OS ASPECTOS SEMÂNTICO E HISTÓRICO DA CORRUPÇÃO E SUA RECEPÇÃO INDIVIDUAL

Documentos relacionados
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

CORRUPÇÃO EMPRESARIAL NO BRASIL REPUBLICANO: A CORDIALIDADE BRASILEIRA NAS RELAÇÕES ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO

OS QUATRO TEMPERAMENTOS

Temperamento. DISC (Marston) Gregos Hipócrates Carl Jung. Dominância Fogo Colérico Produtor. Influência Água Sanguíneo Sensitivo

A justiça como virtude e instituição social na organização da sociedade grega.

O Temperamento Que Deus Lhe Deu Indicador de Temperamento

ALTA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL 9 HÁBITOS DE PESSOAS COM

PLATÃO E O MUNDO IDEAL

I Congresso Celular IBC. 04 a 06 de maio de 2012

Algumas características pessoais parecem não terem sido adquiridas ao longo do tempo e sim existirem desde a infância Porque algumas pessoas são

1. A IDEIA DA JUSTIÇA

COLÉGIO MAGNUM BURITIS

O CONSTRUTIVISMO NA SALA DE AULA PROFA. DRA. PATRICIA COLAVITTI BRAGA DISTASSI - DB CONSULTORIA EDUCACIONAL

Platão a.c. Arístocles Platão (Amplo) Um dos principais discípulos de Sócrates

NOTAS DE AULA CONSTRUÇÃO DO MARCO TEÓRICO CONCEITUAL 1

LEITURA EM SALA DE AULA: ESTRATÉGIAS PARA A FORMAÇÃO DO LEITOR

ROTEIRO DE RECUPERAÇÃO DE SOCIOLOGIA

Ficha 01 Alguns tipos e definições de competências.

AS FORMAS DE ORGULHO INTELECTUAL QUE IMPEDEM ACEITAR O PROGRAMA 21/02/2018 1

Platão e Aristóteles. Conceito e contextos

DATA DE ENTREGA 19/12/2016 VALOR: 20,0 NOTA:

Professora: Ana Priscila da Silva Alves Disciplina: Filosofia Série: 1 ª do Ensino Médio Tema: Felicidade

Filósofos Clássicos: Sócrates e o conceito de justiça

Resolução da Questão 1 Texto definitivo

ESTUDO DOS TEMPERAMENTOS UMA MANEIRA AGRADÁVEL DE SE AUTO CONHECER CONHECE-TE A TI MESMO SÓCRATES

Iziane Luiza Bertotti 2, Fernando Battisti 3

G E R E N C I A R H O G A N D E S E N V O L V E R TÉCNICAS PARA GESTÃO DE FUNCIONÁRIOS. Relatório para: Jane Doe ID: HB Data: 07, Março, 2013

DESENVOLVIMENTO PESSOAL

Tipologia Junguiana e sua u.lização no Esporte

MOTIVAÇÃO HUMANA. Compreendendo as forças que movem o Comportamento Humano

APLICAÇÃO DE EQUAÇÃO DO SEGUNDO GRAU COM MATERIAIS MANIPULÁVEIS: JOGO TRILHA DAS EQUAÇÕES

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO. A Geografia Levada a Sério

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ COORDENADORIA DE CONCURSOS CCV

NODARI, Paulo César. Sobre ética: Aristóteles, Kant e Levinas. Caxias do Sul: Educs, 2010

CENÁRIO FILOSÓFICO DA GRÉCIA CLÁSSICA I

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS - INEP DIRETORIA DE AVALIAÇÃO PARA CERTIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIAS

Um guia para liderar

Aristóteles e o Espanto

OS DIFERENTES SIGNIFICADOS DE NÚMEROS RACIONAIS: um estudo das dificuldades apresentadas por alunos de 6º ano do Ensino Fundamental

Responsabilidade Profissional

Formulação e resolução de problemas de matemática: teoria e prática. Luiz Roberto Dante

Sócrates, Sofistas, Platão e Aristóteles (ética) Séc. III e IV a. C

PEQUENO MANUAL PARA A VIDA

Pensar de modo autônomo e A filosofia, a curiosidade e o Capítulo 1: Decifra-me ou te devoro

