IV Encontro Nacional sobre Migrações Rio de Janeiro, RJ de novembro de 2005.

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Transcrição:

IV Encontro Nacional sobre Migrações Rio de Janeiro, RJ 16-18 de novembro de 2005. Subsídios para o estudo dos deslocamentos pendulares nas regiões metropolitanas paulistas: São Paulo, Campinas e Baixada Santista. Daniel Pessini Sobreira* *Mestrando em Demografia IFCH/UNICAMP. Bacharel em Ciências Sociais IFCH/UNICAMP.

Subsídios para o estudo dos deslocamentos pendulares nas regiões metropolitanas paulistas: São Paulo, Campinas e Baixada Santista. Introdução A bibliografia que trata exclusivamente da mobilidade pendular no Brasil é um tanto exígua, não obstante esse fenômeno esteja intimamente ligado à dinâmica demográfica, econômica e social das principais áreas urbanas do país, particularmente à das regiões metropolitanas. Nessas regiões, a concentração de grandes volumes populacionais em áreas extensas e frequentemente com um elevado grau de conurbação, tornam o problema do deslocamento espacial um dos mais prementes. A necessidade de deslocamento de uma expressiva parcela da população não é plenamente atendida pelo sistema público de transportes e as alternativas quase sempre geram conseqüências adversas como é o caso, por exemplo, do transporte individual. Em meio às questões correlatas ao problema do deslocamento espacial diário em uma região metropolitana podemos citar, dentre outras, a poluição, o tempo despendido nos trajetos e, em última instância, a dificuldade de se conseguir emprego devido às distâncias a serem percorridas. Apesar dessa miríade de questões anteriormente descritas, a mobilidade pendular não foi sistematicamente trabalhada nos meios acadêmicos brasileiros, tendo sido, na melhor das hipóteses, abordada marginalmente em alguns trabalhos. Não se pode dizer que a inópia de trabalhos a seu respeito seja causada por se tratar de um fenômeno recente, pois, pelo contrário, volumes elevados de pessoas realizam esse tipo de deslocamento nas principais áreas urbanas do país há pelo menos 30 ou 40 anos. Acreditamos que essa escassez deve-se mais à falta de dados disponíveis acerca da mobilidade pendular e à dificuldade de se obtê-los que à falta de interesse dos pesquisadores. Contudo, alguns dados sobre os deslocamentos pendulares tem sido produzidos já há algum tempo, por exemplo, a Pesquisa Origem-Destino, realizada decenalmente desde 1967 pela Companhia do Metropolitano em São Paulo; há também a disponibilidade de informações a seu respeito nos censos de 1970, 1980 e 2000, sendo que no Censo de 1991 a sua aferição foi descontinuada. Recentemente, realizou-se uma pesquisa origem-destino para a Região 2

Metropolitana de Campinas, fato que demonstra a crescente importância de se mensurar os fenômenos relacionados à mobilidade intra-urbana da população. Acreditamos que a disponibilidade desses dados não pode ser menosprezada, já que o surgimento de novas pesquisas e a re-inclusão de um quesito sobre a mobilidade pendular no Censo 2000 demonstram não apenas o aumento do interesse por essa questão, mas também devem encorajar os pesquisadores ao seu estudo. Por esses motivos apresentamos a seguir uma breve síntese de algumas proposições empíricas e teóricas que poderão ser de alguma monta para a compreensão desse fenômeno nas três regiões metropolitanas paulistas. Estruturação econômica paulista: desconcentração ou integração? De acordo com Cano (1998) antes de 1930 a economia brasileira não estava integrada, de modo que as diversas regiões do país trilharam caminhos próprios, o que permitiu a constituição de suas particularidades tanto no tocante à configuração demográfica, quanto produtiva e social. Contudo, após 1930 o processo de integração do mercado nacional foi modificando o perfil das regiões na medida em que estas se articularam e passaram a interagir com o estado de São Paulo, que polarizou a estrutura produtiva nacional. A despeito da intensa concentração das atividades industriais em São Paulo, o núcleo da acumulação produtiva do país, ao crescer imprimia também determinações (regionalmente diferenciadas, é claro) de crescimento aos seus complementos econômicos espaciais (as demais regiões). Assim, embora a dinâmica de acumulação fosse concentradora, em seus resultados concretos, articulava, entretanto, também o crescimento regional. (CANO, 1998, p. 313.) Após esse período ocorre um processo de desconcentração produtiva. Tal processo surge num contexto de consolidação da matriz industrial brasileira, momento este em que [...] a acumulação exigia um esforço periférico de articulação ainda mais intenso [...] (CANO, 1998, p. 313). Entretanto, apesar da perda relativa da preponderância do Estado de São Paulo e principalmente da Região 3

