REFERÊNCIAS *** Resenhado por Carla L. Reichmann 7. Recebido em 20/07/05. Aprovado em 22/08/05.



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Transcrição:

REFERÊNCIAS DERRIDA, J. Torres de Babel. Belo Horizonte, MG: UFMG, 2002 [1985]. PÊCHEUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas: Editora da Unicamp, 1988 [1975]. Recebido em 20/07/05. Aprovado em 22/08/05. *** KLEIMAN, Angela B.; MATENCIO, Maria de Lourdes Meirelles (Orgs.). Letramento e formação do professor: práticas discursivas, representações e construção do saber. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2005. 271 p. (Coleção idéias sobre linguagem) Resenhado por Carla L. Reichmann 7 O livro Letramento e formação do professor apresenta uma série de artigos que focalizam projetos de pesquisa interdisciplinares, alicerçados na Lingüística Aplicada e reunidos no projeto temático de referência deste volume, Formação do professor: processos de retextualização e práticas de letramento (Unicamp/Fapesp, 02/0977-5, coordenado pela professora doutora Angela B. Kleiman). É de grande relevância para educadores, lingüistas e analistas do discurso que atuam como professores formadores e pesquisadores na área de ensino/aprendizagem de língua materna ou de língua estrangeira. A coletânea permite entre-ver o diálogo possível entre agentes de letramento que atuam em universos lingüísticos diferentes (português e/ou inglês, por exemplo), porém compartilhando abordagens de pesquisa semelhantes, sensíveis aos (con)textos dos participantes co-construindo espaços narrativos onde complexas relações interpessoais, vivências profissionais e representações sociais formam uma intricada rede social e tornam possível o 7 Professora da Universidade Federal da Paraíba. Doutora Inglês e Literaturas Correspondentes. E-mail: <carlareichmann@hotmail.com>. 131

Resenha (re)posicionamento identitário através de práticas discursivas. Coloca-se com clareza para o(a) leitor(a) a preocupação dos pesquisadores em relação ao lugar social de onde falamos e escrevemos. Para possibilitar um alinhamento coerente à complexidade dos processos sociais contemporâneos envolvidos nas diversas trajetórias de letramento e formação docente, as propostas de pesquisa retratadas neste livro são igualmente complexas, variadas e dinâmicas, construídas com transparência e delicadeza. Nos diversos contextos analisados, os inúmeros recortes e olhares constroem uma realidade fascinante. Seja através de rememoração, entrevista, questionário, diário, relato autobiográfico ou interação em sala de aula, a relação pesquisador/pesquisado é constantemente questionada e explorada, constituindo-se como uma produção colaborativa situada e dinâmica. Há uma ênfase na flexibilidade, isto é, em relação à geração, significação e ressignificação de dados. Para melhor situar o(a) leitor(a), é importante esclarecer que seis artigos, que analisam ou uma aula ou uma entrevista, resultaram de uma oficina de análise de dados do projeto de referência, realizada durante a reunião do 52º Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo (GEL), que ocorreu na UNICAMP, em julho de 2004. Dentre as várias questões que motivam as pesquisas, vale ressaltar a pergunta que permeia o projeto temático como um todo: Como formar os nossos alunos para que possam exercer suas funções de agentes de letramento na escola e na comunidade, de forma independente, flexível e consciente da importância da escrita nos processos de transformação identitária vividos no ambiente escolar? (KLEIMAN e MATENCIO, p. 9-10). Cabe aqui definir dois conceitos adotados pelos pesquisadores nesta obra, letramento e retextualização. Letramento (KLEIMAN, 1995, apud GUEDES-PINTO, GOMES e SILVA, p. 68) é definido como um conjunto de práticas sociais nas quais um sujeito ou um grupo de sujeitos se engaja e em que escrita é parte integrante. Questões de poder estão intrinsecamente ligadas à prática da escrita, que é construída socioculturalmente ao longo da história humana. Por retextualização, entende-se uma atividade que implica a produção de um novo texto a partir de um ou mais textos-base (MATENCIO, 2002), envolvendo relações entre gêneros e textos (intertextualidade) e entre discursos (interdiscursividade), (GUIMARÃES SILVA e MATENCIO, p. 246 da obra resenhada). O arcabouço teórico para os projetos de pesquisa inclui obras de Bakhtin (1992, 2002), Bourdieu (2003), Bronckart (1999), Erickson (1982), Goffman (1974, 1998), Hall (2003) e Morin (1996), entre outros. Essencialmente através da microanálise e da pesquisa qualitativa, os artigos focalizam percursos de formação 132

