215 Foto 1: Imagem do curral situado no lote nº 15. A infra-estrutura existente não está adequada de acordo com as exigências que o laticínio tem solicitado aos produtores. A infra-estrutura de cobertura e pavimentação está ausente. Autor: CRUZ, Nelson Ney Dantas, março, 2007. Foto 2: Curral no lote nº 04 sem a infra-estrutura que é exigida pelo laticínio. O produtor realiza a ordenha à sombra de uma árvore que se localiza no centro do curral. Autor: CRUZ, Nelson Ney Dantas, fevereiro 2007.
216 As exigências por parte do laticínio têm-se refletido nas organizações das relações sociais no lugar pois, como vimos anteriormente, ainda persistem relações de vizinhança em que vigoram a tolerância, a cumplicidade e também a confiança. Essas relações permitem que a organização coletiva, quanto à produção do leite, seja realizada e regida por atitudes que não são juridicamente impostas, mas socialmente compartilhadas, como é o caso da organização que os assentados possuem, em depositar o leite nos tanques de expansão pertencentes a grupos coletivos. Observando o trabalho em torno da produção do leite, pôde-se verificar que há uma relação de confiança entre aqueles que depositam o leite no tanque de expansão, pois cada um é responsável por medir o volume de leite, depositá-lo e registrar o valor do volume numa tabela. As fotos 10 e 11 ilustram essa paisagem existente no assentamento. Foto 3: Entrega de leite no tanque de expansão de uma das associações de produtores. O produtor é responsável em medir o volume do leite e depositá-lo no tanque. Autor: CRUZ, Nelson Ney Dantas, fevereiro, 2007.
217 Foto 4: Entrega do leite no tanque resfriador. Numa folha, onde se tem uma tabela, o produtor registra, em seu nome, a quantidade de leite que foi depositado no tanque. Autor: CRUZ, Nelson Ney Dantas, fevereiro, 2007. As mudanças solicitadas pelo laticínio estão sendo sedutoras para os assentados e aos poucos vão modificando as relações coletivas baseadas na confiança mútua, como é o caso da honestidade que prevalece no uso coletivo do tanque de expansão. A partir de abril de 2007, a entrega do leite passou a ser realizada mediante a presença de uma outra pessoa, que mede o volume do produto, realiza uma medida de acidez do leite e o deposita no tanque. A necessidade de se colocar alguém, para que realize tal trabalho, advém da exigência do laticínio, o qual promete pagar um preço maior pelo leite, que contenha o mínimo de bactérias por volume. Sendo assim, as famílias produtoras decidiram contratar uma pessoa do próprio assentamento, para trabalhar durante as manhãs e realizar o trabalho, que antes era de responsabilidade de todos, inclusive a tarefa de limpeza do tanque. Podemos observar esta realidade na foto 12:
218 Foto 5: Alternativa de depósito de leite no tanque de expansão. Uma funcionária é responsável em medir a quantidade de leite entregue, verificar o nível de acidez do leite e registrar o volume depositado na tabela Autor: CRUZ, Nelson Ney Dantas, abril de 2007. Dentro do processo de produção do leite, pode-se verificar, também, alterações nas técnicas de produção relacionadas à melhoria genética do gado leiteiro. Aqueles produtores que pretendem se adequar às exigências do mercado têm buscado técnicas que possam lhes permitir aumentar a produção do leite. Desse modo, no assentamento Divisa, dois produtores vizinhos fizeram um curso de inseminação artificial e, em conjunto, mantêm a prática da inseminação do gado leiteiro. Os vizinhos dos lotes nº 03 e nº 04 trabalham, em conjunto, para a manutenção de um botijão com nitrogênio, a fim de conservar o sêmen que será utilizado na inseminação. Na foto 13, tem-se o botijão aberto para retirada do sêmen que seria utilizado para fertilizar o gado.
219 Foto 1: Realização de inseminação artificial. Moradora do lote nº 3 prepara o material que será utilizado para inseminar o gado. Realiza o descongelamento do sêmem e faz higienização dos instrumentos que serão utilizados. Autor: CRUZ, Nelson Ney Dantas, abril de 2007. Mas essa técnica moderna tem sido acompanhada pela sabedoria do produtor em conhecer os ciclos da natureza. A inseminação não é realizada aleatoriamente, escolhendo-se o animal sem critérios que apontem a melhor opção. O produtor tem que saber o momento em que a vaca está no cio, para que o sêmen utilizado para inseminar não seja descartado. No caso específico da inseminação realizada em abril de 2007, como está ilustrada pela foto 14, que se segue, o entrevistado 26 nos relatou que o entrevistado 03 havia escutado, pela madrugada,
220 a vaca mugindo e pressupôs, imediatamente, que ela estava no cio, podendo ser fertilizada pela inseminação. Como o entrevistado 03 não poderia realizar o trabalho, solicitou a sua filha para que o fizesse, na sua ausência. Foto 2: Inseminação artificial realizada no gado bovino. O local onde se prende o animal é o tronco de um curral, situado próximo à residência do produtor. Autor: CRUZ, Nelson Ney Dantas, abril de 2007. Essa técnica moderna de fertilização do gado não é utilizada por todos, no assentamento. Nos outros 25 lotes que possuem rebanho bovino ainda se utiliza um macho reprodutor, como é o caso do lote nº 02 e lote nº 18. Ao se observar a paisagem, fica evidente que, no assentamento, existem contrastes de técnicas que revelam a opção de um e de outro produtor, bem como a potencialidade infraestrutural de se realizarem investimentos para com a produção. Nas fotos que se seguem, podem-se visualizar os animais que são utilizados para fertilizar o rebanho, num e noutro lote.
221 Foto 3: Rebanho bovino leiteiro reunido do lote nº 02. O rebanho é mantido próximo do curral, situado ao lado da residência do produtor. Em meio às crias fêmeas, tem-se o reprodutor macho, da raça Nelore. Autor: CRUZ, Nelson Ney Dantas, fevereiro de 2007.