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Transcrição:

Tribunal Superior do Trabalho RR-119900-37.1996.5.04.0662 A C Ó R D Ã O COISA JULGADA - LIMITES OBJETIVOS - EXECUÇÃO - EXTRAPOLAÇÃO - OFENSA LITERAL E DIRETA AO ARTIGO 5º, XXXVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O julgador não pode e nem deve incursionar, ainda que involuntariamente, pelo caminho que nega o direito do executado pagar o que é justo, e somente o devido e justo constante do título condenatório. O título exequendo não determinou, em momento algum, juros compostos e dobra, daí porque não comportava a liquidação critério diverso do preconizado. Para se ter pálida imagem do descompasso entre a coisa julgada e a liquidação, basta que se confronte o cálculo do exequente, R$ 187.729.678,07 (cento e oitenta e sete milhões, setecentos e vinte e nove mil, seiscentos e setenta e oito reais e sete centavos), com o apresentado pelo perito do Juízo, R$ 1.750.015,83 (um milhão, setecentos e cinquenta mil, quinze reais e oitenta e três centavos). Recurso conhecido e provido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n TST-RR-119900-37.1996.5.04.0662, em que é recorrente CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF e recorrida MERILDE MARIA SALTON CORADIN. Contra o v. acórdão de fls. 1483/1486, complementada às fls. 1509/1515, por força de embargos de declaração de fls. 1490/1504, a reclamada interpõe recurso de revista. Em suas razões de fls. 1520/1536, argúi nulidade do julgado, por negativa de prestação jurisdicional e nulidade do processo, e, no mérito, diz ter sido violada a coisa julgada. Aponta violados os artigos 896 da CLT, 5º, LV, XXXVI, ambos da Constituição Federal. Contrarrazões às fls. 1545/1562. Sem remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho. Relatados. V O T O Conheço do recurso, por atendidos seus pressupostos genéricos de admissibilidade. I - CONHECIMENTO I.1 - PRELIMINAR DE NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL E PRELIMINAR DE NULIDADE DO PROCESSO

Deixo de conhecer de ambas as preliminares, e o faço com fundamento no artigo 249, 2º, do Código de Processo Civil, de aplicação subsidiária no Processo do Trabalho. I.2 - COISA JULGADA - VIOLAÇÃO - FORMA DE CÁLCULO DIVERSA DO TÍTULO EXEQUENDO - OFENSA AO ART. 896 DA CLT e 5º, XXXVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL Assiste razão à recorrente, quando aponta ofensa aos limites objetivos da coisa julgada, com consequente ofensa ao artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal. Com efeito, é de clareza mediana o comando emergente do título exequendo (acórdão do regional - fls. 1018/1029) em sua parte dispositiva, ao condenar a embargante no pagamento de indenização monetária, em razão do não pagamento, no momento devido, dos créditos devidos ao embargado, ao assinalar: -(...) bem como a primeira ré ao pagamento de indenização monetária correspondente ao valor resultante da atualização dos débitos devidos na presente demanda com base nas taxas de juros por ela praticadas em empréstimos pessoais às pessoas físicas, observado o período de trâmite da presente ação. Valor da condenação que se acresce em R$ 500,00, para os efeitos legais. Intimem-se. Porto Alegre, 24 de abril de 2000.- (fl. 1028) Pois, bem. Iniciada a liquidação, com uma série de incidentes, com laudos e impugnações por ambas as partes, o Juiz da execução, ao enfrentar os embargos opostos pela embarganteexecutada, após cuidadosa e judiciosa valoração dos cálculos, inclusive elaborados por perito de sua confiança, concluiu, quanto à -indenização monetária- que: -Natureza da condenação - Indenização monetária Por se tratar de condenação de exceção, seu comando deve ser interpretado restritivamente, quantificando-se a indenização monetária com base apenas na taxa de juros utilizada pela primeira reclamada, de forma não capitalizada. O acórdão liquidando nada fala em capitalização mensal, de modo que, na sua omissão, devem ser aplicados os preceitos legais de juros, -pró rata die-, conforme artigo 39, 1º, -in fine-, da Lei 8.177/91. Fundamento também na Súmula 121, do E.STF. O que foi observado pela perita. Sem razão. Índice de 5,15% aplicado às taxas de juros em empréstimos pessoais às pessoas físicas A taxa média de juros aplicada pelo reclamante na sua conta(5,15%) não encontra sustentação em nenhum documento, não passando de simples alegação. Assim, correta a taxa média aritmética de 4,66% utilizada pela perita. Sem razão. Observância do período em que se tornou exigível cada obrigação devida na presente ação

