REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN 1695-7504 - Mastitis: the problem that affects dairy herds ROSA, Patricia Pinto; FERREIRA, Otoniel Geter Lauz; CAMACHO, Juliana da Silva; OLIVEIRA, Allan Patrick Timm; CHESINI, Rodrigo Garavaglia; RÖSLER, Dérick Cantarelli Universidade Federal de Pelotas. Brasil. Correspondência: ptc.agostini@gmail.com Resumo Objetivo: A mastite é uma patologia que é desencadeada por fatores multifatoriais em rebanhos leiteiros. Este artigo aborda suas formas de manifestação, prevenção, controle, e seus aspectos na produção de leite e as perdas econômicas que causa a produtores e a indústria láctea. A etiologia da mastite é complexa e multivariada, sendo preciso caracterizar e identificar o agente causador da infecção na glândula mamária, tanto para controle e a prevenção, quanto para o monitoramento de rebanhos. Os agentes causadores da mastite podem ser agrupados em diversas categorias como patógenos contagiosos, ambientais, oportunistas e outros microrganismos. A prevenção se dá por meio de algumas medidas sanitárias na ordenha, manejo dos animais, identificação de agentes infecciosos e posterior uso de tratamentos com antibióticos. Palavras chave: patologia, agentes infecciosos, perdas econômicas Abstract Objective: Mastitis is a pathology that is triggered by multifactorial factors in dairy herds. So, we intend to discuss its differents of signs, prevention, control, and its aspects in milk yield and the economic losses it causes to dairy farmers and industry. The etiology of mastitis is complex and multivariate, and it is necessary to characterize and identify the causative agent of the infection in the mammary gland, both for control and prevention, and for the monitoring of herds. The causative agents of mastitis can be grouped into several categories like as contagious, environmental, opportunistic and other microorganisms. Prevention is achieved through some sanitary measures in animal milking, handling with animals, identification of infectious agents and subsequent use of antibiotic treatments. Keywords: pathology, infectious agents, economic losses 1
A mastite ocasiona diversas perdas econômicas para pecuária leiteira como gastos com mão de obra, medicamentos, serviços veterinários e descarte precoce de animais. Outro fator prejudicial é a redução da produção de leite que ocorre por conta das alterações nas células epiteliais secretoras e na permeabilidade vascular no alvéolo durante a infecção. É importante ressaltar a importância da mastite, no que se refere à saúde pública, devido ao envolvimento de bactérias patogênica que podem colocar em risco a saúde humana. Essas perdas significativas são influenciadas por inúmeros fatores, como gravidade da infecção, tipo de microrganismo causador, duração da infecção, idade do animal, época do ano, estado nutricional e potencial genético do animal (Pales et al., 2005). A palavra mastite é derivada da palavra grega mastos ( que significa mama) e itis (que significa inflamação). A inflamação da glândula mamária é proveniente de trauma ou lesão no úbere, de irritação química e principalmente de infecção causada por microrganismos, especialmente por bactérias dos gêneros Nocardia sp., Pseudomonas aeruginosa, Arcanobacterium pyogenes, algas do gênero Prototheca e várias espécies de leveduras. Esses microrganismos, geralmente, causam mastite clínica e são de difícil tratamento (Bressan, 2000). A mastite difere das demais doenças que acometem o gado leiteiro, pelo fato de ser causada por mais de 140 micro-organismos diferentes. Por estarem inseridos no mesmo ambiente que os animais, a entrada de agentes infecciosos no úbere das vacas acaba por se tornar inevitável. Por esta razão, a preocupação deve ser focada em controlar a mastite e não tentar eliminá-la por completo, o que torna este um trabalho contínuo para técnicos, produtores e funcionários das propriedades leiteiras (Philpot & Nickerson, 2000). O nível de mastite de um rebanho é afetado tanto pela taxa de novas infecções como pela duração das infecções existentes. É importante enfatizar a natureza multifatorial da mastite, pois muitos fatores influenciam o nível de infecção, como a vaca, o ambiente, os microrganismos, as práticas de manejo e a ação do homem. O elevado número de células somáticas ou células inflamatórias no leite não é causa de mastite, mas sim resposta da glândula mamária aos patógenos presentes ou a alguma injúria ao úbere (Kerhrli Jr e Shuster, 2004). Esta elevação de células somáticas e as mudanças na composição físico-química do leite estão diretamente relacionados com a superfície do tecido mamário atingido pela reação inflamatória, sendo