QUESTÃO DE ORDEM Nos termos do art. 131 e seguintes do Regimento do Congresso Nacional, venho propor a presente QUESTÃO DE ORDEM, consoante fatos e fundamentos a seguir expostos: O Congresso Nacional (CN) atualmente enfrenta calorosos debates acerca da apreciação de Medias Provisórias (MP), tendo em vista o abuso da utilização desse instrumento constitucional pelo Poder Executivo e que em muito prejudica a função precípua do Legislativo, que é a de legislar. Tais discussões ganharam ainda maior repercussão após recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 4.029, em 8 de março do corrente ano, relatada pelo eminente Min. Luiz Fux, em que se julgou a Lei nº 11.516, de 2007, que criou o Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade, entendendo que é obrigatória a análise das MP pela Comissão Mista do Congresso Nacional, consoante determina o art. 62, 9º, da Constituição da República (CR), assim disposto: Art.62 (...) 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional. Em cumprimento a esse ditame constitucional e analisando o conteúdo da Resolução nº 1, de 2002, do Congresso Nacional, o STF decidiu que compete às Comissões Mistas, obrigatoriamente, analisar e emitir parecer sobre as MP, em fase inafastável do processo legislativo dessa espécie de proposição legislativa excepcional, previamente à sua apreciação pelo Plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional. 1
Ao assim decidir, o STF restabeleceu a ordem jurídica e política constitucional, promovendo, por via jurisdicional, o reequilíbrio dos Poderes, de forma a privilegiar a função legiferante do Parlamento, em atendimento ao princípio fundamental da harmonia e independência entre os Poderes Republicanos, uma vez que a nossa Constituição adotou o Sistema de Freios e Contrapesos (Checks and Balances, inspirado na Constituição norte-americana). Ainda que o acórdão da referida ADI não tenha sido publicado, o STF disponibilizou o voto condutor desse julgamento, proferido pelo Min. Fux, e, ainda, o extrato da decisão, em que se observa, claramente, ter havido a declaração incidental da inconstitucionalidade "dos já citados artigos 5º, caput, e 6º, caput e parágrafos, da Resolução nº 1 de 2002 do Congresso Nacional, pois dispensam a prolação de parecer por parte da Comissão Mista, não sendo suficiente sua elaboração por parlamentar Relator." 1 Outrossim, ficou assim formatado o dispositivo do voto do Mn. Fux: Ex positis, voto no sentido de julgar a presente Ação Direta improcedente, declarando incidentalmente a inconstitucionalidade dos artigos 5º, caput, e 6º, caput e parágrafos 1º e 2º, da Resolução nº 1 de 2002 do Congresso Nacional, modulando temporalmente os efeitos da decisão, nos termos do art. 27 da Lei 9.868/99, para preservar a validade e a eficácia de todas as Medidas Provisórias convertidas em Lei até a presente data, bem como daquelas atualmente em trâmite no Legislativo. 2 Note-se que a decisão do STF faz expressa menção aos art. 5º, caput, e art. 6º caput e 1º e 2º, da Resolução nº 1, de 2002, do CN, excluindo o prazo de 14 (quatorze) dias para emissão de parecer pela Comissão Mista, bem como as determinações regimentais que autorizam a supressão dessa instância de análise, 1 STF. ADI 4.029. Rel. Min. Luiz Fux. Plenário. Julgado em: 08/03/2012. Informativo nº 658/STF, p 16. 2 Ibidem, p. 18. 2
para deliberação direta nos Plenários da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, respectivamente. Diante dessa situação inédita, o STF remodelou o processo legislativo regimental das MP adequando-o, como já dito, aos comandos constitucionais. Com isso, diversas questões demandam esclarecimento, por parte de Vossa Excelência, quando da análise da primeira Medida Provisória editada após o histórico julgado da Suprema Corte. Nesse sentido, indagações de ordem regimental e, ainda, com base em questões que somente a praxis revelaria, devem ser antecipadas e, desde logo, enfrentadas, em homenagem ao princípio da segurança jurídica. Ontem, quando da instalação da Comissão Mista destinada a apreciar a MP 562, de 2012, observamos que não houve quórum. Esse fato, aliás, muito comum e que inspirou a edição de parte dos normativos da Resolução nº 1-CN, de 2002, leva-nos a prever, por exemplo, que, na falta de prazo, ante a declaração incidental de inconstitucionalidade dos art. 5º e 6º da referida Resolução, não seria impossível prever que a Comissão Mista poderia apresentar seu parecer em tempo demasiadamente excessivo, o que afetaria consideravelmente a análise da MP pelos Plenários da Câmara e do Senado, os quais teriam, assim, um prazo extremamente reduzido para suas respectivas deliberações. Assim, diante das modificações que o julgamento da já citada ADI promoveu na Resolução que trata das Medidas Provisórias, formulo a presente Questão de Ordem, por meio da qual levantam-se as seguintes indagações a Vossa Excelência : 1. Diante da declaração de inconstitucionalidade incidental dos arts. 5º, caput, e 6º, caput e 1º e 2º, da Resolução nº 1, de 2002, do Congresso Nacional, e uma vez que o acórdão 3
não fora ainda publicado, já deve o Congresso Nacional atualizar o referido ato normativo comum? 2. Em caso afirmativo, quando se promoverá referida atualização, uma vez que já tramita no Poder Legislativo medida provisória editada após a decisão da Suprema Corte? 3. Diante da imposição de análise das MP pela Comissão Mista respectiva pelo STF, previamente à apreciação das Casas Legislativas, e uma vez que parte dos prazos regimentais da Resolução nº 1-CN, de 2002, foram suprimidos, poder-se-ia fixar algum prazo para que a Comissão Mista elabore seu parecer, ou poderá a comissão reter a MP indefinidamente? 4. Que providências podem ser adotadas para que se evite a recorrente, e muitas vezes proposital, falta de quórum nas Comissões Mistas, a qual seria a causa principal comprometedora do processo legislativo das MP no Congresso Nacional? 5. Diante da demora da comissão em cumprir suas funções constitucionais, quais serão as providências adotadas para impedir que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal recebam a MP em prazo exíguo? 6. Decorrido o prazo de 45 (quarenta e cinco) dias sem que haja parecer da Comissão Mista, a MP trancará automaticamente a pauta da Câmara dos Deputados? 7. Nesse caso, a proposição legislativa correspondente (MPV), continuará regimentalmente no fórum de apreciação da Comissão Mista ou deverá ser encaminhada coercitivamente 4
ao Plenário da Câmara dos Deputados, mesmo diante da possibilidade de supressão de instância constitucional? 8. Como adequar os prazos remanescentes previstos na Resolução nº 1-CN, de 2002, vez que o STF excluiu os previstos no art. 5º, caput, e no art. 6º caput e 1º e 2º? 9. E, em atenção ao princípio da legalidade, como se dará o cumprimento do 3º do art. 6º da referida Resolução, que, expressamente, faz remissão ao reconhecido inconstitucional 2º do mesmo artigo? 10. E como se procederá quanto à remissão feita aos arts. 5º e 6º, declarados parcialmente inconstitucionais, conforme previsto no art. 10 do normativo em questão? Sala das sessões, 27 de março de 2012. Senador ALVARO DIAS 5