BIBLIOTECA ITINERANTE: cultura, leitura e educação para o sertão paulistanense 1



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Transcrição:

1 BIBLIOTECA ITINERANTE: cultura, leitura e educação para o sertão paulistanense 1 MARLI FERREIRA DE CARVALHO DAMASCENO NEGREIROS 2 MACIEL COSTA DE SOUSA 3 HONÓRIO MARCOS RODRIGUES DE SOUSA 4 TALLES ANTÔNIO COELHO DE SOUSA 5 RESUMO O projeto de uma biblioteca itinerante teve a finalidade de levar leitura e conhecimento para o município de Paulistana-Piauí, bem como de suas cidades vizinhas (Acauã, Jacobina e Betânia). As atividades foram desenvolvidas uma vez por mês, contando com a participação de todos os alunos do Campus que se interessaram, de forma voluntária, e também pelos bolsistas contemplados pelo projeto. O público alvo foram crianças carentes que tinham déficit de leitura, que tiveram em suas próprias comunidades a oportunidade de aprender a ler, ouvir histórias, assistir a peças teatrais, bem como ouvir músicas voltadas para a temática leitura. O objetivo geral do projeto foi: desenvolver habilidades relacionadas à leitura, interpretação e produção de texto estimulando no educando o gosto pela leitura e escrita, ampliando o conhecimento linguístico e cultural dos mesmos, contribuindo dessa forma, na formação de valores e para a construção da cidadania. Palavras-chave: Leitura itinerante. Biblioteca. Cultura. Educação. INTRODUÇÃO Entendemos que aprender a ler é também aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade. Ademais, a aprendizagem da leitura é um ato de educação e educação é um ato profundamente político (FREIRE, 2006). Ao observar à afirmação acima, fica claro que não é possível pensar a educação desvinculada da leitura, pois é esta uma ferramenta de suma importância/indispensável pois compreendemos que através da leitura as crianças atendidas terão várias possibilidades de adquirir conhecimento, informação, lazer, cultura e integração social, possibilitando transformações tanto individuais como coletivas. A leitura e a escrita são valores importantes para o homem tornar-se cidadão consciente de seu discurso e do poder que tem. Sem esses valores tão indispensáveis nos 1 Este artigo apresenta alguns resultados do projeto PIBEX, financiado pelo Instituto Federal do Piauí (IFPI), edital nº 001/2013 PROEX/IFPI. E-mail: marli_ufpi@hotmail.com 2 MS.c em língua portuguesa (UFPI), docente de língua portuguesa do Instituto Federal do Piauí (IFPI), Campus Paulistana. 3 Bolsista do projeto PIBEX, aluno do curso Técnico Integrado em Informática. 4 Bolsista do projeto PIBEX, aluno do curso Técnico Integrado em Informática 5 Bolsista do projeto PIBEX, aluno do curso Técnico Integrado em Informática

