LUDICIDADE EM SALA DE AULA: O JOGO DA PIRÂMIDE ALIMENTAR COMO UMA PROPOSTA PARA O ESTUDO DOS ALIMENTOS E DA NUTRIÇÃO NO ENSINO MÉDIO Luciana Araújo Montenegro (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) Ana Carla Iorio Petrovich (Universidade Federal do Rio Grande do Norte Bolsista Capes) RESUMO Este artigo se propõe ao relato de uma atividade realizada com alunos do ensino básico, objetivando a participação ativa dos estudantes na elaboração e confecção deum jogo didáticopara auxiliar na compreensão e aprendizagem sobre as funções de nutrição, conteúdo curricular da Biologia. O jogo foi elaborado com base em literatura referente a jogos didáticos e conteúdos específicos de ciências/biologia no ensino básico. A metodologia utilizada também buscou investigar como os alunos se portam diante da realização de atividades práticas em termos de participação, envolvimento e motivação. Assim, o estudo trouxe elementos para refletir a viabilidade e a importância da utilização de jogos em sala de aula. Palavras-chave: jogos, estratégia de ensino, ensino de ciências, aprendizagem. INTRODUÇÃO Um dos grandes desafios no ensino de Biologia no ensino básico étorná-la mais atrativa para o aluno através do uso de práticas que relacionem o conteúdo a ser ministrado, de forma a facilitar o processo de aprendizagem.neste sentido, o professor precisa reelaborar continuamente suas estratégias didático-metodológicas, de forma que elas possam se constituir em uma via de conhecimento para o aluno (MONTENEGRO, 2011). A utilização de jogos didáticos pode ser considerada uma alternativa para envolvimento, apreensão de conteúdos e motivação pela busca do saber, pois este tipo de material favorece a apreensão dos conhecimentos, a partir da vivência e ação lúdica.mediante o uso do jogo didático, vários objetivos podem ser atingidos, relacionados à cognição 356
(desenvolvimento da inteligência e da personalidade, fundamentais para a construção de conhecimentos); afeição (desenvolvimento da sensibilidade e da estima e atuação no sentido de estreitar laços de amizade e afetividade); socialização (simulação de vida em grupo); motivação (envolvimento da ação, do desfio e mobilização da curiosidade) e criatividade (MIRANDA, 2001). Acreditando na possibilidade de um fazer pedagógico prazeroso, transformador e eficiente, voltado para uma formação dinamizadora e construtora do conhecimento, este artigo traz como objetivo central, avaliar como os estudantes se portam em termos de participação, envolvimento e motivação na construção deum jogo sobre a Pirâmide alimentar (conteúdos: alimentos e nutrição),como alternativae contribuição para a formação e aprendizagem significativa do educando em sala de aula. PERCURSO METODOLÓGICO A pesquisa foi desenvolvida sob a forma de estudo de caso, com análise qualitativa, envolvendo 30 alunos, com faixa etária entre 13 e 16 anos, em uma escola particular da cidade de Natal/RN. O assunto abordado na atividade vinculava-se ao estudo sobre as funções de nutrição, do programa de biologia do ensino médio. O uso de jogos didáticos para estudo do tema foi julgado relevante pela professora titular da turma, por propiciar aulas mais atraentes e motivadoras, nas quais os alunos são envolvidos na construção de seu próprio conhecimento. Dessa maneira, foi desenvolvida uma proposta de elaboração de jogos didáticos para serem aplicados em sala de aula e, conjuntamente, foi elaborada uma proposta de pesquisa que permitisse investigar a participação, a inclusão e a motivação dos estudantes durante as atividades. O jogo didático elaborado pelos alunos, os registros escritos decorrentes da aplicação de questionário e os registros obtidos através da observação direta, permitiram identificar importantes elementos vinculados à motivação para aprender e para buscar o conhecimento em espaços além da sala de aula. A produção dos jogos didáticos O jogo didático foi elaborado tendo como base a definição de jogos proposto por Soares (2008), segundo a qual Jogo é o resultado de interações linguísticas diversas em 357
termos de características e ações lúdicas", ou seja, são atividades lúdicas que implicam no prazer, no divertimento, na liberdade e na voluntariedade, que contenham um sistema de regras claras e explícitas e que tenham um lugar delimitado onde possa agir: um espaço ou um brinquedo. Para atingir o propósito do estudo, as atividades com os estudantes foram organizadas em três momentos: um destinado a proporcionar discussões (diálogos) com os estudantes referentes ao tema de estudo; outro destinado a produção dos jogos didáticos e um último encontro destinado a aplicação de questionários. A produção do jogo sobre alimentos e nutrição A atividade do primeiro momento (Quadro 1) foi organizada de forma coletiva, através de questionamentos e explanações dialogadas, com auxílio de vídeos e slides, de modo a proporcionar momentos de resgate de conhecimentos prévios sobre o tema em estudo. No segundo momento, correspondente ao segundo dia da oficina, foi proposto aos estudantes que visualizassem pranchas contendo fotos de alimentos e foi solicitado para cada grupo formado por até 6 alunos em média,a confecção de modelos didáticos de alimentos, em