TALENTO ESPORTIVO NO ATLETISMO FEMININO: UMA ANÁLISE COM ATLETAS DE MEIO FUNDO E FUNDO POTENCIAIS REPRESENTANTES DO BRASIL NAS OLIMPÍADAS DE 2016

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Transcrição:

TALENTO ESPORTIVO NO ATLETISMO FEMININO: UMA ANÁLISE COM ATLETAS DE MEIO FUNDO E FUNDO POTENCIAIS REPRESENTANTES DO BRASIL NAS OLIMPÍADAS DE 2016 Vanessa Oliveira dos Santos (IC) e Eduardo Vinícius Mota e Silva (Orientadora) Apoio: PIBIC Mackenzie Resumo Verifica-se, nos dias atuais, uma grande preocupação em se investir em talentos esportivos no Brasil para que estes possam representar bem o país, conquistando medalhas, nos Jogos Olímpicos de 2016. Entretanto, este processo de seleção precisa ser analisado, principalmente quando se sabe que um período de 6 anos de preparação, muitas vezes, não é o suficiente para a preparação de um medalhista olímpico. Desta forma, este estudo busca identificar como se dá o processo de iniciação esportiva e de detecção e seleção e o método de preparação dos possíveis talentos femininos nas provas de meio-fundo e fundo para os Jogos Olímpicos de 2016. Para isto foram selecionadas por acessibilidade, 6 (seis) atletas que estiveram entre as três melhores do ranking brasileiro sub-23 (até 23 anos) em cada uma das provas deste grupo, no ano de 2010. Através da realização de uma entrevista semi-estruturada, composta por 11 perguntas abertas, foi possível perceber que o processo de detecção, seleção e formação destes atletas ainda se dá por meio de métodos não sistemáticos e que as atletas aqui estudadas, não se veem como participantes ou apoiadas, em um processo de desenvolvimento em longo prazo, para que em 2016 estejam prontas e preparadas para representar bem o país nos Jogos Olímpicos. Palavras-chave: talento esportivo, atletismo, treinamento esportivo Abstract There is, nowadays, a major concern in investing in sports talents in Brazil, so that they may represent well the country, winning medals in the 2016 Olympic Games. However, this selection process needs to be analyzed. Mainly when realizes, that a period of just six years of preparation, often, is not enough to prepare an Olympic medalist. Thus, this study seeks to identify how occurs the process of sport initiation and the detection and selection and the preparation method of possible female talents at the middle distance and long distance for the 2016 olympics games. To this were selected by accessibility, 6 (six) athletes who were among the top three in the under-23 national ranking (up to 23 years), in each of the tests of this group, in 2010. By carrying out a semi-structured interview, consisting of 11 open questions was possible to perceive that the process of detection, selection and training of these athletes still takes place through non-systematic methods and that the athletes, studied here do not see themselves as participants or supported in a process of long-term development so that in 2016 to be ready and prepared to represent the country well in the Olympics games. Key-words: sports talent, athletics, sports training 1

