ÁREAS DE EMIGRAÇÃO NO SÉCULO XXI: CONTINUIDADE DO ÊXODO RURAL?

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1 ÁREAS DE EMIGRAÇÃO NO SÉCULO XXI: CONTINUIDADE DO ÊXODO RURAL? Resumo A dinâmica migratória, apesar das mudanças quantitativas e qualitativas verificadas nas últimas décadas em que destacam as áreas de circulação, permanece com áreas de intensa emigração e imigração. O foco deste trabalho são as áreas de emigração, mais especificamente conjuntos de municípios que apresentaram saldos migratórios negativos persistentes entre as décadas de 1990 e Para seleção destes municípios utiliza-se o índice de eficácia migratória, focando naqueles considerados como áreas de evasão, no entorno entre Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. O objetivo é compreender, diante do quadro econômico destes municípios quais são os fatores que condicionam a emigração e, principalmente, como este fenômeno está relacionado com a concentração de investimentos econômicos em outras porções territoriais em detrimento deles. Ademais, discute-se a pertinência do esquecido debate sobre êxodo rural para alguns municípios com população urbana cuja economia continua a ser predominantemente rural. Palavras-chave: Migração; Emigração; Êxodo rural.

2 Introdução Os fluxos de migração campo-cidade atingiram seu auge na década de 1970 (BRITO, 2009; CUNHA, 2015), década esta em que se observou o maior volume de migrantes interestaduais no Brasil. O movimento, entretanto, se arrefeceu nas décadas seguintes, e a predominância passou a ser dos movimentos entre áreas urbanas. Essa mudança também esteve associada com a própria transformação que o país vivia, visto que, justamente nesse período observou-se uma intensa urbanização da população, que se tornou majoritariamente urbana num curto espaço de tempo. Essa urbanização resultou no fortalecimento das desigualdades territoriais pré-existentes, principalmente na escala nacional, visto que esteve fortemente atrelada à própria divisão social e territorial do trabalho (MARTINE; MCGRANAHAN, 2010). O que se viu como resultado foram áreas com econômia moderna e diversificada convivendo conjuntamente e, principalmente, competindo pelos investimentos econômicos com porções territoriais com poucos atrativos. Assim como as diferenças territoriais ou, como denomina Lencioni (2013) - a partir de Lefebvre as condições gerais de produção impactam o direcionamento dos investimentos, que transformam os territórios, impactando também como resultado destas transformações os fluxos migratórios, ou, simplificadamente, as pessoas que habitam as áreas direta ou indiretamente influenciadas. Em nível nacional, as porções territoriais que receberam mais investimentos também foram, por muitas décadas, os principais destinos dos fluxos migratórios (PACHECO; PATARRA, 1998). Numa escala regional e local o mesmo parece ocorrer: as capitais e o seu entorno centralizam os investimentos e as porções menos dinâmicas, muitas delas rurais, se esvaziam apresentando saldo migratório negativos por longos períodos de tempo. Esta proposta visa analisar e discutir os resultados de uma pesquisa em andamento que analisa uma porção territorial que abrange municípios mineiros, baianos e capixabas que, distante das capitais dos respectivos estados e de suas

