POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO NO/ DO CAMPO: viabilidade ao longo do processo histórico Autor: Ivanilson Batista da Silva PRONERA-UFPB e-mail: Ivanylsonbraga@hotmail.com co-autora: Maria da luz dos Santos Lima PRONERA-UFPB e-mail: maryadl@hotmail.com RESUMO O presente artigo apresenta algumas reflexões sobre Educação do Campo e movimento social na luta pela construção e viabilidade das políticas públicas da educação no e do campo. O trabalho busca compreender o papel dos movimentos sociais do campo e da universidade na implementação das ações coletivas desencadeadas ao longo de décadas para construir experiências práticas da educação para campo. O objetivo é entender o processo de validação das políticas para campo e a atuação dos movimentos sociais nesse processo. Para tanto, pautamos nossas reflexões nas leituras de autores como (CELANI,1994), (TERRIENS,1993) (BOGO, 2008), (BRANDÃO, 1987), (CALDART, 2009), (FREIRE, 1987,) e (ARROYO (2008) entre outros. Além disso, utilizamos as nossas experiências de vida de filho e filha de assentados de áreas de Reforma Agrária, com educação popular do campo, bem como do nosso envolvimento como militantes de movimento social na luta pela da educação. Esse nosso envolvimento nos movimentos já sinaliza a nossa construção enquanto sujeitos da açãoreflexão-ação comprometidos com a transformação das mazelas sociais em nossa prática no dia-a-dia ao longo de nossa história de vida e educadores populares do campo. Palavras-chave: Educação do Campo Educação Popular Movimentos sociais 1. Introdução Neste ensaio apresentamos algumas considerações sobre as políticas públicas da educação do e no campo e sua viabilidade ao longo do processo histórico, como elas
vem se constituindo. Sabemos que nos dias atuais a qualidade da educação nacional ainda continua precária e por isso está em debate. A situação é mais agravante quando nos referimos à educação para os povos do campo que durante séculos nem sequer foram citados nas constituições e até hoje a educação do campo é tratada e vista em segundo plano tendo a qualidade inferior àquela ofertada na cidade. Ao longo do processo histórico não se tem pensado nestes povos como sujeitos detentores de uma história, cultura e modos de vida próprios. Por isso, se faz necessário pensar uma educação que valorize os saberes, culturas e os modos de vida dos povos do campo, que apesar de tantas lutas ainda continua excluído do direito a uma educação específica que sirva para os usos da sua realidade, que reconheça o seu valor social e atenda seus interesses. Essa lógica de exclusão trouxe a urgente necessidade de se pensar na viabilidade de políticas educacionais para o campo, para que esses povos possam desfrutar o direito a uma educação de qualidade com todas as estruturas físicas, administrativas e pedagógicas asseguradas pelo Estado. Por isso os movimentos sociais pautaram essa luta e desde os anos 1990 vem se articulando e se organizando em prol de uma educação de qualidade que respeite e valorize suas culturas. Como resultado das lutas para viabilizar a Educação do Campo, foi criado o (PRONERA) em 16 de abril de 1998 ( PEREIRA,2009, P.178) como a primeira política de Educação do Campo, que vem se firmando durante seu processo de construção em seus 12 anos de existência, vem contribuindo com a construção de uma Educação do Campo na forma de projetos de alfabetização, escolarização, formação profissional de nível médio e superior, formação continuada de professores, formação técnico-profissional de jovens e adultos nas áreas de reforma agraria. 2. Antecedentes Históricos da Educação Do Campo No desenrolar histórico percebemos que a educação do meio rural se deu em meio à precarização.