O conceito ética. O conceito ética. Curso de Filosofia. Prof. Daniel Pansarelli. Ética filosófica: conceito e origem Estudo a partir de Aristóteles

PRECONCEITO ÉTNICO RACIAL NA ESCOLA

ERGONOMIA & USABILIDADE. Fundamentos da Ergonomia Fernanda Rios e Larissa Formigoni

FILOSOFIA. Professor Ivan Moraes, filósofo e teólogo

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes. Departamento de História

Sistema de Gestão da Qualidade ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DE SATISFAÇÃO - CLIENTES

REVISTA APOTHEKE. Daniela Almeida Moreira

(1970) Jean Piaget. Não pode ser concebido como algo predeterminado. As estruturas internas do sujeito resultam de uma construção efetiva e contínua.

Auditoria DISC. Juan Prueba

TÍTULO: O CONCEITO DE HOMEM CORDIAL POR SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA ( ) E SEUS DESDOBRAMENTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA ESCOLA TÉCNICA DE SAÚDE CURSO TÉCNICO EM SAÚDE BUCAL. Ficha da Subfunção/Componente Curricular

Platão, desiludido com a. escola de filosofia a Academia.

INSTITUTO DE PÓS GRADUAÇÃO ICPG GESTÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Herding Behavior e o Sentimento do Investidor: Evidência no Mercado Português

Redação Professor Jean Aquino

Desenvolvimento econômico e social no Brasil. Aula 1

PERSPECTIVA DO DIREITO INTERNACIONAL SOBRE CORRUPÇÃO

ÉTICA ARISTOTÉLICA A ÉTICA EM ARISTÓTELES

ANEXO I UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE COLÉGIO DA UNIVILLE PLANEJAMENTO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Aristóteles, Ética a Nicômaco, X 7, 1177 b 33.

Orientações para os primeiros dias letivos

REPENSANDO O ENSINO DE FRAÇÕES UTILIZANDO O FRAC SOMA 235

O jeitinho Brasileiro, Etnocentrismo e Relativismo PROF. ME. RENATO BORGES. Unidade 3

Corpo: a fronteira com o mundo VOLUME 1 - CAPÍTULO 2

I Simpósio Nacional de Ciência e Meio Ambiente Progresso, Consumo e Natureza Desafios ao Homem

Submodelo estrutural da satisfação dos colaboradores da DGPJ com a cooperação e comunicação Submodelo estrutural da satisfação

O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE CAPITALISTA: A PERCEPÇÃO DE TRABALHADORES DA RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E O TRABALHO MACAU-RN

DA GRANDE ARTE AO LIXO POP

A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.

jornalistas identifica como peculiar, como formador de seu caráter, de suas visões do que significa ser e fazer jornalismo.

INTRODUÇÃO 1º MOMENTO: MIND MAP GAME

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS: CONHECIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE AO EXPLORAR A INTRODUÇÃO DO CONCEITO DE FRAÇÃO

O ENSINO NA CONSTRUÇÃO DE COMPETÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

A ÉTICA NA HISTÓRIA DO PENSAMENTO

1 TECNOLOGIA ELEMENTAR CAPÍTULO 1 E-books PCNA. Vol. 1 TECNOLOGIA ELEMENTAR CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO À LINGUAGEM DE PROGRAMAÇÃO C.

A temperança e o Protrepticus de Aristóteles

O ENSINO DA GEOGRAFIA DA PARAÍBA E A ABORDAGEM DO LUGAR E DA ANÁLISE REGIONAL NO ESTUDO DA GEOGRAFIA DO ESTADO NO ENSINO BÁSICO.

Prof. Dr. Márcio Magalhães Fontoura

A RELEVÂNCIA DO LÚDICO NO ENSINO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL

FILOSOFIA COMENTÁRIO DA PROVA DE FILOSOFIA

Piaget. A epistemologia genética de Jean Piaget

Nuno Manuel Morgadinho dos Santos Coelho DIREITO, FILOSOFIA E A HUMANIDADE COMO TAREFA

Unidade 2: História da Filosofia. Filosofia Serviço Social Igor Assaf Mendes

O que é personalidade?

