BRUNA GOMES LEITE DE CARVALHO

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Transcrição:

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL CPDOC MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS BRUNA GOMES LEITE DE CARVALHO RIO COMO FOMOS: POLÍTICAS CULTURAIS DE 2001 A 2012 Rio de Janeiro 2013

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV Carvalho, Bruna Gomes Leite de Rio como fomos : políticas culturais de 2001 a 2012 / Bruna Gomes Leite de Carvalho. - 2013. 113 f. Dissertação (mestrado) Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. Orientadora: Lúcia Lippi de Oliveira. Inclui bibliografia. 1. Rio de Janeiro (RJ) Política cultural. 2. Planejamento estratégico. 3. Rio de Janeiro (RJ). Secretaria Municipal de Cultura. I. Oliveira, Lúcia Lippi, 1945-. II. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. III. Título. CDD 306

3 BRUNA GOMES LEITE DE CARVALHO RIO COMO FOMOS: POLÍTICAS CULTURAIS DE 2001 A 2012 Dissertação para a obtenção do grau de mestre apresentada ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Orientadora: Lúcia Lippi Oliveira Rio de Janeiro 2013

5 AGRADECIMENTOS A todos os amigos que fiz na Secretaria Municipal de Cultura, pois sem eles esse trabalho não seria possível. Pela enorme solicitude e boa vontade, principalmente, quando ajudavam a relembrar detalhes importantes. A Rita Samarques, memória viva e precisa de todo o processo pesquisado por essa dissertação, por estar sempre presente, disponibilizando um auxílio inestimável. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais do CPDOC, cujas disciplinas tive a oportunidade de frequentar. Em especial, à professora Mariana Cavalcanti, pela amizade e debates sobre a cidade. Aos professores Américo Freire e Lia Calabre pelos conselhos, observações e pela participação nas bancas de qualificação e defesa. À Professora Lúcia Lippi Oliveira, minha orientadora, pelo interesse demonstrado pelo tema, pelas sugestões de leitura e, sobretudo, pela imensa paciência. Aos funcionários do CPDOC e da FGV, em especial Aline e Rafael. A todos os meus colegas de mestrado, em especial Tereza, Juliana, Luciana e Daniela, companheiras fundamentais nessa empreitada, e à Vanuza Braga pelo apoio nos momentos difíceis. Aos entrevistados pela gentileza, disponibilidade e generosidade em fornecerem informações que me foram preciosas. Aos meus pais pela oportunidade da vida e do estudo. Ao Renato, peça fundamental nessa trajetória; e aos meus anjos de quatro patas, pelo amor e pela companhia.

RESUMO O presente trabalho pretende compreender os principais aspectos da gestão cultural implementada pela Secretaria Municipal de Cultura da cidade do Rio de Janeiro (SMC), no período de 2001 a 2012, refletindo sobre o papel do poder público na atualidade, através da análise de matérias de jornais e entrevistas com alguns dos principais atores envolvidos nesse processo. Concomitantemente, examinou-se o trabalho proposto pelos Secretários que comandaram a pasta nesse período, identificando as diretrizes de suas políticas culturais assim como seus principais projetos. Pretendeu-se compreender também, como as diretrizes e metas dos planejamentos estratégicos da Prefeitura (2004, 2009 e 2012) interferiram no tipo de política cultural estabelecida, e como essa política auxiliou na criação da representação da cidade que será sede de um megaevento como as Olimpíadas de 2016. Ao final, foram mostradas as semelhanças de discursos empregados pelos gestores da SMC, e entre seus projetos e escolhas. Palavras-chave: Políticas Culturais. Secretaria de Cultura. Planejamentos estratégicos. Megaeventos.

ABSTRACT The present work aims to comprehend the main aspects of cultural management implemented by the Municipal Bureau of Culture in the city of Rio de Janeiro (SCM), during the years of 2001 and 2012, reflecting on the role of the public power nowadays, through the analyses of paper materials and interviews with some of the main characters evolved in this process. Simultaneously, the work proposed by the secretaries that led the folder during that period was examined, identifying the guidelines of their cultural policies as well as their main projects. It was intended to understand as well how the guidelines and goals of the strategic planning from the city hall (2004,2009 e 2012) influenced the type of cultural polices established, and how that policy helped in creating the representation of the city that will host a huge event like the 2016 Olympics. In the end, it was shown the similarities of speeches used by the managers of SMC and between their projects and choices. Keywords: Cultural policies. Cultural Bureau. Strategic planning. Huge events.

LISTA DE QUADROS Quadro 1 Lista de Equipamentos pertencentes ao Departamento de Projetos Artísticos e Culturais.... 16 Quadro 2 Lista de teatros da Rede de Teatros do Rio.... 18 Quadro 3 Panorama Político da cidade do Rio de Janeiro a partir da década de 1990... 20 Quadro 4 Projetos apoiados pelo Fundo de Apoio ao Teatro... 25 Quadro 5 Metas 2010... 33 Quadro 6 Metas 2011... 33 Quadro 7 Metas 2012... 33 Quadro 8 Institucionalização do Plano Estratégico... 34 Quadro 9 Fluxograma Planejamento Estratégico... 37 Quadro 10 Metas 2011... 57 Quadro 11 Metas 2012... 61 Quadro 12 Propostas de campanha dos candidatos para o campo da cultura... 66 Quadro 12 Propostas de campanha dos candidatos para o campo da cultura (continuação) 67 Quadro 13 Metas 2010... 69 Quadro 14 Metas 2011... 69 Quadro 15 Metas 2012... 69 Quadro 16 Quantidade de projetos apoiados por ano por meio da Lei de Incentivo Fiscal Municipal (ISS)... 72 Quadro 17 Principais linhas de ação do Programa Porto Maravilha Cultural... 95

