Inclusão Digital em Contextos Sociais



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Transcrição:

Inclusão Digital em Contextos Sociais Fabio N. Akhras e Mariana P. de França Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer Rodovia Dom Pedro I, km 143,6 13089-500 Campinas, São Paulo E-mail: fabio.akhras@cti.gov.br Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar um enfoque de aprendizado para inclusão digital que se baseia em teorias contemporâneas de aprendizado, que enfatizam o papel do contexto e da atividade construtiva no aprendizado. De acordo com essas teorias, o aprendizado que é significativo ocorre a partir de atividades construtivas que se desenvolvem em um contexto que é parte inseparável do conhecimento que é aprendido. Além disso, com base nessas teorias, o aprendizado para inclusão digital é visto muito mais como um aprendizado para participar de uma comunidade de conhecimento do que um aprendizado para adquirir um corpo de conhecimento. Seguindo essas visões, nossa metodologia se baseia nas noções de contexto social e atividade autêntica para prover um enfoque de aprendizado para inclusão digital no qual o aprendizado é situado no contexto social dos estudantes e as atividades de aprendizado são baseadas no desenvolvimento de projetos que são significativos nesse contexto social. Neste artigo é descrita essa metodologia de aprendizado para inclusão digital e social, que está sendo aplicada em um programa de inclusão digital voltado para comunidades rurais da região do semi-árido. Palavras-chave: inclusão digital, contexto social, aprendizado contextualizado, portais de aprendizado. 1. Introdução De acordo com teorias contemporâneas de aprendizado, o contexto social da situação na qual ocorre o aprendizado é parte integral do que é aprendido na situação, e esse contexto é o que torna significativo o aprendizado naquela situação. Essas teorias também enfatizam o papel central da atividade construtiva para um aprendizado significativo. Além disso, de acordo com uma perspectiva de aprendizado socialmente situado, aprender é uma questão de desenvolver a capacidade de atuar como membro da comunidade na qual um conhecimento é significativo, participando e construindo uma identidade nessa comunidade (Brown, Collins & Duguid, 1989; Lave & Wenger, 1991). Desse modo, para prover um ambiente produtivo para o aprendizado, o contexto das atividades de aprendizado bem como o conteúdo e a dinâmica dessas atividades, são aspectos que devem ser cuidadosamente considerados na 1

elaboração do ambiente de aprendizado. Por exemplo, estudos que compararam as condições em que o aprendizado ocorre na escola com as condições que estão presentes quando o aprendizado ocorre fora da escola evidenciaram a importância de se aprender em situações autênticas (Resnick, 1987). Situações autênticas são situações de aprendizado que levam em consideração as atividades que são desenvolvidas nas situações da vida real onde o conhecimento a ser aprendido se aplica, possibilitando que os estudantes compreendam o poder gerativo dos ítens de conhecimento que estão aprendendo (Greeno, 1989; Brown, Collins & Duguid, 1989). A fundamentação teórica deste trabalho está alinhada com essas visões de aprendizado e levou ao desenvolvimento de uma metodologia em que o aprendizado para inclusão digital ocorre em situações autênticas. Nessas situações, os estudantes aprendem uma linguagem da internet e meios de expressar informações nessa linguagem, através do desenvolvimento de projetos para a internet que abordam problemas reais da sua comunidade. Um dos aspectos que caracterizam esses projetos é o uso de audiovisuais, que contribui para representar aspectos do contexto (físico, social e cultural) de forma mais efetiva. Isso levará os estudantes a utilizar a internet não apenas para acessar conteúdos, mas criando conteúdos, resultando em um aprendizado mais autêntico, que também envolverá a representação e discussão do seu contexto social. A seguir é descrita uma aplicação dessa metodologia, que está sendo realizada em um programa de aprendizado para inclusão digital em comunidades rurais da região do semi-árido. 2. Contextos Sociais e Atividades Autênticas no Aprendizado para Inclusão Digital No programa de aprendizado para inclusão digital que estamos desenvolvendo no semi-árido, os estudantes aprendem HTML e desenvolvem projetos utilizando essa linguagem, que envolvem a construção de protótipos de portais de aprendizado abordando temas que são relevantes ao seu contexto social. Os estudantes que participam desse programa de inclusão digital vem de comunidades rurais de baixa renda familiar, de uma região que tem potencial para o desenvolvimento de uma agricultura voltada para a produção do biodiesel, que é vista como uma forma de gerar renda e promover inclusão social nessas comunidades. Um programa para treinamento de agricultores para o cultivo de plantas que podem ser utilizadas para produzir biodiesel, está sendo desenvolvido na região como parte de um plano governamental para aumentar a produção de fontes renováveis de energia através da agricultura familiar, visando gerar inclusão 2

