PAINEL FOLCLORE NA ESCOLA: CRITICIDADE E CRIATIVIDADE NA FORNAÇÃO DE EDUCANDOS Mariana Alvarenga Gois de Assis Dienefer Ribeiro Avelino Mariana Cristina Tavares Souza Silva Alina de Jesus Rivas Contreras Universidad Autonoma Del Estado de Hidalgo Profª. Michelle Aparecida Gabrielli Curso de Dança, Universidade Federal de Viçosa Profª. Maristela Moura Silva Lima Curso de Dança, Universidade Federal de Viçosa Universidade Federal de Viçosa Neste trabalho, de abordagem qualitativa, ainda em execução, tem-se como objetivo discutir a importância da vivência do Folclore em escolas, levando em consideração sua contribuição para a formação social, histórica e crítica dos educandos. Como norteadoras desta pesquisa, têm-se as seguintes questões: Como o Folclore se manifesta na escola? Em que sentido, na atualidade, é relevante o aprendizado e resgate do Folclore? O ensino do Folclore em escolas pode contribuir com a formação de cidadãos mais críticos, criativos e reflexivos? Estas questões estão diretamente ligadas à dança que é o fio condutor desta pesquisa. Utilizam-se, como aporte teórico, as seguintes concepções de cultura: modos de vida que caracterizam uma sociedade; obras e práticas da arte, da atividade intelectual e do entretenimento; e fator de desenvolvimento humano, além de concepções de Folclore, dança e arte como potencializadoras do processo de ensino e aprendizagem. PALAVRAS-CHAVE: Folclore; Dança; Processo de ensino e aprendizagem; 1. Folclore: definições e conceitos Propõe-se, neste artigo, discutir a importância da vivência do Folclore em escolas, levando em consideração sua contribuição para a formação social, histórica e crítica dos educandos. Contudo, antes de falar sobre Folclore, é necessário discorrer sobre algumas concepções de Cultura. Em 1871, como análise dos termos kultur e civilization, surge à terminologia cultura (LARAIA, 1986). Ainda segundo Laraia (1986), este novo vocábulo indicava não somente as realizações materiais de um povo como também seus aspectos espirituais. Ainda neste ano, Edward Tylor sintetizou-o para culture, palavra provinda do latim colere que significa cultivar. Entretanto, Tylor foi além e ampliou seu significado, definindo-o como uma prática de realização humana, distanciando da ideia inicial de que cultura é algo inato, transmitido biologicamente. Desta forma, Laraia (1986) traz novas concepções de cultura ressaltando sua importância como uma prática necessária à vida em sociedade: cultura é um sistema de conhecimento que consiste em tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou acreditar para operar de maneira aceitável dentro de sua sociedade. Após alguns anos, o mesmo autor busca esclarecer os elementos formadores de uma cultura. Segundo ele, cultura é algo complexo que inclui todas as manifestações culturais de um povo, seus costumes e aptidões adquiridos ao longo da história em determinados contextos sociais (LARAIA, 1986, p. 61).