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 10 1 POLÍTICA CULTURAL IMPLEMENTADA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: 2001-2012... 14 1.1 A Secretaria das Culturas de César Maia... 14 1.1.1 Política cultural formulada e aplicada pela SMC na gestão César Maia... 20 1.2 Políticas Culturais formuladas e aplicadas pela SMC na gestão Eduardo Paes... 27 1.2.1 Revisão do Plano Estratégico da Prefeitura do Rio de Janeiro 2013-2016... 34 1.2.2 A primeira Secretária de Cultura: Jandira Feghalli... 42 1.2.2.1 Política cultural implementada pela secretária Jandira Feghali... 46 1.2.3 A segunda secretária: Ana Luisa Lima... 52 1.2.4 O terceiro secretário: Emílio Kalil... 54 1.2.4.1 Gestão Kalil e a política cultural... 55 1.2.5 O quarto secretário: Sérgio Sá Leitão... 63 2 COMPARAÇÃO ENTRE AS POLÍTICAS EMPREENDIDAS POR MAIA E PAES: AVANÇOS OU RETROCESSOS... 65 2.1 Promessas de campanha para o campo da cultura... 66 2.2 Planos estratégicos... 67 2.3 Projetos icônicos... 73 2.3.1 Os museus e a revitalização do porto... 74 2.3.2 Cidade da Música... 77 2.4 Secretários... 80 3 MEGAEVENTOS, PLANOS, PORTO E POLÍTICAS CULTURAIS... 85 3.1 Projeto Porto Maravilha... 88 3.2 Porto Maravilha Cultural... 93 3.2.1 As âncoras do projeto... 98 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 103 REFERÊNCIAS... 106

10 INTRODUÇÃO O título do presente estudo surgiu inspirado pelo o nome da ONG Rio Como Vamos, que se dedica a analisar, criar indicadores e monitorar as políticas públicas desenvolvidas no âmbito da cidade do Rio de Janeiro. Com o intuito de compreender aspectos da dinâmica cultural, este trabalho focou sua investigação nas políticas culturais aplicadas na cidade do Rio de Janeiro em um passado recente, por isso, o título: Rio Como Fomos. A escolha do tema deveu-se ao trajeto profissional percorrido nos últimos anos, quando fiz parte da equipe do Secretário de Cultura Emílio Kalil e tive o privilégio de participar diretamente do processo de elaboração do Plano Municipal de Cultura como coordenadora consultora. Os planos municipais são partes integrantes da tríade: conselho de cultura, fundo de cultura e plano municipal, que complementa o compromisso da cidade ao assinar o protocolo de intenções do Sistema Nacional de Cultura (SNC) do Ministério da Cultura (MinC). Por meio do SNC, o MinC vem articulando desde 2005, com estados e municípios a assinatura de protocolos de intenção para sua implantação. O Rio de Janeiro aderiu ao Sistema em 2009, na gestão da Secretária de Cultura Jandira Feghalli (2009/2010). Nesse mesmo ano, o Rio também fez sua 1 Conferência Municipal de Cultura, elegeu seu primeiro conselho de cultura, criou a lei do fundo que tramita na Câmara de Vereadores e se comprometeu com a elaboração de um plano municipal de cultura. Porém, o Plano Municipal de Cultura da cidade do Rio de Janeiro, assim como de outras cidades do Brasil, só começou a ser construído a partir 2012, quando foi assinado um convênio com o Sistema Nacional de Cultura, no sentido de auxiliar, tecnicamente, as cidades, na elaboração de seus planos. O convênio foi fruto das reivindicações feitas no Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Municipais de Cultura das Capitais e Regiões Metropolitanas, realizado em Foz do Iguaçu (PR), em outubro de 2011. Os municípios participantes foram: Aracaju, Belo Horizonte, Campo Grande, Florianópolis, Fortaleza, João Pessoa, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, São Luís, Vitória, Recife, Betim/MG, Joinville/SC, Laranjeiras/SE, Olinda/PE, Sabará/MG, Santa Luzia/MG, São Caetano do Sul/SP e São Leopoldo/RS.

11 Por meio do convênio, as cidades participantes receberam assistência técnica e metodológica da Universidade Federal da Bahia, que capacitou uma dupla de consultores para auxiliarem os gestores públicos na confecção dos referidos planos. Estes deveriam funcionar como um instrumento de pactuação, envolvendo governantes, agentes públicos, comunidade artística, produtores culturais e sociedade civil. O planejamento das etapas a serem cumpridas na construção de cada plano, variou de acordo com a cidade, mas a primeira era comum a todas as cidades envolvidas. Estas precisariam levantar e analisar determinados documentos, como os resultados de conferências de cultura; as leis orgânicas e os planos diretores. A partir da compilação das informações daí tiradas, partia-se para a etapa seguinte, que era a escuta da sociedade. A maior parte das cidades optou por iniciá-la pelos setores artísticos, ouvir seus problemas e suas necessidades, e depois ir aos territórios para recolher os depoimentos da sociedade como um todo. Esse modelo foi o escolhido pelo município do Rio de Janeiro. Porém no decorrer do trabalho, percebeu-se que o tempo de duração do convênio, cerca de um ano, era insuficiente para que uma cidade grande e complexa desenvolvesse todas as etapas. Não houve, portanto, tempo hábil, principalmente em um ano de final de mandato, para que a gestão realizasse reuniões nos territórios e com os setores. Sem contar que em ano eleitoral, esse tipo de reunião poderia ser considerado ato de campanha, mesmo que o prefeito dela não participasse. O Rio de Janeiro preferiu, logo, realizar as reuniões com os setores e executar as outras etapas mencionadas a fim de desenvolver diretrizes, objetivos, estratégias, metas e ações para serem cumpridas pelas gestões nos próximos 10 anos. A experiência de participar da elaboração do plano me fez ter contato com as necessidades que os setores apontavam, e concluir que nem sempre os seus desejos eram considerados pelas gestões. Desse modo decidi aliar minha experiência na Secretaria Municipal de Cultura com a pesquisa a ser desenvolvida no mestrado. Optei por investigar os últimos 12 anos de política cultural implementada na cidade do Rio de Janeiro, no período que compreendia as duas últimas gestões de César Maia e a primeira de Eduardo Paes, na Prefeitura. O interesse pelo assunto que motivou a pesquisa aqui apresentada, surgiu no decorrer do trabalho como consultora do Plano de Cultura. Primeiramente, observei que era necessário resguardar a memória da Secretaria, pois esta se encontrava viva em alguns funcionários que ao se aposentarem, levariam consigo toda essa lembrança. Depois, julguei interessante atestar se o discurso de democratização cultural assumido pela Secretaria, desde o ano 2000

