Silvia Salles Leite Lombardi silviasalles@bol.com.br Marisa Trench de O. Fonterrada Universidade Estadual Paulista



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Transcrição:

A paisagem sonora e a escola: estudo de alguns aspectos da escuta e da percepção do ambiente sonoro por alunos e professores do 6º ano - Bairro do Morumbi São Paulo Silvia Salles Leite Lombardi silviasalles@bol.com.br Marisa Trench de O. Fonterrada Universidade Estadual Paulista Resumo. Este artigo apresenta o relato da aplicação de uma pesquisa em andamento na cidade de São Paulo, desenvolvida pelo GEPEM/UNESP, Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Musical(orientada pela Profa. Dra. Marisa T. O. Fonterrada). Tem por objetivo investigar os hábitos de escuta e percepções de alunos e professores. Os resultados parciais aqui apresentados são de questionários respondidos por alunos e professores da 5ª. Série do ensino fundamental de uma escola da rede particular, no bairro do Morumbi, zona sul da capital paulista. No que diz respeito à ecologia sonora, fundamenta-se na obra de Murray Shafer (1991, 2001) e aplica, nesta primeira fase, a metodologia Survey (BABBIE,1999).Os trabalhos tiveram início em abril de 2007, devendo estender-se até 2008. Os resultados encontrados darão subsídios à elaboração de material didático a respeito de ecologia acústica para crianças e jovens da mesma faixa etária investigada. Palavras-chave: ecologia acústica, escuta, meio ambiente, ambiente sonoro, poluição sonora, educação musical, ensino fundamental. Esta pesquisa está sendo desenvolvida pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Musical GEPEM/UNESP, em São Paulo, nos anos de 2007 e 2008. A primeira comunicação de trabalho desta pesquisa deu-se no V Encontro ABEM Sudeste e 1º. Congresso Nacional de Educação Musical, em setembro de 2007, em São Paulo, quando foi apresentada sua fundamentação teórica No prosseguimento, a pesquisa foi aplicada no Colégio Santo Américo, situado à Rua Santo Américo, 275, no bairro do Morumbi, zona sul da capital paulista. Trata-se de uma escola grande, com 1560 alunos, divididos entre a educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Atende, principalmente, um público de alto poder aquisitivo, pertencentes às classes A e B. A escola conta com espaço privilegiado, com muita área verde, bosques e jardins. O horário de maior ruído exterior, proveniente do trânsito, acontece nos horários de entrada e saída dos alunos, provocado pelo movimento dos carros dos próprios alunos, além dos ônibus escolares.

Além das aulas de música presentes na grade curricular desde a educação infantil ( 3 a 6 anos), os alunos podem optar por cursos de instrumentos musicais, canto e dança, oferecidos pelo Espaço Musical Esterháza, uma escola de música dentro do espaço da escola, que atende alunos, professores, pais, funcionários e a comunidade em geral. O colégio vem trabalhando o assunto ecologia sonora através de projeto desenvolvido pela área de música. A primeira versão do Projeto Ambiente Sonoro ocorreu em 2005, no curso fundamental, sendo repetido em 2006 e 2007, desta última vez, em versão ampliada para toda a escola. Alunos e professores participaram de palestras oferecidas por médicos e fonoaudiólogos, trabalharam o assunto nas aulas de música, fizeram passeios pela escola observando a paisagem sonora, organizaram pequenas cenas teatrais. Cada classe ganhou seu ruidômetro : em uma escala de 0 a 10, no qual os professores e alunos poderiam classificar o nível de ruído produzido pela classe a cada momento, registrando, no aparelho, o nível atingido. Foi, também, utilizado um decibelímetro para medir o nível de decibéis provocado por vários ruídos, como a voz, em diferentes volumes. A pesquisa do GEPEM foi aplicada no mês de dezembro de 2007, às classes de 5ª. série, na faixa etária de dez a onze anos, a seus professores. O total de questionários respondidos pelos alunos foi de cento e vinte e oito, que correspondem aos 100% analisados. No caso dos professores, como a aplicação do questionário se deu na última semana de aula, apenas oito responderam a ele, sendo esse o número considerado como 100%. O questionário dos alunos foi elaborado com dezesseis questões objetivas e dezessete questões abertas. O dos professores, com treze questões objetivas e onze abertas. Nas questões referentes ao conhecimento dos conceitos que são objetos deste estudo. 88,28% afirmaram já ter ouvido falar em poluição sonora, enquanto 11,71% não. (Já) O termo ecologia sonora mostrou-se conhecido por 28,91% das crianças, enquanto 71,09% afirmaram nunca ter ouvido falar nele. 46,09% dos alunos afirmaram ter participado de aulas ou cursos a respeito dessa temática, e 53,91% declararam nunca ter participado de cursos semelhantes. Considerando o fato de a escola já ter trabalhado anteriormente com o tema, é provável que os alunos considerem aula, apenas o que acontece dentro da classe, desconsiderando palestras e outras atividades extra-classe. A