social. Esse é o contexto social da comunidade onde está sendo desenvolvido o programa de inclusão digital. Nesse contexto, os protótipos de portais de aprendizado que serão desenvovlidos pelos estudantes para aprender HTML serão baseados no treinamento que será realizado com os agricultores para o aprendizado de novas técnicas agrícolas. Para ser usado como parte do conteúdo desses portais, serão produzidos audiovisuais sobre o programa de treinamento dos agricultores durante o seu desenvolvimento, com a participação dos estudantes. Isso irá prover situações autênticas (o treinamento dos agricultores da comunidade nas novas técnicas agrícolas) e atividades construtivas (a construção de portais de aprendizado reais em um contexto real, para aprender HTML). 3. Construindo Portais de Aprendizado para a Inclusão Digital em Comunidades Rurais A tecnologia que será utilizada no programa de aprendizado para inclusão digital inclui computadores portáteis, já que os recursos de informática nos locais onde estão localizadas as comunidade rurais são limitados. Além disso, a maior parte da atividade de obtenção de informações para o projeto dos portais será feita no campo, durante o treinamento dos agricultores nas novas técnicas agricolas, onde os audiovisuais serão produzidos. Assim, os computadores portáteis serão utilizados em todo esse processo. O programa todo de inclusão digital levará um ano para ser aplicado em uma comunidade rural da região do semi-árido e o plano inclui um segundo ano em que uma comunidade rural mais distante e isolada será alcançada. Algumas das principais atividades que constituem o programa, são: 1) Obtenção de informações para o desenvolvimento dos portais de aprendizado, que envolverá os estudantes e os agricultores trabalhando conjuntamente, com a participação dos instrutores agrícolas. 2) Produção dos audiovisuais sobre o tema, integrada com o programa de treinamento dos agricultores, com a participação dos estudantes. 3) Curso da lingugem HTML para os estudantes. 4) Desenvolvimento dos protótipos de portais de aprendizado pelos estudantes, utilizando os audiovisuais produzidos. 4. Aprendendo a Aprender para Inclusão Digital em Contextos Sociais Um dos principais aspectos do enfoque de inclusão digital em contextos sociais que foi desenvolvido, é que a inclusão digital ocorre através de projetos que são 3