12 (Relatório da Secretária Vânia Bonelli Prefeito Luis Paulo Conde), tinha sido de fato implementado. O recorte de tempo escolhido foi entre as duas últimas gestões de César Maia (2001/2004 e 2005/2008) e a de Eduardo Paes (2009-2012), pois este último foi afilhado político do primeiro, e com ele trabalhou em suas duas primeiras gestões, possibilitando que se fizesse um paralelo entre os dois governos com o objetivo de procurar semelhanças entre as gestões. A dissertação foi dividida em três partes: No capítulo 1 foi feita uma apresentação detalhada da atuação da Secretaria Municipal de Cultura nas duas administrações, César Maia e Eduardo Paes, bem como os Secretários escolhidos, o formato e as mudanças de estrutura da pasta, os principais programas e ações empreendidas pelas gestões, a política cultural e o impacto dos planos estratégicos na formulação desta. Por estarmos falando de doze anos de atuação, separamos as duas gestões para facilitar a compreensão do que foi desenvolvido por uma e por outra. Abarcamos desde a primeira iniciativa pelo aumento da quantidade de equipamentos públicos, passando pela criação das Lonas Culturais até chegar à Cidade das Artes e às Arenas Cariocas. Dessa forma, César Maia ficou com os subtítulos 1.1 e Eduardo Paes com os começados por 1.2 No capítulo 2 foi feita uma comparação entre as políticas culturais elaboradas pelas gestões de César Maia (2001 e 2008) e de Eduardo Paes (2009-2012). Este capítulo foi subdividido em: 2.1 Promessas de campanha para o campo da cultura, 2.2 Planos estratégicos, 2.3 Projetos considerados icônicos e 2.4 Secretários de cultura. Em 2.1 comparamos as promessas feitas pelos candidatos para verificar se já havia pistas do tipo de política que seria fomentado, caso assumissem a gestão. Desse modo em 2.2 nossa atenção se voltou para a análise e comparação dos dois Planos Estratégicos de César Maia (Rio Sempre Rio e As cidades da cidade) e dos Planos Estratégicos Um Rio para todos (2009 e 2012), verificando as semelhanças existentes entre eles. No 2.3 abordamos as escolhas feitas por César Maia por equipamentos monumentais de cultura, como a criação da Cidade da Música e do projeto não concretizado do Museu Guggenheim, na região do Porto. E como Eduardo Paes resgatou a mesma ideia de revitalização através do Projeto Porto Maravilha com a construção do Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR) e do Museu do Amanhã. No caso da Cidade da Música, percorremos os caminhos que levaram o equipamento a se tornar a Cidade das Artes concluída no final da 1 gestão de Paes, mas ainda não

13 inaugurada em sua totalidade. E em 2.4 analisamos os perfis dos Secretários escolhidos pelos dois prefeitos e o impacto advindo de tais perfis na política cultural da cidade. No capítulo 3 abordamos a elaboração do projeto de revitalização urbana, Porto Maravilha e como esse tipo de projeto se relaciona com a cidade ser sede de um mega evento, com o planejamento estratégico e com as políticas culturais implementadas em decorrência do planejamento. Por fim, esperamos que a leitura da dissertação contribua para uma melhor compreensão das políticas culturais implementadas na cidade do Rio de Janeiro, o entendimento das escolhas feitas pelos dirigentes da Secretaria Municipal de Cultura e as dificuldades enfrentadas pela mesma.

14 1 POLÍTICA CULTURAL IMPLEMENTADA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: 2001-2012 Esse primeiro capítulo tem como objetivo a análise das políticas culturais implementadas pela Secretaria Municipal de Cultura, no período de 2001 até 2012, nas gestões do ex- prefeito César Maia (2001/2008) e na primeira gestão do atual prefeito Eduardo Paes (2009/2012). Para cumprir tal tarefa serão apresentadas suas estruturas organizacionais e a política cultural formulada por cada gestão. Ao ser criada, pelo decreto municipal n 5.649, de janeiro de 1986, a Secretaria Municipal de Cultura (SMC) incorporou as funções, fundações e autarquias relacionadas ao departamento de cultura da antiga Secretaria Municipal de Educação e Cultura. A então recém concebida SMC tinha por finalidade planejar, organizar, dirigir, coordenar e desenvolver planos, programas, projetos e as atividades culturais do município (PCRJ, Decreto 5649, 1986, p. 25). Desde sua criação e a cada nova gestão, a organização interna da SMC sofre alterações para se adequar à proposta de gestão de cada secretário. Apresentaremos as alterações sofridas nas gestões dos secretários Arthur da Távola, Ricardo Macieira, Jandira Feghali, Ana Luísa Lima, Emílio Kalil e Sérgio Sá Leitão. Para tal, nos apoiaremos nos relatórios anuais de cada secretário e nos planejamentos estratégicos dos prefeitos. 1.1 A Secretaria das Culturas de César Maia O Primeiro secretário da gestão César Maia foi o jornalista e político Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros, que ficou conhecido pelo pseudônimo Arthur da Távola. Este nome foi escolhido em homenagem ao rei Arthur, da Távola Redonda, e adotado por Paulo Alberto ao voltar ao Brasil em 1968, ainda com seus direitos políticos cassados, após um período de exílio na Bolívia e no Chile. Arthur da Távola era também advogado e foi um dos fundadores do PSDB. Ele assumiu a secretaria em janeiro de 2001, indicado pelo PSDB, partido que apoiou o candidato César Maia no segundo turno das eleições para prefeitura do Rio de Janeiro, no ano 2000. Por tratativas políticas, o PSDB optou por assumir a pasta da Cultura e indicou Arthur da Távola como o nome escolhido para o cargo, no qual permaneceu por nove meses,