Olá, aqui é Marina Carvalho e é um prazer para mim estar aqui de novo com você, nesse segundo vídeo dessa série especial: Como Conquistar suas Metas

Atração Interpessoal Interpessoal Psicologia Social 1 1

APRENDIZAGENS ESSENCIAIS

CURRÍCULO centrado em competências básicas da

AS METODOLOGIAS DE ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A METODOLOGIA CRÍTICO SUPERADORA

O CLIENTE TEM SEMPRE RAZÃO: FICÇÃO OU REALIDADE?

A PRUDÊNCIA NA ÉTICA A NICÔMACO DE ARISTÓTELES

ADMINISTRAÇÃO GERAL. Abordagem Humanística Parte 3. Prof. Fábio Arruda

Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Profª Francieli Korquievicz

COMO ANDA NOSSA FELICIDADE? O QUE DIZEM AS CIÊNCIAS Pg. 31

A IMPORTÂNCIA DAS ESTRATÉGIAS DE LEITURA NO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA

Laboratório de ensino de matemática e materiais didáticos manipuláveis. Fernanda Trevisol Ramoni Silvano

Transcrição:

OS ASPECTOS SEMÂNTICO E HISTÓRICO DA CORRUPÇÃO E SUA RECEPÇÃO INDIVIDUAL Stephanny Arôuca Nasser 1 Ewerton da Silva Madureira 2 RESUMO: O objetivo deste artigo foi analisar os aspectos semântico e histórico da corrupção no Brasil, bem como sua recepção individual. Como referencial teórico utilizou-se como base as obras: A República de Platão, Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda e The temperament God Gave you: The classic key to knowing yourself, getting along with Others, and Growing Closer to the Lord de Art Bennett. Os argumentos centrais desta pesquisa consistiram em compreender que os atos corruptivos no país estão relacionados ao desvio da virtude, como acreditava Platão, e a uma cordialidade que se afastou do seu sentido literal, o que contribuiu para atribuir à palavra uma enormidade de significados que, no entanto, não delimitam o que seria de fato uma cordialidade. Juntamente com isso, foi analisado o tipo temperamental inato em cada indivíduo, o que faz com que ele reaja de diferentes formas ao que está acontecendo, podendo reagir ou não a situações externas que são colocadas diante dele. O estudo deste artigo nos permitiu entender como as pessoas estão condicionadas às suas próprias idiossincrasias no que diz respeito a sua compreensão da realidade e comportamento perante ela. Palavras-chave: Corrupção. Virtude. Cordialidade. Desvio. Temperamentos. GRUPO DE TRABALHO: Grupo de trabalho 3: Políticas Públicas e Direitos Humanos. 1 Stephanny Arôuca Nasser 2 Ewerton da Silva Madureira Ambos orientados pelas professoras: Anna Flávia Arruda Lana e Natália de Oliveira do departamento de direito da Universidade UNA.

2 PROBLEMA DE PESQUISA: O problema enfoque desta pesquisa foi identificar por quais motivos brasileiros reagem de diferentes formas quando estão perante alguns acontecimentos, como a corrupção. Dessa forma, as principais perguntas foram: Por que as pessoas se comportam de maneira diversa a um mesmo acontecimento? Será que isto estaria ligado diretamente ao seu tipo temperamental? E como ele é identificado? E, a partir dessa identificação, como entender quem é o brasileiro? OBJETIVOS: Os objetivos centrais desta pesquisa, portanto, foram analisar os questionamentos do problema de pesquisa, compreendendo os aspectos semântico e histórico da corrupção brasileira e relacionando com a percepção individual. REFERÊNCIAIS TECNICO-METODOLÓGICOS: Os referenciais técnico-metodológicos adotados neste estudo foram as principais obras: A República de Platão, Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda e The temperament God Gave you: The classic key to knowing yourself, getting along with Others, and Growing Closer to the Lord de Art Bennett. É evidente que outras consultas bibliográficas fizeram parte desta pesquisa como fundamento, a fim de desenvolver as problemáticas supracitadas. Entretanto, as obras que foram mencionados, incluíram de forma mais veemente para construção e constituição deste artigo. Além disso, as percepções da realidade, a partir dos últimos acontecimentos sobre corrupção no Brasil, consistiram em essenciais materiais para análises com a finalidade de elaborar um estudo, que levasse em consideração aspectos da realidade brasileira como seu povo e sua história. É sabido que a corrupção no Brasil é uma prática que não se pode exatamente delimitar o tempo de seu surgimento, nem demarcar com exatidão como eram os primeiros atos de corrupção da história deste país. Entretanto, é possível verificar que a partir da chegada dos portugueses ao Brasil, a atividade de escambo com os índios se tornou uma pratica corriqueira. Assim, os portugueses realizavam comutas de mercadorias desproporcionais em valor e em utilidade ao que recebiam em troca, por desconhecimento dos nativos. Dessa forma, obtinham, os portugueses, a vantagem que necessitavam ao