um indicativo da sanidade do úbere. A mastite pode se manifestar de forma clínica ou subclínica. A forma clínica compreende os casos da doença em que existem sinais evidentes de inflamação, como edema, aumento de temperatura, endurecimento, dor na glândula mamária e grumos, pus ou qualquer alteração das características do leite. Na forma de subclínica não ocorrem mudanças visíveis no aspecto do leite, mas sim alterações na composição do mesmo. A mastite subclínica pode ser detectada pela contagem direta ou indireta de células somáticas no leite, sendo compostas por células de descamação do epitélio secretor da glândula mamária e leucócitos de origem do sangue, sendo que estes últimos, com elevadas concentrações em casos de mastite (Ribeiro et al.,2003). É considerada mastite subclínica, animais que apresentem, por duas semanas consecutivas, contagem de células somáticas (ccs), acima de 250 mil cel/ml (Swinkels, 2005). O Califórnia Mastitis Test (CMT) é um dos testes mais utilizados no diagnóstico de mastite subclínica, sendo um indicador indireto de contagem de células somáticas no leite. A contagem de células somáticas é utilizada para fazer uma avaliação indireta da 2
saúde da glândula mamária de fêmeas em lactação. Utiliza-se como referência, o aumento da concentração de células de defesa no leite, que da ao produtor uma estimativa precisa do nível de infecção no úbere do animal. A análise de ccs, além de ser um indicativo de saúde animal, também é utilizada como parâmetro de avaliação da qualidade do leite. A etiologia da mastite é complexa e multivariada, sendo preciso caracterizar e identificar o agente causador da infecção na glândula mamária, tanto para controle e a prevenção, quanto para o monitoramento de rebanhos. A reação inflamatória pode estar presente mesmo que a glândula não apresente processo infeccioso, em razão de lesões traumáticas ou agressões por agentes químicos, entre outros fatores. Alguns tipos de bactérias têm uma maior capacidade de causar mastite que outras. O estado fisiológico da vaca interfere pois a pressão intramamária é um fator predisponente para a mastite, embora a infecção possa ocorrer em qualquer momento, a maioria das novas infecções se dá durante as três primeiras semanas do período seco e durante o primeiro mês pósparto, sugerindo que o nível de produção de leite, não está relacionado a mastite. A incidência de mastite aumenta com a idade da vaca, assim como o número de ordenhas. Características hereditárias da vaca como o comprimento da perna em proporção ao tamanho do úbere e úbere pendular são dois fatores que tendem a forçar a capacidade dos ligamentos, o que poderá sujeitar o úbere a lesões físicas e, portanto aumentar a incidência de mastite. Outro fator agravante é o uso inadequado do equipamento de ordenha (flutuação irregular de nível de vácuo, sobreordenha ou ordenha incompleta) está relacionado com a irritação dos tecidos e a incidência de mastite. Os agentes causadores da mastite podem sem agrupados em diversas categorias como patógenos contagiosos, ambientais, oportunistas e outros microrganismos. A mastite contagiosa apresenta maior ocorrência nos quadros subclínicos, ocorrendo então um aumento de células somáticas. O principal habitat destes patógenos é a pele dos tetos e úbere. Streptococcus aureus, Streptococcus agalactiae, Mycoplasma bovis, Corynebacterium bovis, são agentes causadores da mastite contagiosa. No momento da ordenha, há contaminação de tetos infectados com tetos sadios, através da falta de desinfecção das teteiras entre a ordenha de cada animal, dos panos utilizados erroneamente para secagem dos tetos dos animais e das mãos dos ordenhadores e outros utensílios que possam entrar em contato com os tetos e úbere destes animais. A Mastite ambiental é causada por microrganismos oportunistas que habitam o ambiente de ordenha no curral e pela cama, pela água contaminada, por materiais orgânicos como as fezes, plantas, ração e outros alimentos.a contaminação ocorre durante a ordenha,principalmente quando as vacas deitam em ambiente contaminado, deixando os tetos ao contato com fezes e outras sujeiras. Coliformes (Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Klebsiella sp., Enterobacter aerogenes), Estreptococos ambientais (S.uberis, S.bovis, S.dysgalactiae), Enterococos (Enterococcus faecium, E.faecalis) são agentes causadores de mastite ambiental. Existe outro grupo de microrganismos, chamados de oportunistas, constituídos por mais de 20 espécies de estafilococos (exceto Streptococcus aureus), conhecidos como Streptococcus coagulase negativo (SCN), que são frequentemente isolados em todos os rebanhos. 3
