CCG322 - FUNÇÕES DO CONTROLLER: UMA ANÁLISE QUALITATIVA À LUZ DA TEORIA DOS ALTOS ESCALÕES Autoria MÔNICA APARECIDA FERREIRA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Edvalda Araujo Leal UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Resumo Os pressupostos da Teoria dos Altos Escalões têm sido analisados, principalmente, quando relacionados aos cargos de CEOs, que são aqueles ocupados pelos membros da alta direção ou por times de dirigentes, mas sabe-se que a Controladoria também exerce papel fundamental na gestão das organizações. Assim, o objetivo geral é verificar a influência das características propostas pela Teoria dos Escalões Superiores no processo de tomada de decisão do Controller e seu reflexo no desempenho da organização. As variáveis propostas pela Teoria envolvem características demográficas, valores, experiências, personalidades e incentivos. No que tange os aspectos metodológicos da pesquisa, pretende-se ir a campo e conhecer de forma aprofundada como os pressupostos da Teoria dos Altos Escalões se configuram na realidade organizacional, tendo como objeto de estudo o Controller, no que tange às suas decisões estratégicas e ao resultado das empresas. Para tanto valer-se-á de multicascos em diferentes realidades empresariais. A técnica utilizada na pesquisa será a de Shadowing, na qual o pesquisador é como se fosse uma sombra daquele que está sendo observado. Com isso, espera-se ampliar as contribuições teóricas e práticas para o desenvolvimento epistemológico sobre a Controladoria e da Teoria dos Altos Escalões. Ademais, cabe ressaltar que a originalidade do estudo está em analisar a Controladoria sob um prisma diferente daqueles anteriormente abordados na literatura, à luz da Teoria dos Altos Escalões, contribuindo para o desenvolvimento da Teoria e também para as definições do papel do Controller e da Controladoria no contexto de Gestão organizacional.
FUNÇÕES DO CONTROLLER: UMA ANÁLISE QUALITATIVA À LUZ DA TEORIA DOS ALTOS ESCALÕES CONTROLADORIA E CONTABILIDADE GERENCIAL (CCG) Ao analisar a literatura que envolve a temática gestão de organizações, percebe-se que os estudos objetivam subsidiar os gestores, apontando para diversos mecanismos e artefatos com o fim de auxiliar no desenvolvimento de suas atividades. Dentre esses mecanismos e artefatos, encontra-se a Controladoria, que auxilia diretamente a gestão e o resultado da empresa (Borinelli, 2006). Assim, o objetivo desta pesquisa é verificar a influência das características propostas pela Teoria dos Altos Escalões no processo de tomada de decisão do Controller e seu reflexo no desempenho da organização. Os pressupostos da Teoria dos Altos Escalões têm sido analisados, principalmente, quando relacionados aos cargos de CEOs, que são aqueles ocupados pelos membros da alta direção ou por times de dirigentes. A Teoria dos Altos Escalões, também chamada de Teoria dos Escalões Superiores, busca explicar as estratégias organizacionais e o desempenho das organizações a partir da análise de características daqueles que participam do processo de gestão. Assim, considerando a função de gestão do Controller, nota-se uma lacuna a ser preenchida, que é verificar como os pressupostos dessa Teoria são observados nas tomadas de decisões por parte dos Controllers e como isso influencia o resultado da empresa. Como a Controladoria é parte integrante desse processo de gestão no âmbito das organizações, são diversas as definições do que seria a Controladoria. Borinelli (2006) fez um compilado, afirmando que Controladoria é um conjunto de conhecimentos que se constituem em bases teóricas e conceituais de ordens operacional, econômica, financeira e patrimonial, relativas ao controle do processo de gestão organizacional (p. 105). A partir desse conceito, verifica-se que o mesmo abrange não apenas funções internas organizacionais, mas também as externas ligadas à gestão das organizações. Dessa maneira, o objeto de estudo da Controladoria é o modelo organizacional como um todo, podendo sua atuação se centrar no processo de gestão (operacional, econômica, financeira e operacional), nas necessidades informacionais e no processo de formação de resultados organizacionais (modelo de mensuração, identificação e acumulação) (Borinelli, 2006). Sendo o Controller o responsável pela