0 O PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA EM OURO PRETO MG Regina Aparecida Correa Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP Resumo O presente trabalho apresenta reflexões parciais de uma pesquisa de Mestrado em andamento, cujo objetivo é correlacionar a voz de um grupo de professoras alfabetizadoras do município de Ouro Preto-MG sobre a participação no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa e sua prática pedagógica. Palavras-chave: Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa; formação de professores; prática pedagógica. De acordo com documentos oficiais, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) é um compromisso assumido entre o governo federal, os estados e municípios, instituído pela Portaria nº 867, em 4 de julho de 2012, a fim de alfabetizar todas as crianças até os oito anos de idade. Este programa foi organizado em torno de quatro eixos: I. Formação continuada de professores Alfabetizadores; II. Materiais didáticos, literatura e tecnologias educacionais; III. Avaliação e IV. Gestão, controle e mobilização social. Neste trabalho, elegemos o primeiro eixo como objeto de investigação. O interesse pela pesquisa surgiu logo no primeiro ano de implantação do Pacto, em 2013, quando a pesquisadora era orientadora de estudos do PNAIC em um município localizado no Sul de Minas Gerais. O programa, por meio do terceiro eixo, previa apenas a avaliação das crianças, como se o fato de o professor participar da formação interferisse automaticamente no processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Não havia, contudo, mecanismos de avaliação que incluíssem o professor, especialmente no que concerne às implicações da participação nesta formação em sua prática pedagógica. Neste sentido, e considerando que o Pacto se insere no contexto das políticas públicas formuladas a fim de aumentar a qualidade da Educação Básica, relacionando a formação de professores e avaliações nacionais (LUZ E FERREIRA, s/d; LOVATO, s/d), além de apresentar um não reconhecimento das realidades locais e culturais devido ao fato de ser um programa pensado em âmbito nacional (MARINHO E BELTRÃO, 2015), esta pesquisa se justifica pela necessidade de ouvir o professor alfabetizador, no intuito de analisar de que forma o programa transcorreu, identificar pontos positivos e aspectos complicadores, e analisar se houve ou não alguma implicação para a prática do professor alfabetizador, a partir dessa formação continuada ou formação em trabalho. 9783
1 Outro aspecto que justifica este trabalho é o fato de que boa parte das pesquisas realizadas acerca do PNAIC têm se dedicado a aspectos relacionados aos cadernos de formação ou à formulação do programa, mas poucas têm ouvido o professor e, quando o fazem, na maior parte das vezes, restringem-se ao uso de entrevistas e questionários, não utilizando outros instrumentos de coleta para triangular os dados. Assim, tendo em vista a necessidade de distanciamento da realidade pesquisada e que o Programa de Mestrado em Educação da Universidade Federal de Ouro Preto tem como um de seus objetivos contribuir com a produção de conhecimentos sobre a Região dos Inconfidentes, que compreende os municípios de Ouro Preto, Acaiaca, Diogo de Vasconcelos, Mariana e Itabirito, a presente pesquisa está sendo realizada na cidade de Ouro Preto MG. Dessa forma, o presente texto apresenta reflexões parciais de uma pesquisa em andamento cujo objetivo é correlacionar a fala de um grupo de professoras alfabetizadoras sobre a participação destas no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa - PNAIC - em 2013 e as possíveis alterações em suas práticas pedagógicas. A princípio será realizado um levantamento bibliográfico, a fim de identificar trabalhos que discutem a formação no Pacto em 2013, referente aos conteúdos de Língua Portuguesa, e outros que analisam as implicações da participação no Pacto na prática das professoras alfabetizadoras. Em seguida, será aplicado um questionário às orientadoras de estudos do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa do município de Ouro Preto, a fim de levantar o perfil destas. Em momento posterior, será realizado um grupo focal com as orientadoras no intuito de identificar aspectos positivos e complicadores relacionados à formação desenvolvida no município em 2013, referente aos conteúdos de Língua Portuguesa, e também identificar nomes de professoras que alegam que a participação na formação continuada por meio do PNAIC influenciou de alguma forma a sua prática pedagógica. De posse dos nomes das professoras, será aplicado um questionário para o levantamento do perfil destas e realizada uma entrevista individual com o intuito de verificar os aspectos positivos e complicadores do Pacto, bem como corroborar se essa formação teve alguma implicação em sua prática, a partir de seus depoimentos. Ao final, dentre as professoras entrevistadas, será escolhida uma, considerando especialmente como critério aquela que alega ter recebido maior influência do PNAIC em sua prática, para se fazer observação em sua sala de aula ao longo deste ano de 2016, de maneira que seja possível correlacionar o seu discurso sobre a participação no 9784
2 Pacto e a sua prática. Para tanto, será realizada também uma pesquisa documental com os materiais utilizados pela professora, como planos de aula, inclusive de anos anteriores à sua participação no programa, caso a professora os possua, e dos cadernos dos discentes. Nesta fase inicial da pesquisa, foi realizado um levantamento bibliográfico que objetivou selecionar trabalhos acerca da temática estudada. Ressalta-se que o levantamento foi realizado no período de 15 a 21 de fevereiro de 2016, em quatro dos mais importantes repositórios de trabalhos acadêmicos brasileiros: a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, o portal de Periódicos da CAPES, o Scielo e o Google Acadêmico. Dentre os trabalhos encontrados, foram excluídos os relacionados a outras temáticas como a Educação Especial, a avaliação, Educação no Campo, os referentes a outros conteúdos que não a Língua Portuguesa, os que analisavam as implicações da participação no Pacto para a prática de outros sujeitos que não as professoras alfabetizadoras, como os formadores e orientadores de estudos, restringindo-se assim aos trabalhos relacionados à formação ministrada em 2013, acerca dos conteúdos de Língua Portuguesa, e a outros que discutiam as implicações da participação no Pacto na prática das professoras alfabetizadoras. Por meio da busca, considerando os critérios explicitados no parágrafo anterior, e utilizando como palavras-chave PNAIC e Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, foi possível encontrar apenas um artigo no portal Scielo. No portal de Periódicos da CAPES, entre os trabalhos encontrados, utilizando os mesmos critérios e palavras-chave mencionados, foram selecionados quatro trabalhos. No Google Acadêmico, utilizando PNAIC como palavra-chave, foram elencados quinze trabalhos. Na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, utilizando as referidas palavras-chave, foram encontradas onze dissertações e duas teses, dentre as quais foi possível selecionar uma tese e uma dissertação. Assim, excluindo-se os trabalhos repetidos, no total, foram identificados dezessete artigos, uma tese e uma dissertação de mestrado. Para selecionar esses trabalhos, foi feita a leitura dos resumos e, nos casos em que esta era insuficiente, foi feita uma leitura inspecional dessas pesquisas. As leituras preliminares indicam que o PNAIC representa a continuidade do Profa, programa do governo Fernando Henrique Cardoso, implementado entre 2001 e 2002 com o objetivo de estabelecer um modelo de formação continuada com base em situações-problemas advindas da sala de aula, e do Pró-Letramento, do governo Lula, 9785