A prevenção é por meio de boas práticas como higiene correta da sala de ordenha, higiene dos ordenhadores (roupas e mãos limpas), manter uma linha de ordenha entre os animais (vacas sadias primeiro e vacas com mastite por último), ejeção dos três primeiros jatos de leite em caneca de fundo preto para detecção de mastite clínica, higiene dos tetos das vacas utilizando uma solução desinfetante (pré dipping) antes da ordenha, secagem dos mesmos com papel toalha, e após ordenha usar solução (pós dipping), deixando os animais em pé por pelo menos uma hora, período de fechamento do esfíncter do teto, evitando assim a entrada de patógenos pelo canal do mesmo. O período de secagem destes animais também é de suma importância, pois é um momento em que elas se estressam pela interrupção da ordenha e deixam de receber cuidados diários de desinfecção de tetos, tornando-se extremamente suscetíveis a mastite. O tratamento da mastite consiste no uso de antibioticoterapia para casos de mastite clínica. Para manter o estado sanitário da glândula mamária, é essencial ter controle dos registros dos casos clínicos e subclínicos, assim como o uso correto de antimicrobianos, com o intuito de evitar o desenvolvimento de resistência dos microrganismos. Outra medida complementar no controle da mastite é a vacinação, no caso de mastites ambientais por coliformes. Existem vacinas no mercado que quando aplicadas no período seco e no momento do parto, reduzem a incidência e a gravidade dos sintomas na lactação subsequente. As atuais medidas de controle de mastite em rebanhos leiteiros têm sido recomendadas com base em três princípios básicos: eliminação de infecções existentes, redução das novas infecções e monitoramento da mastite. Grande ênfase e esforços de pesquisa têm sido empregados em medidas de tratamento, preventivas e de higiene do ambiente e durante a ordenha. Outro importante enfoque do controle de mastite é a melhoria da resistência da vaca e o aumento da capacidade de resposta imune frente aos agentes patogênicos. Desta forma, os mecanismos de controle poderiam atuar de forma conjunta e mais eficiente tanto na prevenção de novas infecções, quanto na eliminação de infecções existentes. A vacinação é uma da das formas de aumentar a capacidade de resposta imune da vaca contra um agente patogênico. A vacinação contra mastite busca prevenir a ocorrência de novas infecções intramamárias, reduzir a gravidade e frequência de sintomas clínicos e auxiliar na eliminação de infecções crônicas. Contudo, a utilização de boas práticas de higiene com um bom manejo na hora da ordenha e com os animais, utilizando medidas de controle e identificação de agentes infecciosos, executando bem os tratamentos com antibióticos, pode-se ter controle da mastite nas propriedades leiteiras, que é uma questão importante para diminuir as perdas econômicas dos produtores que buscam maior produtividade e estabilidade na atividade, bem como também para a indústria que se preocupa em obter uma matéria prima de maior qualidade para elaboração de seus produtos lácteos. 4
Referências Bressan, M. Práticas de manejo sanitário em bovinos de leite. Juiz de Fora:Embrapa/CNPGL, 2000 : p 65. KerhrlI,M.E. Jr.; Shuster, D.E. factors affecting Milk somatic cell and their role in health of the bovine mammary gland. J Dairy Sci, 2004, (77):619-627. Pales, A.P.; Santos, K.J.G.; Figueiras, E.A.; Melo, C.S. A importância da contagem de células somáticas e contagem bacteriana total para a melhoria da qualidade do leite no Brasil. R Elet Fac Mont Bel, 2005,1,(2):162-173. Philpot, N. W. &Nickerson, S. C. 2000. Vencendo a Luta Contra a Mastite. 1ª ed. Editora Westfalia, 2000. Ribeiro, M.E.R.; Petrini, L.A.; Aita, M.F.; Balbinotti, M.; Stumpf Júnior W.; Gomes, J.F.; Schramm, R.C.; Martins, P.R.; Barbosa, R.S. Relação entre mastite clínica, subclínica infecciosa e não infecciosa em unidades de produção leiteiras na Região do Rio Grande do Sul. R Bras Agroc, Pelotas, 2003 (9):287-290. Swinkesls,J.M;Hogeveen,H.;Zadoks,R.N.A partial budget model to estimate economic benefits of lactation treatment of subclinical staphylococcus aureus mastitis. J dairy Sci, 2005.88,(12):4273-4287. REDVET: 2018, Vol. 19 Nº 4 Este artículo Ref. 041807_REDVET (Ref. prov. 181805_mastitis, Recibido: 09/01/2018, Aceptado: 07/03/2018, Publicado: 01/04/2018) está disponible en http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n040418.html concretamente en REDVET Revista Electrónica de Veterinaria está editada por Veterinaria Organización. Se autoriza la difusión y reenvío siempre que enlace con Veterinaria.org http://www.veterinaria.org y con REDVET - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 5