade Anchieta de Ensino Superior (FAESP) e cursando Pós- Graduação em Psicopedagogia e Educação Especial na Faculdade Padre João Bagozzi E-mail: jesika.santos_thais@hotmail.com. 2 Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Positivo. E-mail: ivanalimadealmeida@gmail.com

26943 Introdução O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem sido frequentemente diagnosticado na fase escolar, pois é na escola que a criança é solicitada a cumprir tarefas monitoradas, seguir rotinas e é convidada a adequar-se às normas da instituição e da sala de aula. Com isso, começam a aparecer as grandes dificuldades, pois a criança terá que se adequar a um novo ambiente, sem ter seus pais por perto para facilitar as coisas. A importância do professor para identificar o transtorno em sala, sem rotular ou confundir o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) com a falta de limites, é vista pelos especialistas da saúde como a chave para este diagnóstico, por ser o primeiro a detectar o transtorno no aluno. Sendo assim, a questão que norteia essa pesquisa é: Como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é identificado e tratado por profissionais da educação e especialistas da área de saúde no processo de desenvolvimento da aprendizagem de crianças? De um modo geral, o TDAH tem sido um dos problemas mais apontados para o baixo rendimento escolar das crianças. Fato que mostra a necessidade de os professores conhecerem o transtorno e suas características para que auxiliem os alunos em sala de aula. Nesse artigo, procura-se analisar e compreender como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) interfere no processo de desenvolvimento da aprendizagem de crianças, a partir da visão de profissionais da educação e de especialistas da saúde. Para isso, como procedimentos metodológicos foram utilizadas a pesquisa bibliográfica, documental e de campo, com aplicação de entrevistas semiestruturadas a dois grupos de profissionais distintos: o da educação e o da saúde. Na área de educação, foram entrevistadas a professora regente, a professora de educação física, de artes e a professora que identificou os sintomas do TDAH em um dos alunos da turma do 3º ano, totalizando quatro pessoas em uma escola pública municipal de Curitiba. Na área da saúde, as entrevistas foram realizadas em clínicas particulares, envolvendo: um psiquiatra, dois neurologistas e uma psicóloga, que também é psicopedagoga, o que corresponde a quatro especialistas. Neste artigo, os autores consultados sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) foram Thomas W. Phelan (2005); Ana Beatriz Barbosa Silva (2009); Paulo Mattos (2011); Gustavo Teixeira (2011), entre outros. E as informações coletadas no campo foram analisadas de forma qualitativa.

26944 Conhecendo o TDAH: considerações gerais O assunto TDAH tem origem antiga e diversas denominações, pois, de acordo com Gustavo Teixeira (2011), os primeiros relatos de sintomas que são descritos nos dias atuais (2013) como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade existem aproximadamente meio século antes do nascimento de Jesus Cristo. Teixeira (2011) informa ainda que, em 1798, houve um dos primeiros relatos médicos pelo doutor escocês Alexander Crichton, o qual descreveu e explicou a chamada inquietação cerebral e como esta inquietação poderia ser prejudicial à aprendizagem das crianças no cotidiano escolar, nomeando-a na época de doença da atenção. Ainda nas palavras do autor, em 1845, houve uma publicação importante realizada pelo médico alemão Henrich Hoffman, no livro Der Struwwelpeter, descrevendo o comportamento de uma criança hiperativa chamada Philip que é um personagem distraído, estabanado, inquieto e agitado que, por ter o comportamento hiperativo, se envolve em muitas confusões. Até o século XIX, houve algumas importantes publicações e referências a respeito do conhecido Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Mas, apesar destes relatos, a primeira abordagem científica ocorreu em 1902 (SILVA, 2009; TEIXEIRA, 2011; TEIXEIRA, 2008; MUSZKAT, et al. 2011), ano em que este tema tornou-se um marco histórico na sociedade. Segundo os autores Silva (2009) e Teixeira (2011), George Fredrick Still - considerado o pai da pediatria britânica - realizou palestras no Royal College of Physicians, na cidade de Londres, onde Still mencionou crianças com comportamento hiperativo e uma incapacidade de sustentar atenção. Teixeira (2008, p.12) afirma que, nestas palestras, o pai da pediatria também mencionou crianças com dificuldades de seguir regras: desafiadoras, desatentas, agressivas e resistentes à disciplina. E Silva (2009, p.203) complementa, afirmando que Still falou também sobre crianças que eram excessivamente emotivas e passionais, mostravam pouca inibição à sua própria vontade, [...] eram desatentas, hiperativas, propensas a acidentes e ameaçadoras a outras crianças devido a atitudes hostis. As autoras Silva (2009) e Teixeira (2008) consideram que, diante das afirmações de George Still, os pais das crianças mencionadas nas palestras foram rotulados na época como portadores de um defeito de controle moral.