15 quando saiu para candidatar-se às eleições para um novo mandato no Senado. Sua passagem pela pasta ficou marcada por mudar o nome da Secretaria Municipal de Cultura para Secretaria Municipal das Culturas. Apesar de inúmeras críticas, essa denominação permaneceu até o final da gestão de César Maia 1. Ao sair da SMC Távola foi substituído por Ricardo Macieira, arquiteto de formação e funcionário público de carreira, que estava logo abaixo do secretário em sua linha de sucessão. À época, ele era presidente do Instituto Rioarte e foi indicado pelo prefeito para assumir a pasta. Macieira já atuava como um secretário interino, e foi, inclusive, uma das pessoas que colaborou na elaboração da Seção de Cultura do Plano de Campanha de César Maia, documento incorporado ao plano de governo após as eleições. Ricardo Macieira já havia sido diretor executivo do Instituto RioArte na primeira gestão de César Maia (1993/1996), e no momento em que assumiu o cargo de secretário era o Presidente do mesmo Instituto municipal. Ele permaneceu como secretário de Cultura do final de 2001 até 2008. Ao assumir a Secretaria das Culturas, sua estrutura organizacional estava dividida em: Departamento Geral de Ação Cultural, Departamento Geral de Patrimônio Cultural e Departamento Geral de Documentação e Informação. Esses três departamentos eram ligados ao secretário bem como o Arquivo Geral da Cidade, o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural e o Centro de Comunicação e Editoração. Também havia três Fundações Municipais vinculadas á SMC, eram elas: Fundação Planetário, Instituto Rioarte e Rio Filme. Em um segundo momento, em 2006, houve uma nova reestruturação organizacional da Secretaria quando o Departamento Geral de Patrimônio Cultural se transforma em uma secretaria extraordinária de Patrimônio Cultural e sua responsabilidade é transferida para o Gabinete do Prefeito César Maia. Esta secretaria foi instituída pelo decreto 26239 de 6 de março de 2006 (SMC, 2007). Com a criação da Secretaria de Patrimônio Cultural, o Departamento Geral de Patrimônio Cultural foi extinto e o Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural foi incorporado à estrutura da nova Secretaria. Neste momento a Secretaria das Culturas se dividiu em: Subsecretaria de Gestão, Subsecretaria de Arte e Cultura e Coordenadoria de Documentação e Informação Cultural. 1 César Maia, economista e político carioca. Ingressou no PDT em 1981 e nesse período foi Secretário Estadual de Fazenda do Governo Brizola. Foi eleito Deputado Constituinte em 1986 e reeleito em 1990. Filiou-se ao PMDB em 1991 e se candidatou e venceu as eleições á Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Essa gestão ficou marcada pelo Plano Estratégico Rio Sempre Rio. Reelegeu-se novamente á prefeito em 2000 pelo PTB. Em 2004 foi reeleito pela terceira vez, sendo o dirigente com o maior tempo de governo na cidade. Seu terceiro mandato foi marcado pelo Plano Estratégico As Cidades da Cidade. Atualmente é filiado ao Partido Democrata (DEM) e foi eleito vereador pela cidade do Rio de Janeiro, tomando posse a partir de janeiro de 2013.

16 Também estavam ligados ao Gabinete do Secretário, a Comissão de Proteção da Paisagem Urbana, a Comissão Carioca de Nominação dos Logradouros e Equipamentos Públicos, a Assessoria Técnica de Projetos, a Assessoria de Comunicação Social, do Arquivo Geral da Cidade, do Centro de Editoração, além da Fundação Planetário, do Instituto Rioarte e da distribuidora a ela vinculada Riofilme. A subsecretaria de gestão responsabilizava-se pela parte administrativa e financeira da secretaria e dos seus respectivos setores, coordenando a aquisição e a distribuição de recursos internos. A Subsecretaria de Arte e Cultura fomentava as atividades artísticas e culturais por meio do Departamento de Projetos Artísticos e Culturais. Esse departamento também era responsável pelos centros culturais municipais e os museus, além de promover oficinas, espetáculos teatrais e musicais, bem como exposições e exibições de filmes. Já o Centro de Produção Cultural, era responsável pelas atividades culturais itinerantes em praças, parques e praias da cidade. Os seguintes Centros Culturais municipais compunham essa subsecretaria: Ano de Prefeito Equipamento criação 1934 Pedro Ernesto Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro(Gávea) 1979 Israel Klabin Centro Cultural Laurinda Santos Lobo (Santa Tereza) 1986 Roberto Saturnino Centro Cultural José Bonifácio (Gamboa) Braga 1992 Marcelo Alencar Centro Cultural Oduvaldo Viana Filho (Flamengo) 1995 César Maia Ecomuseu (Santa Cruz) 1997 Luis Paulo Conde Parque das Ruínas (Santa Tereza) 1998 Luis Paulo Conde Centro Cultural Professora Dyla Sylvia de Sá (Jacarepaguá) 2004 César Maia Memorial Getúlio Vargas (Glória) 2007 César Maia Centro de Referência da Música Carioca (Tijuca) 2008 César Maia Cidade da Música (Barra da Tijuca) 2 Quadro 1 Lista de Equipamentos pertencentes ao Departamento de Projetos Artísticos e Culturais. Fonte: Elaboração própria. Por fim, havia a Coordenadoria de Documentação e Informação Cultural que era responsável pela implementação de bibliotecas populares e pela elaboração de projetos relacionados à promoção do livro e da leitura. Dentre estes projetos, destaca-se o Paixão de 2 A Cidade da Música foi inaugurada em 2008 no final da gestão César Maia inacabado, sendo novamente inaugurado em 2013 por Eduardo Paes.

17 Ler, a maior campanha de promoção do livro e da leitura da América Latina (Relatório Culturas 2001/2008, p. 24) e a Primavera de Livros projeto em parceria entre a SMC e a Liga Brasileira de Editoras. Além disso, a coordenadoria também foi responsável por uma linha editorial, com 20 títulos publicados. Outro importante braço executivo e formulador da Subsecretaria de Arte e Cultura foi o Instituto Municipal de Arte e Cultura (RioArte). Criada pelo Decreto Municipal de 13 de junho de 1979 como Fundação de Artes do Rio de Janeiro, o Instituto Municipal de Arte e Cultura RIOARTE passou a ter esta denominação em 01 de dezembro de 1981, ficando vinculado à Secretaria Municipal de Cultura. Desde então, a instituição atuava em praticamente todas as áreas culturais, através de patrocínios, apoios, incentivos e na realização de projetos diretamente. Este órgão tinha a função de elaborar, executar e exercer atividades de incentivo às manifestações artísticas e culturais, em consonância com as diretrizes, planos e programas do governo municipal. (TCMRJ, 2003, p. 3). No entanto, o Instituto Rioarte, assim como outras fundações municipais, foi desativado em 2006, tendo suas funções transferidas para a administração direta. Segundo César Maia 3, essas fundações e institutos se sobrepunham às secretarias sem terem necessidade real de existência. No caso da Rioarte a relação entre o Instituto e a SMC era conflituosa. De acordo com Macieira 4, parte desses conflitos provinha da diferença de orçamentos, pois a Rioarte possuía um orçamento superior ao da SMC. O instituto administrava alguns equipamentos culturais como as Lonas Culturais e os teatros da cidade que formavam a rede Teatros do Rio ; o Centro Coreográfico do Rio de Janeiro(2001); e o Centro de Arte Hélio Oiticica(1996). A RioArte também, concedia apoio á pesquisa através do Programa de Bolsas, cujos artistas selecionados, recebiam bolsas mensais, que viabilizam a produção de livros, publicações, CDs, peças de teatro, eventos culturais, exposições e interferências urbanas. E foi responsável pela criação do primeiro edital de apoio realizado pela Secretaria Municipal de Cultura, o Fundo de Apoio ao Teatro (FATE). A rede municipal de teatros começou a ser constituída a partir do primeiro governo de César Maia (1993/1996), pois de acordo com o mesmo, a Prefeitura possuía apenas dois teatros o Ziembinski na Tijuca, que estava alugado, e o teatro Carlos Gomes no centro que estava fechado para reformas desde o governo Marcelo Alencar (seu antecessor) e precisaria de mais um ano para completá-la. Segundo César Maia, a secretária da pasta na sua primeira 3 Entrevista oral concedida por César Maia em 16 de janeiro de 2013. 4 Entrevista oral concedida por Ricardo Macieira em 24 de janeiro de 2013.

