Métodos de Pontos Interiores Aplicados ao Problema de Pré-Despacho de um Sistema Hidroelétrico com Manobras Programadas Aurelio R. L. Oliveira Silvia M. S. Carvalho Instituto de Matemática Estatística e Computação Científica, IMECC, UNICAMP, CP 6065, 13083-970, Campinas, SP E-mail: aurelio@ime.unicamp.br, ra0955@ime.unicamp.br, Considerando a complexidade do sistema elétrico brasileiro, o aumento da demanda de energia e a busca de menores custos, torna-se necessário a aplicação de métodos que minimizem as perdas na geração e transmissão no pré-despacho do sistema, reduzindo a geração térmica e poupando recursos hídricos. No pré-despacho de sistemas hidroelétricos, as usinas tem uma meta a cumprir em um determinado dia, estabelecida pelo planejamento de longo-prazo, e com a variação da demanda em função do horário é necessário a realização de manobras programadas para manter o sistema estável, alterando assim a configuração da rede ao longo do dia. Utilizando a velocidade e robustez dos métodos de pontos interiores 5, 6, deseja-se obter implementações mais eficientes para o pré-despacho através da exploração da estrutura matricial do sistema hidrotérmico. Será utilizado o fluxo de potência linearizado (DC) devido a sua simplicidade e precisão, onde as leis de Kirchhoff são utilizadas como restriçõesdeumproblemadeprogramação quadrática 6. O intuito é estudar o problema de fluxo de potência para a programação de geração a curto prazo, nesse caso curto-prazo se refere ao planejamento de uma semana ou até deumdia. O que se procura é atender a demanda e satisfazer as metas energéticas, que já foram definidas bolsista mestrado FAPESP no planejamento de longo-prazo. 1 Formulação Matemática No problema de pré-despacho as restrições de fluxo podem ser divididas em blocos que se repetem a cada intervalo de tempo, representando o sistema elétrico nestes intervalos, estas restrições são acopladas pela restrição de metas de geração estabelecida pelo pelo planejamento de longo-prazo. Será usado o modelo de fluxos em rede permitindo assim uma formulação independente das leis de Kirchhoff, onde os fluxos de potência são representados permitindo a consideração direta dos limites de transmissão como restrições e das perdas de transmissão como um critério de desempenho. Um sistema de pré-despacho pode ser modelado da seguinte forma : min α (f k ) T R k f k + β (p k ) T Q k p k + c T p k. s.a Af k Ep k = d k, k =1,..., t Xf k =0 k =1,..., t f min f k f max k =1,..., t p min p k p max k =1,..., t p k = q onde: f representa o fluxo de potência ativa;
p representa a geração de potência ativa; Q representa a componente quadrática do custo de geração; R representa a matriz diagonal de resistência das linhas; d representa a demanda de potência ativa; X representa a matriz de reatância das linhas; E representa a matriz de ordem m g com cada coluna contendo exatamente um elemento igual a 1 e os demais elementos nulos; A representa a matriz de incidência da rede de transmissão; c representa a componente linear do custo de geração; f max,f min,p max e p min são os limites de fluxo e geração de potência ativa; α e β são ponderações dos objetivos a minimizar; q representa a meta de geração de energia estabelecida pelo planejamento a longoprazo. Manobras Programadas Na maioria dos intervalos de tempo não são realizadas manobras no sistema interligado nacional monitorado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), fazendo com que a rede de transmissão raramente se altere de um intervalo para outro. Normalmente são realizadas de quatro a seis manobras por dia, elas são realizadas para adaptar a rede às demandas de carga leve, média e pesada. As restrições do problema de pré-despacho, podem ser colocadas na forma matricial: B = A X onde a matriz B é formada pelas linhas justapostas das matrizes de incidência e reatância respectivamente, e tem dimensão m +(n m + 1) n, isso pois foi admitido que o modelo que está