desenvolvidos pelos estudantes em que eles tem a oportunidade de discutir e representar questões relevantes do seu contexto social. Entretanto, o aspecto mais central desse enfoque não reside no fato de que o aprendizado é baseado em atividades autênticas de desenvolvimento de projeto, mas no fato de que os projetos que são desenvolvidos pelos estudantes nos seus processos de aprendizado são projetos de portais de aprendizado. Isso permite que sejam abordadas duas questões importantes para promover independência de aprendizado. Primeiramente, no proceso de criação de conteúdos para os seus portais de aprendizado, os estudantes se tornam autores do conhecimento que será aprendido pelos agricultores de sua comunidade para melhorar a sua subsistência (as novas técnicas agrícolas). Nesse processo, eles adquirem uma compreensão da questão da representação de conhecimento em portais de aprendizado que também é situada em um contexto autêntico e, consequentemente, mais compreensível para eles. Em segundo lugar, o uso de mídias audiovisuais para representar parte do conteúdo que constitui os portais de aprendizado permite abordar de forma mais efetiva os aspectos tácitos do conhecimento bem como suas dimensões físicas, sociais e culturais. Assim, ao final desse processo, os estudantes não apenas aprenderam a expressar e a representar informações na internet, mas também adquiriram familiaridade com a questão de aprender através da internet, uma vez que eles se tornaram capazes de compreender, criar e utilizar portais de aprendizado. Isso é particularmente importante considerando-se que estudos sobre o grau de desenvolvimento da sociedade da informação, com foco nas oportunidades para a sociedade em rede, mostram que o desenvolvimento da sociedade da informação no Brasil tem sido mais lento do que em outros países, que tem explorado mais efetivamente a utilização da internet como meio de desenvolvimento. Além disso, com a elevação dos índices de acesso à internet em muitos países, um índice que vem sendo utilizado como medida do uso da informática para o desenvolvimento é a capacidade dos países de incorporarem na sociedade meios de aprendizado baseados no uso da internet, que no Brasil ainda é uma capacidade muito baixa comparada a outros países (Nazareno, Bocchino, Mendes & Filho, 2006). 5. Conclusão Nste artigo apresentamos um enfoque para o aprendizado de inclusão digital que leva em consideração o contexto social dos estudantes e é baseado em atividades autênticas. Na primeira fase da metodologia, que foi descrita neste artigo, o aprendizado para inclusão digital é baseado no desenvolvimento de pequenos 4

projetos de portais de aprendizado nos quais os estudantes aprendem a linguagem HTML e usam essa linguagem para criar conteúdos para portais de aprendizado que abordam temas relevantes para a sua comunidade. As principais características do enfoque apresentado, são: Construção de portais de aprendizado a construção de portais de aprendizado pelos estudantes, explorando temas do seu contexto social e utilizando representações visuais desse contexto, permite aos estudantes lidar com questões do seu contexto social em atividades construtivas de desenvolvimento de projetos que serão parte do seu aprendizado para inclusão digital. Uso de audiovisuais a produção e uso de audiovisuais sobre temas do contexto social dos estudantes, para gerar representações audiovisuais de aspectos do seu contexto social para os portais de aprendizado, possibilita a discussão pelos estudantes do seu contexto social. Foco em aprender a aprender o foco em aprender a aprender acontecerá na elaboração dos portais de aprendizado, e permitirá abordar, através da inclusão digital, a questão do aprendizado através dos meios digitais. Em uma fase posterior, o programa de inclusão será extendido para toda a comunidade visando preparar a comunidade para o aprendizado independente através da internet. Nessa fase, os protótipos de portais de aprendizado desenvolvidos pelos estudantes evoluirão para a criação de um portal comunitário para o aprendizado de questões relevantes para o desenvolvimento social da comunidade. Sendo o objetivo principal desse portal o avanço do aprendizado na comunidade, além de prover conteúdos relevantes para acesso, o portal deverá servir como meio para o desenvolvimento de projetos e programas de aprendizado que possibilitem o desenvolvimento da comunidade. 6. Agradecimentos O trabalho apresentado neste artigo está sendo financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em cooperação com a Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) do Brasil. 7. Referencias Brown, J. S., Collins, A. & Duguid, P. (1989). Situated cognition and the culture of learning. Educational Researcher, 18(1), 32-42. 5

Greeno, J. G. (1989). A perspective on thinking. American Psychologist, 44(2), 134-141. Lave, J., & Wenger, E. (1991). Situated learning: Legitimate pheripheral participation. Cambridge, England: Cambridge University Press. Nazareno, C.; Bocchino, E. V.; Mendes, F. L. & Filho, J. S. P. (2006). Tecnologias da Informação e Sociedade : o Panorama Brasileiro, Brasília:Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 187p. (Série temas de interesse do legislativo ; n. 9). Resnick, L. B. (1987). Learning in school and out. Educational Researcher, 16(9), 13-20. 6