2 tornamos seres incapazes de exercer plenamente nossa cidadania. Esse foi o objetivo maior do projeto de leitura itinerante. O referido projeto veio com a intenção de proporcionar às crianças das comunidades carentes, que são municípios de Paulistana, condições reais de interação ao mundo letrado, onde estes vieram a descobrir que a leitura traz prazer e emoção àquele que lê No entanto, não basta apenas se ter a consciência de que a leitura é indispensável à formação do homem, é necessário criar meios para que o ato de ler venha se tornar uma realidade concreta na vida desse indivíduo. Os discentes de todos os cursos do campus foram beneficiados, pois os que participaram receberam uma declaração de participação expedida pelo campus, o que enriqueceu seu currículo. É necessário também buscar formas de conscientizar as famílias dos educandos para a importância do ato de ler e quem sabe até, tornar aqueles pais que são indiferentes à leitura, em pais leitores. Portanto, estimular alguém a ler exige esforço, requer parcerias e compromisso sério por parte de todos os envolvidos no processo educacional. 1 AMPLIAÇÃO DOS DOMÍNIOS LINGUÍSTICOS A PARTIR DO PROCESSO DE LEITURA A leitura é um dos aspectos mais importantes como ponto de partida para a aquisição de conhecimentos, meios de comunicação e socialização, como também para a obtenção de saberes, pois é um dos instrumentos básicos para todo o sistema educativo. Ao ser observada a convivência entre todos os seres humanos, será notado que a leitura é um fator determinante para o crescimento da sociedade e é principalmente através dela que desenvolvemos nossa mente e aprendemos a nos comunicar da melhor forma possível, produzindo assim uma atividade de interação comunicacional ampla. Ao contrário do que se pensa, a leitura não se inicia somente a partir da escola, mas muito antes dela. Segundo Martins: Desde os nossos primeiros contatos com o mundo, percebemos o calor e o aconchego de um berço diferentemente das mesmas sensações provocadas pelos braços carinhosos que nos enlaçam. A luz excessiva nos irrita, enquanto a penumbra tranquiliza. [...] esses também são os primeiros passos para aprender a ler (MARTINS, 1994, p. 11). Conforme o que a autora citou no trecho acima podemos depreender que a leitura vai muito mais além do simples fato de decifrar a escrita e que ela começa a fazer parte da nossa vida desde o momento que nascemos. Assim, percebe-se que existem diversos tipos de leitura

3 e que ela não pode estar restrita aos livros. Portanto, ainda segundo Martins (1994, p. 30) Seria preciso considerar a leitura como um processo de compreensão da expressão de expressões formais e simbólicas. De maneira geral, pode-se dividir o conceito de leitura em duas concepções vigentes. Na opinião de Martins: Como decodificação mecânica de signos linguísticos, por meio de aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta. Já na segunda, é vista como um processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, tanto quanto culturais, econômicos e políticos (MARTINS, 1994, p. 31). Ler significa principalmente possuir condições para transportar a ignorância e a alienação; transpor estes dois elementos e poder ler cuidadosamente com lógica. Nesse mesmo sentido, Freire (2006, p. 11) defende que [...] o ato de ler não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. Dessa forma, os leitores tendem a ter a noção que apenas pegar um livro e decodificar as palavras constitui uma leitura, mas este processo vai bem mais além do que se pode imaginar. É através dela que as pessoas adquirem conhecimento de diversos locais sem nunca terem estado neles, e é também através dela que o homem adquire noção de mundo e constrói saberes. Podemos dizer que a prática de leitura está associada aos objetivos e finidades para que haja uma ligação entre leitor e texto. Conforme Solé (1998, p. 22) afirma, a leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto, portanto, deve haver diálogo entre ambos. O desenvolvimento da leitura pode ser afetado pela não compreensão do leitor. Isto acontece quando o educando não decodifica os signos, e para existir a leitura, o texto deve produzir sentido para o leitor. Assim, Solé (1998, p. 42), diz que, Para que alguém possa se envolver na atividade que o levará a compreender um texto escrito é imprescindível verificar que esta tem sentido. Mas, para os discentes, esse tipo de atividade parece algo obrigatório, sem prazer. Antunes entende isto quando explana que: Uma atividade de leitura puramente escolar, sem gosto, sem prazer, convertida em momento de treino, de avaliação ou de oportunidade para futuras cobranças. Leitura que é, assim, reduzida a momentos de exercício, sejam aqueles da leitura em voz alta realizados, quase sempre, com interesses avaliativos, sejam aqueles que têm de culminar com a elaboração das conhecidas fichas de leitura (ANTUNES, 2007, p. 28).