Segundo Brandão (1982), a palavra Folclore de origem inglesa Folk-Lore surgiu pela primeira vez em uma carta do inglês Willian John Thoms escrita na revista The Atheneum, em 1856. Thoms caracterizava a palavra Folclore a partir de duas palavras anglo-saxônicas Folk, que significa povo e Lore que significa conhecimento, juntas traduzem o sentido de um saber tradicional, a sabedoria de um povo. Posteriormente, os ingleses criaram a Sociedade do Folclore, que tinha como objetivo estudar o povo, sua sociedade e suas tradições. Deste modo, as narrativas tradicionais conhecidas como contos, lendas e canções, os costumes tradicionais relativos aos códigos sociais e celebrações populares, as crenças e superstições ligadas à tecnologia rústica, magia e feitiçaria e as formas de linguagem presentes em dialetos, ditos populares e adivinhas passaram a ser foco de estudo (BRANDÃO, 1982). Vê-se, assim, nas palavras de Vainsenche (2003), que Folclore é um elemento dinâmico da cultura. Fernandes (1989) destaca, que em nossa cultura, podemos perceber em mínimos detalhes alguns elementos do Folclore, seja, na dança, na música, no vestuário, na maneira de falar, na natureza, ou nas técnicas de trabalhar a roça, ou manipular metais, de transporte ou de esculpir objetos etc. (FERNANDES, 1989, p. 38). 2. Folclore: para além de sua historicidade, um recurso pedagógico Giffoni (1973), em sua obra Danças Folclóricas Brasileiras e suas aplicações educativas, discute a relevância do estudo do Folclore nas escolas, considerando a variedade de conhecimentos que podem ser apropriados a partir do Folclore. Giffoni (1973) toma como referencia em seus estudos as diversas manifestações de danças no Folclore brasileiro. A dança sempre teve um papel muito importante na cultura da humanidade. Robatto (1994) cita que a dança, seja ela de qualquer gênero, pode ter seis funções: auto expressão, comunicação, diversão e prazer, espiritualidade, identificação cultural, ruptura e revitalização da sociedade. Logo, podemos entender que as danças folclóricas podem também desenvolver essas funções a partir das expressões populares desenvolvidas em conjunto ou individualmente, representativas das tradições e cultura de uma determinada região. Vivemos em um mundo, no qual o ser humano torna-se cada vez mais solitário e individualista, tendo suas relações interpessoais minimizadas em função da própria característica individualista desta sociedade. Segundo Cavalcante (2004), a individualidade e o individualismo são termos presentes no nosso dia-a-dia, sendo o primeiro comum a todos os indivíduos, pois dá conta de suas caracterizações, o segundo termo, no entanto, aponta a capacidade que os homens têm desenvolvido de tornarem-se solitários. Assim, segundo o dicionário Aurélio, o termo individualidade serve para caracterizar o que constitui o indivíduo; o caráter especial ou particularidade que distingue uma pessoa ou coisa; e pode significar, no sentido figurado, personalidade. O individualismo, por sua vez, se trata da existência individual, do sentimento ou conduta egocêntrica (CAVALCANTE, 2004, p. 42). Brandão (1982) diz que a valorização do Folclore, o reconhecimento da importância das manifestações populares na formação do lastro cultural da nação, constituem procedimentos capazes de assegurar as opções necessárias ao seu desenvolvimento (BRANDÃO, 1982, p. 84). Consequentemente, o Folclore, por ser um conjunto de manifestações coletivas, pode tornar-se um aliado ao agregar ao trabalho educativo/pedagógico a possibilidade de contraposição à visão individualista do ser, presente em nossa sociedade. Assim, a
manifestação popular, característica do Folclore, configura-se em um fazer coletivo permitindo a continuidade da memória cultural de um povo. Tomando como referência a importância do Folclore, conforme indicado por Brandão (1982), é de fundamental importância que as manifestações populares sejam exploradas na escola. Igualmente, para Giffoni (1973) um dos modos de se inserir e trabalhar significativamente com estas manifestações é por meio da dança. 3. Dança na escola: quebrando paradigmas O ensino da dança no ambiente educacional é de extrema importância para o aprendizado e desenvolvimento corporal e psicológico, uma vez que propicia o despertar de sensações e sentimentos de crianças e adolescentes. Mas, infelizmente, a realidade que enfrentamos no âmbito escolar não é essa, ainda são raras as escolas que realizem um trabalho efetivo em dança na escola. As autoras Márcia Strazzacappa e Carla Morandi (2006) traçam um panorama do ensino da dança no âmbito escolar, como disciplina, a dança é raramente trabalhada. A maioria das instituições de ensino onde isso ocorre são da rede particular e principalmente de educação infantil. Ela normalmente é oferecida como disciplina extracurricular, sendo às vezes restrita às meninas, principalmente no caso da dança clássica (STRAZZACAPPA; MORANDI, 2006, p. 73). Os profissionais que trabalham com a dança na escola são, em sua maioria, licenciados em diversas áreas do conhecimento e os conteúdos estudados nessas licenciaturas, não são suficientes para um ensino qualificado da dança em ambientes educativos formais. As autoras ainda chamam a atenção para a utilização equivocada da dança na escola, que na maioria das vezes centraliza-se em apresentações em festividades, cujo objetivo principal é o produto final, passos codificados, sem que haja preocupação com o conhecimento do corpo (STRAZZACAPPA; MORANDI, 2006, p. 91). Logo, a apresentação final torna-se o objetivo principal do projeto, e as aulas de dança são substituídas por ensaios de coreografias preconcebidas. As crianças, mal obtêm uma formação técnica apurada, partem diretamente para a memorização de sequências codificadas (STRAZZACAPPA; MORANDI, 2006, p. 26). Em geral a dança no contexto escolar é vista como recreação ou como o caminho mais curto para se chegar a apresentações de fim de ano, não sendo dada a ela a devida importância como as outras disciplinas. Na maioria das vezes, o lado estético da dança é mais priorizado, sendo então esquecidos o seu caráter educacional e social, além do que, na maioria das vezes, o produto é muito mais valorizado do que o processo. Sobre isso, tem-se que, a dança nunca esteve incluída no currículo escolar como prática obrigatória. Sua presença esteve relacionada principalmente ás festividades escolares e/ou se deu na forma de atividades recreativas e lúdicas não com o intuito de promover o seu ensino, mas como instrumento para atingir os conteúdos de outras áreas (STRAZZACAPPA; MORANDI, 2006, p. 78).