Metropolitana de São Paulo em relação ao interior do Estado e às demais regiões do país devido à desconcentração da produção, não houve conseqüências negativas para os dois primeiros, visto que seu crescimento econômico continuou a elevadas taxas, juntamente com as demais regiões brasileiras. Já na década de 1980, com as diversas crises que ocorreram, o arrefecimento do crescimento paulista inibe também o crescimento periférico, de modo a provocar uma inflexão no processo de desconcentração econômica (Cano, 1998). É justamente nesse momento em que ocorrem as quedas generalizadas na migração para o estado de São Paulo e o aumento da migração intrametropolitana, conforme propõem Cunha (1994), Baeninger (2001) e Jakob (2001) dentre outros. Diniz (1995) interpreta essa situação de outra maneira. Segundo sua tese da concentração poligonal a reestruturação produtiva proporcionou uma série de mudanças nos requisitos locacionais das atividades econômicas de modo a suscitar uma reconcentração de atividades em localidades que oferecem vantagens comparativas com base em fatores como: base educacional ou cultural, disponibilidade de centros de pesquisa e ensino, concentração de recursos de pesquisa, presença de parques tecnológicos, existência de serviços especializados, mercado de trabalho profissional e qualificado, relações industriais geograficamente articuladas, facilidade de acesso etc. Ao analisarem o comportamento da indústria paulista ao longo da década de 90, Matteo e Tapia vão no mesmo sentido, afirmando que há uma desconcentração limitada [...] assim como há um movimento de reconcentração regional relacionado às novas vantagens locacionais ligadas à infra-estrutura de telecomunicações, pesquisa científica e tecnológica, recursos humanos qualificados, redes de fornecedores etc. (MATTEO; TÁPIA, 2002, p.89). Esse processo decorre 4

de um rearranjo produtivo no qual se integram a estrutura industrial e a de serviços, além de uma aplicação intensiva de inovações produtivas e tecnológicas. No tocante a evolução da atividade industrial no interior do estado de São Paulo eles são taxativos: [...] deve-se ter em conta que ela se limita quase exclusivamente a regiões que circundam a região metropolitana, formando com ela um espaço produtivo ampliado e integrado. A interiorização do desenvolvimento não é disseminada pela totalidade do território paulista, mas limitada às regiões que já possuíam, desde o início da industrialização do estado (cf. NEGRI, 1988; CANO, 1997), as condições iniciais de desenvolvimento industrial (sobretudo aquelas com concentração de capital cafeeiro) e que estivessem articuladas, através de infra-estrutura adequada, à região metropolitana de São Paulo, excluindo as demais regiões do interior deste complexo industrial. Assim, a industrialização dessas regiões não deve ser entendida como uma alternativa à da RMSP, mas como uma integração ao espaço produtivo da metrópole. Ao analisar-se a tendência dos investimentos industriais em São Paulo, verificou-se uma grande probabilidade de manutenção dessa configuração espacial, privilegiando as áreas em que a indústria paulista mostra-se mais dinâmica, excluindo as demais áreas do interior paulista. (MATTEO; TÁPIA, 2002, p. 90). A tendência à reconcentração produtiva, de acordo com esses autores, reflete a lógica da acumulação capitalista na forma de uma logística estruturadora da organização espacial das atividades produtivas em termos de vantagens comparativas de regiões que já haviam acumulado capital suficiente, nas suas diversas formas, para integrar-se às regiões produtivas centrais. É interessante notar que há uma inter-relação entre as regiões metropolitanas em São Paulo, de modo que suas dinâmicas (econômicas, sociais, demográficas, urbanas etc.) não são totalmente independentes entre si, fazendo parte, talvez, de um processo maior, que envolva todo o estado. Dinâmica migratória: das modificações nos fluxos migratórios paulistas às Regiões Metropolitanas. Acreditamos que a mobilidade pendular está profundamente ligada, pelo menos no caso do Estado de São Paulo, à evolução dos fluxos migratórios e à 5