4 A oralidade também deve estar associada à escrita, pois, assim, o aluno compreenderá que a Língua não é um ser de outro mundo, mas algo que é compreensível: [...] introduzir ao estudo um paralelo entre as modalidades oral e escrita estimula o intelecto do aluno na compreensão da atualização da língua. Nas últimas duas décadas, a preocupação sistemática com as especificações do oral e do escrito tem estado muito presente entre estudos da linguagem, mostrandonos como uma espécie de questionamento desafio para um grande número de pesquisadores na área (MURRIE, 1994, p. 9). Nas escolas ainda observa-se uma atividade de ensino da leitura muito diferente da realidade das pessoas. Nela, encontra-se uma leitura centrada nas habilidades mecânicas de decodificação da escrita, sem dirigir, contudo, a aquisição de tais habilidades para a dimensão da interação verbal, em que não há leitura, pois não há um encontro com ninguém do outro lado do texto. Assim, o que acontece é: Uma atividade de leitura sem interesse, sem função inteiramente desvinculada dos diferentes usos sociais que se faz da leitura atualmente [...]; uma atividade de leitura puramente escolar, sem gosto, sem prazer convertida em momento de treino, de avaliação ou em oportunidade para futuras cobranças; leitura que é, assim, reduzida a momentos de exercício, sejam aqueles de leitura em voz alta realizados, quase sempre, com interesses avaliativos, sejam aqueles que têm de culminar com a elaboração das conhecidas fichas de leitura (ANTUNES, 2003, p. 27-28). Em suma, todo este processo acaba sendo incapaz de suscitar no aluno a compreensão das múltiplas funções sociais da leitura, pois, muitas vezes, o que se lê na escola não coincide com o que se precisa ler fora dela. Enfim, Uma escola sem tempo para a leitura, porque os alunos tinham que aprender as narrativas, a língua portuguesa e as palavras que a gente fala errado e porque atrapalha o professor em suas explicações (SILVA, apud ANTUNES, 2003, p. 27). A atividade da leitura completa, portanto, a da escrita, sendo assim uma atividade de interação entre sujeitos e, como já foi dito, supõe muito mais que a simples decodificação dos sinais gráficos. O leitor, como um dos sujeitos da interação, atua participativamente buscando recuperar, buscando interpretar e compreender o conteúdo e as intenções pretendidas pelo autor. Nessa busca interpretativa, os elementos gráficos (as palavras, os sinais, as anotações) funcionam como verdadeiras instruções do autor, que não podem ser desprezadas, para que o leitor descubra significações, elabore suas hipóteses e chegue às suas próprias conclusões.

5 É claro que tais instruções sobre a folha do papel não representam tudo que é preciso saber para entender o texto, aliás, grande parte de nossas compreensões vem de conhecimentos adquiridos previamente. Assim, os textos são sempre incompletos e sempre possuem diversas possibilidades de leitura. A leitura também possibilita uma experiência do prazer estético, em que lê é uma atividade gostosa e não é imposta, conhecido como o ler pelo gosto ler, ocorrendo assim um deleite com as ideias, com as imagens criadas. Rubem Alves nos lembra que: As palavras também podem ser objetos de fruição, se nos ligarmos a elas pela mesma razão que nos ligamos a um pôr-do-sol, a uma sonata, a um fruto: pelo puro prazer que nelas mora... brinquedos, fins em si mesmas, palavras que não são para ser entendidas, são comida para ser comida: o caminho da poesia (ALVES, 2001, p.27-28). Em função do que foi dito acima, Antunes (2003) diz que existem implicações pedagógicas decorrentes dos princípios descritos acima, ou seja, o professor de Português deverá promover: uma leitura de textos autênticos, ou seja, textos com local, data, autor, finalidade específica; uma leitura interativa, em que o professor delimita qual a finalidade, a compreensão e o sentido; uma leitura em duas vias, em que toda atividade de escrita de ser primeiro convertida em atividade de leitura; uma leitura motivada, onde convence o aluno da vantagem de ler aquele texto; uma leitura do todo, competência em que o aluno desenvolverá a capacidade de retirar a ideia central do texto; uma leitura crítica, ou a interpretação dos aspectos ideológicos do texto; uma leitura da reconstrução do texto, fazendo o inverso do que o escritor fez ao escrever seu texto; uma leitura diversificada, ou gêneros diferentes; uma leitura por pura curtição, leitura sem cobranças posteriores; uma leitura apoiada no texto, onde as palavras dão pistas do que veremos no texto; uma leitura não só das palavra expostas no texto, ou as inferências textuais; e por fim, uma leitura nunca desvinculada do sentido, com pausas, vírgulas, de forma que o texto seja compreendido. Um grande problema enfrentado por alunos em relação à leitura é, após a mesma, construir outra ideia partindo de um pressuposto já adquirido, pois a leitura possibilita uma escrita mais elaborada e com mais propriedade do que se escreve. Além de empenho, dedicação e conhecimentos teóricos dos recursos de textualidade, que são adquiridos por meio de leituras, o aluno deve ter um conhecimento de mundo muito amplo. Diante de uma leitura, podemos levar em consideração o conhecimento prévio dos alunos utilizando seu próprio conhecimento, e assim o discente pode sentir-se atraído pela leitura e aumentar a sua capacidade de compreender os textos. É o que afirma Kleiman sobre o assunto:

