DESENVOLVIMENTO PESSOAL UMA NOVA ABORDAGEM NA ADMINISTRAÇÃO DO VOLUNTARIADO. Palavras-chave: comunicação, criatividade, liderança, planejamento.



Documentos relacionados
CONSULTORIA DE DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

Rafael Vargas Presidente da SBEP.RO Gestor de Projetos Sociais do Instituto Ágora Secretário do Terceiro Setor da UGT.RO

INOVAÇÃO NA ADVOCACIA A ESTRATÉGIA DO OCEANO AZUL NOS ESCRITÓRIOS JURÍDICOS

Organizando Voluntariado na Escola. Aula 1 Ser Voluntário

Como se tornar um líder de Sucesso!

Nosso negócio é a melhoria da Capacidade Competitiva de nossos Clientes

GUIA PARA O GT RECURSOS FINANCEIROS

Atualmente é Coach, e fundador da Crescimentum-Coaching for Performance ( adiniz@crescimentum.com.

RELATÓRIO DAS ATIVIDADES 2004

O trabalho voluntário é uma atitude, e esta, numa visão transdisciplinar é:

RELATÓRIO DAS ATIVIDADES 2003

Um Desafio Atual. Enfa. Andrea Lopes

O ADVOGADO GESTOR. A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo. Peter Drucker

Fatores e Indicadores de Desempenho ADP

UMA PROPOSTA INOVADORA PARA ENSINAR EMPREENDEDORISMO AOS JOVENS

Prof Elly Astrid Vedam

Amanda Oliveira. E-book prático AJUSTE SEU FOCO. Viabilize seus projetos de vida.

Estratégias adotadas pelas empresas para motivar seus funcionários e suas conseqüências no ambiente produtivo

Estimativas Profissionais Plano de Carreira Empregabilidade Gestão de Pessoas

PROGRAMA ULBRASOL. Palavras-chave: assistência social, extensão, trabalho comunitário.

Gestão Eficaz e Liderança Empreendedora

FATORES PARA A INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO: EDUCAÇÃO, CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO DAS QUALIDADES PESSOAIS

HISTÓRIAREAL. Como o Rodrigo passou do estresse total para uma vida mais balanceada. Rodrigo Pinto. Microsoft

O Segredo do Sucesso na Indústria da Construção Civil

Prof. Ana Cláudia Fleck Coordenadora da Academia de Professores da ESPM-Sul

AGENDA SEBRAE OFICINAS CURSOS PALESTRAS JUNHO A DEZEMBRO GOIÂNIA. Especialistas em pequenos negócios. / / sebraego.com.

COMPETÊNCIAS E SABERES EM ENFERMAGEM

Liderança Pessoal para alunos do ensino superior: novos paradigmas para ensino, aprendizagem e carreira.

Especialistas em pequenos negócios / / sebrae.com.br

Uma Experiência Empreendedora da Educação Cooperativa

O Administrador e a Magnitude de sua Contribuição para a Sociedade. O Administrador na Gestão de Pessoas

estão de Pessoas e Inovação

FATEC Cruzeiro José da Silva. Ferramenta CRM como estratégia de negócios

Vendas - Cursos. Curso Completo de Treinamento em Vendas com Eduardo Botelho - 15 DVDs

Cartilha do ALUNO EMPREENDEDOR POLITÉCNICA

Fulano de Tal. Relatório Combinado Extended DISC : Análise Comportamental x Feedback 360 FINXS

EMPREENDEDORISMO: Características, tipos e habilidades. Prof. Dr. Osmar Manoel Nunes

Gestão Empresarial. Aula 5. A Estrutura Estratégica. Modelo de Gestão. Missão da Empresa. Prof. Elton Ivan Schneider.

ESCOLAS E FACULDADES QI MBA DE GESTÃO DE PESSOAS E NOGÓCIOS PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E OS SISTEMAS DE GESTÃO DE PESSOAS TIANE RIBEIRO BERNY

O que é Administração

Gestão de Relacionamento com o Cliente CRM

O Grupo Gerdau incentiva o trabalho em equipe e o uso de ferramentas de gestão pela qualidade na busca de soluções para os problemas do dia-a-dia.