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 INTRODUÇÃO Nos dias atuais, há uma grande preocupação em se investir em talentos no esporte brasileiro, para que estes possam representar bem o país, conquistando medalhas, nos Jogos Olímpicos de 2016 a serem realizados no Rio de Janeiro. No caso específico do Atletismo vários programas de detecção e seleção desses talentos têm sido empregados desde o anúncio do Brasil como sede. Este processo de seleção precisa ser analisado, principalmente, quando se sabe que o período de 6 anos de preparação, muitas vezes não é o suficiente para a preparação de um medalhista olímpico. Desta forma, a problemática deste estudo está em responder como esses talentos, especialmente atletas femininas jovens das provas de meio-fundo e fundo, se iniciam na modalidade, quais são os métodos utilizados para a descoberta e o direcionamento dos atletas para as provas de meio-fundo e fundo e qual é o tipo de apoio que estes têm recebido para que possam se desenvolver. Com base nestas informações acredita-se que seja possível oferecer a técnicos e dirigentes esportivos do atletismo novas percepções sobre essas questões, contribuindo de alguma forma para o conhecimento cientifico, podendo propiciar estudos posteriores sobre a afirmação e a competência dessas atletas consideradas promessas, nas olimpíadas de 2016. Desta forma, o objetivo deste estudo é identificar como se dá o processo de iniciação esportiva e de detecção e seleção e o método de preparação dos possíveis talentos femininos nas provas de meio-fundo e fundo para os Jogos Olímpicos de 2016. REFERENCIAL TEÓRICO De acordo com Calantonio (2007), Lanaro Filho e Böhme (2001), o termo talento esportivo é utilizado para caracterizar indivíduos que apresentam um desempenho acima da média, em determinado campo de ação, podendo ser desenvolvido através da estimulação e de oportunidades no seu processo de socialização. Segundo Vieira e Vieira (2001), a confirmação desse talento ocorre graças a um grande empenho na preparação esportiva, além de um conjunto de condições sociais que suportem o envolvimento das crianças e jovens no esporte visando alto rendimento. Para Dantas et al. (2004), o individuo talentoso deve somar um conjunto de capacidades genéticas e experiências vivenciadas. Para eles o campeão já nasce com uma carga genética diferenciada (p.73). Eles compreendem que o talento esportivo é fruto de uma genética privilegiada que só atinge o ápice de seu desempenho se estiver em condições favoráveis de desenvolvimento. 2

Gonçalves e Borin (2008) alertam porém, que a detecção de um talento é uma tarefa complexa e que nela devem ser levados em consideração diversos fatores como os aspectos biológicos ou constitucionais e as condições sociais apropriadas, além do respeito às etapas de aprendizado e aperfeiçoamento. Devendo, portanto todo o meio estar direcionado a encontrar, em grande escala, indivíduos dispostos e prontos a submeter-se a um programa de formação esportiva geral básica (SILVA et al., 2003; BÖHME, 2007). Para Lanaro Filho e Böhme (2001) é necessário, para um prognóstico mais primoroso à respeito dos talentos esportivos, que se atrele o conhecimento teórico adquirido por estudiosos do esporte a experiência da teoria aplicada no exercício prático pelo técnico e treinador esportivo. Esta realidade, entretanto, segundo Calantonio (2007), não se aplica ao Brasil, pois aqui a seleção de talentos pode ser classificada como não sistemática ou assistemática, pois ocorre de forma irregular, em que ainda aparecem indivíduos de nível alto de desempenho por sorte ou ao acaso, por apresentarem aspectos genéticos favoráveis ou grande influência do ambiente. De forma geral a seleção de talentos, ainda hoje, se dá através dos técnicos esportivos que com base em suas experiências pessoais na modalidade ou mesmo em sua intuição, criam critérios próprios de seleção, o que obviamente pode trazer falhas por sua falta de precisão (MASSA et al., 2003; MATSUDO, 1996 apud SILVA, 2005; UEZU et al,. 2008). No caso do Atletismo esta situação também se repete e, nas poucas vezes, em que há uma tentativa de seleção mais sistemática, os parâmetros tradicionalmente utilizados são dados antropométricos e de desempenho motor, além das características genéticas e psicossociais do indivíduo, sem dar a devida importância à maturação biológica, aspecto fundamental, principalmente para atletas femininas, segundo Gandolfe e Takahashi (2003). O prognóstico de desempenho de um atleta iniciante realizado sem esses critérios científicos aumenta a possibilidade de erro. Nem sempre, aqueles que atingem um nível alto de desempenho esportivo nas categorias infantil e juvenil serão aqueles que irão pertencer a uma seleção adulta (LANARO FILHO e BÖHME, 2001; DANTAS et al., 2004; SILVA et al., 2003). Portanto o que se torna evidente é que a detecção de um talento não pode ser evidenciada apenas por um único aspecto de predição, mas por um processo de desenvolvimento em que se pondera no decorrer de uma trajetória de etapas de treinamento, testes e mensurações ordenadas aliadas à participação em competições esportivas (LANARO FILHO e BÖHME, 2001). Assim sendo, o sucesso no desempenho esportivo depende de vários processos internos, em diferentes níveis, denominados por Kiss et al. (2004), de condição global, que 3