sendo trabalhado tem m barras, n linhas de transmissão e g geradores. Define-se também a matriz: Ê = E 0 onde cada linha não nula de E corresponde a uma barra de geração, assim sendo a matriz Ê tem dimensões (n +1) g, onde as últimas (n m + 1) linhas são nulas. As restrições podem então ser reescritas como: A E X 0 f k p k = d k assim o problema primal de pré-despacho na forma padrão, pode ser reescrito como 4: min α ( f k ) T R f k + c T f f k + β ( p k ) T Q( p k )+c T p pk s.a A f k E p k = d k, k =1,..., t X f k = l k, k =1,..., t 0 f k f max, k =1,..., t 0 p k p max, k =1,..., t p k = q. O método de pontos interiores primal-dual é utilizado para resolução desse problema, através da aplicação do método de Newton nas condições de otimalidade..1 Estudo da Estrutura Matricial Estamos assumindo que no presente sistema ocorram i manobras nas linhas de transmissão previamente programadas ao longo de t intervalos de tempo, onde cada intervalo de tempo corresponde ao período de uma ou meia hora. A matriz B formada pelas linhas justapostas da matriz de incidência e reatância, não émais constante ao longo dos t intervalos de tempo, pois cada vez que uma manobra é realizada, podemos dizer que uma linha e uma coluna da matriz B são retiradas (inseridas), no caso de l k
existir mais de uma manobra no mesmo intervalo de tempo, mais linhas e colunas da matriz B são retiradas (inseridas). Sendo assim quando considerarmos um sistema com manobras em diferentes intervalos de tempo, utilizaremos a seguinte notação: Obtem-se assim o seguinte sistema que éresolvido em duas etapas 1: B k ( D f ) 1 ( B k ) T + D k dŷ k f = r k (1) B k = A k X k 1. Resolveremos primeiro o seguinte sistema linear onde k =1,,..., t. AmatrizB de cada iteração pode ser particionada como: T B k k N k = logo e X T k X N k A k = T k N k X k k k = X T X N. Nesse caso a matriz T representa uma árvore geradora e N representa a matriz de arcos adicionais dessa árvore, 3 Caso ocorra uma manobra uma coluna da matriz de incidência e uma linha da matriz de reatância, são retiradas (inseridas). Sendo assim, a dimensão da matriz B também se altera em concordância com as manobras, e o sistema deve ser ajustado para atender essas modificações. Nem todos os ramos podem ser manobrados, mesmo não pertencendo a árvore geradora, ou seja pertencendo somente a matriz de ramos adicionais N, pois existem ramos que se manobrados deixam o grafo desconexo, e consequentemente obtemos assim dois sistemas independentes. Do ponto de vista computacional, o esforço para se resolver um problema de uma rede com ou sem manobras é semelhante, pois a matriz B com manobras terá sua dimensão modificada, mas o número de sistemas lineares para resolver continuará sendo o mesmo,e o número de manobras em um sistema real é pequeno, resultando em poucas manobras diferentes. B k D k f( B k ) T dŷ k f = r k =1,,..., t onde a matriz B éconstituída da matriz B edovetorcanônico e j,assim B k =B e j note que esta matriz é quadrada e nãosingular. As inversas de B k e( B k ) T deverão ser calculadas, mas é importante salientar que estamos assumindo que em t intervalos de tempo, ocorrem i-manobras programadas, ou seja as matrizes B k e ( B k ) T variam ao longo do intervalo, em função desse número de manobras. Assim, para resolver (1) dŷ é encontrado sem dificuldades, utilizando a fatoração LU de B k por exemplo, que não varia ao longo das iterações. De forma algébrica escrevemos: dŷ = B k D k f( B k ) T 1 r. A fórmula de Sherman-Morrison- Woodbury é usada para resolver o sistema (1). Além disso, como as manobras são conhecidas a priori, as matrizes B k (que não superam 6 nos casos típicos) podem ser decompostas antes da aplicação dos métodos de pontos interiores, damesmaformaquenoproblemasemmanobras 4. As demais matrizes que dependem das manobras são submatrizes da identidade (E k )ou diagonais, que podem ser facilmente tratadas, não representando esforço computacional significativo.
