Da reserva de administração, da harmonia entre os Poderes e da iniciativa legislativa



Documentos relacionados
Da competência legislativa privativa da União para legislar sobre trânsito:

Vitória, de janeiro de Mensagem n º 13/2010. Senhor Presidente:

Subseção I Disposição Geral

Vitória, 22 de abril de Mensagem n º 84 / Senhor Presidente:

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº, DE 2015

Vitória, 21 de novembro de Mensagem n º 282 / Senhor Presidente:

Instrutor: Marlon L. Souto Maior Auditor-Fiscal de Contas

AULA 10 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO BRASIL

OAB 2ª Fase Direito Constitucional Meta 4 Cristiano Lopes

POLÍCIA CIVIL DO RJ- FEC Todos os direitos reservados

LEI COMPLEMENTAR Nº 97, DE 9 DE JUNHO DE Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas.

Direito Constitucional 3º semestre Professora Ilza Facundes. Organização do Estado Federação na Constituição de 1988

SUMÁRIO AGRADECIMENTOS INTRODUÇÃO A importância da Lei na sociedade contemporânea... 21

200 Questões Fundamentadas do Ministério Público

Direito Tributário. Aula 05. Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho

Proposição: Projeto de Lei e Diretrizes Orçamentárias. a) O Excelentíssimo Relator da Lei de Diretrizes

S E N A D O F E D E R A L Gabinete do Senador RONALDO CAIADO PARECER Nº, DE 2015

ATOS DO PODER EXECUTIVO. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea a, da Constituição,

JORNADA DE TRABALHO/PONTO ELETRÔNICO

Direito Constitucional II Organização do Estado Político-Administrativa. Arts. 18 e seguintes da Constituição Federal

300 Questões Comentadas do Poder Executivo

CÂMARA DOS DEPUTADOS Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira ESTUDO TÉCNICO Nº 1/2014

A Lei nº , de 25 de maio de 2012 e as competências florestais dos entes públicos Roberta Rubim del Giudice ÍNDICE

RESPOSTA A QUESTÃO DE ORDEM SOBRE A INCLUSÃO DE MATÉRIA ESTRANHA À MEDIDA PROVISÓRIA EM PROJETO DE LEI DE CONVERSÃO ENVIADO À APRECIAÇÃO DO SENADO

Controlar a constitucionalidade de lei ou ato normativo significa:

NBA 10: INDEPENDÊNCIA DOS TRIBUNAIS DE CONTAS. INTRODUÇÃO [Issai 10, Preâmbulo, e NAT]

CÂMARA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE PROCURADORIA PARECER PRÉVIO

Outrossim, ficou assim formatado o dispositivo do voto do Mn. Fux:

2. (CESPE/MMA/2009) O modelo de federalismo brasileiro é do tipo segregador.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1988

Conteúdo de sala de aula.

ARTIGO: Efeitos (subjetivos e objetivos) do controle de

CESPE/UnB Câmara dos Deputados Aplicação: 2014 PROVA DISCURSIVA P 3

CIRLANE MARA NATAL MESTRE EM EDUCAÇÃO PPGE/UFES 2013

Prof. Cristiano Lopes

Marcel Brasil F. Capiberibe. Subprocurador do Ministério Público Especial Junto ao Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul

Assembléia Legislativa do Estado de Rondônia. EXCELENTÍSSIMO SENHOR GOVERNADOR DO ESTADO, ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, 11 de junho de 2012.

Legislador VII - Etapas da Tramitação de um Projeto de Lei

DIVISÃO ESPACIAL DO PODER

AULA 01. Esses três primeiros livros se destacam por serem atualizados pelos próprios autores.

CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL. (Do Deputado Robério Negreiros) ~1.. ::J ".,,.",

Comentário a Acórdão do Supremo Tribunal Federal sobre o princípio da Inafastabilidade da Prestação Jurisdicional

3. A autonomia político-administrativa regional não afecta a integridade da soberania do Estado e exerce-se no quadro da Constituição.

Processo Legislativo. Aula 1. Prof. Jorge Bernardi

12. Assinale a opção correta a respeito da composição e do funcionamento das juntas eleitorais.

Marcones Libório de Sá Prefeito

SÚ MÚLA DE RECOMENDAÇO ES AOS RELATORES Nº 1/2016/CE

0emâe>6Ín& ;^- racámtfstfrúíe-jfcis6táijp&

INTERVENÇÃO FEDERAL ARTIGO 34 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Prof. Marcus Tomasi UDESC/ESAG

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº, DE 2013

II - Fontes do Direito Tributário

PREFEITURA MUNICIPAL DE NEPOMUCENO

Governo do Estado do Rio Grande do Norte Gabinete do Governador

A PROMULGAÇÃO DE LEI DECORRENTE DE SANÇÃO TÁCITA

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA. RESOLUÇÃO Nº 12, de 11 de março de 2015

JUIZ FEDERAL TRF 1ª REGIÃO

CÂMARA DOS DEPUTADOS CENTRO DE FORMAÇÃO, TREINAMENTO E APERFEIÇOAMENTO PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA E REPRESENTAÇÃO PARLAMENTAR

Supremo Tribunal Federal

O Dever de Consulta Prévia do Estado Brasileiro aos Povos Indígenas.