26945 Entretanto, após estudos realizados com 20 crianças, Still constatou, segundo Silva (2009), que o comportamento problemático destas crianças havia surgido antes dos oito anos de idade. Desse modo, o pai da pediatria George Still teve que reconhecer uma ligação hereditária no comportamento das crianças, ao perceber que alguns membros de suas famílias apresentavam problemas como depressão, alcoolismo e alterações de conduta (SILVA, 2009, p.203). E, segundo Teixeira (2011), George Still acreditava que os comportamentos das crianças, além de terem uma causa hereditária, se tratavam de uma condição médica grave. Os pesquisadores Muszkat, et al. (2011), Teixeira (2008) e Silva (2009) afirmam que, em pleno século XX, mais precisamente no período de 1917 a 1918, ocorreu um surto de encefalite na América do Norte, deixando um número considerável de crianças com sequelas comportamentais como limitação da atenção, da memória e da regulação dos impulsos físicos. Em decorrência disso, Silva (2009) enfatiza que as crianças que apresentavam características comportamentais semelhantes às descritas por George Still, foram estudadas por médicos norte-americanos e por apresentarem prejuízos na atenção estas crianças foram descritas em diversos estudos com distúrbio de comportamento pós-encefalite. Os autores Vasconcelos (2004), Silva (2009) e Teixeira (2008) relatam que, em 1934, baseando-se em estudos realizados com vítimas da pandemia de encefalite, os autores Eugene kahn e Louis H. Cohen publicaram no famoso The New England Journal Of Medicinal um artigo no qual afirmavam haver uma base biológica nas alterações comportamentais, como a hiperatividade. Diante disso, estabeleceu-se neste século uma relação entre a encefalite e uma possível deficiência moral. Termo criticado por Silva (2009, p.204), porque esta definição, segundo a autora, é concebida como um caráter falso para explicar o funcionamento do Transtorno do Déficit de Atenção. A pesquisadora afirma que outras crianças que não foram expostas ao surto de encefalite, mas que apresentavam sintomas similares, deviam ter sofrido um certo dano cerebral de alguma outra forma. Desse modo, para descrever estas crianças foi criado o termo cérebro danificado ou lesionado. Entretanto, os estudos da época reconheceram que grande parte destas crianças se mostrava muito inteligente e esperta para serem portadoras de uma lesão cerebral de qualquer extensão. Este fato acabou originando um novo termo: Lesão Cerebral Mínima (LCM), que se tornou popularmente conhecido e disseminado, apesar de não haver lesão

