Imagem, uma janela para a Educomunicação

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Transcrição:

Imagem, uma janela para a Educomunicação Ismar de Oliveira Soares Professor titular da ECA/USP, supervisor do curso a distância Mídias na Educação, do MEC, no Estado de São Paulo, e coordenador da licenciatura em Educomunicação da ECA/USP. E-mail: ismarolive@yahoo.com Resumo: O relançamento, em 2013, de duas obras sobre a relação entre a imagem e a educação, de autoria respectivamente das pesquisadoras Maria Cristina de Castilho Costa (Educação, imagem e mídias) e Maria Isabel Orofino (Mídias e mediação escolar: pedagogia dos meios, participação e visibilidade), aponta para a importância que o tema do audiovisual vem adquirindo para a área da Educomunicação. Palavras-chave: educação; mídias; imagem; medicação escolar; pedagogia dos meios. Abstract: The prelaunch, in 2013, of two Works on the relationship between image and education, from the authorship of Maria Cristina de Castilho Costa (Education, Image and Medium) and Maria Isabel Orofino (Medium and School Mediation: media pedagogy, participation and visibility), points to the increasing relevance of the audiovisual subject to the Educommunication field of study. Keywords: education; medium; image; school mediation; media pedagogy. Estamos, na verdade, diante de um novo despertar ante a imperiosa necessidade de o sistema escolar rediscutir sua relação com a imagem. Explico-me: informações circulam, aqui no Brasil, incluindo o Estado de São Paulo, assim como no exterior, especialmente (pasmem!) na Inglaterra, que governos, ante os baixos índices de avaliação dos alunos do ensino básico, nível fundamental, estão promovendo mudanças curriculares para reforçar e ampliar as horas de estudo sobre a matemática e a língua materna (nos exemplos lembrados, o português e o inglês, respectivamente), reduzindo, para tanto, o tempo dedicado a outras disciplinas essenciais à formação das crianças e jovens, entre as quais a media education, na Inglaterra. Em alguns casos, vem se reduzindo também o emprego de metodologias que fazem uso do visual para concentrar a didática no tradicional manuseio do texto escrito. Testemunhei, pessoalmente, em capitais brasileiras, resistências de gestores públicos a projetos que faziam uso de recursos audiovisuais sob a desculpa de que distraem os alunos, necessitados de concentração para dar conta das expectativas conteudistas dos exames nacionais de avaliação. O tema é familiar à Educomunicação, que conta, em suas origens, exatamente com experiências intimamente vinculadas à relação entre a imagem e a educação. Se concordamos com a perspectiva defendida pelo NCE/USP de que o conceito é fruto da mobilização da sociedade civil, na América Latina, 131