Guia sobre Voluntariado Instituto Lina Galvani

A importância da comunicação em projetos de

Relatório de Competências

Projeto. Supervisão. Escolar. Adriana Bührer Taques Strassacapa Margarete Zornita

Diferenças entre Coaching, Mentoring e Counseling: Desmistificando o Coaching

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

RELATÓRIO MESA DEVOLVER DESIGN (EXTENSÃO) Falta aplicação teórica (isso pode favorecer o aprendizado já que o aluno não tem a coisa pronta)

O desafio da liderança: Avaliação, Desenvolvimento e Sucessão

Missão, Visão e Valores

Introdução 01. José Roberto Marques

Desenvolve Minas. Modelo de Excelência da Gestão

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

Empreendedorismo. Tópico 1 O (a) Empreendedor (a)

ATENDIMENTO 3D O diferencial para o sucesso em vendas

COMO SE TORNAR UM VOLUNTÁRIO?

LÍDER: compromisso em comunicar, anunciar e fazer o bem.

Aula 9. Liderança e Gestão de Equipes

4 passos para uma Gestão Financeira Eficiente

Enquete. O líder e a liderança

INTRODUÇÃO A ÃO O EMPREENDE

1 Dicas para o profissional que vira chefe dos colegas

Práticas de Apoio à Gestão: Gerenciamento com foco na Qualidade. Prof a Lillian Alvares Faculdade de Ciência da Informação, Universidade de Brasília

Módulo 2. Origem do BSC, desdobramento do BSC, estrutura e processo de criação do BSC, gestão estratégica e exercícios

UMA PARCERIA DE SUCESSO!

TÓPICOS ESPECIAIS EM GESTÃO DE RH. Prof. Felipe Kovags Aula 02 ( )

RH: GESTÃO INOVADORA ORGANIZACIONAL

Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Grupo de Pesquisa em Interação, Tecnologias Digitais e Sociedade - GITS

PROGRAMA ESCOLA DA INTELIGÊNCIA - Grupo III ao 5º Ano

Profº Rogério Tavares

LIDERAR PESSOAS A BASE DA CONSTRUÇÃO DE UMA EQUIPE DE SUCESSO. Prof. Paulo Henrique Ribeiro paulo@topassessoria.com

TEOREMA CONSULTORIA Rua Roma, 620 Sala 81-B,Lapa Capital- SP CEP:

Universidade de Brasília Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação Departamento de Ciência da

TÍTULO: PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS PROFISSIONAIS FORMANDOS DA ÁREA DE NEGÓCIOS DA FACIAP

Toyota Way. FDEABrandão. (Fonte de Força Competitiva da Toyota) Antes de você dizer que não consegue fazer alguma coisa, experimente!

ABCEducatio entrevista Sílvio Bock

O QUE É? Um programa que visa melhorar a Gestão dos CFCs Gaúchos, tendo como base os Critérios de Excelência da FNQ (Fundação Nacional da Qualidade).

APRESENTAÇÃO DO PROJETO e-jovem

Elétrica montagem e manutenção ltda. AVALIAÇÃO DE COLABORADORES

A IMPORTÂNCIA DAS FERRAMENTAS DO MARKETING NAS PEQUENAS EMPRESAS. PAES, Paulo César 1 SARAIVA, Antonio Wanderlan Pereira 2 RESUMO

O IMPACTO DA UTILIZAÇÃO DE UM SOFTWARE DE GERENCIAMENTO ELETRÔNICO DE PROJETOS NAS EMPRESAS

E FOLDER INSTITUCIONAL

Atividade I Como podemos fortalecer o Núcleo na Região para garantir a continuidade dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio - ODMs?

Projeto Pedagógico Institucional PPI FESPSP FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL PPI

Estruturando o modelo de RH: da criação da estratégia de RH ao diagnóstico de sua efetividade

Como motivar Millennials. Gerencie seus benefícios! Faça um teste em convenia.com.br/free

Sistemas de Gestão da Qualidade. Introdução. Engenharia de Produção Gestão Estratégica da Qualidade. Tema Sistemas de Gestão da Qualidade

Formação de Voluntários em Programas Corporativos. Trabalho em Grupo Encontro de 08/06/2011

Gerenciamento de Incidentes

RELATÓRIO TREINAMENTO ADP 2013 ETAPA 01: PLANEJAMENTO

O PAPEL DO LÍDER. Vejamos no quadro abaixo algumas diferenças básicas entre um líder e um chefe: SITUAÇÃO CHEFE LÍDER

membros do time, uma rede em que eles possam compartilhar desafios, conquistas e que possam interagir com as postagens dos colegas.