presença do ruidômetro em todas as salas de aula pode ser interpretada por eles apenas como um elemento de alerta em relação à disciplina, esquecendo-se sua principal função, (a questão) a de regulador da qualidade sonora do ambiente. As questões 4, 5 e 6 investigam o hábito de se manter a TV ou o aparelho de som ligados o tempo todo. As alternativas sempre e às vezes foram escolhidas por cerca de 70% dos entrevistados, ficando a resposta nunca com os 30% restantes. Shafer (2001) criou dois termos para denominar as paisagens sonoras, quando estudou sua transição histórica, do meio rural para o urbano: lo-fi para definir a superpopulação de sons comum aos dias de hoje. A densidade sonora não permite clareza na informação dos sons, sendo a razão sinal/ruído, um por um. O outro termo é hi-fi;, na paisagem sonora, essa razão é favorável; com ela, o ambiente é silencioso, permitindo-se distinguir figura e fundo e escutar à distância. A paisagem lo-fi é tão marcante atualmente, que, mesmo sem perceber, contribuímos para sua manutenção. Com relação ao volume em que se ouve tv e música, nas questões 7, 8 e 9, observou-se que os itens baixo e muito baixo ficaram com uma porcentagem ínfima.a maior parte dos sujeitos pesquisados classificou o volume como médio, havendo cerca de 25% respostas para alto e, no caso da música, 20% para muito alto.na opinião dos alunos, os adultos de suas famílias costumavam usar volumes menores; nesse sentido, muito alto foi contemplado por apenas 5,4%, alto por 18,75%, médio 48,4%, baixo 23,4% e muito baixo 3,9%. Nas questões que permitiam atribuir juízo de valor aos sons, classificando-os como agradáveis e desagradáveis, tanto os que existem em casa (questões 10 e 11) como os sons do dia a dia( de 27 a 33- questões abertas); nos questionários dos professores(questões 17 e 18), verificou-se que os sons que mais incomodam em casa são os de eletro-domésticos de maneira geral e sons externos, geralmente os repetitivos, como construções, além do trânsito e buzinas. Sons agradáveis ficaram por conta da natureza, como ligados à água, mar, cachoeiras, rios, ao vento, pássaros, folhas. Os lugares considerados como os mais barulhentos foram: estádio, aeroporto, festas e baladas, cinema, recreio da escola, trânsito, e os mais silenciosos, biblioteca, o próprio quarto, igreja e praia. Embora 66,4% dos alunos tenha admitido fazer silêncio durante as aulas apenas às vezes, 80,4% afirmou ouvir bem os professores sempre, o que sugere que o ambiente

escolar esteja cada vez mais ruidoso, mas que seus agentes parecem ter aprendido a conviver com isso. O processo ensino-aprendizagem requer concentração e silêncio; no entanto, a comunidade escolar parece conviver com volumes cada vez mais ampliados, o que traz conseqüências danosas tanto para saúde de professores quanto para a dos alunos. Alguns professores mencionaram forçar a voz para serem ouvidos. O som durante o intervalo entre as aulas foi considerado de alta ou muito alta intensidade por 92,2% dos alunos e 87,5% dos professores. A questão de número 25 indagava a respeito da existência de algum lugar onde se pudesse ficar em silêncio, sem ouvir nenhum som. Alguns alunos admitiram a impossibilidade do silêncio total e citaram o exemplo de algumas salas da escola de música, que têm espumas nas paredes, e dão uma sensação aproximada ao silêncio. O silêncio aparece, também, ligado à privacidade; muitos citaram o próprio quarto como o lugar mais silencioso que conhecem. Entre os entrevistados, 67,2% afirmaram preferir lugares silenciosos, enquanto 25,8 % gostam dos barulhentos; 3,9% acrescentou a categoria ambos e 3,1% não responderam. Descobriu-se, pelas respostas, que 25 % dos alunos entrevistados usam fones de ouvidos todos os dias, 25,8% quase todos os dias e 43,8% às vezes e 5,5% não respondeu; pela análise das respostas, conclui-se que faltou a alternativa nunca como possibilidade de resposta. Muitos alunos (67,2%) admitiram sofrer dores de cabeça e mal-estar após exposição a ambientes muito ruidosos, e o cinema foi citado como um desses ambientes. No entanto, isso não parece incomodar a geração jovem, porque apenas 26,56% considerou a intensidade do som excessiva. O volume sonoro do cinema foi considerado de alta intensidade por 60,93%, de média intensidade por 10,94%, de baixa por 0,78%; apenas 0,78% dos alunos consideraram o volume do som em cinemas muito baixo. Muitos dos sons que trazemos na memória carregam significados, nos remetem a experiências, fazem parte de nossas lembranças. É o que ficou caracterizado nas respostas às últimas questões, pelas quais se constata que grande parte dos alunos referiu-se a lembranças de vozes de seus pais, avós ou pessoas muito queridas, geralmente carregadas de carinho e afeição por eles.