26946 cerebral óbvia [...] que pudesse ser evidenciada por um teste ou exame médico objetivo (SILVA, 2009, p.204). Ainda nas palavras de Silva, em 1957, Maurice Laufer - por acreditar que a síndrome seria uma doença exclusivamente de crianças do sexo masculino e que ao longo do crescimento natural da criança teria sua remissão - utilizou o termo hiperatividade infantil para descrever estas crianças. Em contrapartida, na mesma década, mais precisamente em 1960, a médica Stella Chess baseando-se em suas teorias e estudos chamou a patologia de Síndrome da Criança Hiperativa. Enquanto os autores Teixeira (2011) e Muszkat, et al. (2011) elucidam que o termo lesão cerebral mínima foi utilizado até o final da década de 1950, Silva (2009, p.204) complementa que devido à falta de evidências diretas e objetivas que pudessem constatar a presença de lesões cerebrais, o termo que antes era chamado de Lesão Cerebral Mínima foi posteriormente mudado para Disfunção Cerebral Mínima (DCM). Diante desta afirmação, Teixeira (2011) explicita que, na década de 1960, além da nomenclatura DCM desenvolveu-se outra terminologia que perdurou por mais de dez anos, a chamada Reação Hipercinética da Infância. Termo que, segundo Silva (2009), foi utilizado em 1968 pela Associação de Psiquiatria Americana (APA) ao publicar o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, em segunda edição (DSM II). Silva (2009) ressalta ainda que, no ano de 1980, com a publicação do DSM III, a forma adulta foi identificada, reconhecida e nomeada de tipo residual. Este reconhecimento trouxe mudanças significativas, dando destaque aos pontos clínicos e desvinculando os fatores causais. Desse modo, esta síndrome foi renomeada para Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA). Já os autores Teixeira (2011), Phelan (2005) e Muszkat, et al. (2011) se contrapõem, afirmando que neste mesmo ano foi descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais - terceira edição - o termo Transtorno de Déficit de Atenção (TDA) e não o DDA. Em 1987, segundo Thomas Phelan (2005), o Manual Diagnóstico Estatístico dos Distúrbios Mentais, terceira edição (DSM III), foi revisado e os resultados da nova edição, a DSM III-R, alterou o termo Transtorno do Déficit de Atenção para o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). E, exatamente em 1994, o termo Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) foi definido pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) e publicado no DSM IV.

26947 Ao longo da história, o TDAH recebeu várias nomenclaturas. A cada estudo realizado, a cada nova hipótese levantada, novos termos foram surgindo, mostrando que houve progressivos avanços na compreensão dos diferentes aspectos do transtorno. A partir de diversas pesquisas e estudos cautelosos, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade passou a ser visto por muitos autores, pesquisadores e especialistas como um problema neurobiológico, de origem genética, que tem início na infância e persiste na vida adulta. Silva (2009) complementa, afirmando que as crianças que geralmente apresentam comportamentos agitados, desastrosos, desajeitados, que não conseguem prestar atenção em nada, que sonham acordadas e que se distraem com os menores dos estímulos, frequentemente recebem rótulos de rebeldes, hiperativas, mal educadas, indisciplinadas, cabeça de vento, birutas, pestinhas, entre outros. Tais comportamentos, dependendo da intensidade e da frequência, são característicos do TDAH. O DSM IV apresenta critérios que devem ser cumpridos para que se identifique uma pessoa como portadora do TDAH. Segundo o Manual de Diagnósticos e Estatísticas, em sua quarta edição (apud ROHDE e BENCZIK, 1999; SILVA, 2009; PHELAN, 2005; MATTOS, 2011), o TDAH é subdivido em três tipos: I) Transtorno do Déficit de Atenção do Tipo Predominantemente Desatento: Este tipo de TDAH é mais identificado no sexo feminino e é percebido quando os sintomas de desatenção são mais predominantes. Ele está associado a maiores dificuldades de aprendizagem e, por este motivo, muitas crianças são vistas como lentas no aprendizado e acabam recebendo muitos rótulos, tais como: lerdas, demoradas, burrinhas, entre outros. II) Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade do Tipo Predominantemente Hiperativo/Impulsivo: É identificado quando os sintomas de hiperatividade e impulsividade são mais marcantes. Geralmente, crianças que apresentam este tipo de TDAH têm maiores dificuldades de relacionamento com amigos, colegas, apresentam mais problemas de comportamento e são impopulares. Suas ações parecem ser involuntárias e não apresentam domínio do próprio corpo, pois primeiro fazem e depois pensam. III) Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade do Tipo Combinado: as crianças que apresentam este tipo de TDAH têm muitos dos sintomas da desatenção, da hiperatividade e da impulsividade no mesmo grau de intensidade. Este tipo apresenta maior prejuízo global de funcionamento na vida da criança.