Controladoria, Oliveira, Perez Jr. e Silva (2002) ressaltam que, embora tenha ocorrido o desenvolvimento das profissões ligadas à área contábil, é possível notar ainda que não há clareza sobre as definições das funções e atividades da Controladoria e do Controller. Neste contexto, buscando verificar as diversas funções da Controladoria, Borinelli (2006) realizou em seu estudo uma vasta revisão para levantar o que a literatura apontava como sendo o papel da Controladoria e, consequentemente, do Controller. Assim, o autor elaborou o que denominou de Estrutura Conceitual Básica de Controladoria, propondo quais seriam as atividades predominantes da Controladoria. Dentre essas funções, podem-se destacar: função contábil, função gerencialestratégica, função de custos, função tributária, função de proteção e controle de ativos, função de controle interno, função de controle de riscos, função de gestão da informação, dentre outras. Kanitz (1976) ressalta que a principal função do Controller é empreender ações a fim de que a empresa apresente bons resultados; no entanto, sua função pode variar de uma organização para outra a depender de outros fatores, como tamanho da empresa e política de gestão de seus dirigentes. Roehl-Anderson e Bragg (2000) argumentam que, ao longo do tempo, as funções dos Controllers foram se alterando, deixando de ser apenas gerenciadores de departamentos e custos e assumindo também a incumbência de assessorar à alta gerência na tomada de decisões dentro das empresas.
Pipkin (1989) assevera que o Controller é um dinamizador de mudanças dentro das entidades, devendo, portanto, ser parte integrante do processo de tomada de decisão dentro das organizações. Para reforçar a mesma ideia na atualidade, Oliveira (2001, p.14) ressalta que as funções e atividades exercidas pela moderna Controladoria tornaram-se fatores vitais para o controle e planejamento a médio e longo prazos de qualquer tipo de organização, com ou sem finalidades lucrativas. A falta de definição das funções do Controller, conforme exposto por Oliveira et al. (2002), leva à inquietação de se verificar, na prática, qual está sendo a real função de um Controller dentro das entidades. E, ainda, partindo do pressuposto de que o Controller assume papel ativo na gestão organizacional, participando dos altos escalões das empresas, entende-se ser importante verificar se teorias que se aplicam a cargos de gestão, tais como, CEO ou dirigentes de altos escalões, também se aplicam aos Controllers enquanto tomadores de decisões dentro das empresas. Nesse contexto, a Teoria dos Altos Escalões tem como prerrogativa principal elencar que características específicas como valores, experiências e personalidades tem influência na nas decisões estratégicas no âmbito das organizações, que por consequência levam a determinado resultado da empresa (Hambrick, 2007; Santos, Lara, Oliveira & Lunkes, 2017). No que tange às estratégias organizacionais, Santos et al. (2017, p. 4-5) abordam que as estratégias e performance organizacionais podem ser compreendidos a partir da interação das características observáveis e cognitivas - e dos valores dos executivos envolvidos no processo de tomada de decisão. Assim, a Teoria dos Altos Escalões preconiza que tanto características demográficas (idade, gênero, formação acadêmica, experiência, status socioeconômico, dentre outros) dos gestores quanto a interação de características atribuídas à gestão (que envolvem aspectos relacionados a valores, liderança, trabalho em equipe e personalidade) afetam o processo decisorial dentro de uma organização (Santos et al., 2017). A Teoria dos Altos Escalões, proposta por Hambrick e Mason (1984), contém duas partes interligadas: (1) os executivos agem com base em suas interpretações personalizadas em situações estratégicas e (2) tais interpretações ilustram experiências, valores e personalidade desses executivos. Hambrick e Mason (1984) afirmam que, se há o desejo de se entender porque as organizações executam determinadas ações, ou ainda, o porquê de os gestores as realizarem daquela determinada forma, o caminho é conhecer os preconceitos e as disposições dos atores mais poderosos dentro da organização. Ademais, a Teoria dos Altos Escalões apresenta duas ideias subjacentes. A primeira delas é que, quando se analisa toda a equipe de