Sabemos que a educação não é um problema particular do campo, mas, é no campo que o caso é mais grave e preocupante. Segundo pesquisa do grupo permanente de trabalho de educação do campo instituído pela portaria nº: 1.374, de 3 de junho de 2003, mostra claramente como é a estrutura física de uma escola rural. Segundo dados da pesquisa a rede de educação básica da área rural segundo, o censo de 2002, dos 432 estabelecimento cerca de 50% das escolas só possuem uma sala de aula e oferece exclusivamente o ensino Fundamental do 1º ao 5º ano a educação infantil é oferecida sem nenhuma estrutura física e pedagógica, com relação a qualificação e remuneração do profissional da educação é no campo que acontece as maiores absurdos. De 354.316 professores/as atuando na educação básica do campo eles representam 15% da população, são em maioria os que recebem os menores salários e são menos qualificados. Todas essas atrocidades acontecem devido à negligência por parte do Estado e seus administradores que estiveram atrelados à elite agrária e sempre desconsideraram o papel fundamental da educação para a classe trabalhadora. Esse processo excludente é decorrente de um modelo de colonização ancorado na escravidão e dominação, caracterizado pela monocultura e concentração de terra. A educação do campo só começou a ter destaque no cenário nacional quando o país passou por mudanças estruturais, ou seu processo de industrialização. Segundo Ademar Bogo (2008, p.109-110): Em nosso país, o trato com a educação dos camponeses sempre foi um desleixo. Embora o Brasil tenha elaborado a sua primeira constituição em 1824, somente em 1934, mais de cem anos depois, a educação para a área rural mereceu destaque, isso porque naquele período iniciava-se a industrialização do Brasil e as máquinas exigiam trabalhadores alfabetizados. Era preciso preparar a força de trabalho antes de arrastá-la dos campos para as fábricas. A citação desse autor afirma que o interesse do estado com a educação, ou seja, com a escolarização dos camponeses e camponesas não correspondia aos anseios deles(as) e sim representava os interesses da classe burguesa. A partir do momento que a escola chega ao campo a escolarização dos camponeses carregava em sua proposta pedagógica a visão de mundo das elites urbanas que precisavam criar o seu exércitoreserva para atender as necessidades das indústrias. Neste sentido, a educação para o
meio rural se caracterizou como uma imposição cultural da classe dominante, pois nunca tratou especificamente das questões do camponês, nem o reconhecia como um sujeito social, cultural e político. O que de fato queremos dizer é que nunca houve neste país, até 1998 com criação do PRONERA, uma política de educação voltada para os interesses povos do campo. Essa educação que historicamente se constituiu apenas como ações educacionais paliativas ou instrumentais da mão-de-obra, mas que nunca proporcionou a fomentação o desenvolvimento do meio rural voltado para os camponeses detentores de uma história, cultura, vivências e convivências próprias. É nesse contexto que os camponeses reivindicam a presença das escolas, no entanto sabe-se que só em 1930 surgiram programas relevantes para os povos do campo (TERRIENS,1993. p.17). Portanto, perguntamos: relevantes para quem? O país que era tipicamente agrário, a educação rural nunca passou de programas e projetos de natureza socioeducativa, como exemplo, Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL,1967), (PRONACEC,1980), (EDURURAL, 1982) 1 (CELANI, 1994) entre outros que sempre priorizaram as vontades do sistema capitalista e nunca atenderam de fato os interesses dos povos do campo. O objetivo desses programas era capacitar mãode-obra para atender as necessidades das emergentes elites industriais. Resultando desse processo o êxodo rural para formar o exército-reserva na zona urbana, foram programas que tinham em sua proposta pedagógica a formação para o mercado de trabalho, ou seja, mão-de-obra barata. 3. O debate em torno das políticas de educação do campo 1 EDURURAL um projeto de educação desenvolvido em todos os estados do Nordeste brasileiro. O Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL foi criado pela Lei número 5.379, de 15 de dezembro de 1967. Os militares tinham todo o controle do que seria Ensinado. Suas ações de alfabetização começaram a ter ênfase no fim de 1970, quando Seus projetos foram iniciados em grande escala. Seu objetivo era erradicar o analfabetismo no Brasil num curto espaço de tempo.. História da Alfabetização de Adultos: de 1996 até os dias de hoje. WWW.sbhe.og.br/leni%Rodrigues% 20 Coelho% Texto. PDF. Acesso em: 10 de maio de 2013.