Cálculo da indenização devida - capitalização mensal ou anual Correto o procedimento da perita, conforme parâmetros definidos no despacho proferido às fls.1207/1208, com relação a ambos os itens. Sem razão.- (fl. 1420) Dessa decisão, agravou de petição a reclamante-embargada para o regional (fls. 1428/1457). Sustentou, em síntese, que os juros devem ser capitalizados, e não simples, ponderando que a embargante-executada, quando faz empréstimos, assim procede, de forma que, ao determinar que os juros sejam calculados de forma simples, a decisão teria ofendido a coisa julgada. Finalmente, afirmou que a taxa média dos juros a ser assim computada seria de 5,15% ao mês e não de 4,66% como decidido. O egrégio regional, ao conhecer do agravo de petição e dar-lhe provimento, decidiu que: -Diga-se, inicialmente, que os cálculos a serem procedidos devem respeitar o comando do acórdão liquidando, que, conforme -decisum- da fl. 1.028, condena a primeira ré na seguinte parcela: -... pagamento de indenização monetária correspondente ao valor resultante da atualização dos débitos devidos na presente demanda com base nas taxas de juros por ela praticadas em empréstimos pessoais às pessoas físicas, observado o período de trâmite da presente ação.- A decisão é clara, e não pode ser interpretada de forma extensiva, pois trata-se de condenação ao pagamento de indenização, e não de atualização do débito na forma pretendida. Se a reclamada aplica juros na forma capitalizada aos empréstimos pessoais, esta é a forma que deverá ser aplicada ao presente caso, conforme determinado no acórdão. Assim, a indenização deferida deverá ter como base de cálculo o montante dos débitos devidos na presente ação, atualizados aplicando-se como juros a diferença da taxa média praticada pela reclamada em empréstimos pessoais às pessoas físicas, deduzidos os juros legais já aplicados, emanados da decisão de 1º grau, observado o período de trâmite da presente ação que foi ajuizada em 18.11.96. Ou seja, a indenização corresponde ao pagamento da diferença entre a correção legal determinada pelo Juízo de origem, à fl. 959, e o resultado da correção realizada com base as taxas de juros aplicadas pela reclamada para empréstimos pessoais às pessoas físicas, durante o período de tramitação do processo, ou seja, desde o ajuizamento até o efetivo pagamento. Destarte, dá-se provimento parcial ao agravo para determinar que, observado o comando das decisões proferidas (fls. 959 e 1028), a indenização seja calculada tomando por base o débito devido, atualizado pela aplicação, como juros, da taxa média praticada pela reclamada em empréstimos pessoais às pessoas físicas, deduzidos os juros legais aplicados aos débitos devidos na presente ação, emanados da decisão de 1º grau, durante o período de trâmite da presente ação, que foi ajuizada em 18.11.96.

ÍNDICE DE 5,15% APLICADO ÀS TAXAS DE JUROS EM EMPRÉSTIMOS PESSOAIS ÀS PESSOAS FÍSICAS - CERCEAMENTO NA PRODUÇÃO DA PROVA. Afirma a agravante que deve ser acolhido o parecer do seu assistente técnico que juntou documentos, não impugnados pela Caixa Econômica Federal, que comprovam a incidência da taxa média de 5,15% ao mês aplicada pela agravada em empréstimos pessoais às pessoas físicas. Afirma que o juízo de origem indeferiu o seu pedido de realização de perícia contábil, com que pretendia demonstrar a taxa média de juros aplicada pela Caixa Econômica Federal e, ainda, sem qualquer justificativa, adotou o critério trazido pela perita. Alega que, nessas circunstâncias, teve cerceado o seu direito à produção de prova. Razão não lhe assiste. Nenhum reparo merece a r. decisão que acolheu o cálculo do contador, realizado com base na taxa média aritmética encontrada pela perita, de 4,66% mensais, na medida em que inexistem documentos a darem sustentação à pretensão da agravante. Nega-se provimento.- (fls. 1483/1484 - sem grifo no original) Emerge desse contexto, e como salientado, que o regional, ao deferir o pedido de juros capitalizados ou compostos, e muito menos em capitalização mensal, feriu, e gravemente, os limites objetivos da coisa julgada. Basta um simples confronto entre a parte dispositiva da condenação que transitou em julgado (título exequendo) com referida decisão, para se constatar que, em momento algum, foi dito que haveria capitalização e muito menos dobra. Confira-se: -2. INDENIZAÇÃO MONETÁRIA Busca a recorrente o deferimento de indenização - por ela nominada de monetária - no intuito de evitar o enriquecimento ilícito da primeira recorrida em virtude do não-pagamento dos créditos trabalhistas no momento devido. Pondera que os valores decorrentes das obrigações sonegadas seriam investidos no mercado de capitais e emprestados mediante altas taxas remuneratórias, superiores em muito às dos juros aplicáveis nesta Justiça Especializada. Razão lhe assiste. A primeira recorrida, CEF, é uma instituição financeira. Como tal, atua no mercado captando dinheiro de terceiros e emprestando-o a outros. O lucro dessas operações é evidente, se considerarmos as diferenças entre as taxas de remuneração do dinheiro captado e as cobradas pelo produto emprestado. Induvidosamente, é estimulante às instituições financeiras que praticam estes tipos de operação de crédito o não pagamento, no curso do contrato de emprego, de suas obrigações pecuniárias do contrato decorrentes. Enquanto permanece inadimplente, pode utilizar-se de tal numerário e lucrar no mercado financeiro, emprestando valores a terceiros com