urbanização dos seus principais municípios, e, especialmente ao processo de metropolitanização (CASTELLS, 1983), que ocorreu primeiramente no município de São Paulo e nos de seu entorno (atual Região Metropolitana de São Paulo) e em seguida nas áreas de maior crescimento no interior do estado, que viriam a se tornar regiões metropolitanas também, como Campinas e Santos. Segundo Cunha (2001) a migração interna desempenhou um papel crucial no processo de crescimento e expansão das áreas metropolitanas. Tal conclusão surgiu a partir da constatação de que a redução do crescimento metropolitano ocorreu concomitante à redução dos fluxos migratórios interestaduais 1. As áreas periféricas, contudo, continuaram a crescer devido principalmente à migração intrametropolitana, que tomou contornos de um processo centrífugo, potencializando ainda mais o crescimento da mancha urbana, primeiramente em direção às áreas vizinhas ao município central e depois às áreas mais distantes. A isto se deve o crescimento maior das áreas periféricas em detrimento das áreas centrais 2. Ainda de acordo com Cunha, trata-se, portanto, não de um movimento de transferência populacional de um território para outro, mas da incorporação desses últimos ao processo de formação da grande cidade metropolitana. (CUNHA, 2001, p.33). Em se tratando da mobilidade pendular, novamente Cunha (1993), ao estudar a sua ocorrência na região metropolitana de São Paulo chega a algumas conclusões muito instigantes, especialmente se as relacionarmos com o processo de redistribuição populacional no âmbito dessa RM. Segundo ele, em um terço dos municípios da RMSP cerca de 50% dos habitantes cuja residência anterior foi o município de São Paulo continuavam trabalhando ou estudando na Capital, sendo que muitos desses municípios estavam entre aqueles que receberam os maiores 1 Ele não desconsidera a queda generalizada na fecundidade verificada com o Censo de 1991. 2 Cunha (2001) utiliza as noções de centro e periferia como indicadores da posição geográfica, sem nenhuma conotação socioeconômica, conforme ressalva do próprio autor. 6