A quase totalidade dos questionários respondidos revelou o gosto dos alunos por algum tipo de música. Os gêneros citados foram: pop, pop-rock, rock, funk, rap, eletrônica, black,clássica, forró, jazz, blues, samba, mpb, country, sertaneja, tecno, reggae, romântica. Quanto à escolha da música de sua preferência, a maior parte dos entrevistados citou músicas em inglês. Alguns chegaram a escrever que gostam especialmente de músicas cantadas nessa língua. Essa observação confirma a crença de que no Brasil, todos preferem o que vem de fora, o importado. A música brasileira, apesar de rica e variada, é pouco valorizada. Vale de alerta aos professores, especialmente aos educadores musicais, que devem refletir a respeito, especialmente na hora da escolha de repertório para seus alunos. É importante observar que todos os professores que responderam à pesquisa acham que a questão da ecologia acústica deve ser tratada na escola, salientando a necessidade de um material didático para apoiar e orientar a ação docente. O assunto pode, segundo eles, ser tratado por muitas disciplinas curriculares, de forma interdisciplinar, como tema transversal, podendo ser enfatizada em Música e Ciências, como, aliás, é previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais para a temática da educação ambiental, considerada um Tema Transversal. Sugeriram vivências e simulações de situações, materiais audiovisuais e textos, como os mais adequados para conscientizar os alunos a respeito da poluição sonora, os riscos do volume excessivo do som, o valor do silêncio. Verifica-se na resposta dos professores que, embora eles estejam conscientes da necessidade de aprofundamento nos estudos a respeito de ecologia acústica, consideram o problema do excesso de ruído como algo negativo a ser coibido mesma posição geralmente vista pelas áreas de Saúde e Direito. No entanto, seria preciso pôr em destaque enfoques positivos em relação ao som, que consideram não a simples repressão ao excesso, mas sugerem escolhas de sons positivos para fazerem parte da vida. Como nos ensina Murray Schafer: O território básico dos estudos da paisagem sonora estará situado a meio caminho entre as ciências, a sociedade e as artes. Com a acústica e a psicoacústica aprenderemos acerca das propriedades físicas do som e do modo pelo qual este é interpretado pelo cérebro humano. Com a sociedade aprendemos como o homem se comporta com os sons e de que maneira estes afetam e modificam o seu comportamento.com as artes e particularmente com a música,aprenderemos de que modo o homem cria paisagens sonoras ideais para aquela outra vida que é a da imaginação e da reflexão psíquica. Com base nesses estudos,começamos a construir os fundamentos de uma nova interdisciplina o projeto acústico.

Novos métodos de educar o público para a importância do ambiente sonoro precisam ser criados. A questão final será: A paisagem sonora mundial é uma composição indeterminada, sobre a qual não temos controle, ou seremos nós, os seus compositores e executantes, encarregados de dar-lhe forma e beleza. (SHAFER, 2001,p.18-19). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brasil.Secretaria de Educação Fundamental.Parâmetros Curriculares Nacionais: arte/secretaria de Educação Fundamental.Brasília:MEC/SEF,1997. SHAFER, Murrey. A afinação do mundo. São Paulo: Editora da UNESP, 2001 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BABBIE, Earl. Métodos de Pesquisa de Survey.Tradução de Guilherme Cesarino. Belo Horizonte:UFMG,1999. FONTERRADA, Marisa T. O.Música e Meio Ambiente A ecologia sonora. São Pailo: Vitale, 2004. (...). O lobo no labirinto uma incursão à obra de Murray Shafer. São Paulo: Editora da UNESP,2004. KRAUSE, Bernie.Wild Soudscape Discovering Voices of Natural World. Berlcey: Wilderness Press,2002. SCHAFER, Murray. O ouvido pensante.são Paulo:Editora da UNESP, 1991.