Sociologia do Desenvolvimento. A invenção do 'Terceiro Mundo'. Prof. Alvaro A Comin

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Transcrição:

Sociologia do Desenvolvimento. A invenção do 'Terceiro Mundo'. Prof. Alvaro A Comin alvcomin@usp.br

[18 E 19 DE AGOSTO] AULA 3. DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO: ROMPENDO A DEPENDÊNCIA *Rodriguez, Octávio (1986) O pensamento da Cepal: síntese e crítica. Revista Novos Estudos Cebrap, n. 16, (pp. 8-28). Furtado, Celso (1968) Subdesenvolvimento e estagnação na América Latina. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira. [Cap.1 Em busca de uma ideologia do desenvolvimento [pp. 1-17]. John Martinussen (1997) Society, State and Market: A Guide to Competing Theories of Development. New York, Zed Books. [Cap. 6, pp. 73-84] Prebisch, Raul O desenvolvimento econômico da América Latina e alguns de seus problemas principais. Cepal, 1949. (principalmente pp. 71-80).

O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO Tradicional Moderno Mudanças estruturais Deslocamento de Força de Trabalho e Investimentos de setores tradicionais (menos produtivos) para setores modernos (mais produtivos).

1ª Fase: Deslocamentos do (grande) setor rural para o (pequeno) setor urbano; aumento da desigualdade (concentração de renda); 2ª Fase: A estrutura se torna predominantemente urbana, a força de trabalho está majoritariamente integrada nos setores modernos, o setor rural se moderniza; declínio da desigualdade. Explicações: demografia, instituições (democracia e direitos), produtividade. EFEITOS DA MUDANÇA ESTRUTURAL E A TESE DA CONVERGÊNCIA (A CURVA DE KUZNETS) Simon Kuznets Economic Growth and Income Inequality. The American Economic Review, Vol. 45, No. 1. (Mar., 1955), pp. 1-28.

? Por que o processo de desenvolvimento, tal como observado nos países mais ricos, parece não se repetir no caso dos países mais pobres? Como explicar o aumento da desigualdade de renda também nos países ricos, nas últimas décadas?

RAUL PREBISCH E A CEPAL [O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DA AMÉRICA LATINA E ALGUNS DE SEUS PROBLEMAS PRINCIPAIS (1949)]

CENTRO E PERIFERIA DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO Centro e Periferia homogeneidade e diversificação X heterogeneidade e especialização; A Deterioração dos Termos de Troca a armadilha das vantagens comparativas; Planejamento e Industrialização internalização do progresso técnico.

AS VANTAGENS COMPARATIVAS: A TESE RICARDIANA As vantagens do progresso técnico se espraiam através: Dos preços: Como a produtividade na indústria é maior e progride mais rapidamente do que na agricultura, os preços dos manufaturados deveriam cair mais do que os dos bens primários, aumentando os termos de troca destes últimos frente aos primeiros; Deslocamento de força-de-trabalho: o crescimento da indústria atrai força de trabalho da agricultura e força esta a buscar ganhos de produtividade; Tecnologia: A indústria provê a agricultura com os meios técnicos para a substituição da força-de-trabalho

SOBRE A TESE DAS VANTAGENS COMPARATIVAS

A DETERIORAÇÃO DOS TERMOS DE TROCA

A CONDIÇÃO PERIFÉRICA A demanda por bens manufaturados é mais dinâmica do que a de bens primários; Os ciclos econômicos favorecem o centro, onde capital e trabalho conseguem reter, durante os ciclos de baixa, lucros e salários ganhos nos ciclos de alta; Os ganhos de produtividade obtidos na periferia (onde há excesso de mão-de-obra) são repassados para o centro, via deterioração dos termos de troca.

INDUSTRIALIZAÇÃO: MUDANÇAS INDUZIDAS NA ESTRUTURA PRODUTIVA Formação de poupança interna, via exportações (superávits comerciais); Planejamento na aplicação da poupança disponível, de modo a privilegiar os investimentos produtivos, em detrimento do consumo; Infraestrutura, indústrias com alta absorção de trabalho por unidade de capital; escala de massas; Distribuição da renda e formação de mercado interno; Políticas anticíclicas (Keynes); Integração Regional Latino-Americana.

DINÂMICA DO SUBDESENVOLVIMENTO Dualismo e heterogeneidade estrutural: convivênia entre diferentes padrões tecnológicos e taxas de capitalização. Setor informal: subemprego; baixa produtividade, subsistência - cumpre as funções de baratear os custos de reprodução da força de trabalho empregada nos setores modernos (agricultura de subsistência e campesinato, exército industrial de reserva, trabalho doméstico, construção civil, comércio).

CELSO FURTADO E O SUBDESENVOLVIMENTO - DUALISMO Setor Arcaico Agricultura de subsistência Baixo intercâmbio entre setores; quase não há desenvolvimento Monoexportação K Multinacional

CELSO FURTADO E O SUBDESENVOLVIMENTO - HETEROGENEIDADE Setor Arcaico Agricultura de subsistência Força de Trabalho; Alimentos Produção para o mercado interno Setor exportador Estagnação com Desigualdade

DESENVOLVIMETO E HISTÓRIA CELSO FURTADO Na análise que se segue, trataremos de captar o problema do subdesenvolvimento como uma realidade histórica, decorrente da propagação da técnica moderna no processo de constituição de uma economia de escala mundial. O subdesenvolvimento deve ser compreendido como um fenómeno da história moderna, coetâneo do desenvolvimento, como um dos aspectos da propagação da revolução industrial. Desta forma, o seu estudo não pode realizar-se isoladamente, como uma fase do processo de desenvolvimento: fase esta que seria necessariamente superada sempre que atuassem conjuntamente certos fatores. Pelo fato mesmo de que são coetâneos das economias desenvolvidas, isto é, das economias que provocaram e lideraram o processo de formação de um sistema económico de base mundial, os atuais países subdesenvolvidos não podem repetir a experiência dessas economias.(p. 3-4)

ROMPENDO COM A DEPENDÊNCIA O papel do Estado: Formação de poupança; Mobilização (nacional) de recursos; Definição e planejamento dos investimentos; Promoção de C&T; Coordenação do mercado Distribuição dos resultados