Parecer Jurídico Nº 005/2015/UVC Consulente: Ver. Reginaldo Araújo da Silva Presidente Órgão: Câmara Municipal de Jaguaruana. Ementa: PAGAMENTO DE VERBAS INDENIZATÓRIAS A VEREADORES PELO COMPARECIMENTO A SESSÕES EXTRAORDINÁRIAS DA CÂMARA MUNICIPAL, NO PERÍODO DE RECESSO LEGISLATIVO. INCONSTITUCIONALIDADE. É inconstitucional o pagamento de verba remuneratória pela participação de vereadores em sessões extraordinárias, em afronta clara às disposições da Constituição Federal (art. 57, 7º) que vedam o pagamento de parcela indenizatória decorrente de convocação durante o recesso legislativo. 1. Relatório: Trata-se de consulta formulada pelo Presidente da Câmara Municipal de Jaguaruana, Sr. Reginaldo Araújo da Silva, acerca da possibilidade de pagamento de verbas indenizatórias aos Edis pelo comparecimento a sessão extraordinária do parlamento, durante o período de recesso parlamentar. É o breve relatório. 2. Fundamentação: Respondendo objetivamente a consulta, não há possibilidade jurídica de realizar pagamento de verbas de caráter indenizatório ou remuneratório aos Vereadores que comparecem à 1
sessão extraordinária convocada durante o recesso parlamentar, em observância a redação normativa da Constituição Federal de 1988, alterada pela Emenda Constitucional Nº 050/2006, in verbis: Art. 57 [...] 7º Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso Nacional somente deliberará sobre a matéria para a qual foi convocado, ressalvada a hipótese do 8º deste artigo, vedado o pagamento de parcela indenizatória, em razão da convocação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 50, de 2006). O art. 57, 7º, do Texto Republicano, interpretado à luz do princípio da simetria, é norma de reprodução obrigatória pelos entes federativos (União, Estado, Município e Distrito Federal), daí por que a vedação constitucional do pagamento de parcela indenizatória em razão de convocação para sessão extraordinária é medida de direito que se impõe. Nesse sentido, confira-se o julgamento proferido pelo Supremo Tribunal Federal STF na ADI 4587/GO, da relatoria do Min. Ricardo Lewandowsi, cujo acórdão foi assim ementado: Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 147, 5º, DO REGIMENTO INTERNO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE GOIÁS. PAGAMENTO DE REMUNERAÇÃO AOS PARLAMENTARES EM RAZÃO DA CONVOCAÇÃO DE SESSÃO EXTRAORDINÁRIA. AFRONTA AOS ARTS. 39, 4º, E 57, 7º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, QUE VEDAM O PAGAMENTO DE PARCELA INDENIZATÓRIA EM VIRTUDE DESSA CONVOCAÇÃO. AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. I O art. 57, 7º, do Texto Constitucional veda o pagamento de parcela indenizatória aos parlamentares em razão de convocação extraordinária. Essa norma é de reprodução obrigatória pelos Estados-membros por força do art. 27, 2º, da Carta Magna. II A Constituição é expressa, no art. 39, 4º, ao vedar o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória ao 2
subsídio percebido pelos parlamentares. III Ação direta julgada procedente. (ADI 4587, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 22/05/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-117 DIVULG 17-06-2014 PUBLIC 18-06-2014) O Colendo STF esclarece um detalhe importante, que é a probição de acréscimos ao subsídio percebido pelos parlamentares, consoante disposição do art. 39, 4º da Magna Carta: Art. 39 [...] 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) Ressalte-se, por fim, que a matéria é conhecida da Suprema Corte, tendo o Plenário apreciado questão semelhante, por ocasião do julgamento da ADI 4.509-MC/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA CONSTITUCIONAL PARAENSE Nº 47/2010. PAGAMENTO DE PARCELA INDENIZATÓRIA POR CONVOCAÇÃO EXTRAORDINÁRIA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA. VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL EXPRESSA ( 7º DO ART. 57 E 2º DO ART. 27, DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA). MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA. Ademais, é obrigatório o comparecimento do Edil à sessão extraordinária ordinária e extraordinária do parlamento municipal, sob pena de extinção do mandato na forma do art. 8º, III e 3º do Decreto-Lei Nº 201/1967, in verbis: 3
Art. 8º Extingue-se o mandato do Vereador e assim será declarado pelo Presidente da Câmara, quando: III - deixar de comparecer, em cada sessão legislativa anual, à terça parte das sessões ordinárias da Câmara Municipal, salvo por motivo de doença comprovada, licença ou missão autorizada pela edilidade; ou, ainda, deixar de comparecer a cinco sessões extraordinárias convocadas pelo prefeito, por escrito e mediante recibo de recebimento, para apreciação de matéria urgente, assegurada ampla defesa, em ambos os casos. (Redação dada pela Lei º 6.793, de 13.06.1980). 3º O disposto no item III não se aplicará às sessões extraordinárias que forem convocadas pelo Prefeito, durante os períodos de recesso das Câmaras Municipais. (Incluído pela Lei nº 5.659, de 8.6.1971) Portanto, pelos fundamentos ora apresentados, conclui-se pela vedação constitucional do pagamento de parcela indenizatória ao parlamentar que comparecer à sessão extraordinária, inclusive durante o recesso parlamentar. 3. Conclusão: Diante do exposto, o Departamento Jurídico da UVC opina pela inconstitucionalidade do pagamento de verba remuneratória pela participação de vereadores em sessões extraordinárias, em afronta clara às disposições da Constituição Federal (art. 57, 7º c/c art. 39, 4º) que vedam o estipêndio de parcela indenizatória decorrente de convocação durante o recesso parlamentar. Orientamos ao Consulente que se abstenha de efetuar qualquer pagamento decorrente do comparecimento dos Edis à sessão extraordinária da Câmara Municipal. Por derradeiro, ressalte-se que o presente parecer tem caráter opinativo, não vinculando o administrador em sua decisão, consoante 4
entendimento proferido pelo Supremo Tribunal Federal STF, nos autos do Mandado de Segurança Nº 24.078, da Relatoria do eminente Ministro Carlos Veloso. É o parecer. Salvo melhor juízo. Fortaleza/CE, aos 28 de julho 2015. Tiago Aguiar Abreu Portela Barroso OAB/CE Nº 21009 Coordenador Jurídico Sandra Odara OAB/CE Nº 31.042 Assessora Jurídica 5