AS CONTRIBUIÇÕES DAS INTERAÇÕES NO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM PARA A PRÁTICA AVALIATIVA EM EAD RESUMO



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Transcrição:

AS CONTRIBUIÇÕES DAS INTERAÇÕES NO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM PARA A PRÁTICA AVALIATIVA EM EAD Sandra da Silva Santos 1 UFPE sandra@ce.ufpe.br Verônica Gitirana 2 UFPE verônica@ce.ufpe.br RESUMO O presente artigo visa refletir sobre o processo avaliativo em cursos à distância mediados pela Internet. Para tanto, apresentamos inicialmente uma discussão teórica sobre o tema avaliação da aprendizagem, em especial, no contexto da educação a distância (EaD) e, em seguida, apresentamos uma primeira leitura dos resultados de uma experiência em uma disciplina de um curso de pós-graduação lato sensu, realizado nessa modalidade, para licenciados em Matemática, Física, Química e Biologia. O foco da análise foi a forma com que as interações possibilitadas pela plataforma de ensino adotada podem contribuir para o processo de avaliação da aprendizagem. Identificamos alguns limites e potencialidades das ferramentas para o processo avaliativo. PALAVRAS-CHAVE: Avaliação, Educação a Distância, Ambientes Virtuais de Aprendizagem. INTRODUÇÃO As inovações tecnológicas que permeiam o desenvolvimento da sociedade, em especial a expansão da Internet, têm possibilitado uma maior democratização do acesso à informação, além de estabelecer novas formas de contatos sociais em que a presença física deixa de ser necessária. Diante desse cenário tecnológico que se configura entendemos que muitos dos recursos oferecidos por tais inovações têm contribuído para o desenvolvimento de projetos e programas de educação a distância 1 Mestre em Educação Matemática pela PUC/SP e doutoranda em Educação pela UFPE. 2 Professora e vice diretora do Centro de Educação da UFPE.

2 (EaD) resolvendo um dos problemas cruciais dessa modalidade de ensino, que é a interatividade. A interação (entre professor e alunos, ou ainda, entre os alunos) que faltava nos modelos tradicionais de EaD passa a ser uma das principais características das propostas de cursos a distância que usam a Internet como mediação. Como discute Azevedo (2004), podemos falar de uma EaD antes e depois da aplicação de novas tecnologias, especialmente aquelas ligadas à Internet. Contudo, em se tratando de usar a Internet com fim educacional, é preciso desenvolver ambientes on-line voltados para tal fim. O AVE (ambiente virtual de ensino) que segundo Valente (2003) propicia a interação, a cooperação, a análise, a interpretação, a observação, o teste de hipóteses, a elaboração, a construção de relações que constituem a construção de novos conhecimentos, também recebe outras denominações como Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), Plataforma Virtual ou Plataforma de E-learning. Esses ambientes desempenham um papel crucial em um curso a distância, uma vez que oferecem ferramentas de apoio ao professor e aos estudantes, embora temos observado que muitas dessas ferramentas ainda estão bem aquém das reais necessidades da prática docente. No entanto, por ser cada vez mais crescente o número de propostas de cursos superiores na modalidade a distância, mediados essencialmente pelos recursos da Internet, é que voltamos nosso olhar para as contribuições e limitações de tais recursos em uma das etapas da prática pedagógica: a avaliação da aprendizagem. Na seqüência, apresentamos uma breve discussão sobre avaliação da aprendizagem no contexto da EaD e depois uma análise de uma experiência da nossa prática avaliativa em um curso nessa modalidade. AVALIAÇÃO NO CONTEXTO DA EAD Assim como em um curso presencial, o professor de um curso a distância também precisa planejar, definir objetivos, fazer escolhas didáticas, avaliar sua prática e a aprendizagem dos alunos no decorrer do curso. De todas essas etapas que perpassam a prática educativa, a avaliação, em especial, pode ser um elemento chave para o aprimoramento de um curso a distância. A mesma possibilita reajustes que podem contribuir para a realização de um curso com a qualidade esperada. Considerase, nesse caso, que a execução de um planejamento não seja linear, mas sim perpassada por processos de avaliação, tomadas de decisão, reorientações etc.

