UM OLHAR SOBRE: EDUCAÇÃO, CULTURA, ALTERIDADE BRANDÃO, Anna Paula Lins 1 RAMOS, Celiomar Porfírio 2 Resumo: Este artigo tem por finalidade explanar as relações entre antropologia, etnocentrismo, cultura, educação e alteridade no ensino e aprendizagem no contexto educacional, uma vez que todos esses elementos estão interligados. Eles se embasam em teorias educacionais de vários autores, dentre os quais são principais Dauster 3, Gusmão 4 e Rocha, que enfatizam com propriedade os temas sobre o qual dissertaremos. Palavras-chave: Antropologia, alteridade, cultura, educação. A antropologia é uma ciência preocupada com o fator humano e suas relações (ANTROPOLOGIA: Wikipédia, 2008). Lévi-Strauss (In: DAUSTER, 1997: 02) afirma que ela iniciou-se quando o homem sentiu a necessidade de estudar a sociedade, com o objetivo de entender a cultura e a vida social. Para o antropólogo estudar a sociedade, ele se utiliza, como um dos métodos, da etnografia, que tem como objetivo manter contato pessoal com a realidade estudada, de acordo com Cunha (1986: 27): Etnograficamente, etnografia significa descrição cultural. Para os antropólogos, o termo tem dois sentidos: (1) um conjunto de técnicas que eles usam para coletar dados sobre os valores, os hábitos, as crenças, as práticas e os comportamentos de um grupo social; e (2) um relato escrito resultante do emprego dessas técnicas. O principal objetivo do pesquisador ao utilizar esse método é vivenciar o que o outro vivencia e desvendar o que o objeto de pesquisa sente e pensa. Dauster (1997: 03) declara que a etnografia procura construir um conhecimento fundado na 1 Aluna graduando do terceiro ano do Curso de Licenciatura Plena em Letras no IUniAraguaia/UFMT, annapaulabrandao@hotmail.com; 2 Aluno Graduando do terceiro ano do Curso de Licenciatura Plena em Letras no IUniAraguaia/UFMT, celiomarramoss@hotmail.com; 3 Antropóloga e professora/pesquisadora Departamento de Educação PUC-Rio; 4 Antropóloga e professora do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas à Educação Deciase Faculdade de Educação da Unicamp.
experiência (...), na percepção do outro do ângulo de suas razões positivas e não de suas privações, buscando o sentido emergente das relações entre os sujeitos. Notamos, por meio dessa visão, que o antropólogo deve se inserir na comunidade pesquisada, procurando pensar e agir como ela. Quando o antropólogo tenta se inserir em outra sociedade e procura pensar como o outro pensa, denomina-se alteridade, que é a aventura de se colocar no lugar do outro, de ver como o outro vê, de compreender um conhecimento que não é nosso (GUSMÃO, 1997: 01). Na educação a alteridade contribui para o professor perceber o diferencial de cada indivíduo tornando-se flexível, respeitando as variações do grupo. É papel dela também a igualdade no olhar para com o outro, pois a alteridade consiste em aceitar o ser como ele é em suas ações pessoais sem demarcação de certo ou errado. Isso faz com que compreendamos os costumes e a crença do outro. A alteridade tem como objetivo que conheçamos ao máximo a cultura do outro para que os preconceitos se desfaçam, ou seja, para não haver etnocentrismo. Para Rocha (1984) etnocentrismo é uma visão de mundo pela qual o nosso grupo é tomado como centro de tudo e todos, os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência (ROCHA, 1984: 07). Visto assim, o etnocentrismo julga que somente a visão de mundo do nosso grupo é correta e/ou soberana. Adolf Hitler é um exemplo, ao eleger uma única raça, os arianos, como a raça pura e superior. Após as pessoas acreditarem que sua cultura é superior, como fez Hitler, a tendência natural é rejeitar a outra cultura como inferir, como inatural. É o chamado etnocentrismo, uma barreira que a despeito de prejudicar o entendimento e relação com outras culturas... (CULTURA: Wikipédia, 2008). O que se observa nessa atitude, de certa forma, é a tentativa de preservação da cultura do grupo, a xenofobia, a aversão à troca de cultura. Isso, de acordo com a antropologia, não deve ocorrer, uma vez que a antropologia pretende não só o conhecimento contextualizado de cada universo cultural, mas, nos seus horizontes universalistas, supõe que se encontra em uma dada cultura estará em outra, embora de forma distinta (DAUSTER, 1997: 03). A cultura, um dos principais objetos de pesquisa da antropologia, corresponde às formas de organização de um povo, seus costumes e tradições transmitidas de geração para