3 trocar seus produtos irrisórios e sem importância. Um exemplo disso, eram as permutas; objetos acessórios, por exemplo, espelhos. Os colonos negociavam e os índios ofertavam, em troca do acessório oferecido, o pau-brasil de suas terras. É evidente que os nativos, quando praticavam este tipo de troca, eram induzidos ao erro por quem agiu por dolo; de forma maliciosa. Assim, é patente que os índios não possuíam um notório saber de proporcionalidade para que pudessem evitar tal manobra ardilosa. Contudo, não se sabe o motivo exato de tal desconhecimento dessa ideia de relevância, uma vez que, a capacidade de se perceber aspectos mínimos de proporção, é algo inato e fez parte do homem desde sua ancestralidade como em atividades como a caça e a pesca, assim, ainda que de forma originária, existiam aspectos matemáticos ligados à grandeza, à proporção, à medida e à divisão que fizeram parte de diversas ações nas comunidades primitivas a fim de manter o controle e a sobrevivência do grupo. De qualquer forma, é obscuro o motivo pelo qual os índios obtinham essa insciência; ou era por ingenuidade ou era por ignorância, ou ainda, porque realmente não se importavam de fato com o conteúdo da troca mas com a capacidade de agradar ao outro, prática essa muito peculiar entre os brasileiros. A habilidade de desejar que o outro esteja satisfeito, é possivelmente o que Sérgio Buarque de Holanda denominará como cordialidade em seu livro Raízes do Brasil, para ele, o brasileiro construiu sua ideia de civilização a partir de laços afáveis uns com os outros, a despeito, por conseguinte, de qualquer conteúdo que se poderia ter quanto a ilicitude de possíveis atos corruptivos. Assim, se corromper em qualquer sistema, de qualquer órgão, do poder público ou privado, poderia ser entendido como atos sucessivos de favores com os quais deveriam cumprir para que o esquema cordial continuasse operável. Entretanto, essa cordialidade é falaciosa, uma vez que, uma das características denotativas de ser cordial, é ser franco, bondoso e nobre. Os temperamentos são traços psicológicos que podem ser determinantes para o comportamento do indivíduo tanto para se relacionar com outras pessoas quanto para percepção da realidade a sua volta. Dessa forma, foi possível compreender que, como existem tipos de temperamentos diferentes, elencados por Hipócrates, que foi o primeiro a estudá-los, são eles: melancólico, fleumático, sanguíneo e colérico, pode-se concluir que existem também comportamentos diversos. Assim, de forma cadenciada, se existem diferentes formas de comportamentos porque existem diferentes tipos de temperamentos, existem assim comportamentos, portanto, melhores que outros pelo fato de haver melhores