gestão e não apenas um executivo isoladamente, isso produz explicações mais fortes em relação aos resultados organizacionais. E a segunda é que as características demográficas e cognitivas dos executivos também podem compor o rol de variáveis que explicam a forma com que os executivos tomam decisões, destacando, no entanto, a dificuldade de se estabelecerem proxies de estruturas cognitivas dos executivos. Hambrick (2007) ressalta que pesquisas tais como a de Boeker (1997), D'Aveni (1990), Eisenhardt e Schoonhoven (1990), geraram provas substanciais de que características demográficas de executivos (tanto no âmbito individual, como em equipes) são altamente relacionadas às estratégias organizacionais e ao desempenho empresarial. Além dos indicadores demográficos, analisar processos psicológicos e sociais reais que estão dirigindo o comportamento dos executivos faz-se necessário, no entanto, há dificuldade para se operacionalizar, o que é conhecido como problema da caixa preta (Lawrence, 1997 como citado em Hambrick, 2007). Hambrick (2007) destaca que um ponto da Teoria dos Altos Escalões que tem sido muito pouco explorado na literatura é a relação entre as características dos gestores e os contratos de compensação (incentivos). O autor afirma que o estudo dessa relação é primordial para desenvolvimento da Teoria e para o entendimento sobre a tomada de decisão
nas organizações. Assim, neste estudo, pretende-se abordar também essa análise, haja vista a sua importância para o resultado das organizações, sendo esta uma das contribuições da pesquisa. Por apresentar tais prerrogativas, os pressupostos da Teoria dos Altos Escalões têm sido testados nos cargos relacionados aos altos escalões, como CEOs, membros da alta direção ou times de dirigentes. Dessa forma, partindo da prerrogativa de que uma das funções desenvolvidas pelo Controller é a de gestão, conforme apresentado anteriormente, faz-se relevante verificar como os pressupostos dessa Teoria também são observados nas tomadas de decisões pelos Controllers, surgindo, assim, o seguinte problema de pesquisa: Como as características propostas pela Teoria dos Altos Escalões influenciam a tomada de decisões do Controller no desempenho da organização? Dessa maneira, o objetivo geral é verificar a influência das características propostas pela Teoria dos Escalões Superiores no processo de tomada de decisão do Controller e seu reflexo no desempenho da organização. As variáveis propostas pela Teoria envolvem características demográficas, valores, experiências, personalidades e incentivos. Conforme apontado anteriormente, uma das funções do Controller é participar ativamente da gestão organizacional da empresa (Kanitz, 1976; Pipkin, 1989; Roehl- Anderson & Bragg, 2000; Oliveira et al., 2002; Borinelli, 2006). Entretanto, nota-se que existe uma lacuna teórica nesse contexto literário que trata da temática. Isso porque, embora o Controller seja identificado pela literatura como participante de um nível estratégico de atuação organizacional, as pesquisas existentes na área de Controladoria têm se debruçado, principalmente, no estudo da atuação do Controller dentro das organizações (Pipkin, 1989; Anthony & Govindarajan, 2001; Ricardino, 2005), ou ainda enquanto seu caráter de controle nos modelos de gestão utilizados (Nakagawa, 1994; Fernandes, 2000; Padoveze, 2004), mas não foi encontrado nenhum estudo que relacionasse as características pessoais do Controller ao processo de tomada de decisão e resultado da empresa. Esse contexto justifica que haja uma verificação como os pressupostos da Teoria dos Altos Escalões se aplicam aos Controllers, que também são considerados como do alto escalão (Garrison & Noreen, 2001), realizando assim uma abordagem diferente daquelas empreendidas pela literatura até o momento. Com isso, espera-se ampliar as contribuições teóricas e práticas para o desenvolvimento epistemológico sobre a Controladoria. Cabe destacar que os estudos empíricos que verificaram a aplicabilidade da Teoria dos Altos escalões tiveram como escopo os CEOs e membros da alta direção (Bantel & Jackson, 1989; Carpenter & Frederickson, 2001; Biguetti, 2007; Santos et al., 2017). Ademais, a aplicação da Teoria dos Altos Escalões na Controladoria pode revelar resultados distintos daqueles encontrados no que tange à tomada