26948 Este transtorno tem um grande impacto na vida das crianças e das pessoas com as quais convivem por ser um transtorno caracterizado por distúrbios comportamentais que, segundo Silva (2009), Teixeira (2011) e Rohde, et al. (2003), estão relacionados a três sintomas básicos do TDAH: a desatenção, a hiperatividade física e mental, e a impulsividade. O TDAH no processo de ensino e aprendizagem Inúmeras pesquisas científicas mostram que o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é caracterizado pelos sintomas da desatenção, da impulsividade e da hiperatividade. Porém, identificar alguns destes sintomas em uma criança e dizer que ela é portadora do TDAH torna-se um passo perigoso, que possivelmente poderá causar frustrações futuras (ou rótulos) para a criança. O fato de a criança apresentar alguns dos sintomas da desatenção, hiperatividade ou impulsividade não a torna portadora do TDAH, pois todas as crianças em fase escolar podem demonstrar alguns destes sintomas. Como afirma Silva (2009), o que pode distinguir uma criança com o transtorno de outras é a frequência e a intensidade com que estes sintomas aparecem, quando comparados em crianças da mesma idade. Vários autores consideram que o TDAH é identificado com maior frequência no âmbito escolar, pois, em relação aos conteúdos, serão mais exigidas e terão que aprender no ritmo da turma. Devido a toda esta cobrança, os sintomas do TDAH tornam-se mais evidentes e é dentro deste contexto que podem surgir também as dificuldades de aprendizagem e outras comorbidades que acompanham esse transtorno. Pensando em diversos fatores, e nas várias razões que podem interferir no processo da aprendizagem dos alunos com o TDAH, é necessário que o docente tenha uma relação de qualidade com o seu aluno. Isto quer dizer que deve buscar sempre a melhoria do processo de ensino, tendo como princípio que toda criança deve ter a oportunidade de aprender e interagir com os demais, independentemente de sua dificuldade e diferença, pois, para o indivíduo, é uma questão de vivência. Por isso, a importância do olhar atento do professor para com o aluno é essencial no sentido de perceber os sintomas apresentados por ele. Mas, além do olhar atento do professor é necessário que o docente esteja atento às fases do desenvolvimento da criança, buscando informações e baseando-se nas contribuições do suíço Jean Piaget (1896-1980) sobre os estágios em que a criança está:

26949 O professor deve estar atento às fases do desenvolvimento da criança para que ele possa intervir adequadamente, proporcionando situações educativas que vão ao encontro do seu nível de compreensão e abstração dela para que haja uma aprendizagem efetiva. Seria uma troca de meios para que esse desenvolvimento ocorra, fatores internos e externos intercalando-se (SANTOS, 2009, p.10). A autora reforça a importância de conhecer às fases do desenvolvimento em que a criança se encontra com a finalidade de proporcionar ao aluno uma educação de qualidade, no caso de um transtorno ou uma dificuldade identificada. Por meio de atividades adaptadas, os conteúdos se tornarão mais compreensíveis para a criança, pois cada uma delas é um ser único na busca de novas aprendizagens. Uma vez que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos mais identificados em crianças em fase escolar, torna-se necessário conhecer como este transtorno é visto pelos especialistas e professores, uma vez que os docentes são considerados pelos médicos como a chave para um possível diagnóstico. Para tanto, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com professoras de uma escola pública de Curitiba e com especialistas da área da saúde, os quais estão relacionados diretamente com estas crianças. O TDAH no ambiente escolar: a visão dos professores Foram entrevistadas quatro professoras de uma escola municipal de Curitiba, localizada no bairro CIC, por terem dois alunos com o diagnóstico do TDAH na mesma turma, que serão aqui identificados como ALUNO 1 o qual além do TDAH, tem também o Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) -; e ALUNO 2, que tem o laudo apenas do TDAH. As entrevistadas foram realizadas com a professora regente, a professora que identificou o ALUNO 2, a professora de educação física e a professora de artes com o objetivo de conhecer quais são as suas concepções a respeito deste transtorno e como é o dia a dia delas com essas crianças. As quatro professoras situam-se na faixa de 24 a 36 anos, são formadas em pedagogia, artes plásticas, educação física, matemática, magistério com pós-graduação em educação especial, educação inclusiva e formação de professores, respectivamente. O tempo de formação delas varia de 04 a 36 anos. As quatro professoras da escola municipal, ao serem questionadas sobre como receberam a informação de que teriam um aluno com o TDAH e se já conheciam o significado desta sigla, responderam que já conheciam a sigla e que receberam a notícia com