4 temperamentos que outros. Art Bennett (2005), compreende de forma clara que esta ideia é pertinente, quando, ao traçar características de cada tipo temperamental, estabelece qualidades em que alguns tipos se sobressaem. Por exemplo, o fleumático como sendo pessoas geralmente mais reservadas, reflexivas, leais e comprometidas, tolerantes e solidárias do que o colérico que erra por sua desmedida, intolerância, podendo ser imprudente e precipitado ao tomar algumas decisões. Entretanto, o fleumático corre o risco de pecar pelo excesso de prudência, já o colérico, pela falta dele. Contudo, é notório perceber que ao longo da vida há mais situações que se pede mais prudência e equilíbrio mental que situações que pedem que se corram certos riscos temerários. Por isso, o indivíduo de temperamento fleumático tem em potencial possibilidade de se tornar uma pessoa melhor, porque seu temperamento é satisfatório. Vale ressaltar que isso não é determinante, uma vez que, indivíduos coléricos também possuem essa capacidade mas, para que eles possam alcançar esse êxito, é preciso que eles reeduquem certas manifestações comportamentais, como exercitar a tranquilidade e pensar antes de agir, sendo essas qualidades a serem trabalhadas, portanto, típicas de indivíduos fleumáticos que já a possuem. Além disso, indivíduos de temperamento sanguíneo, são entusiasmados, aventureiros e curiosos, já indivíduos melancólicos, são introvertidos, faltam entusiasmo e possuem uma reação opaca aos estímulos. Dessa forma, é possível perceber que, pessoas sanguíneas têm em potencial uma percepção mais otimista da realidade e vontade de transformar seu meio, do que pessoas essencialmente melancólicas. Estas, possuem uma visão do mundo pessimista, acreditam que os problemas da vida não são desafios e, sim, dificuldades impossíveis de romper. Assim, a partir disso, é possível constatar que certos temperamentos têm a capacidade de serem mais benefícios que outros e, isso, geralmente, pode ser determinante para percepção da realidade bem como a posição em que o indivíduo se encontra na sociedade. Platão, ao pensar na tripartição das almas, dividindo em: alma racional, alma irascível e alma concupiscente. Percebeu que indivíduos racionais, por exemplo, são mais reflexivos que indivíduos irascíveis. Não sem razão, disse eu, consideraríamos que eles são dois elementos distintos um do outro; a um deles, aquele com que ela raciocina, chamaríamos elemento racional da alma, e ao outro, aquele

5 com que ele ama, sente fome e sede e se agita em torno dos outros desejos, chamaríamos de elemento irracional e concupiscente, companheiro de certas satisfações e prazeres. (...) Pois bem! Disse eu. Que fique definido para nós que esses dois elementos estão na alma! O princípio do ímpeto e aquele pelo qual nos sentimos impetuosos seria um terceiro? Ou então com qual dos dois ele teria afinidade natural? Talvez, disse, com o elemento concupiscente. (Platão, A república. 439d/e. p.164 e 165.) RESULTADOS ALCANÇADOS Ora, a ideia de tripartição da alma elencada por Platão é, de modo geral, os tipos de temperamentais desenvolvidos por Hipócrates. Portanto, o problema da corrupção no Brasil é um desvio de virtude, como entendeu Platão; e como compreendeu Sérgio Buarque de Holanda ao traçar o indivíduo cordial, que nada tem a ver com um indivíduo virtuoso e, sim, uma pessoa ambiciosa de forma ardilosa, passando-se por hospitaleira e afetuosa para conseguir aquilo que deseja, ou ainda, no caso dos índios, agindo de forma amigável sem questionar qualquer franqueza ou veracidade de suas relações. Percebe-se que, de modo geral, a virtude está diretamente ligada à tripartição das almas, especificada por Platão, e que essa relação está em paridade com os tipos temperamentais de Hipócrates. Assim, concluímos que certas práticas inadequadas, como a corrupção, em grande parte, são manifestações do caráter de alguém que deixou transparecer seu mais puro temperamento e, porque não, também a sua alma. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA HOLANDA, SÉRGIO BUARQUE DE, 1902-1982. Raízes do Brasil. 27ª ed.- São Paulo: Companhia das Letras,2014. BENNETT ART, The temperamento God Gave you: The classic key to knowing yourself, getting along with Others, and Growing Closer to the Lord. Ed. Sophia Institute Press,Manchester,New Hampshire, 2005. PLATÃO, A república: [ou sobre a justiça, diálogo político]. Tradução Anna Lia Amaral de Almeida Prado; revisão técnica e introdução Roberto Bolzani Filho. São Paulo: Martins Fontes, 2006.