3 Implementação do Método de Pontos Interiores com Manobras 6 5 7 3 4 9 30 Para os desenvolvimentos dos testes os dados de manobras devem ser fornecidos. Foi determinado o número máximo de seis manobras, durante o período de vinte e quatro horas. A cada manobra realizada, pode-se inserir (retirar) uma linha e coluna da matriz B, nesse caso optou-se por armazenar somente o horário da manobra e os respectivos ramos envolvidos nesse exemplo, pertencente ao sistema IEEE30, ilustrado na Figura 1. 13 14 3 15 19 18 16 17 0 1 1 4 10 9 8 8 11 Horário Ramos -1 (4,6) - (,3) -4 (5,7) 8 (,3) 18 (5,7) 18 (4,6) 1 5 7 Barras de Geração Barras de Carga 6 Tabela 1: Dados de Manobras. Figura 1: Rede do Sistema IEEE30. Na tabela anterior, o sinal negativo indica que em determinada hora os respectivos ramos serão desligados, e na ausência deles, implica sua ativação. 4 Experimentos Computacionais A implementação foi desenvolvida em matlab, com precisão de 10 3 e foram introduzidas modificações na implementação de pontos interiores desenvolvida que não considera manobras 4. Os experimentos foram realizados em um processador Mobile AMD Sempron processor 3000+, 1GB de RAM e velocidade 1.8GHZ. O ponto inicial escolhido por apresentar melhor resultado foi a solução aproximada para sistema sem manobras. As linhas de transmissão ligadas são determinadas para um dado período k eamatriz B k correspondente utilizada. As tabelas e 3 representam o tempo e a velocidade para os sistemas IEEE30 e IEEE118 respectivamente, com um número de manobras variando de 0 a 6. Percebe-se que o número de manobras pouco interfere nos resultados obtidos. Nos testes as manobras seguiram a mesma ordem em todos os casos para que o número de redes não variasse de um sistema para outro. Nestes experimentos, utilizou-se o valor de potência ativa máximo de 00MW para o sistema IEEE30 e 000MW para o sistema IEEE118. 0 0,3440 3 1 0,3590 4 0,3750 4 3 0,3900 4 4 0,3910 4 5 0,3750 4 6 0,4060 4 Tabela : Resultados dos Testes IEEE30. Para manobras realizadas somente entre barras de carga e barras de geração obteve-se al-
Num. Manobras Tempo (seg) Iterações 0,8590 3 1,9530 3 3,0780 4 3 3,150 3 4 3,190 3 5 3,0470 3 6 3,1100 3 Tabela 3: Resultados dos Testes IEEE118. terações significativas na função objetivo que podem ser verificadas na Tabela 4. Man. Barras Geração/Carga func. objet. 0 0 8.439e-01 1 (,4) 8.439e-01 (,4) e (1,3) 1.04e+00 3 (,4),(1,3) e (5,7) 1.01e+00 Tabela 4: Testes Manobras Barras de Geração/Carga do sistema IEEE30. Para as manobras feitas somente com barras de carga, temos os resultados expostos na Tabela 5. Man. Barras Carga/Carga func. objet. 0 0 8.439e-01 1 (7,8) 8.31e-01 (7,8) e (16,17) 8.357e-01 3 (7,8),(16,17) e(1,) 8.360e-01 Tabela 5: Testes Manobras Barras de Carga/Carga do sistema IEEE30. A partir de duas manobras o valor da função objetivo calculada para manobras feitas em barra de geração com barras de carga aumenta significativamente em relação a mesma calculada para barras de carga com barras de carga, embora o tempo de execução seja praticamente o mesmo para os dois casos. As implemantações também foram realizadas para problemas maiores, equivalentes do Sistema Sul - Sudeste - Centro-Oeste (SSECO) e sistema interligado nacional. Os resultados podem ser visualizados nas tabelas 6, 7 e 8. Percebe-se que o número de manobras pouco interfere no tempo ou na quantidade de iterações, mas sim o ramo manobrado é que pode fazer diferenças significativas nos resultados. Convém ressaltar a convergência rápida dos métodos de pontos interiores em todos esses experimentos, nunca superando 8 iterações. 