DESCARTES (1596-1650) Professora Gisele Masson Professora Patrícia Marcoccia PPGE - UEPG
Apresenta os passos para o estudo e a pesquisa, critica o ensino humanista e propõe a matemática como modelo de ciência perfeita. I Parte: Descreve sua formação educacional e sua insatisfação com o modo como muitas das matérias tradicionais foram ensinadas; II Parte: Concepção do novo método filosófico; III Parte : Apresenta os rudimentos de um código moral provisório; IV Parte : Caráter metafísico da obra, relata sua busca pelas bases de um sistema de conhecimento confiável e contém o enunciado Penso, logo existo ; V Parte: As concepções sobre a física e a cosmologia, discute o tema específico da circulação do sangue e apresenta um argumento baseado na linguagem para a distinção radical entre os seres humanos e os animais. VI Parte: Pontos gerais sobre o papel da observação e da experimentação na ciência (Experiência) e delineia os futuros projetos de pesquisa.
Discurso do método: Primeira parte 1.1 O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentarem qualquer coisa, não costumam desejar tê-lo mais do que tem. (...)e, destarte, a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de serem uns mais racionais do que outros, mas somente de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não considerarmos as mesmas coisas (DM, parte 1) TESE Apesar de todos terem a mesma parcela de razão, as pessoas possuem opiniões diferentes por usarem métodos diversos e não considerarem as mesmas coisas.
Considerações 1.1 1: Método; 2: Caminhos que seguiu; 3: Não é um método universal; 4: Nutrido pelas letras (gramática, história, poesia, retórica). Mas isso me deixou com muito mais dúvidas e erros ; 5: Leitura de bons livros, a delicadeza da poesia, sutileza das matemáticas, escritos sobre os costumes, filosofia, jurisprudência, medicina, teologia, etc ; 6: Viagens para conhecer os costumes; 7: Eloquência e a poesia como dons, não como frutos do espírito. Raciocinar bem pode persuadir qualquer um.
10: Apreciava nas matemáticas a certeza e a evidência das razões. 12: Sobre a filosofia: embora cultivada por pessoas ilustres, há ainda muita disputa sobre seus temas. Considerava falso o que era somente verossímil. Obs. A verdade é uma. 14: Busquei o saber em mim e no livro do mundo. Viajei,conheci cortes, experimentei a fortuna, apreciei a importância do raciocínio útil e não especulativo. 11: Reverenciava a teologia, mas achava que suas verdades eram acessíveis apenas às pessoas de inteligência muito elevada e requeria auxílio dos céus. 13: As demais ciências não tinham solidez. 15: Notei a diversidade nos raciocínios dos outros homens, como na filosofia. Aprendi a não crer no exemplo e no costume.
DISCURSO DO MÉTODO: SEGUNDA PARTE 2.1 (...) em vez desse grande número de preceitos... Julguei que me bastariam os quatro seguintes (...) {1} jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção...{2} o segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis...{3} o terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos... {4} e o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu tivesse a certeza de nada omitir. (DM, parte 2) TESE A verdade resulta da aplicação de um procedimento de estudo: clareza e evidência, análise cuidadosa, ordem do simples ao complexo e revisão dos passos seguidos na análise.
Considerações 2.1 1: Há mais perfeição nas obras compostas por uma pessoa; 2: Imperfeições do conhecimento resultam da diversidade; 3: Duas espécies de espírito hábeis precipitados; razão e modéstia; 4: Opiniões são mutáveis um só homem encontrar a verdade; 5: Lógica para explicar; 6: Regras; 7: Começar pelo mais simples; 8: Verdade simples e geral verdade é uma; 9: Conceber os objetos com distinção.
Terceira Parte 3.1 (...) Não basta, antes de começar a reconstruir a casa onde se mora, derrubá-la, ou prover-se de materiais e arquitetos..nem, além disso, ter traçado cuidadosamente o seu projeto, mas cumpre também ter-se provido de outra qualquer onde a gente possa alojar-se comodamente durante o tempo em que nela se trabalha (DM, parte 3) TESE Há necessidade de se considerar preceitos de conduta durante o período em que se examina as bases do conhecimento. É uma moral provisória porque ainda não tem um fundamento sólido, uma vez que o processo de investigação de todas as verdades está em curso.
Considerações 3.1. Primeiro preceito: obedecer as leis e os costumes do país. Notar a diferença entre o que se crê e o que se conhece. Respeitar as leis, mas valorizar a liberdade e observar a mutalidade das coisas. Segundo preceito: ser firme e resoluto nas ações. Evitar opiniões duvidosas. Se não dispomos das opiniões mais verdadeiras, devemos seguir as mais prováveis. Terceiro preceito: vencer a mim e aos meus desejos antes que a fortuna ou o mundo. Perceber que somente os nossos pensamentos estão em nosso poder. Quarto preceito: examinar as ocupações dos homens e escolher a melhor. Julguei continuar naquela que me encontrava: estudar a razão e a verdade. Me senti feliz com esse método, pois a cada dia descobria novas verdades que as demais coisas não me interessavam. Pensava que devia me instruir pois Deus nos deu a capacidade de distinguir o verdadeiro do falso e não basta confiar no que os outros dizem ou pensam. Basta bem julgar para bem proceder. Fazer a vontade obedecer ao entendimento.