26950 naturalidade, uma vez que uma destas professoras já atua nas salas de recursos e tem um filho com este transtorno. A professora regente, ao responder a primeira pergunta, ressaltou que nos dias de hoje não é mais novidade ter uma aluno com o TDAH em sala, pois, segundo ela, a maioria das salas tem alunos com laudos e outros em processo de avaliação. Ao serem indagadas se elas mudaram suas didáticas em sala de aula e se há adaptações nas atividades para este aluno, as professoras das aulas especiais responderam que não isso não foi necessário. A professora que identificou os sintomas do TDAH no ALUNO 2 falou que sempre disponibilizava as mesmas atividades da turma para ele, mas que sempre procurava dar um enfoque diferenciado para atrair a sua atenção. Já a professora regente, com toda a sua experiência em sala de aula, disse que tendo aluno com o TDAH em sala ou não, sempre temos que adequar a nossa didática à situação da turma. Então, sempre tem um aluno que de repente não tem o TDAH, mas tem uma necessidade especial. Então, nós temos que estar adequando a nossa didática para conseguirmos atender todos os alunos. E afirmou que existe esta adaptação, pois há momentos em que precisa explicar mais vezes, detalhar mais, precisa dar um atendimento mais individual para alguns, de acordo com a necessidade de cada um, concluiu dizendo: Não que nós consigamos atender a todos da mesma maneira, não alcançamos a todos da mesma maneira, mas tentamos ao máximo adaptar usando recursos visuais, atividades de maior interesse a fim de alcançar esses alunos também. Com o objetivo de conhecer como é a relação social dos alunos com TDAH na escola, as professoras foram questionadas a respeito da relação desses alunos com elas e com os demais colegas em sala de aula. A professora que identificou os sintomas no ALUNO 2 ressaltou que, na questão do relacionamento, ele sempre teve uma relação bem amigável com os demais. A professora de artes respondeu que o ALUNO 1 é bastante agressivo, disperso, não gosta de realizar as atividades, conversa bastante na sala e ressaltou que esse aluno responde e muitas vezes agride os colegas da sala. Em relação ao ALUNO 2, a docente disse que ele é disperso, mas apresenta um bom relacionamento com todos e sempre realiza as atividades propostas. Já a professora de educação física, ao contrário das demais, disse que ambos são tranquilos, mas esclarece que o ALUNO 1 resiste muito à socialização. Em sua visão, ele prefere sempre se isolar, mas que os colegas sempre o ajudam a lembrar de algo que ele

26951 esqueceu, como algum exercício, por exemplo. A professora regente, assim como as outras professoras, disse que o comportamento dos dois com a turma é diferente. Pois, segundo ela, o ALUNO 1 apresenta momentos de agressividade e momentos em que ele se isola da turma. Já o ALUNO 2 é mais participativo, apesar de ser muito intolerante, porque segundo ela há determinadas brincadeiras que ele não gosta. Ela relata que os colegas da turma aceitam os dois da mesma forma e que eles compreendem a agitação, os momentos de agressividade e de impaciência dos dois. Mas, que entre os dois existe uma rivalidade muito grande. Quanto ao seu relacionamento com ambos, disse ser ótimo e bastante afetivo: Eu procuro estar elevando a autoestima dos dois, eu procuro tratar bem os dois e eles são a mesma coisa comigo, o relacionamento entre nós é de bastante qualidade. Eu acredito que se o desenvolvimento deles não está melhor não é por conta do meu relacionamento com eles, porque não tenho esta questão da implicância que os professores têm, porque é difícil ter um aluno com o TDAH em sala, mas eu não tenho problemas de relacionamento com eles. Ao serem questionadas se elas sabem se os alunos tomam medicação e qual é a opinião delas a respeito disso, a professora de artes respondeu que não sabe se eles usam medicamentos e a professora de educação física disse que acha que eles utilizam a ritalina, mas esclareceu que não tem certeza. Já a professora regente respondeu, demonstrando muito conhecimento a respeito dos alunos, que os dois tomam medicação. Segundo ela, o ALUNO 2 toma ritalina e o ALUNO 1, até as férias, estava tomando ritalina, parece que o medicamento dele foi alterado, inclusive o comportamento dele também alterou bastante. Todas as professoras concordam com o uso da medicação e a professora regente esclareceu que é a favor deste tratamento, enquanto for necessário. Pois, segundo ela, há momentos que exigem a atenção dele e ele precisa estar fazendo o uso da medicação, complementando: Eu acho que um grande problema que nós enfrentamos é o medo de viciar no medicamento, é um medicamento de tarja preta, os pais se assustam e eles preferem arrumar formas alternativas de tratar isso. Mas, para nós professores é complicado, pois ao mesmo tempo em que nós temos eles em sala de aula, nós temos os outros que não são laudados e temos outras crianças para ensinar.