Contudo, esta não é uma problemática exclusiva da dança, pois as demais linguagens artísticas também enfrentam dificuldades para se inserir e se efetivar no espaço escolar. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte (1996) um dos objetivos do ensino fundamental é que os educandos aprendam a utilizar as artes para se expressarem, comunicarem e exporem suas ideias. Esse intento pode ser alcançado se os educandos tiverem contato significativo tanto com as artes visuais, a música, o teatro como com a dança. A dança no ensino formal deve ser trabalhada de tal maneira que haja um compromisso ético do professor para que ela assuma sua real função, que consiste em proporcionar ao educando seu conhecimento corporal ao mesmo tempo em que lhe permite desenvolver a sensibilidade para esta manifestação artística. 4. Folclore e dança: considerações iniciais de um processo em andamento A partir das considerações supracitadas é que se busca realizar este trabalho, ainda em fase inicial. Visa-se aliar o ensino de dança ao ensino e resgate de manifestações folclóricas em escolas, no segmento do ensino fundamental I, na tentativa de possibilitar uma maior valorização destes em ambientes educativos formais. O trabalho em escolas com danças, cantigas e brincadeiras de roda, música e demais elementos do Folclore contribuem para uma crescente valorização e conhecimento das manifestações populares e favorecem o resgate cultural das raízes e expressividade de um povo. Portanto, vê-se que a dança, enquanto manifestação artística, contribui para desenvolver a expressividade dos educandos, tornando-se um instrumento potencializador para o trabalho com as manifestações práticas folclóricas. Além disso, colabora com a formação de educandos mais críticos, criativos e reflexivos diante do mundo que os circunda. 5. Referências Bibliográficas ASSIS, M.; CORREIA, A. M. Entre o jogo estético e o impulso lúdico: um ensaio de dança. In: Revista Bras. Cienc. Esporte. v. 27, n. 2. p. 121-131. Campinas, jan. 2006. BRANDÃO, C. R. O que é Folclore? São Paulo: Brasiliense, 1982. (Coleção Primeiros Passos). BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Lei nº 9394/96. Disponível em: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 07 set. de 2011. BRASIL. Secretária de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte/ Secretária de Educação Fundamental. v. 6. Brasília: MEC/SEF, 1997. CASCUDO, L. C. Literatura oral no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978 (Coleção Documentos Brasileiros). CAVALCANTE, T. G. Individualismo e Cultura: uma abordagem de algumas perspectivas de estudo na antropologia do mundo contemporâneo. In: Revista Eletrônica de Ciências Sociais. n. 7. set de 2004. Disponível em: <http://www.cchla.ufpb.br/caos>. Acesso em: 02 set. de 2011. DICIONÁRIO Aurélio on line. Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com/cultura>. Acesso em: 03. set de 2011. FERNANDES, F. O Folclore em questão. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1989. GEERTZ, C. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1973. GIFFONI, M. A. C. Danças Folclóricas Brasileiras e suas aplicações educativas. 3. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1973. LARAIA, R. B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.. Cultura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
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