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 corresponde a múltiplos fatores que atuam direta e indiretamente sobre o substrato genético, tais como da frequência cardíaca, respiratória, substratos energéticos, temperatura, equilíbrio hidroeletrolítico e hormonal, influências motivacionais e emocionais, fatores ambientais e principalmente ao treinamento físico. Ré (2010) ressalta que a influência de um ambiente favorável aumenta as possibilidades do individuo obter sucesso no esporte e a preparação desse atleta deve ser realizada através de um processo contínuo. Sendo assim, Kiss et al. (2004), apresenta a promoção de talentos como um processo de treinamento á longo prazo (TPL), que contribui para a formação do atleta auxiliando-o para que alcance a excelência de sua performance esportiva. Para que este processo tenha melhor eficácia, é necessário o acompanhamento constante de seu desenvolvimento, por meio de avaliações que possam traçar o perfil das variáveis, consideradas mediante valores referenciais de dados psicológicos, genéticos, sociais, antropométricos de aptidão física e de habilidade motora (SILVA et al.,2003). De acordo com Bojikian et al. (2007), para que a formação dos atletas aconteça de forma mais adequada e organizada o (TLP) deveria acompanhar os atletas desde a iniciação até o alto rendimento, porém não é isto que os autores percebem no Brasil. Lima et al. (2008) entende que o (TLP) deve começar nos anos iniciais de vida da criança, por meio de uma prática esportiva variada, ampliando suas capacidades motoras para que, mais tarde, possa ocorrer a especialização com maior qualidade, de forma que os jovens com potencial obtenham resultados competitivos expressivos no futuro. Borin e Gonçalves (2004) reforçam que as preparações gerais e específicas devem estar interligadas nas fases iniciais, para que ocorra uma adaptação melhor do organismo e das habilidades motoras da criança. Mas, além disso, o individuo que opta por investir em seu talento no esporte, deve estar preparado para uma vida árdua de treinamentos intensos e rigorosos e uma vida social mais privada, por ter de dedicar grande parte de sua vida a essas metas, sendo assim, deve saber lidar com vitórias e derrotas (LIMA et al., 2008; JOAO e JOSÉ FILHO, 2002). Assim, conforme Moraes et al. (1999) apud Massa (2006), o sucesso de uma pessoa talentosa depende do seu comprometimento, motivação e paixão pela sua área de atuação e, ao mesmo tempo, do apoio de diversos segmentos da sociedade como, a própria família e também bons treinadores. Porquanto além dos familiares que desempenham importante papel na carreira dos atletas, com apoio, incentivo e reconhecimento mantendo a motivação do individuo, outros fatores indiretamente, podem influenciar na aquisição do objetivo máximo do desempenho no esporte, como locais adequados para treinamento, participação em competições de maior nível e uma alimentação balanceada (SILVA e FlEITH, 2010). 4

