O ENSINO DA MATEMÁTICA E O ALUNO SURDO - UM CIDADÃO BILÍNGUE
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- Bernadete Gameiro Coelho
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1 O ENSINO DA MATEMÁTICA E O ALUNO SURDO - UM CIDADÃO BILÍNGUE Maria Cristina Polito de Castro Universidade dos Bandeirantes UNIBAN cristinapolito@hotmail.com Resumo: O relato desta experiência aborda a cultura surda e a tríade professor ouvinte - aluno surdo - saber matemático. Trata de questões relativas à educação matemática inclusiva que se contrapõem ao caráter excludente ainda atribuído à matemática enquanto uma ciência seletiva. Aborda o significado de aluno surdo x cidadão bilíngüe no contexto educacional. Reconhece a utilização do ensino da geometria como recurso para a construção do saber matemático e que se justifica pela relevância das experiências visuais no contexto do aluno surdo. Utiliza e reconhece o valor da Língua Brasileira de Sinais Libras, agregando significados, no ambiente educacional e aproximando culturas. A cultura surda e a cultura ouvinte. Palavras-chave: Educação Matemática; Inclusão; Cultura Surda; Libras. Educação Matemática Inclusiva Abordar o ensino da matemática para alunos surdos pelo viés da Educação Matemática Inclusiva é uma forma de se revelar a maturidade que a Educação Matemática vem conquistando. Portanto, é preciso considerar a relevância desta abordagem para a realidade educacional brasileira, entretanto, é quase uma ousadia no atual contexto educacional. Considerando que, ainda, convivemos com a crença de que o fracasso do ensino-aprendizagem da matemática é natural. Preservando desse modo o caráter seletivo da ciência matemática enquanto herança cultural. De fato, as duas abordagens são contraditórias, porque se o ensino da matemática ainda está impregnado por um caráter seletivo, então este ensino é naturalmente excludente e, portanto, não existe significado para uma abordagem inclusiva. O relato desta experiência tem na verdade duas finalidades. Abordar o significado de inclusão no âmbito educacional e refletir como se dá o processo ensino-aprendizagem da matemática para o aluno surdo e professor ouvinte. Cabe, portanto, detalhar o contexto para que se possa melhor compreender as questões implícitas que permeiam o ambiente e estabelecem as relações nesta vivência. 1
2 Esta experiência foi realizada com alunos surdos do ensino médio no Instituto Nacional de Educação de Surdos e que se caracteriza por ser uma instituição bilíngüe. Importante ressaltar que a Lei de 2002 estabelece no Art. 2º que considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais Libras. Ainda, em termos da Lei, entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visualmotora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Estabelece também que se viabilize a educação bilíngüe: Libras - Língua Portuguesa como segunda língua. A tríade professor ouvinte - aluno surdo - saber matemático A comunicação é o ponto de partida. Naturalmente que independentemente da proficiência do professor em Libras, existe a necessidade da interação que promove inicialmente o contato entre as culturas para que se possa estabelecer a relação professoraluno e inserir o saber matemático. Portanto, a principal abordagem desta experiência se estabelece exatamente neste momento em que o professor busca a metodologia e os recursos didáticos adequados para promover o processo de ensino-aprendizagem para o aluno surdo bilíngüe. Cabe ressaltar a importância das experiências visuais para o cidadão surdo, inclusive na construção da sua língua que é de natureza visual-motora e ágrafa. Portanto, torna-se fácil justificar a opção pela abordagem da geometria nesta experiência O relato da experiência A proposta da Instituição Educacional é de ensino regular e o relato desta experiência limita-se a escritura da experiência com duas turmas do segundo ano do ensino médio. A fim de evidenciar duas importantes abordagens que o constituem este relato de experiência está divido em dois momentos. 2