3 implementado em 2006, revelando a persistência dos esforços federais na melhoria da qualidade da educação, com conteúdos semelhantes e permanência do modelo reflexivo-prático da formação, e, de acordo com Carvalho (2014), este seria um aspecto positivo do Pacto. Outro aspecto positivo do PNAIC citado pela autora seria a possibilidade de discutir outros temas relacionados à Educação Básica nos encontros com os coordenadores do Pacto em Brasília, como a educação integral. O pagamento de bolsas de estudos às professoras alfabetizadoras, a troca de experiência entre elas proporcionada pelos encontros de formação, a aproximação entre as universidades públicas e a escola, e a maior utilização dos jogos de alfabetização produzidos pelo Centro de Estudos em Educação e Linguagem da Universidade Federal de Pernambuco - CEEL - e das obras complementares do Programa Nacional do Livro Didático PNLD e também de livros selecionados para o Programa Nacional Biblioteca da Escola - PNBE são aspectos relevantes do programa. Contudo, o PNAIC apresenta alguns aspectos complicadores. Conforme apontam Carvalho, 2014 e as pesquisadoras Marinho e Beltrão, 2015. Entre eles podemos citar o gigantismo da proposta, tendo em vista a dificuldade de selecionar conteúdos e metodologias mais adequados para cada município, assim como de considerar as realidades locais e as identidades culturais destes; a duração dos encontros (CARVALHO, 2014; MARINHO E BELTRÃO, 2015); o reforço das avaliações em larga escala, apesar dos cadernos de formação apontarem para uma avaliação processual dos alunos; e a inclusão de dois eixos, um referente à formação do professor e outro referente à avaliação dos alunos em um mesmo programa, como se a formação por meio do Pacto interferisse automaticamente na aprendizagem dos alunos, reforçando a ideia de que o PNAIC é mais um programa que visa à melhoria da qualidade da Educação Básica, conforme o acordo assumido em Dakar, no ano 2000. Até o presente momento, além do levantamento bibliográfico, já foram aplicados os questionários às orientadoras de estudos do PNAIC em Ouro Preto. Contudo, este material encontra-se ainda em fase de análise. Considerações finais O levantamento bibliográfico realizado indica que o PNAIC tem sido objeto de investigação de diversos pesquisadores nos últimos anos, haja vista sua implementação no ano de 2013. Contudo, boa parte destas pesquisas tem se dedicado aos cadernos de 9786
4 estudos, e a temas abordados pelo programa, como a educação inclusiva e a educação no campo, e não à influência da participação neste para a prática pedagógica. As leituras preliminares apontam alguns aspectos positivos e complicadores do Pacto. Dessa forma, espera-se que esta pesquisa em andamento contribua para uma maior compreensão acerca do PNAIC, e de forma especial, das possíveis implicações da participação na formação em 2013 na prática das professoras. Referências Bibliográficas: BRASIL. Ministério da Educação. Portaria nº 867 de 4 de julho de 2012. Disponível em: http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/port_867_040712.pdf. Acesso em: 24 jan., 2016. CARVALHO, Marlene. O Pacto pela Alfabetização na Idade Certa na Região Litorânea do Rio de Janeiro. Revista Práticas de Linguagem, Juiz de Fora, UFJF, v. 4, n.1, p. 1-370, jan. 2014. DINIZ-PEREIRA, J. E. A construção do campo da pesquisa sobre formação de professores. Educação e Contemporaneidade, Salvador, v.22, n. 40, p. 145-154, jul/dez. 2013. LOVATO, Regilane Gava. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC): programa ou política pública de formação continuada de professores alfabetizadores? 12 pag. Disponível em: http://www.sbece.com.br/resources/anais/3/1429405804_arquivo_trabalhoco MPLETO.pdf. Acesso em: 24 jan., 2016. LUZ, Iza Cristina Prado da.; FERREIRA, Diana Lemes. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: formação, avaliação e trabalho docente em análise. 13 pag. Disponível em: http://www.anpae.org.br/simposio26/1comunicacoes/izacristinapradodaluz- ComunicacaoOral-int.pdf. Acesso em: 24 jan., 2016. MARINHO, Tarcyla Coelho de Souza; BELTRÃO, Lícia Maria Freire. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: reflexões sobre a formação continuada. 2015. Disponível em: http://periodicos.uesb.br/index.php/cmp/article/viewfile/5053/4843. Acesso em: 30 jan., 2016. UNESCO. Educação para todos: o compromisso de Dakar. Brasília: UNESCO, CONSED, AÇÃO EDUCATIVA, 2001. 9787