Consultoria em Treinamento & Desenvolvimento de Pessoas

Transcrição:

1 DESENVOLVIMENTO PESSOAL UMA NOVA ABORDAGEM NA ADMINISTRAÇÃO DO VOLUNTARIADO Luciane Botto Lamóglia 1 RESUMO Diversas empresas e instituições têm incentivado seus colaboradores a praticarem o voluntariado, pois sentem-se no dever de efetuar sua contribuição à sociedade. Da mesma forma, inúmeras pessoas estão se conscientizando da importância de exercitarem a cidadania, desenvolvendo projetos que proporcionem melhorias no âmbito social. O sucesso de um programa voluntário depende da integração de todos os membros da equipe e também do incentivo ao aprimoramento de algumas habilidades, como o trabalho em grupo, a comunicação interpessoal e a criatividade. Para isso, os indivíduos precisam adaptar-se às mudanças que ocorrem no cotidiano, quebrando paradigmas e superando as próprias limitações, o que pode ser conseguido a partir do autoconhecimento. Sendo assim, é interessante que cada participante valorize e utilize suas aptidões durante a realização das atividades. Na busca pela eficiência, deve-se complementar as ações sociais com o exercício e a aplicação de algumas ferramentas de Administração de Empresas, como liderança e planejamento estratégico. Palavras-chave: comunicação, criatividade, liderança, planejamento. 1 Centro Universitário Franciscano do Paraná - FAE Business School. E-mail: lucianebotto@yahoo.com.br

2 1 INTRODUÇÃO A questão do voluntariado, apesar de constituir um tema relativamente novo para as organizações, tem sido muito discutida em congressos, seminários, jornais e revistas nos últimos anos. Cooperar com o desenvolvimento social da comunidade de forma espontânea tornou-se uma das mais novas preocupações das empresas. Afinal, essa atitude compõe um valioso diferencial, capaz de tornar as empresas mais competitivas diante da exacerbada concorrência do mercado. Não é por acaso que diversas pesquisas já revelaram que o consumidor, cada vez mais exigente, possui uma certa inclinação a adquirir produtos provenientes de empresas que colaboram ativamente com a sociedade. Diante desta nova realidade, muitos projetos sociais têm sido criados por organizações de pequeno, médio e grande porte. Aos poucos, as empresas estão se conscientizando de que devem estender os seus papéis à sociedade, através da criação e participação de programas que visem melhorias no âmbito social. Universidades também têm valorizado o tema, incentivando a prática de trabalhos voluntários e ressaltando aos seus alunos a importância de buscar soluções para o desenvolvimento do país. Desta forma, o compromisso social já se inicia, muitas vezes, dentro da própria instituição universitária, proporcionando aos estudantes o debate, a pesquisa e o lançamento de projetos junto à comunidade. Certamente essas ações permitirão aos novos profissionais ingressar no mercado de trabalho com uma visão mais madura, que será reconhecida como diferencial competitivo frente às novas exigências do cotidiano empresarial. Com isso, a Universidade contribui para a formação de novos cidadãos, preparando-os para a vida em sociedade. 1.1 O SERVIÇO VOLUNTÁRIO NO BRASIL: UMA QUESTÃO DE CIDADANIA Em seu artigo Responsabilidade social: apoio das empresas privadas brasileiras à comunidade e os desafios da parceria entre elas e o terceiro setor, publicado no livro Responsabilidade social das empresas: a contribuição das Universidades, LIMA (2002, p. 119) afirma que o 3º setor é uma expressão utilizada para incluir num só grupo todas as instituições ou organizações que possuem um conjunto determinado de características que as distingam do 1º setor (Estado) e do 2º setor (mercado). Surge o terceiro setor de forma complementar, visando promover melhorias no setor social por meio de ações solidárias. Desta forma, busca-se encontrar novas alternativas que favoreçam o desenvolvimento de uma sociedade mais consciente. Com isso, a palavra cidadania se torna ainda mais evidente. Não basta para o ser humano apenas habitar o planeta, ignorando os problemas sociais. É preciso que cada indivíduo cumpra seus deveres como cidadão, realizando contribuições com ética e responsabilidade.