Entretanto, quando um atleta talentoso atinge resultados expressivos necessariamente deve ser recompensado com um patrocínio para que então consiga viver do esporte. Entretanto, no atletismo, os atletas nem sempre recebem salário. Na maioria das vezes, recebem apenas uma ajuda de custo, sendo, portanto comum buscarem patrocínios individuais e ajuda financeira através de leis de incentivo ao esporte para que possam se sustentar. Até mesmo atletas de destaque, já consolidados na modalidade, não recebem ajuda equivalente aos seus méritos (MIRANDA, 2007). MÉTODO Para o atendimento do objetivo proposto, este estudo foi desenvolvido através de uma pesquisa qualitativa, que é caracterizada por Negrine (2004), como uma investigação que se centra na descrição, análise e interpretação das informações recolhidas durante o processo de investigação, contextualizando-as. O instrumento utilizado para a coleta dos dados foi a entrevista semi-estruturada, pois esta permite que o pesquisador empregue estratégias que permitam a obtenção de maior profundidade nas informações obtidas, além de permitir ao sujeito de pesquisa a oportunidade de dissertar sobre o tema, expressando suas opiniões (NEGRINE, 2004). As questões elaboradas buscaram atingir informações referentes às seguintes variáveis: A. Processo de iniciação ao Atletismo. B. O direcionamento para as provas de meio-fundo e fundo. C. O desenvolvimento da carreira atlética. D. A preparação para os Jogos Olímpicos Rio-2016. Para a obtenção das informações optou-se pela eleição de uma amostra intencional. Marconi e Lakatos (1982), que definem este tipo de amostra como aquela em que se busca a opinião de determinados elementos, nem sempre representativos da totalidade, porém fundamentais para a compreensão do fenômeno estudado. Para tanto foram sujeitos deste estudo 6 (seis) atletas corredoras de provas de meio fundo e fundo, que estiveram entre as três melhores atletas do ranking brasileiro em cada uma das provas do grupo, no ano de 2010, na categoria sub-23 (até 23 anos). A opção por este grupo se deu pelo fato de entender-se que, dentre suas participantes, potencialmente, estarão àquelas que representarão o Brasil nos Jogos Rio-2016, tendo em vista que neste ano pertencerão ao a categoria principal (adulta) e potencialmente se encontram como sucessoras das respectivas atletas em destaque na categoria mencionada. 5

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Os dados foram coletados pessoalmente pelo pesquisador, após a obtenção de consentimento dos sujeitos, em competições ou nos locais de treinamento das atletas. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas em sua totalidade para análise das respostas. Para tal utilizou-se a técnica de análise do conteúdo proposta por Bardin (2009). Para que se garantisse o respeito à integridade do ser humano, as atletas selecionadas para o estudo foram informadas sobre os objetivos e os procedimentos do estudo, através de carta de informação ao sujeito. Após esta leitura e confirmação da intenção de participar do estudo os sujeitos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Foi garantida, ainda, neste mesmo documento a possibilidade do sujeito se retirar da pesquisa a qualquer momento, bem como a sua não identificação. Todos estes procedimentos foram submetidos e aprovados pelo Comitê de Ética da Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie, através do protocolo de 0109.0.272.000-10 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados do presente estudo são apresentados de acordo com o objetivo específico de cada pergunta da entrevista. Sendo assim, com a finalidade de apresentar com maior clareza as informações obtidas, as respostas e algumas questões serão representadas em quadros contendo as ideias centrais (IC), frequência (FQ) e a porcentagem (%) das respostas dos sujeitos. A amostra selecionada apresentou idade média de 19,3 ± 1,03. Idade de iniciação e tempo de prática A idade de iniciação esportiva é um tema muito discutido na ciência do esporte. Autores discorrem sobre a importância da prática motora na infância para o aprendizado de uma grande gama de movimentos, a fim de ampliar o repertório motor, assim como a idade propícia 12, 13 anos para a prática de uma modalidade esportiva específica e a consequente participação em competições (OLIVEIRA e PAES, 2004; LIMA et al. 2008; KNIJNIK, 2008). Sendo assim por meio do aumento gradual das cargas de treinamento, ao atingirem aproximadamente 10 anos de prática sistematizada, os atletas teriam, então, uma bagagem suficiente para que atingissem o ápice do seu rendimento no esporte (ZAKAHAROVET et al. 1992; PLATONOVET et al. (SD) apud, BORIN e GONÇALVES, 2004). Portanto a análise da amostra, conforme verifica-se, no quadro abaixo, corrobora com os resultados encontrados nos estudos já citados. Quadro 1 - Idade de iniciação e tempo de pratica na modalidade Idade de iniciação Tempo de pratica Tempo de pratica 2016 13,8 ± 1,9 5,2 ± 1,7 11,2 ± 1,7 6

