LIAU Laboratório de Inteligência no Ambiente Urbano no bairro Passos das Pedras em Porto Alegre Um relato de experiência Susane Hübner Alves susanehubner@hotmail.com EMEF Presidente Vargas O conhecimento do conhecimento obriga. Obriga-nos a assumir uma atitude de permanente vigília contra a tentação da certeza, a reconhecer que nossas certezas não são provas da verdade, como se o mundo que cada um vê fosse o mundo e não um mundo que construímos juntamente com os outros. Ele nos obriga, porque ao saber que sabemos não podemos negar que sabemos. (MATURANA, 2001, P. 267) Resumo Conhecer o lugar espaço vivido onde se mora, estuda, trabalha, proporciona ao sujeito a construção da sua identidade territorial. Perceber os elementos da paisagem presentes no lugar e as interações que ocorrem entre eles permite que esse sujeito possa opinar, exercendo sua cidadania local. E, através da aproximação e do dialogo entre os saberes da escola, da comunidade, da universidade, da cidade como um todo, que a produção de significados efetivamente acontece. O LIAU- Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano- é uma das estratégias adotadas na política de educação ambiental da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre (RME), que procura trazer uma nova forma de olhar para a cidade no processo de aprendizagem. Implementado inicialmente pela EMEF Judith Macedo de Araújo, o projeto vem sendo gradativamente ampliado para as demais escolas municipais, e desde 2010, é desenvolvido na EMEF Presidente Vargas. É visto como uma ação pedagógica que propicia a interpretação do território, da paisagem e do bairro onde a escola está inserida. O LIAU produz saberes a partir do lugar. Essa produção de saberes coloca a escola em uma perspectiva pedagógica tanto de integração com a comunidade, quanto com outras escolas e instituições de ensino e
pesquisa que têm intervenções no lugar. O objetivo do relato é apresentar ações desenvolvidas no LIAU da EMEF Presidente Vargas. Acreditamos que essa estratégia sensibiliza-nos a perceber nossa parcela de responsabilidade na gestão ambiental urbana, buscando assim, construir o bem viver na cidade através de soluções sustentáveis pensadas, refletidas e exercidas a partir da escola. Introdução Há uma urgência na criação de políticas públicas que contribuam para a sustentabilidade das cidades. A escola tem um papel fundamental nesse contexto. O desenvolvimento de uma cultura para a sustentabilidade requer centros de saberes locais que animem, estimulem, possibilitem e auxiliem as comunidades a estruturarem o conhecimento do ambiente urbano em que vivem. As escolas são um importante ponto de apoio para o fomento da cultura local, pois podem integrar a comunidade na produção de saberes do lugar e na reafirmação das identidades territoriais. Além disso, essa produção de saberes coloca a escola numa perspectiva pedagógica tanto de integração com a comunidade, quanto com outras escolas e instituições de ensino e pesquisa que têm intervenções no lugar. Dessa forma, centros de saberes locais, tal como os círculos de cultura em Paulo Freire, podem ser articulados por meio da educação ambiental. Novos itinerários abremse para repensar o viver nas cidades por meio de práticas de investigação e consequente reorganização do espaço urbano que priorizem o equilíbrio ambiental e o bem viver nas cidades. O lançamento do Atlas Ambiental de Porto Alegre, em 1998, inaugurou na Rede Municipal de Ensino (RME) um novo percurso da educação ambiental a partir do conhecimento do lugar. Uma nova leitura da paisagem urbana foi apresentada a partir da introdução de conteúdos que vão revelando o sistema natural, o sistema construído e a