taxas muito mais altas, considerados os juros trabalhistas que serão pagos nos processos que tramitam no Judiciário. Há uma inversão evidente de valores, onde o Capital e o lucro representam maior valor na sociedade atual do que o trabalho em sentido estrito. A correção desta inversão de valores - de resto prejudicial ao bem-estar de todos - passa pela determinação do reequilíbrio entre as forças produtivas da riqueza e concomitante justiça aplicada às relações de capital e trabalho. Por outro lado, se o empregado não assume os riscos do empreendimento econômico, por outro não lucra. E, como contraprestação à alienação de sua força-de-trabalho conta, apenas, com os salários e os direitos que decorrem do contrato. Assim, até para que a este trabalhador que se vê privado do pagamento de vantagens que lhes são devidas e que, por isso, se vê na contingência de bater às portas do Judiciário, deve ser assegurada a reposição desta lesão e, não apenas, o pagamento dos valores que lhes foram sonegados. A condenação ao pagamento das parcelas devidas não repõe o estado anterior e não repara a lesão, de forma mais integral. Na hipótese dos autos, como restou evidenciado pela condenação imposta, a primeira recorrida lesou a recorrente durante longo período na vigência do contrato de trabalho. Por outro lado, auferiu rendimentos substancialmente maiores no mercado financeiro e mediante operações especulativas, lucrando, inclusive, com a lesão provocada à recorrente, considerado o tempo de tramitação do feito. Assim, condena-se a primeira recorrida ao pagamento de indenização monetária correspondente ao valor resultante da atualização dos débitos devidos na presente demanda com base nas taxas de juros por ela praticadas em empréstimos pessoais às pessoas físicas, observado o período de trâmite da presente ação.- (fls. 1023/1024 - consta que não há, no original, grifo) O que se determinou portanto, no título exequendo, como observado pelo juízo de execução, foi que o cálculo da condenação deveria se ater à taxa média dos juros praticados pela embarganteexecutada, que foi de 4,66% e não de 5,15%, sendo absolutamente silente sobre a questão de juros capitalizados ou compostos e muito menos em capitalização mensal. O Juiz não pode e nem deve desconhecer o princípio da razoabilidade e muito menos o princípio que veda o enriquecimento sem causa, ao analisar e decidir sobre o expresso alcance da coisa julgada. Afastar-se dessa realidade é incursionar, ainda que involuntariamente, pelo caminho que nega o direito do executado pagar o que é justo, e somente o que é devido e justo. Realmente, a segurança num Estado Democrático de Direito e a credibilidade de seu Judiciário estão diretamente ligados ao direito de a pessoa (física ou jurídica) obter decisões justas, e jamais decisões que reflitam um absurdo e que agridam, por isso mesmo, o mínimo da razoabilidade e proporcionalidade, requisitos indispensáveis que devem estar presentes na prestação jurisdicional. Para se ter uma noção, ainda que pálida do despropósito da pretensão da embargada, basta atentar-se para o fato de que se trata de uma reclamação na qual a reclamante declinou que vinha exercendo a função de caixa, quando do término da relação empregatícia.

Ora, considerando-se que a perita do juízo, em atenção ao comando do título condenatório, e, em expresso cumprimento do v. despacho de fls. 1207/1208 e 1257, apontou o valor de débito em, 15/4/2005, de R$ 1.750.015,83 (confira-se fls. 1273/1282), que, reitere-se foi acolhido pelo juiz da execução (fls. 1419/1421), salta aos olhos que o cálculo apontado pela exequente-embargada, em junho de 2007, com base em critério totalmente divorciado do título exequendo, no valor de R$ 187.729.678,07 (cento e oitenta e sete milhões, setecentos e vinte e nove mil, seiscentos e setenta e oito reais e sete centavos) confira-se fls. 1449/1459, está em total descompasso com a realidade delineada na condenação. Com estes fundamentos, CONHEÇO da revista por ofensa literal e direta do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. II - MÉRITO Conhecido o recurso, por violação, DOU-LHE PROVIMENTO para restabelecer a r. decisão de fls. 1419/1421 e seus consequentes, para todos os efeitos dos direitos. ISTO POSTO ACORDAM os Ministros da Quarta Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do recurso, por ofensa literal e direta do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, e, no mérito, dar-lhe provimento para restabelecer a r. decisão de fls. 1419/1421 e seus consequentes, para todos os efeitos dos direitos. Brasília, 30 de março de 2011. MILTON DE MOURA FRANCA Ministro Relator