A educação do meio rural foi ao longo de séculos uma nuance, tendo sido introduzida no palco dos debates deste país nas primeiras décadas do século XX, quando se percebeu a importância da educação no campo para conter o êxodo rural, para garantir a continuidade da produção familiar, base do sustento do mercado nacional. A classe trabalhadora do campo sempre viveu no cabresto a serviço da elite, construindo com suas mãos calejadas os grandes impérios deste país, mesmo assim lhe foi negado um direito humano e social garantido por lei na constituição de 1988, no Artigo 205 que afirma: A educação é um direito de todos e dever do Estado e da Família. No entanto esse direito inalienável é tratado com negligência e a educação de qualidade para o campo, nunca passou de programas e pacotes prontos com suas propostas pedagógicas e curriculares advindos da zona urbana sem a menor noção do que seja o espaço habitado pelos campesinos. No entanto, para compreendermos a dinâmica política que recolocou a educação do campo no meio do cenário político nacional, nos reportamos às lutas dos movimentos sociais do campo entre eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e sua luta por educação no e do campo. As primeiras reflexões de divulgação nacional da Educação do Campo nasceu no ano de 1997, na ocasião do I Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária (I ENERA), promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), como também a primeira Conferência em Educação do Campo realizada em Luziânia (GO) nos dias 27 a 31 de julho de 1998 (CALDART, 2009). Em 1998 nasce o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), que desde então vem se afirmando como uma política pública de Educação do Campo, sendo construída pelos próprios sujeitos do campo e com uma participação destes na sua execução, diferentemente da lógica da educação Rural da sociedade capitalista que fora criada de cima para baixo, tendo o campo como uma extensão do urbano desvalorizando
assim os sujeitos do Campo, seus modos de vida, sua organização política e o trabalho, bem como suas identidades culturais. Desde então a Educação do Campo tem como referencial o Pronera por ser a primeira política de educação, o que nos faz acreditar nessa educação como um novo paradigma que é, de fato, viável para os sujeitos do campo, sendo estes sujeitos parte desse processo de construção, passando por mudanças, afirmações e desafios nos diversos eixos sociais, culturais e políticos. A Educação do Campo como ferramenta para o desenvolvimento sustentável para o campo, trata-se de uma educação que não estar fixada nos bancos das escolas, mas que tem uma proposta de atender a todos os grupos sociais, cada um com seu jeito de ver e viver a vida socialmente, culturalmente e politicamente, uma educação contextualizada onde o texto tenha haver com o contexto vinculada as diversas realidades. O campo clama por igualdade de direitos e justiça social, onde existem diferentes povos, diferentes culturas uma dinâmica própria, entendendo a diversidade cultural dos povos do campo imensa. E por isso travamos uma luta constante para afirmar o PRONERA como uma política pública assegurada pelo Estado, por ser fundamental para nós enquanto sujeitos de direitos. Portanto, reivindicamos uma educação no mais sentido amplo do processo de formação e emancipação humana, que constrói referenciais culturais, políticas, sociais e ecológicas. Tendo como proposta pedagógica a realidade dos povos do campo, na busca por afirmação da identidade destes sujeitos, pensar os sujeitos da educação do campo e pensar com, e para as diversidades e dialogar com os diversos saberes. Nesses moldes é que a Educação do Campo se baseia nos princípios da Educação Popular freireana ao fazer uma crítica ao modelo de educação vigente no Brasil pela sua concepção de educação bancária, a qual serve apenas para depositar o conhecimento, como se as pessoas não fossem pensantes. O contraponto para esta visão hegemônica é uma educação como prática de liberdade.
Freire (1987), parte do princípio de que para construir uma educação libertadora é preciso romper com os paradigmas tradicionais de natureza predominante conservadora e excludente. E a proposta da Educação do Campo traz consigo a possibilidade dos sujeitos serem encarados como autores de seu próprio processo, e não mais receptores de saberes estratificados a partir de uma visão verticalizada, para não dizer autoritária. Nesta concepção de educação popular o professor não e o único detentor do saber; e muito mais um orientador no processo educativo, ou seja, um articulador dos saberes prévios dos educandos. Há necessidade de mudança nas antigas práticas educativas, utilizadas pelas escolas públicas em nosso país, é bem verdade que os alunos estão em constante mudança e a escola tem que acompanhar. No intuito de sistematizar este conhecimento com a informação organizada, os alunos buscarão o desenvolvimento humano tornando o sujeito um cidadão crítico e capaz de conhecer os seus direitos e deveres. A prática de educação popular busca fazer uma reflexão sobre o papel da educação na sociedade fazendo uma crítica e se contrapondo ao modelo de educação bancária vigente que vem contribuindo apenas para dominação e perpetuação do modelo de sociedade desigual e desumana em que vivemos. Nesse sentido, a concepção de educação do campo busca trabalhar a partir da realidade dos educandos, respeitando e valorizando os saberes e experiências que cada um traz consigo conciliando-os as demais realidades existentes, tendo como objetivo principal a formação de indivíduos críticos, ativos, autônomos, que questione a sua realidade no intuito de transformá-la. A educação Popular traz como princípio fundamental não ser popular apenas ao dirigir-se aos setores menos favorecidos, mas por identificar-se com as demandas e necessidades desses setores, sempre numa perspectiva transformadora e libertadora, buscando a construção de uma sociedade justa e democrática (KAY, 2007, p.105). Portanto, a educação é de fundamental importância nesse processo, visto que a educação por si só não é capaz de transformar a realidade, porém sem a sua contribuição não será possível a transformação tão almejada por todos e todas que vivem as margens da sociedade em que vivem.