DISCURSO DO MÉTODO: QUARTA PARTE 4.1 (...) pensei que era necessário... rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não restaria algo em meu crédito que fosse inteiramente indubitável. (DM, parte 4) TESE Para construir um pensamento sólido é preciso partir de uma primeira verdade que seja clara e distinta. Essa primeira verdade é o fato que para descobrir a existência das coisas preciso primeiro estar consciente de que penso, que sou algo cuja natureza é essencialmente pensamento. Com essa verdade deduzo outras: que Deus existe, que há um mundo, etc. Há muitas verdades incertas nas ciências. Se queremos partir de um ponto seguro, um ponto arquimediano, devemos rejeitar as demais verdades e nos certificar de um único ponto. Primeiro, devemos notar que a qualidade daquilo que os sentidos nos fornecem não é mais real que aquilo que sentimos quando sonhamos. Todavia, ao fazer esse exame notamos que há algo que pensa, há uma realidade pensante. Essa realidade é nossa própria natureza. Logo, podemos fazer dessa evidência nossa primeira verdade.
Considerações 4.1. 1: Não podia supor que eu não existisse e que mesmo ao duvidar ficava provado que algo duvidava e, portanto, eu existia como uma substância pensante. Como para ser essa substância não precisa de nenhum lugar, concluí que esse eu, a alma, é algo distinto do corpo. 2: Eu penso, logo existo - trata-se de uma certeza clara e distinta. Somente o que se concebe com clareza e distinção é verdadeiro. 3: Meus pensamentos se baseiam nas coisas que estão fora de minha consciência (céu, terra, luz, calor, etc.). Se tais pensamentos são verdadeiros ou falsos, é fácil ver que isso depende de mim. Mas o mesmo não pode ser para a ideia do perfeito. 1) essa ideia não podia vir do nada; 2) o mais perfeito não pode vir do menos perfeito. Portanto, eu não posso ser a causa dessa ideia. 4: Na ideia do Ser perfeito, sua essência coincide com a sua existência. 5: Nada nos sentidos nos asseguram de qualquer verdade.
DISCURSO DO MÉTODO: QUINTA PARTE Síntese do Tratado Sobre o Mundo (1634): TESE O corpo humano é uma máquina complexa criada por Deus. Deve ser compreendido como uma estrutura que funciona de acordo com a disposição de seus órgãos, ao modo de uma máquina perfeita. Por conta disso, não há no corpo humano distintas formas de alma (sensitiva, vegetativa, racional, como pensava Aristóteles), mas somente uma: a alma racional, distinta do corpo, mas unida a ele, criada por Deus.
Considerações 1: Examinei a noção de matéria, substância, movimento e tudo o que diz respeito ao mundo celeste. Depois tratei da Terra e seus corpos (compostos). 2: Deus criara uma alma racional e a juntara o corpo. (corpo aqui é como um animal-máquina). 3: Descrição da anatomia do coração: explicação estritamente mecânica, seguindo o modelo da matemática. 4: Não existe o que os escolásticos chamam de alma vegetativa. O corpo é uma máquina complexa que deve ser estudada e conhecida de modo experimental, como fazem os médicos na dissecação dos corpos.
Considerações 5: Corpo é uma máquina criada por Deus. 6: Máquinas agem pela disposição de seus órgãos e não por conhecimento. 7: Diferença entre homens e animais: linguagem e capacidade de articulação. 8: Alma racional não provém da matéria. É criada. É imortal.
DISCURSO DO MÉTODO: SEXTA PARTE TEMAS: Considerações gerais sobre o conteúdo do Discurso TESE Dado o caráter apologético dessa parte, penso que não há uma única tese, mas várias considerações relacionadas ao trabalho do autor. A leitura da sexta parte é fundamental para se entender o temperamento intelectual de Descartes, sobretudo sua consciência da atmosfera hostil do meio acadêmico de sua época.
Considerações 1: Explica que não publicou o Tratado Sobre o Mundo por receio da censura religiosa. 2: Crítica à especulação: a filosofia deve buscar ser útil à vida. Seu fim não é a especulação ou contemplação. 3: Valorizar as explicações simples. Valorizar a experiência. Ordem do método: buscar primeiro os princípios ou primeiras causas. Considerar que os princípios são originários de Deus. Depois considerar os elementos que decorrem desses princípios: céu, terra, astros, etc. 4: As causas explicam os efeitos, mas, como os efeitos são muito certos, eles provam a existência das causas mais do que estas provam os efeitos.