contingentes populacionais da Capital durante a década de 70. A pendularidade dependeria não somente das características sócio-econômicas dos municípios de residência, mas também da sua distância em relação ao local de trabalho. Esses migrantes pendulares 3 que eram em torno de 250 mil pessoas, correspondiam a 47% dos movimentos intrametropolitanos da década de 70 cuja origem foi o município de São Paulo. Essas conclusões nos permitem vislumbrar uma certa relação entre o processo de redistribuição populacional e o de metropolitanização 4 de forma a integrar e coordenar os mais diversos fluxos (entenda-se aqui, produção, mão-deobra, consumo, capital etc.). Em outras palavras, isto sugere uma relação estreita entre a mobilidade pendular e o processo de redistribuição populacional observado no Estado de São Paulo ao longo dos últimos 30 anos, sendo que, desse modo, a mobilidade pendular não pode ser completamente entendida dissociada desse processo. Ao analisar os processos de redistribuição espacial da população no estado de São Paulo, Baeninger (2001) também aponta na direção de uma nova configuração demográfico-espacial, devido aos crescentes fluxos migratórios partindo da RM de São Paulo já na década de 1970 em direção ao interior. É nesse contexto que ocorre a urbanização e industrialização das cidades médias e pequenas de algumas regiões do interior do estado, com especial destaque para aquelas que faziam fronteira com a RM paulistana, entre as quais se destacam Campinas e Santos, aonde a urbanização e a industrialização intensificam-se, 3 Expressão utilizada por Cunha (1993). Aproveitamos esta oportunidade para dizer que não encontramos nenhuma discussão a respeito da utilização dos termos mobilidade pendular, migração pendular e deslocamento pendular. Acabamos por adotar o termo mobilidade pendular porque acreditamos ser o que apresenta menos problemas de definição. Por outro lado, o termo migração pendular nos parece um tanto problemático, visto que a noção de migração, que integra a expressão, sugere mudança de domicílio, o que não ocorre no fenômeno da mobilidade pendular. O termo deslocamento pendular utilizado por Ântico (2003) parece estar mais afinado com terminologia utilizada por Villaça (1998). Contudo, ainda preferimos a expressão mobilidade pendular visto que por mobilidade entendemos uma característica essencial e definidora da população envolvida no fenômeno: aqueles que podem mover-se de suas residências ao local de realização das atividade, sendo esta inclusive, uma variável que possui reflexos sócio-econômicos sobre a população em questão. 4 O termo metropolitanização está ligado à conceituação de região metropolitana proposta por Castells (1983). 7

ganhando contornos de metropolitanização. Tal tendência confirmou-se na década seguinte. Além disso, no caso de Campinas pode ser possível observar, já a partir dos anos 70 um processo similar ao da RM de São Paulo, com o maior crescimento das áreas periféricas em detrimento do município-sede, sendo que essa tendência confirmou-se durante a década de 80, evidenciando maiores saldos migratórios nos municípios do entorno. A migração intrametropolitana desempenha um papel importante nesse contexto, impulsionando a expansão metropolitana. O processo centrífugo de redistribuição populacional a partir do município-sede em direção aos demais municípios da região metropolitana descrito por Cunha (2001) também ocorre na RM de Campinas, com intensidade crescente desde a década de 70. Esse processo evidencia não apenas a perda de capacidade do município-sede de receber população, mas principalmente o crescimento maior dos municípios do seu entorno. No tocante à mobilidade pendular, Baeninger (2001) faz algumas considerações que serão bastante úteis aos propósitos deste projeto. O movimento pendular constitui, hoje, um dos mais importantes fenômenos da região; esse tipo de movimento também se diferencia quando consideradas as características dos municípios no contexto econômico metropolitano e a inserção da população ocupada neles residente. A integração do mercado de trabalho metropolitano propicia esse fenômeno que, associado à necessidade de buscar locais de moradia mais baratos, marca o cotidiano de grande número de trabalhadores. A integração do mercado regional, a expansão da mancha urbana de todos os municípios da região, a localização das indústrias ao longo das principais rodovias (Anhangüera, Bandeirantes, Dom Pedro I, Santos Dumont, Campinas Mogi-Mirim) e nas proximidades do Aeroporto de Viracopos foram fatores que impulsionaram a formação desse espaço urbano-metropolitano e contribuíram para relativa desconcentração populacional do município sede em relação aos municípios vizinhos. (BAENINGER, 2001, p. 344) Essa passagem evidencia a ligação entre a mobilidade pendular e a forte integração e interdependência que caracteriza as regiões metropolitanas. Desse modo, pode-se dizer que o crescimento da mobilidade pendular ocorreu mais em função da integração metropolitana do que da dispersão espacial das atividades, 8