gestão ambiental da cidade, à qual precisa da participação informada de todos os cidadãos. Essa publicação constituiu-se em uma relevante ferramenta na compreensão crítica deste território desconhecido e incompreensível que é a cidade, trazendo elementos que precisam ser levados em conta no seu planejamento e gestão. Dentre as estratégias adotadas na política de educação ambiental da RME de Porto Alegre, destaca-se o LIAU Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano, trazendo um novo olhar sobre a cidade e o processo de ensinar e aprender. O LIAU é visto como uma estratégia pedagógica que propicia a interpretação do território, da paisagem e do bairro onde a escola está inserida. Este espaço educativo vai produzindo gradativamente novos conhecimentos e revelando a memória da paisagem que povoa o imaginário das pessoas que habitam o bairro da escola, construindo um diálogo entre os saberes escolares e os da comunidade local. Pelo manuseio de mapas e outras abordagens que levam o educando à descoberta de sua territorialidade, o programa fomenta a produção de materiais didáticos para serem incorporados numa sala de exposições e auxiliarem nos trabalhos realizados pelos monitores junto às turmas da escola, funcionários, professores, e inclusive pais em momentos de interação com a comunidade. Estes materiais podem ser apresentações de slides, maquetes, jogos pedagógicos, painéis, teatro e outros. A interação entre universidade e escola, por meio de projetos de extensão universitária, busca contribuir com os educadores para a utilização do Atlas Ambiental em sala de aula. Essa estratégia visa à inserção da temática ambiental no ensino, na perspectiva de enraizamento desta nos projetos político-pedagógicos das escolas, de forma inter e transdisciplinar. Objetivos - Apresentar a proposta do LIAU como uma relevante estratégia de Educação Ambiental da Rede Municipal de Porto Alegre; - Demonstrar algumas práticas realizadas no LIAU;
Metodologia Será realizada uma contextualização histórica do projeto LIAU na RME de Porto Alegre, e apresentado o Atlas Ambiental de Porto Alegre. Serão apresentadas imagens de atividades e materiais construídos nesses laboratórios. Considerações Finais Muitas relações cotidianas que permeiam o universo escolar reproduzem a mesma lógica competitiva e violenta que a cidade apresenta com seu adensamento, seguindo a racionalidade econômica do espaço enquanto mercadoria. Nesse compasso, torna-se difícil resgatar o papel da educação. Faz-se necessário encantá-la para essa nova aventura de descobrir novas alternativas de ser e estar no mundo. O LIAU é uma estratégia que traz a compreensão do lugar do humano na complexa rede de relações que é a vida, apontando para um novo paradigma educacional, no qual a troca de saberes, promovida por meio de um diálogo inter-etnicocultural, propõe a reunião das diferentes áreas e níveis do conhecimento com saberes locais sem hierarquizá-los, mas estabelecendo entre elas uma grande rede de conexões. Acreditamos que essa estratégia nos sensibiliza e ajuda a perceber nossa parcela de responsabilidade na gestão ambiental urbana, buscando assim, construir o bem viver na cidade através de soluções sustentáveis pensadas, refletidas e exercidas com cooperação a partir da escola e seu contexto, onde o vivido ganha significado. Bibliografia
MENEGAT, Rualdo; PORTO, Maria Luiza; CARRARO, Clóvis e FERNANDES, L.(orgs). Atlas Ambiental de Porto Alegre. Porto Alegre. Ed. Universidade/UFRGS, 1998. MENEGAT, Rualdo. A emergência da tecnourbesfera e os novos desafios da geologia urbana. In: MACHADO, R. (Org.). As Ciências da Terra e sua importância para a humanidade. Curitiba: SBPG, 2008, pág. 76-91. MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco (1984). A árvore do conhecimento - As bases biológicas do conhecimento humano. Campinas: Ed. Psy, 1995. São Paulo: Ed. Palas Athena, 2004. Original em espanhol traduzido por Humberto Mariotti e Lia Diskin. OLIVEIRA, Teresinha Sá (et ali). Educação ambiental e Pedagogia do lugar: os Laboratórios de Inteligência do Ambiente Urbano (LIAUs) nas escolas da Rede Municipal de Ensino. Documento não publicado. Obs: Necessito de datashow para apresentação do relato.