0 57,140 1 61,969 145,31 5 3 148,0 5 4 10,45 5 5 15,89 5 6 149,48 5 Tabela 6: Resultados dos Testes SSECO1654. 0 59,35 1 63,937 149,53 5 3 180,1 6 4 153,46 5 5 158,18 5 6 153,84 5 Tabela 7: Resultados dos Testes SSECO173. 0 109,1 3 1 115,34 3 3,95 6 3 97,95 8 4 9,60 6 5 35,81 6 6 196,07 5 Tabela 8: Resultados dos Testes BRASIL1993. 4.1 Custo de Geração O custo de geração praticamente não varia para o problema com e sem manobras manobras. Por simplicidade os custos de geradores são iguais nestes testes, possuindo a geração o formato mostrado na Figura. Quando se altera o valor dos limitantes superiores de alguns fluxos, nota-se que as curvas
Output MW 80 70 60 50 8 13 40 1 11 30 5 0 0 5 10 15 0 5 Time Interval Figura : Gráfico das Gerações. se alteram. Por exemplo reduzindo o valor de fmax = 00MW para fmax =60MW temos o gráfico mostrado na Figura 3. Em ambos os casos, os gráficos foram gerados para o sistema IEEE30 Output MW 80 70 60 50 40 30 0 1 11 5 8 13 10 0 5 10 15 0 5 Time Interval Figura 3: Gráfico das Gerações Modificado. 5 Conclusões Apesar da matriz B do problema de prédespacho, formada pelas linhas justapostas das matrizes de incidência e reatância não serem mais constantes ao longo dos t-intervalos de tempo, ela se modifica somente a cada manobra. Mesmo com o número de iterações sendo superior em relação ao problema sem manobras, nota-se que a implementação éeficientepoisessas iterações adicionais são perfeitamente justificáveis, devido a complexidade adicional causada pela consideração das manobras existindo poucas dessas matrizes Verifica-se que o número de iterações aumenta no máximo cinco iterações, e o tempo computacional sofre um pequeno aumento proporcional. Podemos concluir que a resolução do problema com manobras através de métodos de pontos interiores é quase tão eficiente quanto à solução para o problema sem manobras. As manobras não podem ser aleatórias, pois podem existir ramos que se retirados deixam o sistema desconexo, não sendo mais possível resolver o problema original, obviamente isso não ocorre na prática, pois os ramos que podem ser manobrados já são conhecidos evitando assim esse tipo de situação. O fluxo de potência ativa máximo também deve ser considerado com muito cuidado, pois ao realizarmos as manobras o sistema se torna mais sensível e algumas restrições podem não mais ser satisfeita. Agradecimentos Este trabalho contou com apoio financeiro da Fundação de Amparo àpesquisadoestadode São Paulo (FAPESP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Referências 1 L.M.R.Carvalho. Métodos de Pontos Interiores Aplicados Pré-Despacho de um Sistema Hidroelétrico Usando o Princípio de Mínimo Esforço Comparação com o Modelo de Fluxo em Redes. PhDthesis,ICMC USP, São Carlos SP, Novembro, 005. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/ 55/55134/tde-0607006-153856/. M.F Carvalho, S. Soares, and T. Ohishi, T. Optimal active power dispatch by network flow approach. IEEE Transactions on Power Systems, 3(3):1640 1647, 1988. 3 A. R. L. Oliveira and S. Soares. Métodos de pontos interiores para problema de fluxo de potência ótimo DC. SBA: Controle & Automação, 14(3):78 85, 003. 4 A. R. L. Oliveira, S. Soares, and L. Nepomuceno. Short term hydroelectric scheduling combining network flow and inte-
rior point approaches. Electrical Power & Energy Systems, 7():91 99, 005. 5 R. J. Vanderbei. Linear Programming Foundations and Extensions. Kluwer Academics Publishers, Boston, USA, 1996. 6S.J.Wright. Primal Dual Interior Point Methods. SIAM Publications, SIAM, Philadelphia, PA, USA, 1996.