de decisão de CEOs ou outros membros da alta direção, podendo abrir novas possibilidade de pesquisas na área de Controladoria. Assim, ao verificar a aplicabilidade da Teoria dos Altos Escalões no papel do Controller, espera-se contribuir de forma teórica para confirmar e ampliar o campo de aplicação da Teoria em estudo, possibilitando verificar em quais cenários a ela se aplica e de que forma as características pessoais dos Controllers podem influenciar o processo de tomada de decisão e o resultado da empresa. Se confirmados os pressupostos da Teoria dos Altos Escalões, podem emergir contribuições por meio das associações preditas pela Teoria à Controladoria, trazendo um novo olhar para o estudo do papel do Controller e da Controladoria dentro das organizações. Assim, as contribuições poderiam ser vistas sob três aspectos: predição do desempenho da empresa, processo de escolha de Controllers e estratégia de atuação organizacional. No que tange os aspectos metodológicos da pesquisa, pretende-se ir a campo e conhecer de forma aprofundada como os pressupostos da Teoria dos Altos Escalões se configuram na realidade organizacional, tendo como objeto de estudo o Controller, no que
tange às suas decisões estratégicas e ao resultado das empresas. Para tanto valer-se-á de multicascos em diferentes realidades empresariais. A técnica utilizada na pesquisa será a de Shadowing, na qual o pesquisador é como se fosse uma sombra daquele que está sendo observado (McDonald, 2005). O caráter metodológico a ser adotado também é uma contribuição relevante para a academia, uma vez que a técnica Shadowing permitirá uma análise aprofundada do contexto em que o Controller toma suas decisões, por meio de observação contínua de suas atividades (McDonald, 2005). Tal técnica contribui e permite um aprofundamento do tema; no entanto, McDonald (2005) ressalta que a técnica ainda é pouco utilizada e discutida em pesquisas em Ciências Sociais aplicadas. Nesse sentido, este estudo permitirá uma ampliação das pesquisas com a utilização de tal técnica, especialmente, aquela relacionada à aplicação de teorias às práticas reais observáveis. Além da técnica de Shadowing, pretende-se realizar entrevistas e coletar documentos nas organizações. Como possíveis limitações da pesquisa, destaca-se o fato de a mesma não analisar toda a população de organizações (no que tange a Controladoria e o papel do Controller), tendo em vista que a técnica exige aprofundamento na pesquisa de campo em cada organização em particular. Outra limitação metodológica é consolidar de forma otimizada as inúmeras informações coletadas através da técnica Shadowing, entrevistas e documentos coletados nas organizações estudadas. Ademais, cabe ressaltar que a originalidade do estudo está em analisar a Controladoria sob um prisma diferente daqueles anteriormente abordados na literatura, à luz da Teoria dos Altos Escalões, contribuindo para o desenvolvimento da Teoria e também para as definições do papel do Controller e da Controladoria no contexto de Gestão organizacional. REFERÊNCIAS Bantel, K. A., & Jackson, S. E. (1989). Top management and innovations in banking: Does the composition of the top team make a difference? Strategic Management Journal, 10(1), pp. 107 124. Borinelli, M. L. (2006). Estrutura conceitual básica de controladoria: Sistematização à luz da teoria e da práxis. Tese de Doutorado em Ciências Contábeis, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Carpenter, M. A., & Frederickson, J. W. (2001). Top management teams, global strategic posture, and the moderating role of uncertainty. Academy of Management Journal, 44(3), pp. 533 545. Hambrick, D. C. (2007). Upper echelons theory: An update. Academy of Management Review, 32(2), pp. 334 343. Hambrick, D. C., & Mason, P. A. (1984). Upper echelons: The organization as a reflection of its top managers. Academy of Management Review, 9(2), pp. 193 206. McDonald, S. (2005). Studying actions in context: A qualitative shadowing method for organizational research. Qualitative Research, 5(4), pp. 455-473. Pipkin, A. (1989). The Controller s role on route to the 21st century. CMA Management, 3(63), pp. 10-18.
Roehl-Anderson, J. M., & Bragg, S. M. (2000). The controller s function: The work of the managerial accountant. (2. ed.). Nova York: John Wiley & Sons.