As atletas participantes desta pesquisa iniciaram sua prática no atletismo por volta dos 13,8 ± 1,9 anos, o que segundo a literatura, seria um período adequado para se iniciar um treinamento especializado em uma modalidade esportiva. O tempo médio de treinamento foi de 5,2 ± 1,7 anos de treinamento na modalidade, o que significa que em 2016 estarão com um tempo de prática na modalidade de 11,2 ± 1,7 anos de treinamento e, portanto propícias a atingir elevado desempenho no ano dos Jogos Olímpicos que serão realizados no Brasil. Estes dados reforçam a percepção de que este seria um grupo de atletas que deveria estar participando de um processo sistematizado para desenvolver suas potencialidades para o desempenho maior em 2016. Escolha pela modalidade de atletismo Compreender os motivos que levaram o atleta a optar pela modalidade de atletismo e verificar se o seu processo de iniciação esportiva está diretamente relacionado com um método cientificamente adequado de detecção de talentos, é fundamental esta análise. Quadro 2 - Escolha pela modalidade de atletismo Ideias centrais Frequência % Família 3 50% Escola 2 33,3% Caça-Talentos 1 16,6% Conforme verificado, no quadro anterior e no discurso das atletas, nenhuma delas participou de um processo de detecção de talentos esportivos de maneira sistematizada, pois se percebeu que iniciaram sua trajetória na modalidade, ao acaso, pois não estavam inseridas em nenhum programa de formação esportiva geral básica. Entretanto pode-se perceber que tiveram influências ambientais favoráveis, como veremos a seguir. Duas atletas foram descobertas e se destacaram, inicialmente, por influência da escola, através, principalmente da percepção de seus professores que, ocasionalmente, eram interessados na modalidade. Filin, 1996 apud Borin e Gonçalves (2004) apontam o papel fundamental que as escolas desempenham no processo de apresentação e detecção de crianças e adolescentes com um potencial diferenciado para determinada modalidade. Outras três atletas iniciaram por intermédio da família comprovando a importância do apoio dos familiares nas fases iniciais da trajetória do atleta no esporte. Silva e Fleith (2008) reforçam a importância da família para a manifestação, reconhecimento e desenvolvimento do individuo talentoso. O apoio adequado dos pais, nos anos iniciais da especialização esportiva, aumenta a permanência e a melhora da atuação do talento no esporte (Moraes et al., 2004 apud Rocha e Santos, 2010), entretanto não é papel destes, detectar possíveis talentos. Apenas (1) atleta foi descoberta através de um caça-talento, fato não muito comum em modalidades como o atletismo, mas que de certa forma se justifica pelo emergente mercado de corridas de rua, 7

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 que na ultima década vem aumentando o número de participantes e tem se tornando muito atrativo, graças a diversidade de provas e a existência de premiação em dinheiro (SALGADO e CHACON-MIKAHIL, 2006). O que se percebe com esses relatos é, mais uma vez, a falta de um sistema organizado de descoberta de talentos no Brasil. Processo de iniciação ao atletismo De acordo com a literatura pesquisada, para o desenvolvimento físico da criança e do adolescente, é importante priorizar estímulos que exercitem as capacidades condicionais e coordenativas que estão em um ponto de maior treinabilidade, orientados conforme as fases sensitivas ou períodos sensíveis do treinamento (Knijnik et al., 2008). Desta maneira, priorizando as atividades naturais e propiciando experiências motoras variadas, se desenvolvem as habilidades motoras e a cognição. As atividades não devem sobrecarregar o organismo e nem comprometer o crescimento, para que mais tarde ocorra a especialização com maior qualidade (DANTAS et al., 2004; LIMA et al., 2008) Neste sentido, Massa (2006) afirma que a especialização esportiva precoce pode comprometer o desenvolvimento da criança no esporte fazendo com que esta, muitas vezes nem sequer alcance o alto nível. Quadro 3 - Processo de iniciação no atletismo. Ideias centrais Frequência % Atividades de baixa intensidade 2 33,3% Brincadeiras 2 33,3% Outras provas do atletismo 2 33,3% Treino para emagrecimento 1 16,6% A maioria das atletas (4), no início de sua trajetória no atletismo, apesar de já treinarem para uma modalidade específica, realizavam atividades em que havia predominância de práticas motoras variadas, com atividades lúdicas e de baixa intensidade por meio das quais era desenvolvido o amplo repertório de fundamentos do atletismo, obedecendo ao que recomenda a literatura (OLIVEIRA e PAES, 2004; LIMA et al. 2008; KNIJNIK, 2008). Na iniciação esportiva a motivação do individuo não deve estar voltada a resultados em competições, mas sim na maior ênfase na formação (MASSETO et al., 2007). Talento precoce Quadro 4 - Destaque no inicio da trajetória na modalidade Ideias centrais Frequência % Destacava-se bastante 6 100% 8