3 (LUCKESI, 1998, p. 149). Tal concepção é importante, pois não reduz a avaliação da aprendizagem apenas à análise do desempenho do aluno, mas também à forma como o ensino está sendo conduzido, visando realizar um trabalho orientado para a aprendizagem do aluno. Nessa mesma perspectiva, Gitirana (2002) propõe um trabalho de planejaravaliar-replanejar guiado pela análise da produção dos alunos e, destacando a importância de se estabelecer critérios de avaliação de acordo com os objetivos de ensino, define, ainda, que instrumentos utilizar para avaliar tais critérios. Em se tratando de cursos a distância nos mais diferentes níveis, tais definições e escolhas tornam-se cruciais para que se possa analisar o desenvolvimento do aluno, a partir da sua produção, participação e evolução ao longo das atividades de um curso, possibilitando assim uma avaliação contínua. Análise essa que deve ter um caráter diagnóstico e ter como retorno o alcance dos objetivos traçados tanto para o professor como para o aluno. A regulamentação da EaD no Brasil 3 e a criação da Secretaria de Educação a Distância, tem propiciado uma expansão cada vez maior de cursos formais na modalidade a distância. Preocupada em estabelecer padrões de qualidade para tais cursos, a Secretaria de Educação a Distância do MEC (BRASIL, 2003) elaborou um documento contendo referenciais de qualidade para cursos a distância e dentre as referências, há um item dedicado à avaliação contínua e abrangente. Nosso foco está na avaliação contínua, que privilegia o acompanhamento do processo de aprendizagem do aluno num curso a distância. Em um curso totalmente a distância, como podemos avaliar visando o processo de construção de novos conhecimentos pelos alunos? De que forma podemos analisar seu desempenho, identificar suas dificuldades, seus acertos, seus erros? Se o curso é mediado pela Internet, podemos pensar na riqueza dos recursos que os ambientes virtuais de aprendizagem nos oferecem como ferramentas que podem nos auxiliar na avaliação do processo. Se explorarmos tais recursos em seu potencial, podemos obter informações sobre o progresso do aluno contribuindo para 3 No Brasil a regulamentação se deu a partir do Artigo 80 da Lei de Diretrizes de Base nº 9.394/96, regulamentado através do Decreto 2.494, de 10/02/1998, em que o Ministério da Educação normatizou os procedimentos de credenciamento de instituições para oferta de cursos de graduação e educação profissional tecnológica à distância pela portaria nº 301, de 07/04/1998.

4 uma avaliação contínua, talvez até mais informações que em um curso presencial. No entanto, ainda é muito comum que, nos cursos a distância, os professores adotem uma postura típica da educação presencial, que explora muito pouco os recursos que permitiriam um melhor acompanhamento da aprendizagem dos alunos ou não explicitam os critérios adotados. A fim de acompanhar o desenvolvimento dos alunos é necessário explicitar para si mesmo, e para os alunos, os objetivos de ensino e sob que critérios eles serão avaliados. A falta de explicitação dos critérios utilizados na avaliação não é um problema específico da avaliação em EaD. Berbel (2001) analisou depoimentos de alunos de cursos presenciais do ensino superior sobre a prática avaliativa de seus professores. Os resultados obtidos mostram que os alunos de seu estudo denunciaram a ausência de critérios na avaliação ou o uso inadequado dos mesmos. Em EaD as conseqüências de uma postura como essa pode repercutir até mesmo na evasão dos alunos. Observa-se então a importância de se estabelecer e explicitar aos alunos critérios de avaliação devendo esses estar em consonância com os objetivos definidos e que os alunos conheçam os mesmos. Além de definir claramente os critérios de avaliação e avaliar continuamente é preciso apoiar-se em uma diversidade de instrumentos de avaliação. Cada instrumento de avaliação capta melhor um aspecto do desenvolvimento do aluno. Isto é, um instrumento raramente permitirá que o professor avalie todos os objetivos traçados para o seu curso durante o planejamento. Nessa perspectiva, o professor em um curso a distância deve lançar mão de vários instrumentos para avaliar o desempenho do aluno, desde a produção por ele realizada durante as situações de aprendizagem, até observações sistemáticas da sua atuação nos trabalhos individuais ou em grupo durante o processo de aprendizagem. Nesse caso, as ferramentas de comunicação do ambiente podem ser aliadas na prática avaliativa. A comunicação num curso a distância mediado pelo computador ocorre por meio de ferramentas como e-mail, Chat, fórum, espaço para disponibilizar arquivos, etc. São os registros das participações dos alunos por meio dessas ferramentas que possibilitam ao professor de um curso como esse manter-se informado sobre o processo de aprendizagem de seus alunos, possibilitando uma avaliação contínua. No curso a distância, o qual participamos e apresentaremos alguns resultados a seguir,

