A INDEXAÇÃO E COBRANÇA INDEVIDA NOS VALORES DAS CPRs APÓS O PLANO COLLOR A história Como é de conhecimento histórico e notório, no ano 1990, iniciou-se a breve era Collor, que, com a intervenção governamental na economia consubstanciada no Plano Collor, Lei n 8024/1990, determinou a conversão da moeda de Cruzados Novos para Cruzeiro (art. 1º, 1º, 2º, 3,º) e, ao mesmo tempo efetuou confisco de economias (art.5º, 1º, 2º, art. 9º), e, determinou formas para a correção monetária de títulos de crédito firmados em obrigações para com os Bancos (art.6º, 2º), cujo tema e efeitos é assunto do presente pleito. 1 / 6
Para a correção monetária dos títulos de crédito devidos aos Bancos, especialmente os relacionados com a atividade agropecuaria, a Lei 8024/1990, determinou no art. 6º, 2º, que a correção monetária deveria ser efetuada tomando por indexador o BTN. Portanto, os débitos com orígem em contratos agrícolas firmados em março de 1990, por efeito do Plano Collor (Lei n 8024/1990), deveriam ser corrigidos monetáriamente tendo como indexador a variação do BTN, orçado em 41,28%, determinado pelo artigo 6º, 2º, daquela Lei [1], com aplicação para os pagamentos de obrigações contratadas naquele período conforme entendimento do STJ. A cobrança em excesso e o pagamento indevido justificam repetição do indébito Nítido que houve cobrança em excesso quando o Banco (prestador de serviços) praticou cálculo com índice diverso daquele previsto em Lei para indexar (corrigir monetáriamente) o capital objeto do contrato de adesão (CPR), obrigando o produtor rural (consumidor), a efetuar 2 / 6
pagamento de quantia superior a que deveria para cumprir a obrigação contratada. Ocorreu, de fato, o excesso de pagamento, tendo a isto se sujeitado o produtor rural, em razão essencialmente de que a principal linha de crédito para fomentar sua atividade sempre foi o Banco do Brasil S/A., entidade financeira mor do paíz, sujeita às regras do BACEN, e, à legislação pátria, que jamais poderia alegar desconhecer, mas mesmo assim, efetuou cobrança e recebimento desatendendo aos preceitos legais ora mencionados. Portanto, ao corrigir monetáriamente os valores expressos nos contratos de adesão (CPRs) utilizando o índice IPC (84,32%), que é diferente daquele previsto na Lei 8.024/1990 (BTN = 41,28%), cobrou e recebeu indevidamente o percentual de 43,03% acima daquele montante que deveria ter recebido, razão pela qual merece devolver o que cobrou em excesso, posto que indevido (art. 876, Código Civil), com valores corrigidos monetáriamente acrescidos de juros de Lei, e, além da repetição do indébito indenizar o Requerente na forma do disposto no art. 940 do Código Civil (C.Civil 1916 = art. 1531) c/c art. 42, parágrafo único do CDC, conforme entendimento da jurisprudência [2] ; [1] LEI Nº 8.024, DE 12 DE ABRIL DE 1990: Art. 1º Passa a denominar-se cruzeiro a moeda nacional, configurando a unidade do sistema monetário brasileiro. 1º Fica mantido o centavo para designar a centésima parte da nova moeda. 2º O cruzeiro corresponde a um cruzado novo. 3 / 6
3º As quantias em dinheiro serão escritas precedidas do símbolo Cr$. Art. 5º Os saldos dos depósitos à vista serão convertidos em cruzeiros, segundo a paridade estabelecida no 2º do art. 1º, obedecido o limite de NCz$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzados novos). 1º As quantias que excederem o limite fixado no caput deste artigo serão convertidas, a partir de 16 de setembro de 1991, em doze parcelas mensais iguais e sucessivas. 2º As quantias mencionadas no parágrafo anterior serão atualizadas monetariamente pela variação do BTN Fiscal, verificada entre o dia 19 de março de 1990 e a data da conversão, acrescida de juros equivalentes a 6% (seis por cento) ao ano ou fração pro rata. Art. 6º Os saldos das cadernetas de poupança serão convertidos em cruzeiros na data do próximo crédito de rendimento, segundo a paridade estabelecida no 2º do art. 1º, observado o limite de NCz$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzados novos). 1º As quantias que excederem o limite fixado no caput deste artigo, serão convertidas, a partir de 16 de setembro de 1991, em doze parcelas mensais iguais e sucessivas. 2º As quantias mencionadas no parágrafo anterior serão atualizadas monetariamente pela variação do BTN Fiscal, verificada entre a data do próximo crédito de rendimentos e a data da conversão, acrescidas de juros equivalente a 6% (seis por cento) ao ano ou fração pro rata. [2] Jurisprudência: 4 / 6
AgRg nos EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 164.910 RS - (2002/0005392-2) - RELATOR : MINISTRO CASTRO FILHO; Idem: REsp. 79.214/RS, relator Ministro Barros Monteiro, DJ de 13/9/1999; REsp. 216.647/RS, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 7/2/2000; REsp. n.º 160796/RS, relator Ministro Sálvio defigueiredo Teixeira, DJ de 01/02/1999; AGEREsp. 97971/MS, relator Ministro - Vicente Leal, DJ de 22/10/2001.; RECURSO ESPECIAL N 317.922 - RS (2001/0043378-2) - RELATOR: MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO; Apelação Cível Nº 70008992406 - Décima Oitava Câmara Cível - Comarca de Erechim APELANTE: PEDRO BLANGER APELADO: BANCO DO BRASIL S/A APELAÇÃO CÍVEL; STJ - Súmula 286: A renegociação de contrato bancário ou a confissão de dívida não impede a possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores. 5 / 6
Rafael Amparo de Oliveira. Advogado Senior. 6 / 6