OS CONCEITOS E AS TECNICAS DE ENSAIOS CLINICOS. UNIDADE DE PESQUISA CLÍNICA Centro de Medicina Reprodutiva Dr Carlos Isaia Filho LTDA.

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Transcrição:

OS CONCEITOS E AS TECNICAS DE ENSAIOS CLINICOS Apresentação: Dr. Anamaria Feijó Com base na apresentação de Dr. Carlos Isaia Filho e Biól. Andréia Ribeiro da Rocha. Oliveira GG. Ensaios clínicos: princípios e prática. ANVISA / Brasília. 2006.

INTRODUÇAO A cura de doença sempre foi finalidade transcendental do homem pois doenças representavam sofrimento, aniquilação, morte.

Um pouco de história... 1º ensaio clínico mais elaborado Rei Mitridates no século II a.c. A preocupação com envenenamentos por rivais o levou a experimentar antídotos nos escravos Daí surgiu o antídoto universal (+ de 60 componentes) mitridaticum Sua fórmula foi produzida por 17 séculos (até início do século XVIII ) com o nome de teriaga

Um pouco de história... 1º ensaio clínico pioneiro com característica de comparação foi no século XVIII pelo cirurgião James Lind no navio Salisbury. Médico usou 12 marinheiros com escorbuto, dois a dois, a seis tratamentos distintos usando variados substâncias (cidra, elixir de vitríolo, vinagre com água do mar, laranja, limão, mostarda, etc) Os 2 marinheiros tratados com laranja e limão melhoraram em 6 dias. 1º viés da PC registrado pois apesar da óbvia superioridade do tratamento com as frutas cítricas, Lind concluiu que o melhor tratamento para escorbuto seria ar puro e seco.

Um pouco de história... Claude Bernard (1813-1878) foi o pai da Metodologia do Experimento na Medicina. Adaptou o método de experimentação às Ciências Biológicas e à Medicina.

Um pouco de história... 1º ensaio clínico moderno utilizando randomização (controle ao acaso) em 1931 por Amberson, Mac Mahon e Pinner usando técnica proposta pelo estatístico e geneticista Ronald Fischer. Selecionaram 12 pares de pacientes com tuberculose: metade recebeu água destilada e metade sanocrisina composto de ouro. Os pacientes não sabiam o que estavam tomando, princípio ativo ou placebo. Introduzindo assim a técnica do mascaramento.(blindness)

Algumas definições... Ensaio clínico (OMS) um experimento planejado ética e cuidadosamente com o propósito de responder a algumas perguntas precisas e bem delineadas. Os ensaio clínicos detém o grau mais elevado de crédito filosófico-científico entre os outros métodos *Estudos observacionais retrospectivos (descrição de casos, estudos transversais e caso-controle) *Estudos prospectivos (coortes)

Alguns cuidados... Nos ensaios clínicos iniciais de produtos farmacêuticos, as preocupações com o perfil de segurança devem preceder em importância os aspectos de eficácia. Exceção feita a doenças muito graves para as quais não há tratamento, ou cujo tratamento é pouco eficaz ou quando há eficiente tratamento de recuperação.

O delineamento de um ensaio clínico apoiase em cinco colunas mestras: 1 A configuração do Estudo Clínico; 2 A definição das Variáveis; 3 Os tipos de Controle; 4 A Randomização; 5 O Processo de Mascaramento.

1.Configuração de Estudo Clínico Depende de três principais fatores: O que? Quem? Como? Depende de três principais fatores: - Doença a ser tratada Características do tratamento;; População a ser estudada.

1.1.Configuração em paralelo Podem ser organizados tantos grupos de experimento quantos sejam os tratamentos planejados. Usado em tratamentos que suprimem ou alteram definitivamente os sintomas ou características de uma doença. Exige um número significante de voluntários, levando a um maior custo. Grupos menos homogêneos, com maior dispersão (desvio padrão). PROBLEMA: maior variabilidade

1.2.Configuração Cruzada (crossover) O próprio sujeito de pesquisa é seu melhor controle. Modelo útil em fármacos de tratamento sintomático, de controle transitório ou de longa duração. Uma vez suspenso o produto em teste, os sintomas voltarão nas mesmas características anteriores. Por exemplo: Doenças crônicas

Prevê o uso de fármaco ativo, placebo e fármaco de recuperação. Entre cada tratamento deve haver um período de depuração dos efeitos farmacológicos (wash-out), no qual só é permitido usar o fármaco de recuperação. É utilizado para evitar o prolongamento de efeitos residuais do tratamento anterior (efeito carry-over). Possui altos índices de desistência (drop-outs).