Todas as atletas, aqui entrevistadas, afirmaram ter se destacado no inicio de sua carreira esportiva, obtendo um desempenho acima da média de indivíduos submetidos ao mesmo processo com a mesma idade e gênero e continuaram a progredir de acordo com a demanda. Estas afirmações, de certa forma não coadunam com o que aponta a literatura, na qual se pode perceber que, em muitos casos, os atletas que se destacam atingindo uma alta performance no esporte no início de sua existência na modalidade não apresentaram um desempenho considerável posteriormente (BORIN e GONÇALVES, 2004). Talvez o resultado aqui encontrado se justifique pelo fato de este destaque ter ocorrido em competições de nível regional ou nacional, e, não internacional, ou pelo fato de ainda estarem em categorias de base do Atletismo. Direcionamento e especialização para provas de meio fundo e fundo Segundo Dantas et al. (2004), a especialização em uma determinada modalidade esportiva não deve ser antecipada, pois a criança deve ter a possibilidade de uma prática variada de atividade física para que desenvolva suas habilidades motoras de forma ampla, o treinamento deve obedecer a ordem das etapas e obedecer a um processo lento e gradual de aumento do trabalho aplicado para não sobrecarregar o organismo. Quadro 5 - Direcionamento para as provas específicas no atletismo Ideias centrais Frequência % A menos de três anos 5 83,3% Aos poucos 1 16,6% Assim sendo, é importante ter percebido que, da amostra selecionada, apenas uma atleta sempre treinou para as provas de meio fundo e fundo, ao passo que as demais responderam que essa especialização ocorreu de forma gradual, sendo que, a especialização, propriamente dita, se deu a menos de três anos. Sendo assim, se nota que o processo de desenvolvimento destes talentos ocorreu de forma progressiva e adequada aos níveis de desenvolvimento para a faixa etária, indo ao encontro do que recomenda a literatura. Dantas et al. (2004), afirmam que o período de especificidade do treinamento deve acontecer por volta dos 18 anos de idade para homens e 16 anos para mulheres. De acordo com o relato das atletas, a maior parte se especializou, portanto no período adequado. Motivos que ajudaram a manter o interesse no atletismo De acordo com Massarella e Winterstein (2009), as pessoas podem praticar determinada atividade por diversos fatores, mas só permanecerão na mesma se tiverem motivações e esta pode acontecer por situações extrínsecas ou intrínsecas. 9

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Quadro 6 - Fatores emocionais e o interesse no atletismo Idéias centrais Frequência % Conquistas 4 66,6% Gostar de correr 2 33,3% Dedicação 1 16,6% Apoio do técnico 1 16,6% Corroborado este pensamento, o presente estudo verificou, que todas as atletas tiveram influencias motivacionais contribuindo para sua permanência no esporte. O que se percebeu, de forma geral é que algumas atletas se motivaram a continuar devido a fatores extrínsecos e outras por fatores intrínsecos e extrínsecos. Sendo assim, se confirma o exposto por Moraes et al., 1999 apud Massa (2006) para os quais o sucesso do individuo talentoso dependerá do seu comprometimento, motivação e paixão pela sua modalidade, como também o apoio da família e de bons treinadores. Aspectos financeiros Quadro 7 - Discurso acerca dos aspectos financeiros Inicio Dias atuais Ideias centrais FQ % Ideias centrais FQ % Não recebia nada 3 50% Salário da equipe 3 50% Recebia pouco 3 50% Lei do governo 2 33,3% Aumentou com os resultados 6 100% Patrocínios Individuais 2 33,3% Todas as atletas recebiam nenhum ou pouca ajuda financeira no início de sua carreira esportiva, passando a receber este apoio em virtude de seus resultados atléticos. Atualmente (2) atletas recebem bolsa de leis de incentivo, que é o programa do governo que distribui ajudas financeiras mensais aos atletas que se destacam nas modalidades e não tem patrocínios (PIERANTI e ALVES, 2006) comprovando a importância dos incentivos municipais e estatais no incentivo ao esporte, ao passo que as demais recebem salário de suas equipes e duas tem patrocínio individual. A literatura reitera essas percepções aos afirmar que, no atletismo, os atletas, na maioria das vezes, recebem apenas uma ajuda de custo e não salário, portanto é comum buscarem patrocínios individuais e ajuda financeira através de leis de incentivo ao esporte para que possam se sustentar. Até mesmo os atletas já consolidados na modalidade não recebem segundo Miranda (2007), ajuda equivalente aos seus méritos. Genética x meio ambiente De acordo com Dantas et al. (2004), o fator genético é a base hereditária do organismo, portanto o campeão já nasce com um potencial genético diferenciado, porem o atleta será a soma de suas potencialidades genéticas e as experiências vivenciadas pelo meio. 10