biscuit, que contemplassemalimentos que fazem parte da nossa dieta. Paralelamente foi solicitado que pesquisassem os valores nutricionais dos alimentos, representados sob a forma de modelos, pelo grupo. Para confecção dos modelos de alimentos, foram utilizados os seguintes materiais: massa de biscuit, tinta guache e a óleo de várias cores, régua, estilete, microscópio estereoscópico, fita adesiva, pincel, régua, caneta, papelão, espátula, tesoura, luvas descartáveis, pranchas de madeira, cola e livros textocomo referência (Figura 1, 2). Em um terceiro encontro foi solicitada a confecção de 2 cartões para cada grupo (Figura 3), composto por seis alunos, sendo 1 com um desafio relacionada ao planejamento de dietas e outro para chave de resposta. Foram entregues a cada grupo os materiais para a confecção dos cartões e canetas coloridas. Foi estabelecido que um dos lados do cartão deveria permanecer em brancopara não facilitar a localização após o seu embaralhamento. Para isso, os grupos foram divididos 358
em A, B, C, D, E, F (Tabela 1). Uma pirâmide em madeira foi utilizada como suporte para o jogo. Realizaram-se discussões sobre jogos didáticos, nos grupos, de forma que fossem apontadas suas opiniões sobre a atividade que estava sendo desenvolvida. Primeiro encontro Segundo encontro Terceiro encontro Resgate de conhecimentos prévios através de questionamentos e explanações dialogadas, com auxílio de vídeos e slides. Visualização de pranchas contendo fotos de alimentos, confecção de modelos didáticos de alimentos em biscuit e pesquisa sobre os valores nutricionais dos alimentos. Confecção de 2 cartões para cada grupo (1 com um desafio relacionada ao planejamento de dietas e outro para chave de resposta). Quadro 1 Cronograma de atividades realizadas Grupo Cartão Desafios Chave de resposta A 1 Represente uma dieta para um Alimentos principalmente homem adulto e que realiza ricos em massas, seguido atividades esportivas do tipo de feijão, frutas, cereais, musculação diariamente. verduras, leite e derivados, carnes e doces moderadamente. B 2 Monte uma dieta que seja indicada Carnes magras, verduras, para um homem adulto, não frutas, cereais, leite e esportista. derivados, feijão. C 3 Elabore uma dieta apropriada para uma criança, bebê, nos seus Frutas, verduras, sopas, primeiros 6 meses de vida. sucos derivados do leite D 4 Indique os alimentos mais 359
adequados para a dieta de uma pessoa de idade que tem intolerância ao feijão. E 5 Monte uma dieta apropriada para uma mulher grávida, que apresenta tendência para ganhar peso. F 6 Construa a provável dieta de um homem adulto, obeso e com forte tendência para o desenvolvimento dadiabetes, devido àmá alimentação diária. Carnes magras, leite e derivados do leite, verduras, brócolis, frutas, arroz. Leite e derivados, ovos, carnes brancas ou magras, arroz, feijão, frutas, verduras, ovos. Carnes, ovos, derivados do leite, doces e massas em grande quantidade. Tabela 1 Desafios e chaves de resposta apresentadas no jogo da Pirâmide Alimentar. E Figura 1. Modelos didáticos de alimentos confeccionados em biscuit. 360
Figura 2. Pirâmide alimentar com modelos de alimentos elaborados em biscuit. Figura 3 Cartões contendo Desafios e chaves de resposta. CONSIDERAÇÕES FINAIS A realização desse tipo de atividade através da participação ativa dos estudantes, como sujeitos protagonistas do processo ensino aprendizagem se mostrou positiva, tanto em aspectos cognitivos, associados à aprendizagem do conteúdo específico, quanto no que diz respeito ao envolvimento e à motivação para a aprendizagem. O questionário aplicado para analisar o nível de satisfação dos alunos, revelou que quando os alunos se sentem envolvidos com o objeto do conhecimento despertam mais interesse e motivação na apropriação do conhecimento. 361
Metodologias alternativas, como a elaboração de jogos didáticos, que possibilitam a integração entre teoria e prática, devem ser valorizadas e estimuladas pelas instituições de ensino básico, uma vez que tornam mais efetivas o envolvimento do aluno com o tema em estudo, possibilitando uma aprendizagem mais significativa, uma vez que provocam uma motivação para a apreensão do conhecimento. É necessário propormos novas metodologias que (re) encantem os alunos continuamente, para que a ciência possa se fazer mais presente no dia-a-dia de nossos alunos e para que seja possível o desenvolvimento não apenas de aspectos cognitivos, relacionados a linguagem e conceitos científicos, mas também o desenvolvimento de habilidades, de maneira a desenvolver estratégias de raciocínio lógico, criatividade, agilidade e valores éticos, para que estes possam atuar de maneira justa e consciente na comunidade em que se encontram inseridos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MIRANDA, S. No Fascínio do jogo, a alegria de aprender. In: Ciência Hoje, v.28, 2001 p. 64-66. MONTENEGRO, L.A. Produção De Modelos Didáticos Para O Estudo De Poríferos No Ensino Básico: Relato De Atividades. Rev.Educação Ambiental em ação, 2011. SOARES, M.H.F.B. (2008). Jogos e atividades lúdicas no ensino de química: teoria, métodos eaplicações. Departamento de química da UFPR (Org), Anais, XIV Encontro Nacional de Ensino de Química 362