26952 E explicitou que, para melhorar a própria qualidade de ensino para os alunos com o TDAH, eles precisam do medicamento e diz que isso não significa que eles precisam tomar duas vezes ao dia, mas sim naqueles momentos em que realmente é cobrada a atenção. E desabafou: Inclusive eu acho uma negligência muito grande, a família que sabe que a criança precisa do medicamento e não dá, porque não é simplesmente o não dar o medicamento é estar atrapalhando o processo de aprendizagem deste aluno que com certeza não vai ter dificuldades sozinhos, vai acabar atrapalhando outros colegas em sala também. Ao serem questionadas se um aluno com o TDAH pode ser considerado como um aluno incluso, apenas uma respondeu que não e as outras responderam que sim. A única professora que respondeu não, explicou que com a realidade de hoje já se tornou comum ter um aluno com o TDAH em sala de aula e por este motivo ele não pode ser considerado como um aluno incluso. A professora regente falou que, se for pensar em questão de quantidade, existem tantos alunos com o TDAH que seria uma certa banalização das dificuldades. Pensa que, dependendo do aluno e de suas condições, pode ser considerado com um aluno incluso. E explicou que o ALUNO 2 ela não consideraria como um aluno incluso, porque ele medicado consegue realizar as atividades do processo de aprendizagem. Já o ALUNO 1, ela consideraria como um aluno incluso, pois ele tem necessidades diferentes. O TDAH no ambiente clínico: a visão dos especialistas Com o objetivo de conhecer as concepções dos especialistas sobre o TDAH e como eles auxiliam as crianças com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, foram entrevistados quatro especialistas, sendo três do sexo masculino e uma do sexo feminino. Os quatro entrevistados situam-se na faixa de 29 a 50 anos, são formados em neurologia, psiquiatria, psicologia e psicopedagogia, respectivamente. E o tempo de formação varia de cinco a 26 anos. Os quatro especialistas atuam em clínicas particulares e um dos neurologistas atua também no Hospital de Clínicas (HC). O psiquiatra, além da clínica, atua também no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). As entrevistas com os neurologistas foram iniciadas com a indagação sobre a idade em que, geralmente, os pais das crianças procuram por uma consulta médica sobre o TDAH. O