6 Fazer predições baseadas no conhecimento prévio, isto é adivinhar, informados pelo conhecimento (procedimento que chamamos de formulação de hipóteses de leitura), constitui um procedimento eficaz de abordagem do texto desde os primeiros momentos de formação do leitor até o estágio avançado, e tem o intuito de construir a autoconfiança do aluno em suas estratégias para resolver problemas na leitura (KLEIMAN, 2002, p. 56). A leitura deve ser trabalhada de uma forma que desenvolva no educando a motivação para a leitura, em que os mesmos possam sentir-se capazes de realizá-la, ou até usar estratégia adequada para a compreensão dos leitores de textos. Porém, trabalhar a leitura apenas de forma mecânica, não traz conhecimento sobre o texto e quando um leitor deixa de ser apena um decodificador, ele passa a atuar na sua realidade e ter uma alta influência em seu desempenho dentro da leitura. Paulo Freire (2006, p. 17), compreende bem esta questão quando diz que A leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto, é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela, portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. Para que a leitura se efetue, a escola deve promover uma prática constante de leitura organizada em torno de uma diversidade de texto e gêneros textuais. Cabe ao professor proporcionar aos discentes um convívio estimulante com a leitura, bem como possibilitar que esta cumpra seu papel, que é o de ampliar, pela leitura da palavra, a leitura do mundo. Lajolo e Zilberman (1991, p. 56), diz que o trabalho com textos, muitas vezes se orienta pela noção, absolutamente equivocada, de uma das funções da leitura escolar, que é o aumento de vocabulário. Os alunos pouco têm interesse para fazer leituras em sala de aula e o professor não está sendo preparado para isto. A prova disto, é que ele traz para a sala um texto de autores como Klinck, de Achados no fundo do mar, do qual o aluno nunca ouviu falar e, portanto, não tem segurança para relatar acerca de algo que não faz parte do seu contexto. Antunes (2007, p.28), define esta atividade como: Uma atividade incapaz de suscitar no aluno a compreensão das múltiplas funções sociais da leitura (muitas vezes, o que se lê na escola não coincide com o que se precisa ler fora dela). Algumas vezes, enquanto professores, nos perguntamos como um aluno que já passou mais de oito ou nove anos na escola não consegue desenvolver a leitura um texto, ainda que seja uma simples narração. Kraemer (2006, p.6), aponta uma das muitas soluções para o problema: Uma das soluções que pode mudar esse cenário se traduz na busca dos professores