uma vez que esse processo possibilitou uma maior facilidade de deslocamento dos contingentes de mão-de-obra para seus destinos de trabalho. A Região Metropolitana da Baixada Santista é um caso peculiar, visto que, conforme exposto por Jakob (2001), possui uma grande população flutuante, além de possuir limites físicos quase intransponíveis (a Serra do Mar) o que limita suas possibilidades de expansão. No entanto, o estudo citado demonstra a ocorrência de processos similares aos das RMs de São Paulo e de Campinas. O alto grau de urbanização e conurbação fazem com que Santos e São Vicente desempenhem o papel de centro da RM de acordo com Jakob. O crescimento da periferia está manifesto, com os municípios periféricos crescendo a taxas superiores aos dos centrais e deve-se, sobretudo à disponibilidade de rodovias que cruzam a RM. De acordo com Jakob, a despeito da queda da migração interestadual para a região, houve um aumento da migração intra-estadual, sobretudo vinda da RM de São Paulo. Novamente Cunha (1994) nos oferece algumas conclusões sobre a relação entre a redistribuição populacional (em especial a migração intrametropolitana) e o surgimento da mobilidade pendular. Segundo ele [...] o efeito e a relevância da migração intrametropolitana podem ser percebidos sobre várias óticas. Este fenômeno adquire uma função bastante clara e fundamental na dinâmica regional seja esta demográfica, urbana ou sócio-econômica a partir tanto da participação do crescimento demográfico dos municípios, quanto do impacto na redistribuição espacial da população e conseqüente desconcentração e expansão urbana, ou, em termos gerais, através do papel decisivo na configuração do espaço metropolitano. [...] a intensificação dessa mobilidade certamente foi um dos condicionantes do surgimento e/ou crescimento das formas de movimentação populacional bastante típicas de regiões com grande nível de integração, como é o caso da migração pendular. Esta não só reflete o distanciamento progressivo entre o lugar de moradia e o de trabalho, fruto da não-coincidência dos padrões de distribuição da população e da atividade econômica e social dentro da Região Metropolitana, mas também elementos ligados à forte segregação espacial da população. (CUNHA, 1994, p. 122). 9

Isso ajuda a explicitar a relação entre a migração intra-metropolitana e o espraiamento urbano em direção às áreas periféricas com o incremento e a distribuição dos fluxos de mobilidade pendular. Cunha menciona também questões ligadas à segregação espacial, o que, muito provavelmente, influencia fortemente a escolha do local de moradia face à necessidade de deslocamento. Nesse sentido, a tese de doutoramento de Antico (2003) busca analisar os deslocamentos pendulares no interior da Região Metropolitana de São Paulo como um indicativo de desigualdades e heterogeneidades sociais presentes no interior daquela metrópole. A partir da caracterização sócio-demográfica dos diversos fluxos pendulares feita principalmente com informações da Pesquisa Origem-Destino, a autora tenta desvendar algumas nuances do processo de transformação e diferenciação sócio-espacial: [...] a problematização dos deslocamentos pendulares na RMSP relacionase a aspectos ligados à produção social do espaço urbano, como a espacialização das atividades econômicas e dos locais de moradia, gerando a configuração de locais com funções distintas, permeados pelo acesso diferenciado à terra e pela divisão regional do trabalho metropolitano. Os movimentos pendulares estão, assim, relacionados a um processo mais amplo de ocupação, estruturação e expansão da RMSP, onde as questões relacionadas à moradia e ao emprego colocam-se como importantes dimensões de análise para o entendimento do papel e implicações desses deslocamentos diários no processo de configuração e estruturação da área metropolitana, resultando em dinamismos diferenciados. (ANTICO, 1994, pp. 17-18.) Por conseguinte, esta e as demais proposições podem ser sintetizadas de modo a dizer que o ritmo de espraiamento das regiões metropolitanas, em termos demográficos, que fora bastante favorecido pela migração interna, não guarda uma relação direta com a distribuição das atividades econômicas. Desse modo, a mobilidade pendular estaria ligada à expansão urbana e ao processo de transformação e incorporação de novas áreas urbanas em áreas metropolitanas. 10