3 econômias mais diversificadas tem sofrido com saldos migratórios negativos, envelhecimento rápido da população via emigração dos jovens e consequente redução da capacidade produtiva. Como característica comum, a pouca atratividade de investimentos econômicos de médio e grande porte se associam a uma economia pouco diversificada, com grande parcela das pessoas ocupadas no setor primário. O objetivo, neste sentido, é analisar e levar ao debate se o fenômeno poderia ser classificado como um tipo de êxodo rural e, tomando a clássica proposta de Singer (1976), se seria a estagnação econômica dessas áreas o principal motivo que explicaria o persistente saldo migratório negativo. Métodos Diante do que se propõe, será realizado um mapeamento para dimensionar a porção territorial que apresentou, na década de 2000, saldo migratório negativo, utilizando-se para isso o índice de eficácia migratória. Diante dos resultados, serão analisadas as características econômicas predominantes nessas áreas e as modificações em curso nas últimas décadas. Os dados serão comparados às perspectivas de investimentos dos estados nos últimos anos, olhando assim para que essas regiões de emigração em conjunto com as áreas de imigração direta ou indiretamente relacionadas. Essas relações serão estabelecidas a partir da análise do direcionamento dos fluxos emigratórios e permitirão compreender o contexto econômico em que os movimentos estão imersos. O recorte espacial de análise não foi definido a priori 1, mas partiu, seguindo a proposta de Brenner (2013 [2005]), do olhar do fenômeno, neste caso, a emigração via saldo migratório negativo dos municípios. Resultados e discussão A pesquisa, em andamento, permitiu compreender as mudanças no crescimento demográfico entre a década de 1990 e 2000, associando os resultados 1 Destaco ao estimado parecerista que a Figura 1, que verá logo à frente, constitui unicamente um exemplo do período exploratório da pesquisa, e não contradiz esse trecho da metodologia.

4 não só aos investimentos econômicos de grande porte, mas também às reverberações locais desses investimentos. A continuidade das pesquisas apontaram para um recorte territorial que, não seguindo nenhum limite político-administrativo formal em nível de Unidade da Federação, apresentou nas últimas décadas consideráveis níveis de emigração da população. Esta proposta de artigo se assenta, portanto, em problematizar essa emigração, tanto quanto as causas e motivos que causam a predominância desse movimento, como também em termos teóricos, já que a discussão sobre o êxodo rural foi deixada de lado após o país apresentar altos níveis de urbanização da população. O início da análise exploratória, que partiu do Estado do Espírito Santo em nível de microrregiões de planejamento permitiu verificar a relevante mudança na dinâmica migratória ao longo da década de Houve um deslocamento do crescimento demográfico para os municípios litorâneos, inclusive aqueles do norte, fato relacionado com a maior importância da migração. A Figura 1, que apresenta o índice de eficácia migratória, demarca bem a mudança verificada. Figura 1 Índice de eficácia migratória interestadual segundo as microrregiões administrativas do Estado do Espírito Santo -1995/2000 e 2005/2010. Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2000 e 2010.

5 A aproximação via microrregiões, entretanto, não se mostrou o nível ideal de análise, pois divide entre vários municípios os resultados particulares verificados. De fato, as análises neste momento estão sendo pensadas em nível de município, buscando uma possível associação espacial da emigração com a condição socioeconômica, assim como dos condicionantes que possam contribuir para o entendimento da dinâmica emigratória desses municípios. Referências bibliográficas BRENNER, N. Reestruturação, reescalonamento e a questão urbana. GEOUSP, v. 1, n. 33, p , CUNHA, José Marcos P. A migração interna no Brasil nos últimos cinquenta anos:(des) continuidades e rupturas. Arretche, M. (org.) Trajetórias das desigualdades: como o Brasil mudou nos últimos cinquenta anos. Centro de Estudos da Metrópole CEM. Editora Unesp. São Paulo, LENCIONI, S. "A emergência de um novo fato urbano de caráter metropolitano em São Paulo: a particularidade de seu conteúdo socioespacial, seus limites regionais e sua interpretação teórica" In: Anais do X Encontro Nacional da Anpur, MARTINE, G.; MCGRANAHAN, G. A transição urbana brasileira: trajetória, dificuldades e lições aprendidas. In: BAENINGER, R. (org.) População e cidades: subsídios para o planejamento e para as políticas sociais. Campinas: NEPO/UNICAMP; Brasília: UNFPA, PACHECO, C. A.; PATARRA, N. L. Movimentos migratórios anos 80: novos padrões?. In: Encontro Nacional sobre Migração, Anais...Curitiba: Abep/Ipardes, 1998