Cruzado Típico (crossover): Tratamentos são instituídos numa seqüência casual, sempre associada a intervalos de depuração. A B Cruzado com retorno (crossover com switch-back): Retorna-se ao primeiro tratamento para ver se ressurge o padrão de efeitos iniciais. A B A

2.Definição de Variáveis? As respostas às questões de um estudo estão ligadas à definição das variáveis e devem ser respondidas a partir de desfechos (end-points) ocorridos no ensaio. Os desfechos podem ser principais ou secundários. Desfechos secundários podem sugerir ou apoiar as conclusões associadas à ocorrência de um desfecho principal. Ex: desfecho primário:morte após umano desfecho secundário: presença de 1 ou 2 matástases

2.Definição de Variáveis? Podem ser quantitativas ou qualitativas: Quantitativas hápossibilidade deser medida Qualitativa relacionam-se a aspectos de atribuições como, por exemplo, quantificação subjetiva dedor Podem ser discretas ou contínuas: Discretas: tipo sim/não, são/doente ou sob pequenos limites como pressão arterial sistêmica entre 120mmHg e 140mmHg. Contínuas: quando a margem de variedade não é restrita.

3. Tipos de Controle Controlados ou não controlados (abertos). Controlados: seguem a metodologia científica onde comparação com controle é indispensável. Artifício metodológico utilizado para eliminar ou reduzir os efeitos de variáveis não relacionadas ao fármaco em teste. Não controlado: conclusões não confiáveis, só aceitável em fase inicial de verificação do perfil de segurança de um fármaco. É difícil a caracterização honesta e isenta dos fármacos sem a participação docontrole (efeito placebo).

Controle Ativo: fármaco eficaz e seguro, fisicamente idêntico ao teste. Fármaco de referência. Tipos de Controle Controle Placebo: fármaco inerte, fisicamente idêntico ao teste. Usado apenas em doenças sem terapêutica alternativa eficaz e quando não traz risco ao participante de pesquisa.

4. Randomização Proposto pela primeira vez por Ronald A. Fisher, em 1924, para estudos em agricultura. Processo de distribuição ao acaso de alocações utilizado para reduzir os possíveis vieses na comparação de dois tratamentos. Atualmente é gerada por computador (Microsoft Excel, SPSS, etc).

Relação de números é controlada, geralmente, pelo farmacêutico do ensaio, que a utiliza para fazer a identificação dos kits a serem distribuídos. No ocorrência de algum evento adverso significante, o farmacêutico poderá quebrar o sigilo (no caso de estudos com cegamento) com a intenção de saber qual fármaco associou-se a tal ocorrência. Ao final do estudo é aberta a randomização para ser feita a análise estatística.

5. O Mascaramento (blinding) Seres humanos introduzem variáveis psicológicas que alteram a avaliação dos efeitos induzidos por fármacos. Participantes têm a expectativa de estarem no grupo do tratamento ativo. Médicos também querem acreditar no funcionamento do novo medicamento.

Ensaio Aberto: UNIDADE DE PESQUISA CLÍNICA Open-Label ou unblinded; Voluntário e pesquisador sabem qual o tratamento está sendo administrado. Mascaramento Único: Single-blind; (simples cego) Muito comum; Voluntários ignoram qual o tratamento que é administrado ou somente o investigador não conhece o tratamento em realização.

Mascaramento Duplo: Double-blind; (duplo-cego) Mais utilizado na pesquisa clínica; Tanto o investigador como o voluntário não sabem qual tratamento está sendo administrado. Mascaramento Triplo: Triple-Blind; (triplo-cego) Além do investigador e voluntários, o estatístico também ignora a alocação dos tratamentos.

Dupla Simulação: Double dummy; Utilizado quando não se consegue possuir similaridade entre o tratamento teste e o controle; Ambas apresentações serão administradas contendo o princípio ativo e o placebo.

Análise por Intenção de Tratar: Intention-to-treat; Mede a efetividade de um tratamento em teste, extrapolando dados existentes que se tornam aplicáveis; Análise pode ficar prejudicada pela parcialidade dos resultados obtidos.

REFERÊNCIAS Oliveira GG. Ensaios clínicos: princípios e prática. ANVISA / Brasília. 2006.