comunicação & educação Ano XVIII número 2 jul/dez 2013 em torno do exercício da expressão, como direito de toda criança e, portanto, como dever dos sistemas formais e não formais de ensino, nenhum projeto esteve mais próximo ao assunto que o Plan Deni 1. Referimo-nos à primeira experiência sistemática de educação para os meios no continente latino-americano, com inícios em 1968, numa iniciativa do pedagogo Luis Campos Martínez, que tinha como foco a exibição e análise de filmes em colégios religiosos, inicialmente no Equador e Peru e, mais tarde, na República Dominicana, Paraguai, Uruguai e Brasil (aqui, sob a designação de CINEDUC Cinema-Educação, vigente, no Rio de Janeiro, desde 1970), adotando procedimentos que visavam preparar novos professores para trabalhar com o audiovisual em sala de aula, desenvolver o senso crítico dos estudantes ante a indústria da imagem e do som, levando os pequenos a produzir filmes e documentários para que pudessem expressar, dessa forma, suas visões de mundo. Atualizando essa metodologia, contamos, hoje, com um intenso trabalho desenvolvido por organizações não governamentais inteiramente voltadas a orientar crianças e adolescentes no manejo da linguagem audiovisual, mediante o uso das novas tecnologias, como é o caso das instituições que compõem a rede CEP Comunicação, Educação e Participação (www.credecep.org.br), ou mesmo de organizações que contam com a assessoria de educomunicadores, como os projetos Bem-te-vi e Tela Brasil, articulados, respectivamente, pelas cineastas Ariane Porto e Lais Bodanski. Foi sob o tema da linguagem audiovisual na educação formal que o Núcleo de Comunicação e Educação da USP realizou, em 2002, o primeiro curso a distância oferecido pela USP, atendendo 2.500 professores de 1.020 colégios do Estado de São Paulo, alcançando que a finalização do curso contrariando a tendência de adesão aos programas de EaD, na época contasse com 89% dos matriculados. O ponto de partida defendido pelo programa reconhecia que todo professor, por ser, em sua experiência pessoal, simultaneamente, um usuário da mídia e um receptor/consumidor cultural do audiovisual, deveria relacionar-se com a imagem na condição de um mediador cultural e não propriamente de um docente. No caso, a Educomunicação convidava os professores a assumir o universo da imagem como uma janela através da qual o sistema educacional garantiria condições de abertura para as riquezas do ecossistema que o circunda, ao mesmo tempo em que deixaria penetrar em seu espaço estímulos para manter-se sintonizado com a própria cultura de seu tempo. Um exercício de diálogo cultural que passa pela coautoria dos sujeitos, no caso o professor e seus alunos, como propõem, em suas obras, Cristina Costa e Isabel Orofino. 1. Ver, sobre o tema, José Manuel Morán. La Lectura Crítica de los Medios en Latinoamérica. Disponível em: <http://www. eca.usp.br/moran/lectura. htm#deni>. Acesso em: 30 jun. 2013. EDUCAÇÃO, IMAGEM E MÍDIAS O livro Educação, imagem e mídias, de Cristina Costa, apresenta-se como um vade mecum, um livro de cabeceira, para o educomunicador. Com um estilo claro e envolvente, a autora conduz o leitor pelos meandros da produção e veiculação da imagem. A obra oferece oito capítulos que, depois de focarem a imagem como conhecimento e comunicação, abordam as práticas culturais 132

Imagem, uma janela para a Educomunicação Ismar de Oliveira Soares inerentes às diferentes formas de produção imagética, das clássicas às digitais, passando pela fotográfica, pela imagem em movimento, pela imagem sonora e pela videográfica. O livro termina abordando as transformações culturais no caminho entre as mídias analógicas e as digitais. Importante lembrar que o leitor poderá conhecer a histórica das manifestações de cada linguagem e de como foram sendo apropriadas pelos produtores culturais, desde os inventores até os empreendedores que, ao longo do tempo, foram criando procedimentos de uso. A autora preocupa-se também em indicar caminhos de aproximação entre as diferentes produções imagéticas e as práticas educativas. Conceitos como repertório de imagens e paisagem sonora são, por exemplo, lembrados para apontar a necessidade de o professor romper com suas inseguranças e avançar na busca de abordagens criativas de emprego da imagem e do som no tratamento e na construção de produtos culturais a serviço de sua tarefa educativa (p. 56). Trata também, a autora, das diversas maneiras de se realizar a leitura da imagem, do fotograma à tela da TV. Ou, ainda, de descobrir como se dá o fenômeno psicossocial da projeção, revelando, por exemplo, baseada em obra do Prof. Carlos Calil, a paixão de Vinicius de Moraes pela imagem em movimento o cinema, ao afirmar... só Deus sabe... o prazer que me traz ver cinema, discutir, ponderar, escrever e até fazer cinema na imaginação (p. 103). No livro, o educador encontrará tópicos específicos de como trabalhar a fotografia, o rádio, a televisão, o cinema e as mídias digitais na sala de aula. Para Cristina 133