18 gestão, Helena Severo, priorizou sua administração na abertura de salas de teatro. Ela foi à Paris pesquisar como funcionava a rede de teatros públicos dessa cidade e constatou que a rede parisiense era toda subsidiada pelo poder público. A partir desse momento a prefeitura começou a absorver e comprar teatros para a formação de uma rede de teatros municipais, ao fim desse governo (1996) a rede já era constituída por sete teatros, um teatro de fantoches, uma Lona Cultural e um teatro de arena. Ao final do terceiro mandato de César Maia (2008) a rede de teatros era composta por dez teatros convencionais, cinco teatros de guignol e dez lonas culturais. Os teatros convencionais eram: Ano de Prefeito Teatro inauguração 1904 Francisco Pereira Teatro Carlos Gomes (Centro) 5 Passos 1966 Negrão de Lima Carlos Werneck (Flamengo) 1970 Chagas Freitas Teatro Glória 1983 Marcello Alencar Espaço Cultural Sérgio Porto 1988 Saturnino Braga Teatro Ziembinski (Tijuca) 1994 César Maia Teatro Café Pequeno (Leblon) 1996 César Maia Maria Clara Machado/Planetário (Gávea) 2001 César Maia Teatro Municipal do Jockey (Glória) 2004 César Maia Teatro Dulcina (Centro) 6 2007 César Maia Sala Baden Powel (Copacabana) Quadro 2 Lista de teatros da Rede de Teatros do Rio. Fonte: Elaboração própria Outro projeto que fazia parte da rede de teatros eram as lonas culturais. Esse projeto foi criado na década de 1990, na primeira gestão de César Maia como sendo a principal política democratizante do poder público municipal. Fruto de reivindicações de organizações sociais que solicitaram ao poder público, a construção de equipamentos culturais que pudessem atender aos bairros da periferia da cidade onde não possuíam equipamentos públicos de cultura. Segundo Ivis Macena 7, atual gestor da lona de Campo Grande e participante desse movimento pela construção de equipamentos culturais na periferia, as lonas foram criadas de forma bastante improvisada, sem estrutura física apropriada (banheiros, camarins, cantina) e sem verba. As ações aconteciam de forma precária. A melhoria do equipamento e o repasse de verbas também foram fruto das reivindicações. 5 O teatro foi fundado em 1872 sendo no entanto em 1904, rebatizado como Teatro Carlos Gomes. 6 Teatro Federal sendo utilizado pela Prefeitura em sistema de comodato, fechado em 2007 e reaberto em 2011 pela FUNARTE. 7 Entrevista oral concedida em 10 de janeiro de 2013 por Ivis Macena, gestor da Lona de Campo Grande e um dos idealizadores desses equipamentos.

19 Se o Estado, no exemplo do Centro, foi agente importante somando forças à iniciativa privada, no caso das lonas culturais, ele vem atuar como parceiro de um movimento que teve nas organizações populares dos subúrbios seu impulso alavancador. (FERRAN, 2000, p. 2). As lonas ganharam bastante notoriedade no final da década de 1990 ao serem divulgadas pela imprensa por serem um sucesso de público e uma opção ao artista de circular seu trabalho pela cidade. Ao analisar os números de público, seus resultados são realmente expressivos se comparados aos da Rede de Teatros Municipais, mas isso também pode ser explicado pela quantidade populacional desses bairros versus a quantidade de equipamentos dos mesmos. Já que segundo Ivis Macena, em bairros muito populosos como Campo Grande, mesmo se houvesse três lonas, elas não dariam conta de tantas demandas. (Ivis Macena). De acordo com Ulisses 8 as lonas se integraram tão bem ao seu entorno a ponto de serem consideradas o quintal da comunidade e o espaço para o artista local se apresentar (Ulisses Conti Gestor da Lona de Vista Alegre). Em 2003, o projeto das lonas foi premiado pela União Européia, recebeu chancela da UNESCO e conquistou o Prêmio Mercocidades. Apesar de ser considerada uma iniciativa pioneira do poder municipal em tentar resolver a questão da ausência de equipamentos culturais a partir da criação de equipamentos multifuncionais e entregá-los a autogestão de ONGs locais em bairros periféricos, o mesmo não está isento de críticas e releituras do projeto estrutural são bem vindas. As críticas levantadas pelos gestores mencionados se referem ao custo elevado de manutenção do equipamento, a ausência de refrigeração de algumas dessas lonas 9 e o repasse de verba considerado baixo. Não menos importante foi a atuação da RioFilme no cenário cultural carioca, se destacando como a única distribuidora pública de filmes na América Latina. Criada em novembro de 1992, esta distribuidora contribuiu para a retomada da produção e distribuição do cinema nacional, especialmente aquele produzido no Rio de Janeiro. A Riofilme também fomentou e incentivou a produção através de editais públicos para a realização de curtas-metragens e inseriu a cidade do Rio de Janeiro como set de filmagens internacionais por meio da Rio film comission. (RIO DE JANEIRO, 2008) 8 Ulises Conti, integrante da ONG Movimento de Integração Cultural (MIC) que administra a Lona de Vista Alegre. 9 Para um detalhamento maior do projeto das lonas culturais ver: FERRAN 2000 e Coleção Estudos da Cidade n 167, 2005, IPP.