3 O Instituto Ethos de Responsabilidade Social, organização sem fins lucrativos, é um exemplo de empresa que existe para esclarecer e divulgar a importância da responsabilidade social no mundo corporativo. Define cidadania como sendo uma postura pró-ativa que as pessoas, empresas e demais instituições buscam adotar diante das adversidades que a comunidade na qual se inserem apresentam, de forma a contribuir com a solução de problemas sociais. KANITZ (2002) afirma que uma sociedade somente será cidadã se os seus participantes forem atuantes na área social de forma mais pró-ativa do que simplesmente como contribuintes. Pagar os impostos e deixar todos os problemas sociais para o governo é um modo cômodo de não envolvimento. Agora surge a seguinte questão: como conscientizar as pessoas da importância da sua contribuição social? Em primeiro lugar, é importante demonstrar a real necessidade de buscar novas formas de contribuir com o meio, a comunidade e a sociedade, seja de forma individual ou em equipe. É preciso que as pessoas se conscientizem de que cada indivíduo pode se tornar socialmente responsável, livre para contribuir de acordo com a sua escolha e disponibilidade. Parte-se do pressuposto de que, se cada pessoa fizer a sua parte dentro de um pequeno ou grande grupo, muitos problemas sociais poderão ser resolvidos. Para isso, torna-se necessário pesquisar, mobilizar, buscar novas alternativas para que os problemas da comunidade sejam resolvidos. O ser humano já nasce inserido em uma grande organização. Ao crescer, assume novas responsabilidades, como estudo, exercício da profissão e família. Com o passar dos anos, percebe a importância de valorizar do meio no qual está inserido e participar ativamente dele. Até o presente momento, o Brasil está classificado entre os países que menos investem financeiramente na questão social, mesmo apresentando um notável crescimento do número de voluntários nos últimos anos. Muitos jovens no Brasil possuem interesse em se tornar voluntários, mas não sabem como iniciar nessa nova jornada. Daí a importância em ressaltar aos futuros colaboradores de que é um trabalho que exige tempo, motivação e persistência. Sem essas variáveis, dificilmente um indivíduo ou grupo será capaz de realizar os objetivos propostos. 1.2 O VOLUNTARIADO A prática do voluntariado favorece muitos benefícios, principalmente pelo fato de permitir o exercício da cidadania, liderança, ética e criatividade por parte de seus colaboradores. Determinação, empenho e persistência são essenciais para o sucesso de um projeto voluntário. Tomar a iniciativa de participar de um programa como esse exige comprometimento e responsabilidade, além de uma boa dose de improviso e adaptabilidade a diferentes tipos de situações. O que ocorre é que muitos indivíduos, ao decidirem ingressar em um projeto social, acabam por abandonar as ações antes do tempo previsto, devido à falta de incentivo