26953 Neurologista 1 disse que as crianças que têm hiperatividade chegam mais cedo nas consultas e afirmou que a hiperatividade é predominante em meninos com quatro ou cinco anos. O médico explicou que a hiperatividade incomoda mais os pais e que, por isso, as crianças podem chegar até com três anos nas clínicas. Ainda mais, segundo ele, se esta criança além da hiperatividade tiver mais alguma comorbidade, como o Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) e o Transtorno de Conduta (TC). O neurologista disse também que, em meninas, aparece geralmente a forma mais desatenta e que, por isso, elas chegam infelizmente mais tarde nos consultórios, algumas vezes no 3º ano, no 4º ano, 5º ano ou até no ensino médio. De acordo com Silva (2009), a hiperatividade é menos frequente no sexo feminino e, por essa razão, muitas vezes elas passam despercebidas e o diagnóstico acaba sendo feito muito tarde, sendo que entre a população feminina o que predomina é o TDA sem hiperatividade. Já o Neurologista 2 disse que a procura no consultório dele é de todas as idades, mas ressaltou que a maior incidência acontece entre 06 e 12 anos. Após o laudo, as crianças com o TDAH iniciam os atendimentos como forma de intervenções para o seu melhoramento em várias áreas. Desse modo, ao serem questionados como concluem que as crianças não precisam mais destes atendimentos, ambos os neurologistas responderam que se a criança tiver TDAH o tratamento é de longa duração, pois o TDAH é uma doença que não tem cura. Mas, ressaltaram que o portador do transtorno se adapta ao cotidiano e a perspectiva de alta existe. Os especialistas afirmam que estes atendimentos geralmente são crônicos e que a grande maioria continua usufruindo das consultas, ainda mais se o paciente é hiperativo. O Neurologista 1 disse: Muitas vezes, nós usamos 01 ano a medicação, no outro ano iniciamos sem medicação e se ele começar a ir bem na escola e não ter problemas de comportamento da parte médica, ele recebe alta. Ele só continua com a psicóloga, com a fonoaudióloga dependendo da necessidade, mas muitos casos vão até o ensino médio. E frisou que, no consultório, ele tem pacientes que estão na faculdade e pacientes que já se formaram e que ainda recebem tratamento. Já o psiquiatra que atua no CAPS esclareceu que isso ocorre por critérios clínicos. Por exemplo, se os sintomas diminuíram, se os sintomas estão controlados e o prejuízo que a criança tem na sua vida familiar, escolar ou na vizinhança são mínimos, se houve uma diminuição no sofrimento e se ela está conseguindo desenvolver uma independência, ela pode

26954 receber alta. Segundo a psicóloga, para concluir se a criança não precisa mais dos atendimentos ela precisa fazer junto com a família um levantamento de dados, para saber se em casa está tudo certo, se a criança está se contendo mais, se não está mais tendo problemas na escola. Segundo ela, este é um fator muito importante, porque tudo o que acontece na escola é fundamental, pois ela é o termômetro para saber como a criança está, por ser o lugar que mais tem regras e é ali que nós vamos perceber como a criança está realmente. A medicação é um dos tratamentos mais indicados pelos médicos após o diagnóstico do TDAH. Desse modo, os especialistas foram questionados se concordam com o uso da medicação, quais são os prós e os contras em suas concepções. Ambos os médicos afirmaram que a medicação é essencial e que, como tratamento, é altamente eficaz e seguro. Mattos (2011, p.191), em relação à medicação, explica que em 70% dos casos, tanto em crianças quanto em adultos, o tratamento parece ser benéfico e que a sintomatologia do TDAH melhora de forma dramática, outras vezes a melhora é apenas parcial. Mesmo assim, o principal tipo de medicamento utilizado no TDAH, os estimulantes, apresentam um grau de resposta excelente em medicina. O Neurologista 2 ressaltou que a exceção seria em casos muito leves, em que pode não ser necessária a medicação. Para ele, o lado negativo é a possibilidade de efeitos colaterais como diminuição do apetite, interferência no sono, cefaleia, surgimento ou piora de tiques. Afirmou ainda que, esses efeitos colaterais não são comuns e muito raramente impedem a continuidade do tratamento. O Neurologista 1 disse que propõe o uso do medicamento duas ou três semanas e afirmou que tem pacientes que melhoram da água para o vinho, muitos pais falam que seu filho mudou, é outro filho depois que começou a tomar a medicação. Para o psiquiatra, é muito evidente que o remédio quando bem utilizado é bastante efetivo, pois, segundo ele, este ajuda na qualidade de vida dos portadores do TDAH, porque uma criança com o TDAH quanto mais tempo demorar para iniciar o tratamento mais ela não vai gostar de uma sala de aula, porque é ali que vão brigar com ela, que ela vai ser o pior, o ruim da sala de aula, o excluído. E afirmou também que a medicação para as crianças com TDAH proporciona a diferença entre a criança poder estar dentro de uma sala de aula aprendendo, do que está ali sendo julgada pelos professores, sendo muitas vezes odiada pelos pais dos outros alunos por