comunicação & educação Ano XVIII número 2 jul/dez 2013 Costa, trabalhar com a imagem facilita que as pessoas, especialmente os educadores, sejam inteiras, espontâneas e transparentes no ato de ensinar (p. 198). MÍDIAS E MEDIAÇÃO ESCOLAR Ao apresentar a primeira edição do livro de Maria Isabel Orofino, Mídias e mediação escolar: pedagogia dos meios, participação e visibilidade, Moacir Gadotti afirmava, numa perspectiva política: A relação entre educação e comunicação é bastante complexa. Uma pluralidade de meios educativos se apresenta para o educador poder fazer escolhas conscientes e apropriadas. Numa era da informação, os meios educativos se multiplicaram, impregnando toda a cultura. A informação está generalizada e a cultura dominante em todas as esferas da vida social tornou-se perigosamente midiática. Digo perigosamente porque a tentação da sociedade atual é tornar-se espetáculo, entretenimento. Os meios passam a ser considerados como fins. Costumo dizer que temos muitos meios de comunicação e pouca coisa para comunicar de relevante. Os meios são usados muito mais para emitir comunicados do que realmente para comunicar. Diante desse quadro, a tentação do educador é de se afastar dos meios, perdendo uma grande oportunidade de empoderar sua práxis. É aqui que entra a professora Isabel: ela nos oferece uma análise positiva e propositiva do uso da mídia na educação, com senso crítico e discernimento. E continua Gadotti: O que importa, portanto, na educação, não é tanto melhorar um único meio de educar, aperfeiçoando-o ao máximo. O que importa é colocar à disposição dos educadores e dos educandos uma multiplicidade de meios. São tão necessárias as bibliotecas quanto as videotecas, os laboratórios, os panfletos, a televisão, o rádio, o vídeo, a Internet, o CD e o DVD. Quando se fala de inclusão digital, precisa-se discutir de que inclusão estamos falando. Não significa simplesmente ter acesso, democratizar o acesso. É fundamental discutir para quê, a favor de quem, o quê. Bebel nos dá elementos para aprofundar essa discussão. O livro de Orofino traz, em cinco capítulos, um roteiro de reflexões capaz de dar respostas às dúvidas dos que minimizam a importância da imagem e do som nos processos educativos, deixando essa riqueza exclusivamente para a exploração ambiciosa e mercadológica da indústria do entretenimento. No primeiro capítulo, intitulado Cultura midiática e mediações no espaço escolar, a autora fotografa, sob a ótica dos estudos culturais ingleses, o contexto em que vivemos professores e alunos neste início de século. No segundo capítulo, Multimídia: linguagens híbridas em texto, imagem e som, confronta a perspectiva tradicional do ensino centrado no texto escrito. A emergência do aluno-autor, protagonista de sua própria formação, é tratado no capítulo terceiro, voltado para O uso do vídeo em sala de aula como metodologia participativa. A própria instituição educativa é ressignificada no capítulo quatro, sobre A escola como espaço de produção cultural. Finalmente, a autora desvela o sentido da mobilização empreendida pela sociedade, em boa parte do mundo, 134

Imagem, uma janela para a Educomunicação Ismar de Oliveira Soares em torno da formação do receptor crítico e ativo, no capítulo que tem como tema Mídia-Educação e Reflexividade: identidades, diferenças e visibilidade. No caso, os dois livros o de Cristina Costa e o de Isabel Orofino complementam-se, com abordagens diferentes, colaborando para que o educomunicador tenha referenciais para pensar sua relação com o mundo das imagens e das mídias, implementando ações no âmbito do que, em educomunicação, entendemos como a área de intervenção relacionada com a educação para a comunicação. Lembramos o leitor que outras obras sobre o tema, indicadas na bibliografia, publicadas nos últimos dez anos, merecem figurar na biblioteca de um educomunicador. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COSTA, Maria Cristina Castilho. Educação, imagem e mídias. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2013. JACQUINOT-DELAUNAY. Geneviève. Imagem e pedagogia. Tradução de Manuel Pedras e Lia de Oliveira. Manguale, Portugal: Editora Pedago, 2006. MELO, João Batista. Lanterna mágica: infância e cinema infantil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. OROFINO, Maria Isabel. Mídias e mediação escolar: pedagogia dos meios, participação e visibilidade. São Paulo: Cortez, 2013. 135

comunicação & educação Ano XVIII número 2 jul/dez 2013 SAMPAIO, Inês Vitorino; CAVALCANTE, Andréa (Org.). Qualidade na programação infantil da TV Brasil. Fortaleza: Editora Insular, 2013. SAMPAIO, Inês Vitorino; CAVALCANTE, Andréa; ALCÂNTARA, Alessandra (Org.). Mídia de chocolate: estudos sobre a relação infância, adolescência e comunicação. Rio de Janeiro: E-Papers, 2006. SETTON, Maria da Graça Jacinto (Org.). A cultura da mídia na escola: ensaios sobre cinema e educação. São Paulo: Annablume, 2004. TAVARES, Marcus. A linguagem televisiva na sala de aula: a constituição das identidades de crianças de duas escolas do município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Multifoco, 2009. 136