20 Em 2004 a sede da Riofilme foi instalada nas Casas Casadas, em Laranjeiras. Onde em 2008 foi inaugurado uma Cinemateca digital onde se encontra a produção cinematográfica nacional dos últimos 15 anos. Por fim, a Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro criada em 1970 com o objetivo de difundir a astronomia e as ciências afins e desenvolver projetos culturais. Fazem parte da estrutura da Fundação o Museu do Universo e o Planetário da Cidade das Crianças em Santa Cruz. Criado em 2008, com intuito de dar acesso aos jovens e crianças da zona oeste ás ações educativas que eram desenvolvidas com sucesso no Planetário da Gávea. Para facilitar o acompanhamento das políticas culturais dos secretários da pasta de Cultura apresentamos o quadro abaixo: Prefeito Período de Gestão Secretário de Cultura César Maia 1993-1996 Helena Severo Luiz Paulo Conde 1997-2000 Helena Severo (1997-dez/1999) Vânia Bonelli (dez/1999-2000) César Maia 2001-2004 Paulo Alberto M. Monteiro de Barros (jan/2001-set/2001) Ricardo Macieira (set/2001-2004) César Maia 2005-2008 Ricardo Macieira (2005-2008) Eduardo Paes 2009-2012 Jandira Feghali (2009- mar/2010) Ana Luiza Lima (abr/2010-dez/2010) Emilio Kalil (dez/2010-nov/2012) Sérgio Sá Leitão Quadro 3 Panorama Político da cidade do Rio de Janeiro a partir da década de 1990. Fonte: Elaboração própria. 1.1.1 Política cultural formulada e aplicada pela SMC na gestão César Maia Um documento indispensável para verificação da política cultural 10 elaborada no período da gestão de César Maia foi o Relatório Culturas 2001/2008. Segundo o ex- secretário de cultura Ricardo Macieira, a publicação desse relatório foi a forma encontrada para registrar tudo que foi desenvolvido no período de sua administração. De acordo com esse documento, a política adotada pela Secretaria Municipal das Culturas prioriza a multiplicação do acesso à cultura e a descentralização da produção 10 Esse conceito foi baseado em Teixeira Coelho, descrito no Dicionário Crítico de Política Cultural, como: [...] o programa de intervenções realizadas pelo Estado, instituições civis, entidades privadas ou grupos comunitários com o objetivo de satisfazer as necessidades culturais da população e promover o desenvolvimento de suas representações simbólicas. [...] A política cultural apresenta-se assim com um conjunto de iniciativas tomadas por esses agentes visando promover a produção, a distribuição e o uso da cultura; a preservação e divulgação do patrimônio histórico e ordenamento do aparelho burocrático por elas responsável. (TEIXEIRA COELHO, 2012, p. 313).

21 cultural, estimulando a formação de novas platéias e artistas. (RIO DE JANEIRO, 2008, p. 24) onde as lonas são o símbolo maior dessa política. Macieira coloca que a acessibilidade podia se dar de duas maneiras: o acesso físico, proximidade dos equipamentos culturais às casas das pessoas, sendo geograficamente distribuídos da forma mais democrática possível e de fácil locomoção através do transporte público. E a outra acessibilidade se refere ao público dar gratuidade ou aplicar preços populares para beneficiar o maior número de pessoas. Pois ele acredita que ao oferecer e disponibilizar as pessoas acessam. Possibilitar o acesso através da criação de equipamentos culturais era uma preocupação de César Maia desde sua primeira gestão em 1993. No relato de César Maia a necessidade de um aumento de equipamentos culturais na Cidade era explícita. Em sua fala ele afirma que a quantidade de equipamentos da cidade era ínfima se comparada a São Paulo. Segundo o mesmo, no final dos anos 1980 e início de 1990 os cadernos de cultura dos jornais de grande circulação do município eram extremamente finos e praticamente sem equipamentos de cultura municipais. Ao assumir em 1993 tentou mudar essa situação ao estabelecer uma rede de teatros mais consistente. E ao retornar à Prefeitura em 2001, esse tema volta a ser tratado como uma prioridade. Ao analisar seu plano de campanha, que se tornou seu plano de governo, nota-se que muitas das ações se relacionam com a criação de novos equipamentos de cultura conforme itens abaixo: 1- Expandir a rede de bibliotecas garantindo pelo menos uma em cada bairro e em cada grande comunidade; 2- Acesso á internet nas bibliotecas públicas; 3- Trazer o Museu Guggenheim para o Rio (Virá para uma cidade da América Latina); 4- Criar rede de 50 mini-teatros; 5- Criar corpos de baile, coro e orquestra; 6- Criar Teatro de Ópera - (Cidade da Música); 7- Fundação Rio- Carnaval; 8- Expandir pelas Zonas Norte e Oeste as redes municipais de teatros e cinemas; 9- Retomar apoio á Dança; 10- Expandir Lonas Culturais para os Bairros das Zonas Oeste e Norte; 11- Criar os agentes comunitários de cultura; 12- Criar o Centro de Coreografia; 13- Criar o Centro de Audiovisual; 14- Descentralização da área da cultura; 15- Ampliar os recursos relativos ao incentivo á cultura; 16- Levar música e canto clássico ás praças e igrejas; 17-Criar as Lonas Culturais para atividades circenses; 18- Integração com gestores culturais abrindo representação deles na Comissão Carioca de Incentivos;

22 19- Criar os Pólos Culturais; 20- Estimular e incentivar os Shoppings Culturais; 21- Integrar Cultura ás Escolas: canto, artes, teatro e outros; 22- Retornar o Arraiá do Rio como festa popular, a partir das comunidades; 23- Criar Teatro- Escola nos espaços específicos das escolas; 24- Quadrado Central: Praça Tiradentes/ Lapa/ Cinelândia/ -Área Portuária 25- Implantar a Agenda Cultural-Rio; 26- Desenvolver Centros Gastronômicos; 27- Desenvolver Feiras de Antiguidades e de Artistas e Artesãos; 28- Criar campanha publicitária relativa ao uso dos espaços culturais; 29- Criar o Guia-Cultura (PLANO DE CAMPANHA DO CANDIDATO CÉSAR MAIA, 2000). Esse plano de campanha foi desenvolvido por Ricardo Macieira em conjunto com os setores artísticos e nele foram elencadas 29 propostas que deveriam ser realizadas no decorrer da gestão. Essas propostas viraram metas do secretário. E direcionaram de certo modo a escolha da política que seria desenvolvida pela Secretaria Municipal das Culturas. Macieira também enfatizou que outro ponto importante que influenciou na escolha da política foi o fato de ter criado um e-mail aberto para receber demandas, reclamações, críticas e sugestões da população; espécie de ouvidoria. Era uma replicação da atitude do prefeito, já que o mesmo possuía um canal direto com a população através de um e-mail. Desse e-mail surgiram demandas que eram pensadas e se possível implementadas. Ricardo Macieira mencionou na entrevista concedida a mim, que através de um desses e-mails recebidos, por exemplo, ele mudou os horários de atendimento das Bibliotecas Populares Municipais que só funcionavam durante a semana e passaram a funcionar também aos finais de semana. O ex- secretário citou que a escolha das políticas vinha do cruzamento das demandas do Plano de governo, do e-mail, da escuta em visitas e do Plano Estratégico da Cidade As Cidades da Cidade. Segundo Macieira, o Plano estratégico era uma importante fonte de informações para a definição de um diagnóstico para a cidade. Desse documento provinham informações e demandas das regiões administrativas, dos movimentos culturais dessas regiões, de equipamentos culturais regionais, além de observações do prefeito. O Plano Estratégico As Cidades da Cidade, foi o segundo plano desenvolvido no início da segunda gestão do ex - prefeito César Maia (2001). Neste Plano Estratégico, de acordo com a figura a seguir, o município foi dividido em 12 regiões formadas por conjuntos de bairros agrupados segundo critérios geográficos, históricos e demográficos. Nessa nova concepção, foram elaborados 12 pequenos planos estratégicos destinados a cada região. Para César Maia, o segundo plano permitiu dar continuidade ao primeiro plano estratégico (O Rio