26955 estarem prejudicando o ensino de outros alunos. Ele ressaltou, também, que existem os efeitos colaterais, mas disse que os benefícios superam os riscos. Já a psicóloga respondeu que depende de cada caso, porque ela tem alguns casos que a própria terapia, a própria orientação para a escola pode dar conta destas crianças e ela não precisa ser medicada. Mas, se a criança não conseguir dar conta do conteúdo, do comportamento, de prestar atenção em sala e o comportamento não melhorar com todas estas orientações, então será encaminhada para tomar a medicação. E que, normalmente, a medicação que ela indica é a Ritalina. Ao serem questionados se, para eles, um aluno com o TDAH pode ser considerado como um aluno incluso, o Neurologista 1 respondeu que depende das comorbidades, mas que não necessariamente entra no aspecto inclusivo. E o Neurologista 2 complementou esta afirmação dizendo que alguns alunos com TDAH, além do TDAH, têm dificuldades específicas que podem interferir no aprendizado mas, que por isso não necessariamente pode ser considerado com um aluno incluso. No tocante ao aspecto inclusivo, o psiquiatra respondeu que não vê o aluno com o TDAH como um aluno de inclusão, pois eles têm potencial igual ao dos outros alunos. E completou dizendo que, falar que uma criança com o TDAH é uma criança inclusa é o mesmo que dizer que um aluno que tem uma asma está sendo incluso em uma sala, não faz muito sentido! Até porque é um transtorno altamente prevalente que até 5% das crianças podem ter TDAH em fase escolar. Então, 5% das crianças estão inclusas? Eu acho que sai um pouco do foco até mesmo da própria inclusão. Para a psicóloga, que também é psicopedagoga, a criança com o TDAH não pode ser considerada como um aluno de inclusão, pois, segundo a especialista, a criança portadora do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade requer uma visão diferenciada, mas que isso não entra no aspecto inclusivo. Considerações Finais Diante das entrevistas realizadas, identifica-se que existem vários pontos comuns e divergentes entre os professores e os especialistas. Embora os especialistas afirmem que a medicação pode causar efeitos colaterais, todos admitem - inclusive os professores, por experiência no dia a dia - que o uso da medicação é importante para auxiliar a criança com o TDAH, tanto na vida social e pessoal, como na aprendizagem e no relacionamento com os

26956 demais. Torna-se imprescindível salientar também que, no tocante ao aspecto inclusivo, identificaram-se algumas convergências entre as respostas. De acordo com os quatro profissionais da clínica e uma das professoras da escola municipal, a criança com o TDAH deve ser atendida dentro de suas peculiaridades pelo professor e deve ter um olhar diferenciado do corpo discente, visto que as crianças precisam do auxílio do professor para obter sucesso no ambiente escolar. Mas, não devem ser considerados como alunos de inclusão. Entretanto, o Neurologista 1 e a pedagoga da escola municipal salientaram que se a criança com o TDAH tiver outros transtornos graves associados pode ser considerada como uma inclusão, pois exigirão mais dos professores Ao realizar este trabalho de pesquisa, o objetivo foi identificar o que é o TDAH para entender como este transtorno interfere na vida pessoal e escolar de uma criança. Uma vez que a maioria delas apresenta dificuldades na aprendizagem e nos relacionamentos sociais. Diante das entrevistas realizadas, conclui-se que o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é mais facilmente detectado na escola e identificou-se também que as dificuldades na aprendizagem acontecem porque as crianças com o TDAH têm os sintomas da desatenção, da hiperatividade e da impulsividade. Ainda no ambiente escolar, percebeu-se que, com a divulgação do TDAH, os professores estão conseguindo identificar mais precocemente os sintomas e que, por este motivo, as crianças estão chegando mais cedo às clínicas. Verificou-se também que o professor, sendo conhecedor dos sintomas e das consequências que o TDAH traz para a criança, poderá transformar a sala de aula em um ambiente motivador e estimulante, contribuindo positivamente no desenvolvimento da criança. Além disso, não se deve focar somente no professor como único responsável pela educação da criança com TDAH, pois é necessário o envolvimento dos profissionais especializados e principalmente a participação da família. Por isso, os professores devem estar seguros de que não estão sozinhos na tarefa de educar. REFERÊNCIAS MATTOS, Paulo. No Mundo da Lua: Perguntas e respostas sobre Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos. 10. ed. Rio de Janeiro: ABDA, 2011.

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