Algumas Considerações Teóricas O fato de apresentar-se em maior escala nas regiões metropolitanas sugere que a mobilidade pendular possui alguma conexão com os processos que engendram a constituição e orientam a lógica dessas regiões. Castells (1983) sustenta que uma região metropolitana é um agrupamento urbano no qual a distribuição das atividades independe de fatores geográficos, estando condicionada principalmente pela facilidade de comunicação interna. Entenda-se aqui comunicação em sentido amplo, que envolve desde facilidades de transporte até telecomunicações. Apesar da independência em termos geográficos, há uma forte interdependência em termos funcionais, e até mesmo uma hierarquização, que pode ocorrer em diversos âmbitos (produtivo, administrativo, político, econômico etc.). Tais características serviram de ponto de partida para um aprofundamento conceitual bastante rigoroso proposto por Villaça (1998). Ele forja o termo espaço intra-urbano como uma distinção etimológica e conceitual contra o uso errôneo do termo espaço urbano. Segundo ele, o termo espaço urbano, tal qual tem sido utilizado, refere-se a processos sócio-econômicos circunscritos em âmbito regional. O espaço urbano seria um dos principais fatores estruturantes desses processos, mas não a sua dimensão analítica básica. Desse modo, o erro consistiria em tomar por urbano algo vai além dessa dimensão. A distinção básica entre o espaço intraurbano e o espaço regional é que o primeiro estrutura-se em termos do deslocamento de pessoas (para trabalho, consumo, estudo, lazer, etc.) ao passo que o espaço regional estrutura-se principalmente em termos de comunicação (fluxos de informações, capital, etc.). Segundo Villaça, isso permitirira distinguir o urbano (intra-urbano) do regional enquanto dimensões analíticas. 11

O termo espaço intra-urbano refere-se a um espaço socialmente construído, dentro do qual o que importa são as localizações, em oposição aos locais. Por localização Villaça entende um ponto nesse espaço, no qual está disponível uma rede de infra-estrutura urbana articulada com as possibilidades de manutenção dos fluxos que cruzam o espaço intra-urbano de um ponto a outro (principalmente fluxos de pessoas) de modo a proporcionar uma otimização na alocação do tempo dos deslocamentos dentro desse espaço. O termo localização, assim proposto, não diz respeito a quaisquer divisões arbitrárias do espaço distingue-se em relação às demais localizações em termos de sua posição relativa dentro do espaço intra-urbano, valorizando-se ou desvalorizando-se justamente devido a essa posição. Em última instância, fundamenta-se em termos de uma hegemonia na apropriação do espaço. Segundo Villaça Aparece assim a questão da localização os locais onde os produtos são produzidos e consumidos. A localização é relação a outros objetos ou conjuntos de objetos e a localização urbana é um tipo específico de localização: aquela na qual as relações não podem existir sem um tipo particular de contato: aquele que envolve deslocamentos dos produtores e dos consumidores entre os locais de moradia e os de produção e consumo. Com isso, temos dois outros tipos de espaço: os que envolvem deslocamentos as localizações e os que não envolvem deslocamentos os objetos em si. Nestes últimos, o espaço é dado por relações visuais ou por contato direto; na localização, as relações se dão através dos transportes (de produtos, de energia e de pessoas), das comunicações e da disponibilidade de infra-estrutura. Note-se, entretanto, que o transporte de energia, as comunicações e a infra-estrutura podem inexistir no espaço urbano, como em aldeias primitivas ou em partes de espaços urbanos algumas décadas atrás. O transporte de pessoas não. (VILLAÇA, 1998, p. 23). Essa formulação nos parece bastante útil para embasar a análise dos movimentos pendulares, uma vez que estes ocorrem justamente em função dos fatores estruturantes do espaço intra-urbano. Além do mais, a noção de localização, conforme proposta por Villaça nos permitirá explicar as especificidades de cada um dos fluxos pendulares, haja visto que estes se dão entre essas localidades. 12