3 Primeiro momento: Buscando estabelecer as primeiras relações entre a tríade iniciei as atividades propondo a confecção do jogo Tangram através da dobradura. Confeccionamos juntos: passo a passo. Estabelecemos o nosso primeiro contato efetivamente como proposta de aprendizagem e interagimos. Através da confecção das peças do jogo eu buscava encaminhar para o pensar sobre o saber matemático e os alunos através dos sinais me encaminhavam para estabelecer a comunicação em Libras. Realizamos várias atividades, comparando as peças e estabelecendo equivalências entre áreas, formando quadrados com diferentes números de peças e justificando as possibilidades. De fato, o recurso foi adequado. Pude diagnosticar conhecimentos prévios e identificar em alguns momentos durante as atividades o estabelecimento de relações entre os conhecimentos. Os alunos demonstraram muito interesse em confeccionar o material Tangram, atribuindo uma produção de arte própria como forma de valorização do trabalho realizado. Segundo momento: As atividades foram realizadas de acordo com as seguintes etapas: 1- Recurso utilizado: sólidos geométricos em acrílico. Atividades propostas: Classificação de sólidos geométricos. Identificação de arestas, vértices e faces. Representação geométrica Identificação de propriedades comuns entre classe de sólidos. Registro das identificações de propriedades comuns entre classe de sólidos. Análise das atividades descritas: 3
4 Riqueza de detalhes no processo de classificação e em geral boa qualidade na representação geométrica, que foi sendo desenvolvida e aprimorada. Estabeleceram o conceito de prisma e de pirâmide. Identificaram as características dos sólidos de revolução. Criamos alguns sinais para nossa comunicação. 2- Recurso utilizado: as planificações dos 5 poliedros Sólidos de Platão Identificação de vértices, arestas e faces Contagem e registro do número de faces, de vértices e de arestas. Detalhamento e descrição das faces. Contagem do número de faces em cada vértice. Análise das atividades descritas: Como esperado ocorreu dificuldade na contagem do número de vértices e de arestas, buscando a visualização do sólido através da sua planificação. 3- Recursos utilizados: a planificação dos sólidos de Platão, tesoura, cola e lápis de cor. Montagem dos sólidos: recorte e colagem Análise das atividades descritas: Imediata comparação com os registros quanto ao número de vértices e de arestas e a correção do registro. 4- Recursos utilizados: a tabela nº 1 do anexo e os sólidos de Platão montados. Preenchimento da tabela nº 1 do anexo utilizando os sólidos de Platão montados. 4
5 A verificação da Relação de Euler Contagem do número de faces em cada vértice. Análise da atividade descrita: Muita concentração por parte dos alunos na realização desta atividade. Sendo que 20% dos alunos realizaram com muita facilidade, 70 % realizaram com facilidade e 10% realizaram com muita dificuldade. 5- Recursos utilizados: a tabela nº 2 do anexo e os sólidos de Platão montados. Preenchimento da tabela nº 2 do anexo utilizando os sólidos de Platão montados. Análise da atividade descrita: Esta atividade apresentou maior desafio na sua realização, considerando a forma e a linguagem do registro, mas confirmou o desempenho relativo ao saber matemático da atividade anterior. 6- Montagem de um mural com os Sólidos de Platão e seus registros. Considerações finais: Esta experiência traduz a relevância da abordagem do processo de ensinoaprendizagem da geometria, especialmente neste contexto, que enfatiza as relações da tríade professor ouvinte - aluno surdo - saber matemático. Portanto, a geometria também funcionou como uma ferramenta, ora como disparador do processo de aprendizagem do saber matemático, ora como elemento de mediação e interação entre a cultura surda e a cultura ouvinte. 5
6 Referências Bibliográficas: BRASIL. Lei Federal Nº Brasília 2002 BRASIL. Decreto Brasília 2005 BRASIL. Resolução CNE/CP 01/2006. Brasília 2006 D AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática: Elo entre tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, KALEFF, A. M. M. Vendo e Entendendo Poliedros: do desenho ao cálculo do volume através de quebra-cabeças geométricos e outros materiais concretos. Rio de Janeiro: EDUFF, LACERDA, Cristina B. F. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos,professores e intérpretes sobre esta experiência. Cad. Cedes, Campinas, vol.26, n. 69, LAPLANE, A. L. F. (org.) Políticas e práticas de educação inclusiva. Campinas: Autores Associados, ROCHA, Solange. O INES E A EDUCAÇÃO DE SURDOS NO BRASIL: Aspectos da trajetória do Instituto Nacional de Educação de Surdos em seu percurso de 150 anos. Rio de Janeiro: INES,
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