4 e motivação, ou pelo fato de se sentirem despreparados para assumir tal tarefa. Para evitar este tipo de ocorrência, torna-se necessário desenvolver no grupo a prática da liderança e do trabalho em equipe, que permitirão, juntos, o surgimento de idéias, críticas e sugestões. Para que um projeto social seja bem sucedido, é necessário concentrar esforços em busca de objetivos factíveis, que apenas são obtidos com comprometimento, consciência, criatividade e muito espírito de equipe, os quais não constituem tarefa fácil. Ações sem planejamento, desprovidas de objetivos, certamente geram frustrações. Como pode uma equipe concentrar-se em algo sem saber ao certo o que pretende alcançar? 2 FAE BUSINESS SCHOOL : PROJETO DE LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS Como citado no item 1, uma alternativa eficiente para a exploração do tema Responsabilidade Social é fazê-lo por intermédio da educação. Com esse objetivo, a FAE Business School, sob coordenação do professor Francisco Lopes da Silva, e através de uma parceria da FAS Fundo de Ação Social e a FEMOCLAN Federação Comunitária das Associações de Moradores de Curitiba e Região Metropolitana, tomou a iniciativa de incentivar o trabalho voluntário aos alunos da graduação e pós-graduação, oferecendo às Associações de Moradores de Curitiba e Região Metropolitana orientações gerais acerca de temas relacionados às áreas de Administração, Motivação e Liderança, Contabilidade, Direito e outras, visando contribuir para a melhoria e eficiência da gestão das Associações. A partir deste projeto, a FAE buscou, através de uma equipe voluntária de alunos da Instituição, orientar os colaboradores pertencentes às Associações de Moradores a desenvolver novas habilidades e agregar conhecimentos, imprescindíveis para a harmonia de um grupo com objetivos comuns, que em geral consistem em elaborar projetos que visem melhorias nos bairros de Curitiba e região metropolitana. A prática do voluntariado permitiu aos estudantes perceber a necessidade de praticar a cidadania, contribuindo ativamente com a comunidade e com a sociedade. O projeto de Capacitação de Lideranças Comunitárias constituiu uma experiência muito gratificante aos alunos participantes. Despertou o espírito de liderança e de equipe nos alunos, desenvolvendo novos comportamentos e atitudes, como solidariedade, comprometimento e transparência. Além disso, contribuiu para um aperfeiçoamento dos estudantes durante a realização de dinâmicas de grupo e palestras. Com isso, pode-se constatar alguns dos inúmeros benefícios que o exercício do voluntariado proporciona, como o desenvolvimento de novas habilidades, fundamentais para o amadurecimento pessoal e profissional.

5 3 VOLUNTARIADO E DESENVOLVIMENTO PESSOAL O trabalho voluntário, além de visar melhorias de cunho social, constitui uma grande oportunidade para que os integrantes de uma equipe desenvolvam e exercitem algumas habilidades, como criatividade, liderança e comunicação interpessoal. Para o aprimoramento e bom uso dessas competências, torna-se fundamental aos integrantes do grupo a adaptabilidade às mudanças globais, a troca de experiências e, principalmente, a busca por novos aprendizados e informações, a fim de ampliar o campo de visão dos mesmos. Desta forma, os voluntários poderão desenvolver aptidões e realizar as atividades com mais determinação, persistência e comprometimento. 3.1 MUDANÇAS GLOBAIS REQUEREM QUEBRA DE PARADIGMA Há quem pense que as mudanças são características apenas dos dias atuais. Porém, se as pessoas observarem melhor, poderão perceber que o mundo já se encontra em transformação desde os tempos mais remotos. Heráclito (500 a.c.), filósofo grego, já dizia em sua época que Não é possível banhar-se no mesmo rio duas vezes, porque o rio já não é mais o mesmo. E ele estava certo! Na realidade, as mudanças sempre ocorreram, independentemente de época ou local. Hoje, porém, ocorrem de forma muito mais rápida do que antigamente. É preciso estar preparado para acompanhar o ritmo das transformações, buscar dinamismo, inovação e criatividade. As mudanças que estão ocorrendo no cotidiano das pessoas, dos negócios e no mundo nos obrigam a quebrar paradigmas. O ser humano precisa estar preparado e disposto a aceitar novas realidades, a perceber a vida e o Universo de uma maneira diferente. Torna-se necessário mudar o ponto de vista, desprendendo-se de conceitos e ideais ultrapassados. O ser humano necessita aprender e desaprender coisas numa velocidade incrível, já que há uma sobrecarga de informações. Acompanhar este ritmo desenfreado de transformações não é fácil, principalmente pelo fato de as pessoas, de modo geral, apresentarem uma certa resistência a mudanças. Por isso, não basta absorver novas informações; é preciso sobretudo saber selecioná-las, agregar valor a elas, compartilhar conhecimentos e desenvolver a habilidade de comunicação. É inadmissível que ainda existam tantas pessoas acomodadas, que fogem do novo para não terem que assumir diferentes responsabilidades e tomar novas decisões. Isto ocorre principalmente pela dificuldade que o ser humano possui de se desapegar a fatos passados, motivo pelo qual continua aceitando verdades que podem não ser mais úteis na resolução de problemas atuais. É importante reciclar os conhecimentos, quebrar