5 utilizou-se a plataforma Virtus (Desenvolvida pelo Laboratório de Hipermídia da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE). Dentre as ferramentas disponibilizadas pelo ambiente temos: o Mural Virtual (também conhecida como fórum - ferramenta assíncrona, que permite postar mensagens ou consultá-las a qualquer momento); Sala de Bate-Papo (também conhecida como Chat - ferramenta síncrona, possibilita a conversa entre os participantes em tempo real); Central de documentos (espaço que possibilita aos participantes a troca de arquivos como produções individuais ou materiais para leitura). Na seqüência, apresentamos a descrição dessa experiência usando tais recursos, bem como os principais resultados de uma análise inicial das contribuições e limitações dessas ferramentas para nossa prática avaliativa. A VIVÊNCIA EM UM CURSO A DISTÂNCIA Iremos descrever aqui nossa experiência em um curso de pós-graduação a distância voltado para a formação de tutores para atuarem em cursos de licenciaturas diversas na mesma modalidade. Os alunos eram professores licenciados em Matemática, Física, Biologia e Química. Os dados aqui analisados são referentes a uma das disciplinas oferecidas, Avaliação da Aprendizagem em EaD, que fez parte do primeiro de três módulos do curso e teve carga horária de 30 horas. O objetivo foi estudar as teorias de avaliação da aprendizagem, além da caracterização das formas de avaliação em EaD, por meio da compreensão dos diversos formatos destes cursos, diversas formas de funcionamento e dos diversos papéis assumidos pelo professor e pelo aluno a distância. Proposta de avaliação da disciplina Para que houvesse uma boa interação entre os participantes do curso e um melhor acompanhamento, durante o desenvolvimento da disciplina foram agendados bate-papo diários, de segunda a sábado, em horários diversificados, sempre com uma hora de duração. Foram propostas para serem desenvolvidas seis atividades, no decorrer da disciplina, tendo três textos que serviam de base para os temas discutidos. Em tais atividades eram solicitadas produções individuais dos professores participantes, de modo a revelar seu entendimento e reflexão a respeito dos temas abordados nas leituras e/ou nas discussões ocorridas nos chats. Algumas atividades deveriam ser enviadas como arquivo, para a central de documentos, outras como

6 mensagem para o mural virtual, para que todos lessem e pudesse gerar uma possível discussão. Além dessas atividades, os professores também deveriam realizar uma Atividade Prática de Tutoria, que se tratava de um estudo de caso, avaliando o desempenho de um aluno ao resolver uma prova de sua área. Todas essas tarefas foram consideradas atividades de avaliação e para auxiliar a análise do desempenho de cada aluno durante o desenvolvimento da disciplina, construímos uma tabela de dupla entrada, constando os critérios/objetivos que poderiam ser avaliados por meio das respostas ou dados das atividades propostas. Para possibilitar uma maior interação e um acompanhamento mais individualizado, enviávamos para o e-mail de cada um feedback das tarefas enviadas, contendo nosso parecer. No e-mail fazíamos questionamentos daquilo que não estivesse claro e anexávamos a tabela de avaliação preenchida. Abria-se ainda a possibilidade de troca de e-mails para esclarecer o que fosse necessário, ou aprofundar a discussão no mural virtual ou na sala de bate-papo. Análise das principais contribuições do ambiente para a avaliação Diante desse cenário, a principal preocupação da nossa investigação foi analisar de que forma as ferramentas do ambiente virtual possibilitam que o professor de um curso a distância possa acompanhar o processo de construção dos conhecimentos pelos alunos, obtendo assim subsídios para a realização da avaliação da aprendizagem e, conseqüentemente, o auxiliando durante esse processo. Nessa perspectiva, escolhemos para o presente artigo apresentarmos uma análise inicial das contribuições das interações realizadas na ferramenta Sala de Bate-Papo, por ser o recurso mais comum nos ambientes virtuais de ensino e que mais possibilitou aos alunos manifestarem suas dúvidas e entendimento a respeito das questões abordadas na disciplina. Martins, Oliveira e Cassol (2005) ao relatarem a experiência sobre o uso do chat destacam, entre outros aspectos, a sincronicidade, e reconhecem que tal ferramenta possa ser aproveitada como um instrumento de avaliação em EaD. Em nossa experiência a participação nos chats não usada como um dos instrumentos de avaliação, no entanto, reconhecemos que esta pode ser uma das ferramentas que possibilita uma maior interação com o grupo, contribuindo para uma avaliação processual. Dessa forma, fizemos uma análise do conteúdo dos chats ocorridos sob o ponto de vista de três questões: Questões conceituais, questões