de leitores e produtores de textos, através da valorização de práticas de letramento escolares e não-escolares. Nos projetos descritos nesse volume, fica em evidência o compromisso em se fortalecer as experiências vividas pelos participantes e o modo de conceber a realidade social, como uma construção pelos participantes das ações sociais, construídas conjuntamente, nas e pelas interações cotidianas nas instituições de vida social (KLEIMAN e MATENCIO, p. 10). Os onze artigos dessa coletânea se dividem em duas partes, a primeira abordando práticas de letramento em diversas instituições, e a segunda, as relações entre processos lingüístico-discursivos e cognitivos na construção de conhecimentos sobre a linguagem em instituições superiores. Na Parte I, o artigo de Vera Masagão Ribeiro descreve e comenta trajetórias de letramento de jovens moradores na periferia de São Paulo; ressalta-se a importância de uma postura reflexiva e da escuta ativa por parte do entrevistador. No artigo seguinte, escrito por Claudia Vóvio e Ana Lúcia de Souza, focaliza-se os desafios metodológicos enfrentados durante a pesquisa com integrantes de movimentos sociais, e fica a questão da busca do singular e do situado. O texto de Ana Lúcia Guedes-Pinto, Geisa Genaro Gomes e Leila Cristina Borges da Silva focaliza a importância da rememoração no processo de ressignificação de constituição de leitores, como também a necessidade de a academia reconhecer e legitimar a polifonia e as contradições nos discursos dos participantes. No trabalho de Inês Signorini, que analisa a entrevista de rememoração de leitura, vemos que o relato autobiográfico é um gênero catalizador na explicitação, na organização e na reconfiguração da experiência passada em função das inquietações e indagações do presente (p. 123). Fica evidenciada a necessidade das ações do professor formador convergirem com as dos professores em formação, ao invés de simplesmente apontarem para as carências. O capítulo de Fernanda de Castro Batista Coelho ressalta a importância metodológica, formativa e transformadora do gênero textual entrevista, realizada com o objetivo de registrar a trajetória leitora de uma graduanda em Pedagogia. Faltaria acrescentar a referência à obra de Fairclough, mencionada no texto. O artigo de Simone Bueno Borges da Silva focaliza um projeto de formação continuada de professoras alfabetizadoras, com atenção especial dada à leitura de documentos formadores, no caso, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa. Fica saliente a necessidade de se acompanhar de perto o processo de recepção desses textos, desta forma acompanhando as dificuldades de leitura e criando contextos de formação mais adequados para a produção de sentidos. 133

Resenha Na Parte II, o texto de Eveline Mattos Tápias-Oliveira aborda a utilização de diários com seus alunos, relato que é parte integrante de um estudo mais amplo sobre a construção da identidade profissional de alunos primeiranistas no curso de Letras. Conclui que a postura reflexiva e o tempo de maturação possibilitado pela prática diarista leva os alunos a uma reordenação da vivência acadêmica e construção da vida profissional. O artigo seguinte, de Juliana Alves Assis e Maria Aparecida da Mata, analisa uma aula onde o foco é o gênero resumo acadêmico. Investiga-se o processo interacional entre professora e alunos, em especial os efeitos das ações da professora e os confrontos e as (re)construções dos saberes dos alunos. O trabalho de Angela Kleiman também analisa a aula cujo objeto de ensino/aprendizagem é o gênero resumo acadêmico. Seu enfoque é o papel crucial das metáforas utilizadas pelos participantes para, desta forma, inserir os professores em formação em novas práticas discursivas. Seu estudo aponta para o fato de a socialização profissional começar discursivamente, e também indica que as escolhas em relação às metáforas viabilizam processos de conscientização. O texto de Cosme dos Santos analisa um curso de formação de alfabetizadoras, onde a discussão gira em torno da coerência textual. O pesquisador enfoca a relevância de se conhecer as representações locais dos professores em formação e seus modos de dizê-las e também a necessidade da universidade reconhecer a oralidade como forma de conhecimento. O artigo que encerra a obra, de Jane Quintiliano Guimarães Silva e Maria de Lourdes Meirelles Matencio, explora processos de objetivação e subjetivação dos sujeitos e a construção de posições identitárias. Coloca-se a importância das referências pessoais, como também as de espaço e tempo, como estratégias de ensino/aprendizagem. Para quem tem pouca familiaridade com os pressupostos teóricos que fundamentam este trabalho, é sem dúvida o texto que oferece o maior desafio em termos de recepção. Enfim, os artigos reunidos neste livro, nas palavras das próprias organizadoras (p. 15), analisam a compreensão das diferenças e convergências nas representações sobre a escrita de atores sociais engajados em práticas acadêmicas, escolares, cotidianas... mostram caminhos pelos quais a universidade pode tocar mais de perto o professor, o alfabetizador e outros agentes de letramento em formação e ação. Ao retratar a pluralidade e complexidade de processos de letramento e formação docente, esta coletânea é uma contribuição preciosa e inspiradora, coerente com as múltiplas variáveis envolvidas nas práticas sociodiscursivas em jogo no processo de ensino/ aprendizagem de línguas. 134

REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 10. ed. São Paulo: Anna Blume e Hucitec, 2002.. Estética da criação verbal. Trad. M. E. G.Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1992. BOURDIEU, P. A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 2003. BRONCKART, J. P. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo discursivo. Trad. de A.R. Machado e P. Cunha. São Paulo: Educ, 1999. ERICKSON, F. Classroom discourse as improvisation: relationships between academic task structure and social participation structure in lessons. In: WILKINSON, S.C. (Org.). Communicating in the classroom. New York: Academic Press, 1982. GOFFMAN, E. Frame analysis: an essay on the organization of experience. New York: Harper & Row, 1974.. Footing. In: RIBEIRO, B. T.; GARCEZ, P. (Orgs.). Sociolingüística interacional. Porto Alegre: AGE, 1998. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. KLEIMAN, A. B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. In: KLEIMAN, A. B. (Org.). Os significados do letramento: uma perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995. MATENCIO, M. L. M. Atividades de (re)textualização em práticas acadêmicas: um estudo do resumo. Scripta, Belo Horizonte: PUC, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2002. MORIN, E. A noção de sujeito. In: SCHNITMAN, D. (Org.). Novos paradigmas, cultura e subjetividade. Porto Alegre: Artmed, 1996. Recebido em 15/07/05. Aprovado em 05/09/05. 135