Luiz Eduardo de Almeida

- Jornada de trabalho máxima de trinta horas semanais, seis horas diárias, em turno de revezamento, atendendo à comunidade às 24 horas do dia...

GRAN CUSROS ESCOLA PARA CONCURSOS PÚBLICOS

Nº /2015 ASJCIV/SAJ/PGR

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador EDUARDO AZEREDO RELATOR ad hoc: Senador TASSO JEREISSATI I RELATÓRIO

RESOLUÇÃO N 83/TCE/RO-2011

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO PROJETO DE LEI Nº 5.339, DE 2013

1 Prefeitura Municipal de Luís Eduardo Magalhães ESTADO DA BAHIA

Art. 1º - Ficam acrescidos ao artigo 1º da Lei Municipal nº 1.424, de 25 de março de 2010, os incisos III e IV:

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA

PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 391-A, DE 2014

PARECER Nº, DE RELATORA: Senadora MARTA SUPLICY I RELATÓRIO

DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DO BRASIL

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Maratona Fiscal ISS Direito tributário

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL XVII EXAME DE ORDEM UNIFICADO

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA PROJETO DE LEI Nº 2.576, DE 2000

Gabinete do Conselheiro Almino Afonso Fernandes

Nº 36 de CN (Mensagem nº 365 de 2014, na origem) 1. PROJETO DE LEI

PROJETO DE LEI Nº, DE 2014

Enquadramento das leis e dos regulamentos administrativos. Nota Justificativa. (Proposta de lei) 1. Necessidade da elaboração da presente lei

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

CÂMARA MUNICIPAL DE INDAIATUBA

Art. 1º - Criar o Estatuto dos Núcleos de Pesquisa Aplicada a Pesca e Aqüicultura.

Poder Judiciário. Tabela 1 Poder Judiciário Primeira Instância Segunda Instância

A CÂMARA MUNICIPAL DE GOIATUBA, Estado de Goiás, APROVA e eu, PREFEITO MUNICIPAL, SANCIONO a seguinte lei

MINISTÉRIO PÚBLICO DO CEARÁ PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA

- Art. 9º-B da Lei nº /2006, inserido pelo art. 1º da Lei /2014;

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

PROVIMENTO Nº 116 DE 14 DE JULHO DE 1997

1. Do conjunto normativo que disciplina a criação de sindicatos e a filiação dos servidores públicos

PROJETO DE LEI Nº 001 DE 02 DE JANEIRO DE 2014 MENSAGEM

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO PARECER Nº 12672

Ordem dos Advogados do Brasil Seção do Estado do Rio de Janeiro Procuradoria

Processo Legislativo. Aula 2. Prof. Jorge Bernardi. A federação brasileira. A Federação Brasileira. O positivismo. Conceito de lei.

ARTIGO: TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS E

Quanto ao órgão controlador

Remédio constitucional ou remédio jurídico, são meios postos à disposição dos indivíduos e cidadão para provocar a intervenção das autoridades

CONTROLE CONCENTRADO

RECOMENDAÇÃO ADMINISTRATIVA nº 003/2013

Transcrição:

Vitória, 07 de julho de 2008. Mensagem n º 156/ 2008 Senhor Presidente: Comunico a V. Exa. que vetei totalmente o Projeto de Lei n 116/2007, por considerá-lo inconstitucional, pois padece dos vícios de inconstitucionalidade formal e material. Este projeto de lei deu origem ao Autógrafo de Lei n 106/2008, depois de sua aprovação nessa Casa de Leis, vindo-me, em seguida, para cumprimento das formalidades Constitucionais previstas no artigo 66 da CE/89. O Deputado Guiliano dos Anjos é o autor do projeto, cujo teor é o seguinte: Cria o Programa de Certificação da Cachaça Artesanal de Qualidade do Estado do Espírito Santo A seguir transcrevo o parecer da Procuradoria Geral do Estado a quem solicitei sua audiência, cujo parecer aprovo: Da reserva de administração, da harmonia entre os Poderes e da iniciativa legislativa Note-se que ao criar o Programa de Certificação da Cachaça Artesanal de Qualidade do Estado do Espírito Santo, o legislador estadual não impõe apenas à Administração Pública que emita o Certificado de Controle de Origem para os produtores que adotarem o processo de elaboração da Cachaça Artesanal de Qualidade do Estado do Espírito Santo (art. 4 ) e que o Estado crie incentivos para o desenvolvimento de programas de fomentação da cachaça de qualidade do Estado do Espírito Santo (art. 6 ), como também impõe indiretamente que a Secretaria de Estado da Agricultura, Aqüicultura e Pesca que esta defina quais as características técnicas exigíveis para que a cachaça seja considerada artesanal (art. 3 ). Para atender a estas exigências do autógrafo, serão necessários que (1) seja determinado à Secretaria de Estado da Agricultura, Aqüicultura e Pesca SEAG que especifique quais as características necessárias à certificação indicada, que esta verifique se a empresa as atende, e emita o certificado; e que, conseqüentemente, (2) servidores da SEAG assumam novas funções, para o atendimento destas exigências. Ainda, determina a criação de mecanismos para fomento de programas de fomentação da cachaça de qualidade em âmbito estadual. Observamos que a competência para estabelecer procedimentos para os órgãos que compõem a Administração estadual, seus servidores, bem como a gestão de toda a máquina administrativa, é do Poder Executivo, e não do Legislativo, por tratar-se de competência administrativa (atividade típica do Poder Executivo). Assim, compete

privativamente ao Chefe do Executivo a direção superior da Administração, nos termos do art. 84, II e VI, a da Constituição Federal 1 (e art. 91, I e V, a da Constituição Estadual 2, que atende à simetria constitucional 3 ). Ou seja, o autógrafo em epígrafe interfere na administração do Estado, cuja competência é do Poder Executivo, incluída aí a destinação dos esforços do Estado para a consecução de políticas públicas, conforme a ordem de prioridades traçadas pelo seu chefe, o Governador do Estado, eleito legítima e democraticamente pela maioria dos cidadãos que outorgaram a este o poder de gerência do Estado. A pretendida imposição de realização de condutas a órgãos que compõem a estrutura da Administração Pública fere o postulado constitucional da reserva da Administração (art. 84, II e VI, a ), que impede a ingerência do Poder Legislativo na esfera de competências do Poder Executivo. Neste sentido, destacamos as lições de Joaquim Gomes Canotilho e Helly Lopes Meirelles, respectivamente: Por reserva de administração entende-se um núcleo funcional da administração resistente à lei, ou seja, um domínio reservado à administração contra as ingerências do parlamento. 4 A privatividade da iniciativa do Executivo torna inconstitucional o projeto oriundo do Legislativo, ainda que sancionado e promulgado pelo Chefe do Executivo, porque as prerrogativas constitucionais são irrenunciáveis por seus titulares. Trata-se do princípio constitucional da reserva de administração, que impede a ingerência do Poder Executivo em matéria administrativa de competência exclusiva do Poder Executivo 5 1 Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal; VI dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; 2 Art. 91. Compete privativamente ao Governador do Estado: I - exercer, com auxílio dos Secretários de Estado, a direção superior da administração estadual; V - dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração estadual, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; 3 É o princípio federativo que exige uma relação simétrica entre os institutos jurídicos da Constituição Federal e as Constituições dos Estados-membros. Tem aplicação expressa, por exemplo, no art. 125, 2, da Constituição Federal. (Sylvio Motta in Direito Constitucional 17ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, pág. 19) 4 Canotilho, J.Joaquim Gomes, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 6ª edição, Coimbra, 2002, pág. 733. 5 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 399-400.

eles destacamos: No mesmo sentido nossa Corte Suprema possui vários precedentes, que dentre RESERVA DE ADMINISTRAÇÃO E SEPARAÇÃO DE PODERES. - O princípio constitucional da reserva de administração impede a ingerência normativa do Poder Legislativo em matérias sujeitas à exclusiva competência administrativa do Poder Executivo. É que, em tais matérias, o Legislativo não se qualifica como instância de revisão dos atos administrativos emanados do Poder Executivo. Precedentes. Não cabe, ao Poder Legislativo, sob pena de desrespeito ao postulado da separação de poderes, desconstituir, por lei, atos de caráter administrativo que tenham sido editados pelo Poder Executivo no estrito desempenho de suas privativas atribuições institucionais. Essa prática legislativa, quando efetivada, subverte a função primária da lei, transgride o princípio da divisão funcional do poder, representa comportamento heterodoxo da instituição parlamentar e importa em atuação "ultra vires" do Poder Legislativo, que não pode, em sua atuação político-jurídica, exorbitar dos limites que definem o exercício de suas prerrogativas institucionais.. 6 Desta forma, a Assembléia Legislativa exorbitou os limites de sua competência constitucional, interferindo no âmbito de atuação do Poder Executivo, a quem cabe determinar a estrutura, composição e atribuições dos órgãos que o compõe, em clara ofensa ao postulado da reserva de administração (art. 84, II e VI, a da CF). Note-se que também restou caracterizada está a ofensa ao princípio da harmonia entre os poderes cláusula pétrea do sistema constitucional brasileiro insculpido no art. 2 7, da Carta da República, haja vista a interferência no âmbito das atribuições de outras esferas de Poder. Com efeito, a afronta ao princípio da harmonia entre os poderes é evidente na medida em que o Poder Legislativo pretende interferir na gestão da Administração Pública, função que compete ao Poder Executivo, ao impor a entrega de selo (e, implicitamente, da confecção deste e verificação do atendimento dos requisitos para sua concessão) criado pelo Legislativo, interferindo diretamente na Administração do Estado. Ainda, a iniciativa de leis cuja matéria cuide de atribuições de órgãos que compõem a Administração Pública é privativa do Chefe do Executivo estadual (alínea b do 6 ADI-MC 776 / RS - Órgão Julgador: Tribunal Pleno - Relator(a): Min. CELSO DE MELLO - Julgamento: 23/10/1992. DJ 15-12-2006 PP-00080. 7 Art. 2 São Poderes do Estado, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