Quadro 8 - Relação genética x meio ambiente e o talento na modalidade Ideias centrais Frequência % Genética 4 66,6% Treinamento 3 50% Força de vontade 2 33,3 Incentivo da família e/ou técnico 1 16,6 Apesar disso, a maioria das atletas atribui o seu talento aos treinamentos e ao seu potencial genético. Dois destacam seu esforço, talento e capacidade. Na história de vida de atletas brasileiros com potenciais olímpicos, sempre está presente em seus discursos a superação, determinação e a importância de terem persistido, apesar de todas as dificuldades impostas, para que, então, atingissem o alto desempenho no esporte (RUBIO e SILVA, 2003; MASSA, 2006). Três atletas acreditam na genética favorável como um fator importante. De acordo com Masseto et al. (2007), o fator genético pode ser um aspecto diferencial para determinação do talento, mas só poderá se efetivar mediante á situações e ambientes favoráveis, porém este não pode ser apontado precocemente. Apenas uma atleta destaca também a importância do técnico e da família, confirmando a presença de motivações externas para se atingir os objetivos. Expectativas individuais em vistas aos Jogos Olímpicos Rio-2016 Quadro 9 - Expectativas em relação às Olimpíadas Rio-2016 Ideias centrais Frequência % Espera participar 6 100% Espera conquistar medalhas 2 33,3% Todas as atletas esperam participar das Olimpíadas Rio-2016, mas entendem que não é um processo tão fácil e que por isso vão treinar muito para conseguir este feito. A maioria das atletas (4) se satisfaz apenas com a possibilidade de participação e outras (2) almejam também o pódio. De acordo com a literatura, as atletas estão corretas em reconhecer que a realização deste mérito irá depender muito de seu processo de treinamento, pois para Vieira e Vieira (2001) a confirmação do talento esportivo depende de um grande empenho na sua preparação. Preparação á longo prazo para os Jogos Olímpicos Rio- 2016 Quadro 10 - Preparação para Jogos Olímpicos Rio-2016 Idéias centrais Frequência % Não esta realizando preparação 6 100% Vai começar a treinar 2 33,3% Com os resultados já esta se preparando 2 33,3% 11