23 Sempre Rio, do início da década de 1990), mas sobre outras bases. Sendo dessa forma, mais descentralizado e ao mesmo tempo levando a idéia do plano estratégico para as Subprefeituras. Mapa 1 Divisão Regional do Plano Estratégico II As Cidades da Cidade Fonte: PCRJ Plano Estratégico As Cidades da Cidade (2004, p. 37). O primeiro plano estratégico Rio Sempre Rio - foi lançado em 1995 (CAMARGO, 2011,p.33) faltando um ano para o final da gestão de César Maia. A concretização acabou ficando a cargo de seu sucessor na Prefeitura, Luis Paulo Conde (1997/2000) que havia sido seu secretário de urbanismo e um dos responsáveis pelo plano estratégico. De acordo com César Maia, foi Conde que apresentou a empresa catalã Tubsa (Tecnollogies Urbanes Barcelona S.A.) para prestar consultoria ao Plano Rio Sempre Rio. O primeiro plano se diferenciou do segundo principalmente por inserir a cidade no cenário internacional, privilegiando os grandes projetos urbanos e a competição entre cidades. (COLOMBIANO, 2007, p. 77). No primeiro plano a cidade era vista como um todo e no segundo o foco são as regiões da cidade sendo vistas de maneira independente, como se fossem cidades dentro da Cidade. Nesse sentido, separou-se a cidade por regiões, realizando um diagnóstico para cada uma delas, identificando as potencialidades e vocações assim como as fraquezas e dificuldades. A partir disso foi elaborado um objetivo central para cada região. Desse objetivo partiam estratégias, objetivos específicos e propostas para a concretização do objetivo central. No que se refere à cultura, o tema foi abordado no plano em praticamente todas as regiões. Os principais pontos levantados foram:

24 I) Resgate da história e tradição dos bairros; II) Levantamento dos bens históricos e culturais; III) Ampliação da rede através da criação de novos equipamentos culturais, principalmente de lonas culturais; IV) Revitalização dos equipamentos existentes; V) Recuperação de patrimônio histórico degradado; VI) Criação de circuitos culturais; VII) Incentivo às expressões artísticas locais; VIII) Implementação e circulação de projetos da SMC; IX) Criação de Corredores Culturais regionalizados (Lei 858/86) X) Implantação de atividades culturas em espaços públicos da Cidade; XI) Identificação de imóveis abandonados para uso cultural. Ao final da análise das propostas levantadas nos documentos referidos: Plano de governo, plano estratégico e relatório Culturas 2001/2008, tentamos verificar no que consistia a política cultural aplicada nessa gestão. Verificando se havia coerência entre as ações expostas nos documentos e o que havia sido estabelecido. A SMC afirmava em seu Relatório oficial Culturas 2001/2008, que todo trabalho desenvolvido foi orientado por três diretrizes principais: I) A compreensão da cultura como instrumento de transformação e de desenvolvimento da cidade; II) A compreensão da cultura como instrumento de inclusão social e cultural; III) A revitalização do patrimônio histórico do Rio. Podemos identificar nas duas primeiras diretrizes influências no projeto das lonas culturais, projeto símbolo da política adotada pela Secretaria Municipal das Culturas. Já que o projeto das lonas prioriza a multiplicação do acesso à cultura e a descentralização da produção cultural, estimulando a formação de novas platéias e artistas. Além disso, são exemplos efetivos da compreensão da cultura como instrumento da transformação e desenvolvimento. (RIO DE JANEIRO, 2008, p. 24). Este projeto apresenta-se como uma das políticas de acesso da Secretaria Municipal das Culturas, sendo considerado um projeto de sucesso dentro da política cultural municipal e foi, como já foi mencionado, inclusive premiado em 2003 pela União Européia, pela Mercocidades e chancelada pela UNESCO.

25 Também com o propósito de dar acesso á população o Secretário cita no Relatório 2001/2008 o projeto Domingo é dia de Teatro a R$ 1 que ocorria no último domingo de cada mês. O secretário também ressalta neste mesmo relatório, a criação do FATE Fundo de Apoio ao Teatro como um importante incentivo à produção teatral. O FATE foi o primeiro edital municipal e fruto das reivindicações da classe teatral. Foi criado em 2003 pela Rioarte quando o ator, diretor e dramaturgo Miguel Falabella era gestor da Rede Municipal de Teatros. No entanto, por mais que o incentivo tenha sido uma conquista da classe teatral, ao analisar por meio do quadro a seguir, os anos, a quantidade de projetos apoiados e a verba destinada para os mesmos, nota-se que o apoio por meio de edital não foi realizado todos os anos e ao fim da Rioarte o mesmo foi desativado, sendo reativado somente em 2009, na gestão seguinte. Ricardo Macieira enfatizou que o teatro continuou sendo apoiado, assim como a dança e a música, mas através de apoio direto e não mais através de edital. FATE-ANO PROJETOS APOIADOS VERBA 2003 51 R$ 5.000.000,00 2004 26 R$ 2.500.000,00 2006 21 R$ 2.500.000,00 Quadro 4 Projetos apoiados pelo Fundo de Apoio ao Teatro Fonte: Elaboração própria. A terceira diretriz apontada como sendo uma das âncoras do trabalho desenvolvido na SMC, se refere à revitalização do patrimônio histórico da cidade do Rio de Janeiro. Cujo maior símbolo dessa política foram as Áreas de Proteção da Ambiência Cultural (APAC) 11. A importância dada as APACs fica claro no seguinte trecho de seu depoimento: Na minha gestão nunca se trabalhou o patrimônio como foi trabalhado. Meu foco era a preservação da ambiência, preservar prédios que tinham características e valores arquitetônicos. Era preservar conjuntos e em alguns casos, aqueles que tinham uma especificidade uma particularidade monumental eles eram tombados. Isso é patrimônio. E dentro desse conjunto identificar os imóveis tombados, identificar os que devem ser preservados e os que devem ser tutelados enquanto conjunto e ter através disso uma legislação que os proteja. 11 A Área de Proteção da Ambiência Cultural - APAC é um instrumento de proteção ao patrimônio carioca, regulamentado pelo Plano Diretor de 1992 através da Lei Complementar 16/1992 cujo intuito é preservar conjuntos urbanos representativos das diversas fases de ocupação do Rio de Janeiro.