6 paradigmas, buscar uma nova visão da realidade. Para atingir esse nível de comportamento, torna-se necessário, na maior parte das vezes, aprender a desaprender, ou seja, abandonar conceitos antigos, ampliar a visão e exercitar a percepção do mundo sob outros pontos de vista. Esta prática certamente ajudará a desbloquear muitas limitações nas pessoas e auxiliá-las no processo de crescimento e amadurecimento pessoal. Tendo em vista as grandes transformações que ocorrem diariamente no Brasil e no mundo, pode-se afirmar que cada vez mais o trabalho voluntário requererá a busca por novas soluções. A criatividade e a abertura a novas informações constituem pré-requisitos fundamentais para as pessoas que pretendem se tornar bons voluntários. 3.2 CRIATIVIDADE A Criatividade é uma ferramenta muito importante no processo de criação e condução de projetos sociais. O desenvolvimento da criatividade permite o surgimento de novas idéias, que sendo inéditas ou não, geram motivação e realização pessoal. Sendo assim, a partir do momento em que um determinado grupo se reúne para discutir atividades voluntárias iniciase o processo de troca de experiências, que tem forte contribuição no desenvolvimento da criatividade individual. O mais interessante é que as atitudes criativas proporcionam o desenvolvimento de novas aptidões pelo grupo, a partir do conhecimento das características e limites de cada integrante da equipe. Henri Matisse, famoso pintor francês do século XX, costumava afirmar que criar é expressar o que se tem dentro de si, devendo ser a concepção criativa sempre original e individual, uma vez que todo esforço autêntico de criação é interior. Sendo assim, a prática freqüente da criatividade permite ao voluntário desenvolver cada vez mais a habilidade, podendo vir a superar suas expectativas. Desta forma, os participantes percebem a atividade como algo desafiador e importante para a sua realização tanto pessoal quanto profissional. As pessoas, em geral, possuem dificuldade em reconhecer que a criatividade faz parte do cotidiano, pois acreditam que esta habilidade é privilégio apenas de quem a possui como dom, não podendo então ser desenvolvida por indivíduos que ainda não despertaram tal competência. A falta de criatividade em um grupo pode ocorrer pelo fato de seus componentes se demonstrarem um pouco tímidos e inseguros ao expor suas idéias. Sendo assim, torna-se imprescindível que o líder incentive a criatividade, usufruindo e valorizando as habilidades de cada um, tratando-os como peças fundamentais na resolução de problemas e na busca por diferentes soluções. Para isso, é importante que o líder incentive seus integrantes a opinarem e participarem abertamente das decisões.

7 3.3 A PRÁTICA DA LIDERANÇA A liderança na prática do voluntariado consiste em administrar um determinado grupo de pessoas, de forma a incentivá-las a realizar atividades comunitárias baseadas na razão de existência da equipe. Um grupo geralmente demonstra maior comprometimento a partir do momento em que percebe que os seus líderes acreditam no que fazem e mobilizam seus integrantes em torno de um objetivo em comum. Para tal, o líder deve compartilhar o desafio com a sua equipe. Um líder precisa ser capaz de reconhecer os próprios erros, aceitando as suas falhas com humildade e mostrando-se sempre aberto para ensinar e aprender. As decisões devem ser tomadas com bom senso, baseando-se em planos préestabelecidos e antecipando-se a novas ocorrências. Lidar com o imprevisível, mudanças e pessoas não é tarefa fácil, mas constitui um grande desafio a ser superado pelo líder. Para ele, é importante, acima de tudo, saber se expressar, já que é através da comunicação que inspira seus seguidores a colaborar com novas idéias. 3.4 A COMUNICAÇÃO INTRAPESSOAL E INTERPESSOAL A comunicação constitui uma das ferramentas mais poderosas para o desenvolvimento do líder, pois permite ao comunicador convencer, transformar e expor pontos de vista de acordo com o que deseja expressar. O exercício da liderança se inicia dentro de cada indivíduo, durante o processo de planejamento da comunicação. Para atingir o grau de eficiência, é necessário exercitar o entendimento e a prática de novas atitudes, a partir de diferentes percepções, já que a responsabilidade da comunicação é do comunicador. CHUNG (1997) afirma que uma pessoa pode ter idéias brilhantes, mas se não conseguir transmiti-las, suas idéias não chegarão a lugar nenhum. Sendo assim, é importante que o líder analise a maneira que utiliza para se comunicar com outras pessoas, pois muitas vezes poderá abordar assuntos de forma ambígua ou técnica demais. Durante a explanação, é preciso expressar corretamente o que se busca atingir. Caso contrário, o grupo poderá não compreender claramente o comunicador. Este poderá medir o seu grau de eficiência da comunicação ao verificar a resposta a resposta que recebe do público (feedback). Segundo CHUNG (1997), existem dois tipos de comunicação: intrapessoal e interpessoal. A comunicação intrapessoal é a forma como uma pessoa se comunica consigo mesma; e a comunicação interpessoal revela como um indivíduo se expressa a partir da sua comunicação intrapessoal. Sendo assim, pode-se salientar a necessidade que o líder possui de aprimorar sua habilidade de comunicação para envolver sua equipe nos projetos sociais e obter o sucesso almejado.