7 processuais e questões da dinâmica do Chat. Na seqüência descrevemos os principais resultados da análise em função de cada uma dessas questões: Questões conceituais esse era um espaço que favorecia a discussão sobre o objeto de estudo da disciplina: avaliação da aprendizagem em EaD. Dessa forma, ao analisarmos o conteúdo dos chats identificamos a concepção dos professores a respeito de avaliação da aprendizagem, seu entendimento sobre os diferentes tipos de avaliação, medidas, instrumentos, critérios, relação com o planejamento. Observamos que muitos entendiam avaliação como um processo, outros como uma atividade muito complexa, alguns associavam avaliação aos instrumentos ou reduziam a avaliação a medidas ou a um meio de progressão. Também era possível identificar alguns casos em que o discurso ainda apresentava-se confuso, como por exemplo, um dos participantes questionou em um dos bate-papo: Um aluno é muito bom, mas geralmente nas avaliações não se dá bem, o que fazer? - F.C. 4. Sua fala dá indícios de uma confusão entre avaliação e o desempenho do aluno em um instrumento de avaliação. Mas logo em seguida, ao ser questionado sobre o que estava chamando de avaliações ele respondeu: Avaliação é o processo trabalhado no dia-a-dia do aluno podendo diagnosticar seus possíveis problemas F.C.. Conflitos como esses podem passar desapercebidos em uma atividade enviada ao professor, mas serem identificados no decorrer de um chat, abrindo a possibilidade para a discussão e esclarecimentos. Também observamos comparações da avaliação em curso presencial e a distância, dúvidas e expectativas em relação ao que será avaliar no contexto da EaD: J.M.: como tutor talvez seja mais fácil, professora, serão apenas 20, hoje trabalhamos com 10 ou 12 turmas de 45 ou 50 alunos. O.: professora, no ensino a distância a prova pode ser abolida? B.: prof. Em certa passagem do texto 2, é citado Méndez para se concluir que o prof na EAD terá condições de conhecer seus alunos tão bem ou (melhor) que na educação presencial. Eu pergunto, de que forma? Como visto no trecho acima, o conteúdo dos chats apresentou um rico material de análise sobre a compreensão dos participantes a respeito das leituras realizadas, dos elementos teóricos abordados e sua relação com a prática. Várias falas dos professores indicavam uma preocupação em como romper com a forma tradicional de 4 Para preservar o anonimato dos professores participantes usaremos apenas as iniciais do nome dos alunos para identificar sua fala e para a professora indicaremos por Prof.

8 avaliar, trazendo à tona a discussão de vários fatores que podem ou não influenciar em nossa prática avaliativa. O professor I.R.F.A. coloca: I.R.F.A.: Como poderemos romper com a avaliação tradicional, baseada em critérios somativos, e adotarmos uma avaliação que requeira um diagnóstico e acompanhamento de aprendizado dos alunos, no momento em que somos pressionados a cumprir uma determinada carga horária e um determinado volume de conteúdo? Questões operacionais classificamos como questões operacionais aquelas mensagens relacionadas ao processo de desenvolvimento da disciplina, participações no ambiente, envio de atividades, dúvidas e dificuldades que poderiam comprometer qualidade do curso. Em análise às interações dos chats ocorridos, identificamos que em vários momentos os professores aproveitavam o espaço para tirar dúvidas sobre envio das tarefas, ou para confirmarem o recebimento e prazos. Em vários momentos podemos extrair mensagens que indicavam a opinião dos professores sobre a experiência como alunos de um curso a distância: A: E aí, rapaz, já terminou todas as atividades? G: Já fiz quase todas, não consegui concluir porque estava viajando. A: Qual foi a mais complicada? Houve alguma mais complicada? G: A. eu particularmente não achei complicadas, apenas trabalhosa. A: É rapaz, exige bastante tempo. G: Quem pensar que atividade a distância é coisa boba, pode mudar de idéia. As referências à experiência no bate-papo eram sempre vistas de forma positiva, embora os problemas com conexão tenham prejudicado algumas vezes: Foi bom o bate-papo, mas não consegui acompanhar, minha conexão está muito lenta G., em outro momento uma professora comentou Esse bate-papo é interessante, pena que já está acabando e é muito rápido. É a primeira vez que participo - R.M.N. As dificuldades técnicas (como problemas com a conexão da Internet ou de familiaridade com a plataforma de ensino) eram as que mais se destacavam, além da questão da dificuldade de administração do tempo. Em um dos bate-papos, quando questionados sobre quais as dificuldades que estavam enfrentando tivemos como resposta: Prof.: Tem sido fácil tirar uma dúvida usando essas mídias? B.: Não. Falta espaço-tempo para esclarecer as dúvidas, e, esse é um recurso às vezes traiçoeiro, como vimos com J. (havia caído a conexão de J. e ele se ausentou do bate-papo por uns instantes, explicando o ocorrido quando retornou) B.: eu digo isso, por que fiz uma pergunta na sala de 2ª feira e logo em seguida minha conexão caiu. (...) e o pior é que a disciplina encerrava naquele dia. Isso gera uma ansiedade e frustração danadas.