Conseqüentemente, segundo o autor, o espaço intra-urbano organiza-se em função desses fluxos (de pessoas, energia, mercadorias) entre localizações, o que seria de grande valia para explicar as relações entre os deslocamentos pendulares e a estruturação do espaço urbano em termos demográficos. As proposições de Villaça guardam grande semelhança com a formulação teórica do espaço social de Pierre Bourdieu, segundo a qual os agentes sociais que são constituídos como tais em e pela relação com um espaço social (ou melhor, com campos) e também as coisas na medida em que elas são apropriadas pelos agentes, portanto constituídas como propriedades, estão situadas num lugar do espaço social que se pode caracterizar por sua posição relativa em relação a outros lugares (acima, abaixo, entre, etc.) e pela distância que o separa deles. Como o espaço físico é definido pela exterioridade mútua das partes, o espaço social é definido pela exclusão mútua (ou a distinção) das posições que o constituem, isto é, como estrutura de justaposição de posições sociais. (BOURDIEU, 1998, p. 160). Praticamente todos os elementos propostos por Villaça encontram-se na formulação de Bourdieu: a localização num espaço cujas características são determinadas justamente por sua posição relativa às outras localizações; os fluxos estruturantes do espaço, que em Bourdieu encontra-se expressa pela interação entre os agentes que nele atuam. Essa apropriação de posições no espaço social seria atribuída em termos do quantum das diversas formas de capital disponíveis pelos agentes sociais (capital cultural, simbólico, social, econômico, etc.). Esse quantum conferiria aos agentes competências legítimas em termos de apropriação e uso do espaço em relação aos demais agentes sociais. Essas competências legítimas se traduziriam, por fim, na hegemonia exercida por alguns agentes ou grupos sociais sobre determinadas localizações no espaço. Destarte, o espaço social se traduziria no espaço urbano, pois o espaço social reificado (isto é, fisicamente realizado ou objetivado) se apresenta, assim, como a distribuição no espaço físico de diferentes espécies de bens ou de serviços e também de agentes individuais e de grupos fisicamente localizados (enquanto corpos ligados a um lugar permanente) e dotados de oportunidades de apropriação desses bens e desses serviços mais ou menos importantes (em função de seu capital e 13

também da distância física desses bens, que depende também de seu capital). É na relação entre a distribuição dos agentes e a distribuição dos bens no espaço que se define o valor das diferentes regiões do espaço social reificado. (BOURDIEU, 1998, p.161). A adoção de uma perspectiva capaz de conjugar as formulações de Villaça e Bourdieu seria a atitude mais adequada para tentar explicar o fenômeno da mobilidade pendular vis a vis a redistribuição espacial da população nas regiões metropolitanas. Ajudaria a dar uma explicação das relações que estruturaram esses fluxos sem que incorrêssemos num reducionismo econômico. Ajudaria também a compreender melhor a distribuição desses fluxos ao longo dos espaços onde eles ocorrem, explicando porque algumas áreas recebem pessoas e outras as perdem, especialmente devido a sua precisão conceitual (p. ex. Se pensarmos na distribuição dentro de um município, das pessoas que trabalham em outro, verificaríamos que essa distribuição não apenas seria heterogênea, mas também não estaria contida pelas divisões (arbitrárias) internas desse município, como por exemplo, bairros, distritos, sub-distritos, etc.). Essa precisão nos ajudaria, enfim, a relacionar a mobilidade pendular a outro fenômeno, que lhe é correlato, mas em nos foge em parte ao nosso escopo, ou seja, o fenômeno da segmentação do espaço urbano. A despeito dessa heurística, para fins de operacionalização de uma pesquisa acerca da mobilidade pendular, teríamos que optar por alguma das divisões territoriais oferecidas pelos dados disponíveis, uma vez que sua rigidez não nos permitiria aplicar, literalmente, os conceitos expostos anteriormente. Todavia, apesar das limitações dos dados, o quadro referencial por nos esboçado pode prestar-se a realização um grande esforço no sentido de qualificar os espaços e as relações que lhe são subjacentes, proporcionando uma evolução pari passu entre empiria e teoria. 14

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