8 4 ADMINISTRAÇÃO DO VOLUNTARIADO: É PRECISO PLANEJAR O trabalho voluntário requer, além da prática das habilidades já expostas, a aplicação de conhecimentos abordados no curso de Administração de Empresas. Um deles é o planejamento estratégico, que abrange o estabelecimento de objetivos, metas e planos, o que favorece o alcance de resultados esperados, inclusive em projetos sociais. 4.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO VISÃO, MISSÃO, OBJETIVOS, VALORES O Planejamento estratégico busca, a partir do retrato da situação atual de uma organização, analisar e criar diferentes estratégias para o seu aperfeiçoamento. Segundo CERTO (1993), Administração estratégica é o processo contínuo interativo que visa manter uma organização como um conjunto integrado a seu ambiente. Desta forma, o planejamento estratégico surge como uma ferramenta capaz de comprometer uma organização inteira em busca da realização de um objetivo em comum. O estabelecimento da Visão e Missão de uma empresa constitui o primeiro passo para o planejamento. A primeira é caracterizada pela imagem de futuro que a entidade sonha conquistar. Já a segunda revela o verdadeiro propósito da associação. Após a definição de Visão e Missão, traçam-se os objetivos, que se desdobrarão em ações, que deverão ser realizadas dentro de um prazo previamente estipulado. Deverão ser elaborados também os Valores que a organização julga importante no seu cotidiano para a realização das atividades, como o trabalho em equipe, a iniciativa e o comprometimento. Serão os valores da instituição que a nortearão durante o cumprimento da sua Missão. Para que a definição e a prática da Visão, Missão, Objetivos e Valores sejam bem-sucedidas, é fundamental que haja uma comunicação interna eficiente, para que todos absorvam as novas informações e se comprometam a participar da busca pelas metas comuns. A determinação e a persistência são fundamentais para o sucesso de qualquer projeto, já que o foco é a busca pela realização dos objetivos propostos. 4.2 UMA NOVA PROPOSTA - O PLANEJAMENTO PESSOAL A prática do planejamento tem início na vida particular das pessoas. Um indivíduo que jamais planejou, sonhou ou realizou planos, dificilmente saberá como reagir diante de tantos objetivos dentro da organização em que trabalha. Ou ainda, correrá o risco de abandoná-los no decorrer do projeto e comprometer uma equipe inteira, simplesmente pelo fato de nunca ter vivenciado esta experiência antes. Sendo assim, pode-se afirmar que o