7 por uma forma adequada, tanto linguística quanto discursivamente, para desenvolver as habilidades básicas na formação de sujeitos proficientes e críticos. A participação da escola na formação de leitores é decisiva, uma vez que nela o aluno se depara com os mais variados tipos de conhecimentos e informações de que necessitam para desenvolver sua capacidade cognitiva e sua criticidade e possa, através da aquisição desses conhecimentos e informações e a ajuda mútua do professor, conscientizar-se de seus direitos e deveres como cidadão e atuar na sociedade opinando, participando das decisões, fazendo escolhas e, consequentemente, tornando-se um agente transformador da sociedade em que vive. 2 RESULTADOS 2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DO PROJETO Todas as pessoas que se interessarem (os professores, alunos, direção e servidores técnicos) foram convidados para participarem do projeto, apresentando sugestões para melhoria do mesmo. O projeto foi realizado uma vez por mês nas cidades vizinhas de Paulistana Piauí, com crianças e suas famílias. As cidades visitadas foram: Paulistana, Jacobina, Acauã e Betânia. Levamos histórias infantis, através de encenações, músicas. Foram emprestados livros para as crianças, para que leiam e devolvam na próxima visita do ônibus. Foram lidos livros infantis em voz alta, dramatizando as vozes das personagens, a fim de que o aluno percebesse que havia variações nas vozes quando se faz uma pergunta, quando se exclama, quando há ódio, amor, inveja, etc. Foram lidos trechos de poesia e outros estilos literários, alternando com o professor ou outro colega. 2.2 OBJETIVOS ALCANÇADOS Após realizarmos o convite para todo o campus de Paulistana, diversos alunos e alguns servidores se ofereceram, de forma voluntária, para participar do projeto. Pode-se constatar que o nível de leitura dos alunos das escolas visitadas era baixo, e que é de fundamental importância trabalhar a leitura em sala de aula e conscientizar os alunos que, a partir dela, pode capacitar a atuação nos meios sociais, políticos, econômicos e culturais e, dessa forma, melhorar a formação do aluno na sociedade. A realização do projeto nos forneceu indícios significativos sobre a relação dos educandos com a leitura, o que percebemos é que, na maioria das vezes, ela é uma atividade

8 meramente obrigatória, sendo que a leitura é feita de forma mecânica, em que os alunos não conseguem interpretar o que leem. Os teóricos apresentados nesta pesquisa sobre leitura e interpretação apontaram a leitura como ponto de partida para aquisição do conhecimento, e que através dela os educandos possam assumir um papel importante, deixando de ser um receptor passivo ou apenas um decodificador. Por todos esses motivos elencados ao longo desse artigo, acreditamos que uma parceria com o IFPI foi de grande valia, já que possibilitou uma realização plena do projeto, que, com certeza, deixou bons frutos para toda a comunidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi uma tarefa árdua, já que muitas dessas crianças têm déficit de aprendizagem. Mas pretendemos assegurar a estes as condições essenciais para o desenvolvimento e exercício da sua cidadania. O campus de Paulistana recebe alunos de diversos municípios vizinhos, por isso acreditamos que um projeto de leitura itinerante na verdade funcionou como um retorno social que demos, enquanto instituição pública, a essas crianças carentes e suas famílias. Acreditamos que esse projeto, além de trazer benefícios para essas crianças na área de língua portuguesa, ajudou a melhorar o desempenho em outras disciplinas, já que a leitura permeia todos os saberes dentro da escola. Tornar-se um bom leitor é necessário para o processo de cidadania, por isso esse projeto teve a pretensão de levar conhecimento através da leitura para que essas crianças possam aplicar em outras áreas de suas vidas. Também, sabemos que os municípios piauienses possuem baixos índices de leitura, e assim, um projeto como esse ajudou a melhorar o desempenho educacional dos alunos. Sabemos também que a maioria desses municípios não possui uma biblioteca disponível para os alunos, e, futuramente, o projeto levará os livros até eles, fazendo empréstimos de livros, para que eles possam continuar suas leituras em casa juntamente com sua família. REFERÊNCIAS ALVES, Rubem. Conversas com que gosta de ensinar. 5 ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 2000. ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro e interação. São Paulo: Parábola, 2007.

9. Língua, texto e ensino: uma outra escola possível. São Paulo: Parábola editorial. 2003. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 2006. KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas: Ponte, 2002. KRAEMER, Márcia. Ensino gramatical de língua materna: uma arena de conflitos. In: Revista Letra Magna, Ano 03, 2006. LAJOLO, Mariza; ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira: história e histórias. 5. ed. São Paulo: Ática, 1991. MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1994. MURRIER, Zuleika de Felice. Reflexões sobre o ensino/aprendizagem de Gramática. O ensino de Português. São Paulo: Contexto, 1994. SOLÉ, Isabel. Trad. SCHELLING, Cláudia. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998. ZILBERMAN, Regina. A leitura na escola In: (org.) Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre:1991.