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Nenhuma das atletas tem conhecimento de estar realizando algum treinamento especifico visando os Jogos Olímpicos Rio-2016, mas acreditam que vão começar a treinar nos anos subsequentes. A maior parte das atletas está realizando treinamento específico visando competições mais próximas. Estes relatos, de certa maneira, vão de desencontro a literatura tendo em vista que, parece não existir uma organização de desenvolvimento á longo prazo, para que os atletas consigam atingir o ápice de sua performance nos Jogos Olímpicos. A literatura afirma que para o alcance do alto desempenho é necessário organização e planejamento da carreira esportiva se atentando as etapas do aperfeiçoamento que abarca o processo do treinamento (BORIN e GONÇALVES, 2004), sendo assim com a influência de um ambiente favorável e a realização de uma preparação através de um processo contínuo (RÉ, 2010). Esse processo deve ser realizado através de um treinamento á longo prazo (TLP) realizado de forma planejada e sistemática para que então favoreça o desenvolvimento dos atletas (SILVA et al., 2003). Portanto para o alcance da alta performance é necessário um treinamento de muitos anos, em algumas situações pode ser necessário até dez anos de trabalho (PLATONOVET et al., (SD) apud, BORIN e GONÇALVES, 2004). Apoio visando Jogos olímpicos Rio-2016 Nesta questão o objetivo se pauta em compreender se as atletas têm recebido algum apoio específico visando sua participação nos jogos olímpicos Rio-2016 para que possam se desenvolver. Quadro 11 - Apoio especifica visando a preparação das atletas para os Jogos Olímpicos Rio-2016 Ideias centrais Frequência % Nenhum apoio 5 83,3% Patrocínio até 2016 1 16,6 A maioria das atletas (5) não recebe nenhum apoio especifico visando os Jogos olímpico Rio-2016, apenas (1) atleta tem contrato com patrocinador até 2016. O relato das atletas confirma a visão de Miranda (2007) para o qual o apoio financeiro recebido pelos atletas da modalidade de atletismo é escasso. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar da grande preocupação existente, nos dias atuais, em investir nos talentos do esporte brasileiro para que o país possa ser bem representado (conquistar medalhas) nos Jogos Olímpicos Rio- 2016, o Brasil ainda possui um sistema de detecção e seleção de talentos assistemático, no qual os indivíduos de alto desempenho aparecem por sorte ou ao acaso. 12

Porquanto nesta pesquisa notou-se que os indivíduos que conseguiram participar deste processo, participaram de uma iniciação esportiva na qual desenvolveram suas potencialidades de forma contínua e com aumento progressivo de cargas, respeitando seu amadurecimento com isso as conquistas esportivas ocorreram também de forma continua e progressiva. Contudo, pode se destacar que, em alguns casos, no atletismo os profissionais que trabalham com a base têm pautado seu trabalho num método que parece adequado proporcionando aos indivíduos desenvolver progressivamente suas potencialidades. As atletas desta pesquisa se mostraram talentosas desde o inicio de sua trajetória na modalidade e por isso foram tendo ajuda financeira de acordo com seus méritos conquistados, dentro disso é possível perceber que os indivíduos que tiverem possibilidade de se desenvolver tardiamente podem ser excluídos a medida que não terão ajuda financeira para se manterem no esporte, sendo assim se percebe no Brasil a falta de um processo de formação esportiva que apoie muitos indivíduos num (TLP) para que todos tenham possibilidades de se desenvolver em amplitude, objetivando conquistas a longo prazo em competições de maior prestigio como os Jogos Olímpicos. Porém mesmo as atletas, aqui estudadas, que já possuem resultados expressivos nas suas respectivas categorias, não se veem como participantes ou apoiadas em um processo de desenvolvimento em longo prazo para que em 2016 estejam prontas e preparadas para representar bem o país nos Jogos Olímpicos. Diante destes fatos muitos resultados do esporte brasileiro são originados do talento e determinação pessoal de alguns atletas e treinadores e, portanto é explícita a necessidade de uma organização mais sistemática do esporte brasileiro, com condições para difundir o esporte de base e dar subsídios para consolidação do esporte de alto rendimento garantindo aos atletas o suporte indispensável para seu sucesso com a devida compensação de seus valores e méritos. REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. ed., rev. e atual. Lisboa: Edições 70, 2009. BOHME, Maria Tereza Silveira. O tema talento esportivo na ciência do esporte. Revista Brasileira de ciência e movimento, v.15, n.1, p.119-126, 2007. Disponível em: http://portalrevistas.ucb.br/index.php/rbcm/article/view/738/741 Acesso em: 15 de janeiro de 2011. BOJIKIAN, João Crisóstomo Marcondes; SILVA, André Vicente Oliveira da Silva; PIRES, Lívia Cristina; LIMA, Danilo Anderson; BOJIKIAN, Luciana Perez. Talento esportivo no 13

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