geração que a partir de uma vivência e tradição comum, se apresentam como a identidade desse povo (CULTURA: Wikipédia, 2008). Notamos quais são os aspectos pesquisados pelos antropólogos dentro da cultura. Tylor (CULTURA: Wikipédia, 2008), é ainda mais minucioso afirmando que cultura é o complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade. A cultura é muito ampla. Apesar da individualidade de cada sociedade vale a pena ressaltar que Dauster (1997: 03) afirma que a sociedade tem suas particularidades, mas que uma cultura estará em outras, embora de maneira distinta, como já foi citado; isso se denomina alteridade. Cada população tem uma educação, conforme sua cultura, isso pela individualidade de cada comunidade. A antropologia e a alteridade na educação são de suma importância, pois é por meio delas que o educador aceitará o diferente, as outras culturas. Muitas vezes, na educação, o ensino desenvolve em grande escala a visão etnocêntrica, pelo qual o professor é o detentor dos saberes, é o centro de tudo, os alunos devem pensar e agir da mesma forma que o seu mestre. Exemplo disso são as formas objetivas, os métodos avaliativos, entre eles, o que obriga o aluno a decorar as matérias, desprezando o que os alunos são capazes de produzir, deixando de lado a formação pessoal e crítica de cada um. A educação atualmente tem sido massificada, não se respeita a individualidade dos alunos, trata-se o grupo como um todo, como se eles aprendessem da mesma forma, ao mesmo tempo. Se, porventura, o professor agir de forma oposta ele estará estabelecendo o etnocentrismo, Gusmão (1997: 04) afirma que a antropologia como ciência desenvolve-se preocupada em superar o mundo intersubjetivo, de modo a superar o etnocentrismo.... O educador deve ter em mente que ele trabalhará com indivíduos de diferentes culturas, e terá que saber lidar com as diferenças, como assegura Gusmão (1997: 05): a educação realiza-se, então, no interior da sociedade, composta por diferentes grupos e culturas, visando um certo controle sobre a existência social, de modo a assegurar sua reprodução por formas sociais coletivamente transmitidas. A educação deve fazer parte do cotidiano da sociedade, uma vez que elas estão interligadas; isso pelo fato de esta construir o que é conveniente naquela. Sendo a educação cultural, por ser passada de geração a geração, e o indivíduo é moldado de acordo com o
meio, (...) educar é não perder de vista a interação educação-sociedade (FLÔRES, 2005: 13). Devemos entender que os preconceitos que ocorrem na sociedade devem acabar, e é um dos papéis da escola conduzir o indivíduo a aceitar o outro : disso decorre que as atividades desenvolvidas e os conceitos aprendidos na escola permitem ao indivíduo novas formas de operar mentalmente (RIBEIRO e MARZARI, 2006: 16). O dever da escola é na verdade o de centrar o indivíduo no seu real, formando de maneira qualitativa um cidadão consciente de deveres e responsabilidades sociais, tornando-o crítico. Cada um é diferente do outro, mas faz parte de um todo cultural- social, que precisa ser observado de forma diferente, mas sem desviá-los do grupo, como partes de uma mesma unidade social. A antropologia procura compreender diferenças sociais, culturais de cada um, buscando com essa visão inserir o diferente como ele é, almejando aceitações qualitativas no meio social; segundo Gusmão (1997: 07): Na relação entre antropologia e educação abre-se um espaço para debate, reflexão e intervenção, que acolhe desde o contexto cultural da aprendizagem, os efeitos sobre a diferença cultural, racial, étnica e de gênero, até os sucessos e insucesso do sistema escolar em face de uma ordem social em mudança. Notamos que todos os itens analisados, antropologia, alteridade, etnocentrismo, cultura e educação, estão intimamente ligados. Eles são parte fundamental para o homem conhecer o outro, abrindo margem para uma associação de valores inseridos em sua prática. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTERIDADE. Enciclopédia Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org./wik/alteridade>. Acessado em 05 de jun. de 2008. ANTROPOLOGIA. Enciclopédia Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org./wik/atropologia>. Acessado em 05 de jun. de 2008. CULTURA. Enciclopédia Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org./wik/cultura>. Acessado em 05 de jun. de 2008. DAUSTER, Tânia. Um outro olhar: Entre a antropologia e a educação. IN: Cadernos CEDES, Vol. 18, N. 43, Campinas, Dec. 1997.
FLÔRES, Onici Claro. Ensino da Língua e Literatura: alternativas metodológicas. Canoas: Ed. ULBRA, 2001. GUSMÃO, Neusa Maria Mendes de. Antropologia e educação: Origem de um diálogo. IN: Caderno CEDES. Vol. 18, Nº. 43, Campinas, dez. 1997. MARZARI, Marilene & RIBEIRO, Hidelberto de Sousa. Cultura, educação e teoria da Atividade. IN: Revista Panorâmica. Nº 6, Cuiabá: EdUFMT, 2006. MEGA, Lüdke & ANDRE, Marli E. D. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. ROCHA, Everaldo P. Guimarães. O que é Etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. (Coleção Primeiros Passos). Abstract: This article aims to explain the relations between the Anthropology, Ethnocentrism, Culture, Education and alterity in teaching-learning process in an educational context, since they re all inter-related. It is based on theories of many authors, mainly: Dauster, Gusmão e Rocha, who highlight strongly the theme of this paper. Key words: Anthropology, alterity, culture, education.