inciso II, do 1 do art. 61 da CF 8 ; e incisos III e VI do parágrafo único do art. 63 da CE 9 ). O Ilustre professor Alexandre de Moraes ensina: As matérias enumeradas no art. 61, 1 da Constituição Federal, cuja discussão legislativa depende da iniciativa do Presidente da República são de observância obrigatória pelos Estados-membros que, ao disciplinar o processo legislativo no âmbito das respectivas Constituições estaduais, não poderão afastar-se da disciplina constitucional federal. Assim, por exemplo, a iniciativa reservada das leis que versem o regime jurídico dos servidores públicos revela-se, enquanto prerrogativa conferida pela Carta Política ao Chefe do Poder Executivo, projeção específica do princípio da separação de poderes, incidindo em inconstitucionalidade formal a norma inscrita em Constituição do Estado que, subtraindo a disciplina da matéria ao domínio normativo da lei, dispõe sobre provimento de cargos que integram a estrutura jurídico-administrativa do Poder Executivo local. 10 Assim, padece de vício de iniciativa o presente autógrafo de lei, haja vista que não foi observado que para a matéria de organização administrativa (política) a iniciativa na proposição de leis é privativa do Chefe do Executivo, tornando nulo todo o processo legislativo. Destacamos o posicionamento do Colendo STF: O desrespeito à cláusula de iniciativa reservada das leis, em qualquer das hipóteses taxativamente previstas no texto da Carta Política, traduz situação configuradora de inconstitucionalidade formal, insuscetível de produzir qualquer conseqüência válida de ordem jurídica. A usurpação da prerrogativa de iniciar o processo legislativo qualifica-se como ato destituído de qualquer eficácia jurídica, contaminando, por efeito de repercussão causal prospectiva, a própria validade 8 Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: II - disponham sobre: (..) b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração dos Territórios; 9 Art. 63. A iniciativa das leis cabe a qualquer membro ou comissão da Assembléia Legislativa, ao Governador do Estado, ao Tribunal de Justiça, ao Ministério Público e aos cidadãos, satisfeitos os requisitos estabelecidos nesta Constituição. Parágrafo único. São de iniciativa privativa do Governador do Estado as leis que disponham sobre: III - organização administrativa e pessoal da administração do Poder Executivo; VI - criação, estruturação e atribuições das Secretarias de Estado e órgãos do Poder Executivo. 10 Alexandre de Moraes in Constituição do Brasil Interpretada, 6ª edição. São Paulo: editora Atlas, 2006, pág. 1164.

constitucional da lei que dele resulte. Precedentes. Doutrina.. 11 Desta forma, o Autógrafo de Lei n 106/2008 interfere na competência do Poder Executivo (art. 84, II e VI, a da CF; e art. 91, I e V da CE), padece de vício de iniciativa, que é privativa do chefe do executivo (alíneas b do inciso II do 1 do art. 61 da CF; e incisos III e VI do parágrafo único do art. 63 da CE), e afronta ao princípio da harmonia entre os poderes (art. 2, CF). Os vícios material e formal de inconstitucionalidade aqui apontados, por força do nexo de absoluta interdependência lógico-jurídica com os demais dispositivos da proposição apresentada, gravam todo o Autógrafo de Lei n 106/2008. Eis porque veto totalmente o PL n 116/2008. Atenciosamente PAULO CESAR HARTUNG GOMES Governador do Estado 11 ADI-MC 2364 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno - Relator(a): Min. CELSO DE MELLO - Julgamento: 01/08/2001- DJ 14-12-2001 PP-00023.