9 Os comentários específicos da disciplina também serviam para avaliarmos o desenvolvimento da mesma e possíveis mudanças para um próximo curso, como por exemplo, a reclamação de que eram muitas tarefas para um período curto. Questões da dinâmica do Chat analisamos aqui a forma com que os chats eram desenvolvidos, desde a freqüência dos alunos até a forma com que as interações ocorriam. Em uma turma de 36 alunos, dos 13 chats ocorridos no período da disciplina, tivemos bate-papo de apenas um aluno e a professora como também bate-papo envolvendo treze alunos além da professora. Nos chats com muitos participantes acompanhar o rítmo das discussões tornava-se mais difícil, pois não adotamos a dinâmica de chat moderado (em que o aluno só fala com a permissão do moderador). Mas observamos que os tópicos levantados não eram direcionados apenas à professora, mas também aos participantes de um modo geral ou a um dos colegas em específico. E quando tínhamos um grande número de participantes no chat, nem todos eram ativos todo o tempo. Quanto ao restante da turma que não participou, também admitimos a possibilidade de alguns alunos terem participado apenas lendo as mensagens sem interferir, participando como observador, sem se identificar, e portanto, sem ser percebido. CONSIDERAÇÕES FINAIS A experiência aqui descrita permitiu refletir sobre as diversas potencialidades das mídias, perante os usos feitos. O bate-papo permitiu revelar dificuldades e confusões entre conceitos da avaliação, porém muitas vezes, o entendimento gerado pelo professor a partir da discussão não era passível de se analisar a partir desse instrumento. A central de documentos permitia uma avaliação de reflexões mais aprofundadas, porém como qualquer material escrito, em que os resultados apresentados são os finais, perde-se o processo que algumas vezes foi complementado com o bate-papo. Em cada uma das categorias aqui apresentadas encontramos subsídios que poderiam ser aproveitados para a avaliação da aprendizagem, contudo a plataforma não oferece um recurso que facilite esse tipo de análise. Todo o trabalho de avaliação teve que ser realizado manualmente em uma planilha eletrônica, sem auxílio da plataforma. Embora todos os chats ocorridos possam ser acessados na íntegra pelo professor, podendo inclusive apagar alguma mensagem caso deseje, não é possível

10 fazer uma filtragem pelo conteúdo das mensagens, usando palavras-chave ou frases. Isso de certo facilitaria a análise dos chats como um recurso auxiliar na avaliação da aprendizagem. Além disso, nossa experiência foi com uma disciplina teórica, mas sabemos que os cursos de licenciaturas que têm sido aprovados na modalidade a distância (por exemplo, Matemática, Biologia, Química, Física) apresentam especificidades que uma plataforma com ferramentas baseadas simplesmente na língua materna (como é o caso do chat da nossa experiência) está muito aquém das nossas necessidades para uma compreensão mais completa sobre o entendimento e dúvidas dos alunos no decorrer do curso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, W. Panorama atual da educação a distância no Brasil. In Conect@ -n. 2 - setembro/2000. Disponível em http://www.revistaconecta.com/conectados/wilson_seminario.htm. Acesso em 15 abril 2005. BERBEL, N. A. N. Dimensão Pedagógica. In Avaliação da Aprendizagem no Ensino Superior: um retrato em cinco dimensões. BERBEL, N. A. N., et al. Londrina: Ed. UEL, 2001. BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC). SECRETARIA DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEED). Referenciais de qualidade para cursos a distância. 2003. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seed/index.php. Acesso em nov/2005. GITIRANA, V. Planejamento e Avaliação em Matemática. In Práticas avaliativas e aprendizagens significativas em diferentes áreas do currículo. Organizadores Jansen Felipe da Silva, Jussara Hoffmann, Maria Teresa Esteban. Porto Alegre: Mediação, 2002. LUCKESI, C. C. Avaliação da Aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 1998. MARTINS, J. G.; OLIVEIRA, J. C. e CASSOL, M. P. Chat um recurso educativo para auxiliar na avaliação de aprendizagem baseada na web. 12º Congresso Internacional de educação a Distância A Educação a Distância e a Integração das Americas. 18 a 22 de setembro de 2005 Florianópolis SC. Disponível em http://www.abed.org.br/congresso2005/por/index.htm. Acesso em 7 de novembro de 2005.

11 VALENTE, J. Diferentes Usos do Computador. Disponível em <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/educ27g.htm>, Acesso em 02 jul. 2003.