26 As APACs surgiram como uma resposta de César Maia a polêmica gerada na gestão anterior, considerando que a questão do patrimônio foi seu grande trunfo para derrotar Conde nas eleições de 2000. Conde havia concedido licenças para a construção de 43 apart hotéis 12. Essa legislação permitia demolir prédios na Zona Sul e a construção em áreas de proteção ambiental. César Maia estava inteirado da demolição de diversos imóveis para a construção de apart hotéis por Macieira ter sido até o mês de setembro de 2000, membro do Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro. Por meio do Conselho ele tinha acesso a diversos pedidos de demolição de prédios e casas antigas, principalmente na área do Jardim Botânico. Dessa forma, ao retornar ao governo CM, pediu um estudo para Macieira sobre proteção do patrimônio edificado. O que existia no Rio em matéria de preservação eram as APACs. E nesse sentido, já havia algumas experiências anteriores de seu primeiro governo (1993/1996) na preservação de algumas características de bairro, como por exemplo, a preservação do bairro de São Cristovão. A partir dessas informações, foram realizadas as APACs do Leblon, Laranjeiras, Jardim Botânico, Botafogo, Ipanema, Catete e Humaitá. O tema do patrimônio foi tomando maiores proporções, e além da criação das APACs foram realizadas a restauração e a revitalização de cerca de 15 equipamentos urbanos de cultura. De acordo com Macieira, em 2006 César Maia sugeriu que o Departamento Geral do Patrimônio Cultural da Secretaria das Culturas, responsável pelas APACs, se transformasse em uma secretaria. E a partir desse momento foi criada uma Secretaria Extraordinária de Patrimônio Cultural (SEDREPAHC) que ficou diretamente ligada ao gabinete do prefeito. As APACs foram um tema controverso dessa gestão, especialmente no Leblon 13. Surgiram reações de diversos segmentos da sociedade, alegando que as APACs congelariam o bairro e que os moradores não haviam sido consultados sobre tal medida sendo pegos desprevenidos e que muitos dos imóveis que estavam sendo preservados não tinham valor cultural além de reclamarem que a isenção de impostos utilizada pela Prefeitura como uma contrapartida não cobriam o valor da preservação do imóvel. Como resposta á polêmica criada, a Prefeitura através do Armazém de Dados do IPP criou um caderno com artigos de 12 Lei Municipal n 41/1999, dos Apart-Hotéis. Ela estabelece que possam ser construídos apartamentos de 30 m2 com duas vagas na garagem. 13 Disponível em: <http://www0.rio.rj.gov.br/patrimonio/apac/anexos/leblon_textos.pdf>.

27 conselheiros do Patrimônio com pareceres explicando a importância das APACs para o bairro. Por fim, ao ser questionado sobre como eram feitas as escolhas, Maciera foi categórico em afirmar que as políticas escolhidas e realizadas estavam, de acordo com prioridades que decorriam dos documentos já mencionados (Planos de governo e Estratégico), por demandas da população ou do prefeito. Segundo ele, todas as ações previstas no Plano de Governo foram cumpridas mesmo as que não deram certo. A Política Cultural estabelecida esteve ligada á: Implementação de Equipamentos Culturais Financiamento e Patrocínio Restauro e revitalização do Patrimônio histórico Leis de Incentivos Fiscais Subvenção a setores culturais ou Grupos tradicionais 1.2 Políticas Culturais formuladas e aplicadas pela SMC na gestão Eduardo Paes Eduardo Paes 14 vence as eleições em 2008 no segundo turno, derrotando por cerca de 2% de diferença de votos seu opositor do Partido Verde, Fernando Gabeira 15. Com sua vitória ele rompeu com o ciclo que já se estendia desde 1988, no Rio de Janeiro 16. Em que o prefeito fazia oposição ao governador. Eduardo Paes pertence ao mesmo partido e é afilhado político do Governador Sérgio Cabral (PMDB) cujo partido tem alianças políticas com o partido do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) que também o apoiou em sua campanha eleitoral Em entrevista coletiva, Paes dedica sua conquista a Cabral e ao ex- presidente Lula. Ele 14 EDUARDO PAES Bacharel em direito, começou sua vida política aos 23 anos filiado ao PV. Foi subprefeito da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, durante o 1 governo Cesar Maia (1993-1996). Transferiu-se para o PFL em 1996, quando se elegeu vereador. Durante o primeiro mandato como deputado federal, se transferiu para o PTB e voltou para o PFL. Em 2003, Paes foi para o PSDB e chegou a ser secretário-geral do partido. Quatro anos depois, mudou para o PMDB, levado por Sérgio Cabral. Foi duas vezes deputado federal (1998 e 2002) e entre 2001 e 2002, foi secretário municipal de Meio Ambiente no governo de César Maia. Durante o primeiro mandato de Sérgio Cabral (2007 e 2008), foi secretário estadual de Turismo, Esporte e Lazer e logo após, ganhou as eleições para a Prefeitura. 15 Com 100% das urnas apuradas às 20h26, Paes teve 1.696.195 votos (50,83% dos votos válidos), contra 1.640.979 (49,17%) de Gabeira. Disponível em: <http://g1.globo.com/eleicoes2008/0,,mul832458-15693,00- EDUARDO+PAES+E+ELEITO+PREFEITO+DO+RIO+DE+JANEIRO.html> Acesso em: 5 fev. 2013 16 De acordo com o professor Cesar Romero, da PUC-Rio, que pesquisa a geografia eleitoral carioca: Encontrado em: <http://eleicoes.uol.com.br/2008/rio-de-janeiro/eduardopaes_eleito. jhtm> Acesso em 05 fev.2013.