9 planejamento estratégico de uma organização depende da dedicação de cada integrante em estabelecer e cumprir um planejamento pessoal de qualidade. Primeiramente, é preciso comprometer-se com a excelência, buscando realizar as atividades da melhor forma possível. Para isso, é necessário que cada indivíduo busque saber o que quer, aonde pretende chegar e, ao mesmo tempo, tomar conhecimento das próprias limitações. Após esta etapa, é importante que aprenda a aceitar essas limitações e a lidar com elas. Caso contrário, podem se transformar em barreiras para a realização de um sonho. Diante disso, surge a necessidade de buscar o autoconhecimento, que deve partir de cada indivíduo, a começar da reflexão interior sobre seus pontos fortes (qualidades), fracos (defeitos), e dos seus valores básicos. Diante de tantas mudanças, muitas pessoas encontram-se desprovidas de objetivos, sem saber o que esperam realizar na vida. Muitas delas nem mesmo conhecem os seus principais talentos, aptidões e limitações. É com esta finalidade que surge o Planejamento Pessoal para ajudar o indivíduo a situar-se, conhecer-se melhor, enfim, a traçar seu próprio caminho. Para que seja realizado este tipo de planejamento de forma eficiente e eficaz, torna-se necessário dedicar um período diário para reflexão. É preciso que cada indivíduo se permita planejar, sonhar, descobrir a sua verdadeira missão tanto no campo pessoal quanto no profissional. Sendo assim, qualquer pessoa pode iniciar esta atividade, desde que busque o autoconhecimento, estabeleça objetivos e planeje a realização dos seus sonhos, comprometendo-se a cumpri-los. A maior parte das pessoas jamais refletiram sobre o que esperam realizar e conquistar, o que é fundamental para o desenvolvimento individual. É preciso realizar autoavaliações no plano pessoal, com relação à saúde, ao bem-estar físico, mental e familiar, ao lazer e com relação aos diversos papéis que cada ser humano assume no decorrer da sua vida. As pessoas podem buscar novas alternativas de encontrar a felicidade, através da realização de atividades fora do ambiente de trabalho, que lhes pareçam prazerosas. As pessoas destinam grande parte de sua vida ao estudo e ao trabalho. O conhecimento que adquirem nessas atividades ao longo da vida podem ser muito preciosos se repassados a outros indivíduos e organizações. Pode-se afirmar que as lições aprendidas apenas terão valor se os seus detentores souberem como expressá-las no mundo. Por outro lado, se os aprendizados não forem compartilhados, grande parte do tempo e esforço destinada a eles terá sido desperdiçado. O ser humano precisa perceber a sua singularidade e valorizá-la, deixando de se comparar a outras pessoas. Em vez disso, deve adotar uma postura de espelhar-se em indivíduos que admira. Desta forma, sentir-se-á mais forte para gerenciar as mudanças na sua vida e exercitar a autoconfiança. Cada ser humano deve tentar viver de acordo com o seu potencial, tendo em vista as habilidades e limitações individuais. É preciso buscar firmeza nas atitudes, assumindo novos riscos, em busca da realização pessoal.

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS As inúmeras transformações no Brasil e no mundo revelam ao ser humano a necessidade de buscar novas alternativas para solucionar os problemas sociais. O incentivo às novas idéias e a adaptabilidade às mudanças no terceiro setor é fundamental, pois contribui para o amadurecimento da equipe que compõe o projeto. O trabalho desenvolvido é uma proposta para as pessoas e empresas perceberem a importância de colaborar ativamente com a sociedade e, a partir dessa experiência, agregar novos conhecimentos e desenvolverem habilidades para a vida pessoal e profissional. A eficiência no voluntariado pode ser atingida por meio da prática de algumas ferramentas abordadas no curso de Administração de Empresas, como liderança, trabalho em equipe e planejamento estratégico. REFERÊNCIAS CERTO, Samuel C.; PETER, J. Paul. Administração estratégica: planejamento e implantação da estratégia. São Paulo: Makron Books, 1993. CHUNG, Tom. Manual neurolingüístico de liderança e comunicação. São Paulo: Maltese, 1997. De líder para líder: artigos da revista Leader to Leader, da Drucker Foundation Francês Hesselbein, Paul Cohen / São Paulo: Futura, 1999. KANITZ, Stephen. Revista Veja, São Paulo, dez. 2001. (Edição especial: Guia para fazer o bem). LIMA, Marirone Carvalho. Responsabilidade social: apoio das empresas privadas brasileiras à comunidade e os desafios da parceria entre elas e o terceiro setor. Artigo publicado no livro Prêmio Ethos Valor - Responsabilidade das empresas: a contribuição das universidades (p.105-141). São Paulo: Peirópolis, 2002. REVISTA Você S.A.. Projeto: você. n.54, dez. 2002. SMITH, Hyrum W. O que mais importa: o poder de viver os seus valores. São Paulo: Best Seller, 2002.