A educação popular tem que ser fundamentada a partir do diálogo, no entanto, a mesma se dar em vários espaços, a saber: Igreja, movimentos sociais, sindicatos, associações, dentre outros espaços que estamos inseridos. Deste modo ela adentra nas escolas públicas com a proposta de contribuir no processo de ensino e aprendizagem levando outro olhar para este processo que estar em constante transformação. Esta educação atende uma prática educativa diferente da tradicional por ser uma concepção de educação popular, no sentido de atentar para o papel da educação na sociedade. Essa concepção de Educação Popular nasce no Brasil e depois se expande para outros países. Como se sabe a educação se dá em todos os espaços ela acontece em todas as relações sociais, ou seja, onde há relações sociais entre pessoas, em todas as suas trajetórias de vida que vai se constituindo nas suas vivências e convivências e experiências vida passada de geração a geração. Nesta razão Brandão (2006, p.13) assim declara: A educação existe onde não há a escola e por toda parte pode haver redes e estruturas sociais de transferência de saber de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer criada à sombra de algum modelo de ensino formal e centralizada. Porque a educação aprende com o homem a continuar o trabalho da vida. Portanto, a educação é entendida em três dimensões: educação formal, não formal e informal. Dessa maneira ela abarca de forma conceitual todos os espaços sociais vivenciados pelos sujeitos ao longo da vida. Espaços que podem ser entendidos como pedagógicos. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta, não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. (...) A leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura de mundo, mas por certa maneira de escrevê-lo, ou de reescrevê-lo, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente (FREIRE, 1997, p.11). Nesta discussão entre educação do campo entendida como Educação Popular, compreendemos que o saber popular do homem e mulher do campo constituído ao longo do tempo não recebeu o merecido valor das ciências sociais e humanas, ficando dessa forma marginalizado das teorias e autores cientistas pesquisadores e intelectuais
das academias. Segundo Miguel Arroyo (2008, p.8) as pesquisas que tratam das questões do campo não passavam de 2% e as que tratam especificamente da educação do campo não chegam a 1% do total. Esses dados sinalizam a maneira excludente que a universidade tratou a educação do campo ao longo de décadas, não só a educação em si, mas como também sua cultura, contribuindo assim para que este povo continuasse no anonimato, não exercendo assim seu papel social, pois nunca chegou de fato no campo. A esse respeito Reis, (apud SILVA, 2008, p. 53) diz que Quando a escola foi pensada e levada para o mundo rural, não se buscou nem se pensou numa abordagem que pudesse levar em conta como ponto de partida a própria realidade rural, para que, a partir, desta, se desenvolvesse uma educação mais comprometida e vinculada com a vida a as lutas do povo do campo. O campo como espaço de reprodução social, histórica, cultural nunca adentrou os muros das universidades assim como a mesma nunca chegou ao campo. Como também as escolas do meio rural se constituem dissociadas da realidade dos seus sujeitos. 4. Universidade e movimentos sociais: um novo olhar na construção da educação do campo A questão referente ao campo entrou em debate nas universidades e passou a fazer parte do cenário das discussões políticas deste país há pouco mais de uma década, quando os movimentos sociais do campo assumem seu papel de protagonistas na luta para implementação das questões do campo no cenário nacional. A universidade volta à parceria com os movimentos interrompida no golpe militar de 1964. Após a redemocratização política do Brasil a partir da década de 1980, os debates se voltam para os movimentos enquanto mobilizadores e articuladores dos diferentes segmentos das classes trabalhadoras em prol das melhorias sociais, porém não se fala ainda em Educação do Campo. Este debate acontece um pouco mais tarde
quando os movimentos colocam este assunto como ponto de pauta nas suas discussões (CALDART, 2004), questionando a própria função social das universidades. O debate sobre a educação do campo volta para o centro das discussões na academia. Neste contexto a turma de Pedagogia do PRONERA da UFPB (2008-2011), teve um papel importante na afirmação da identidade da educação do campo e para os povos do campo. Não estamos aqui falando de qualquer educação, estamos falando na Educação do Campo com sua proposta metodológica da Alternância que possibilita os sujeitos uma maior compreensão do seu contexto social, cultural e políticos oportunizando um olhar específico para sua realidade, podendo fazer seu papel social com mais criticidade. Como apresentam Santos, Lima e Silva (2011, p. 6) Neste sentido os estudantes da pedagogia do campo assumem seu discurso próprio forjado na dinâmica do curso e da sua realidade social por isso sua identidade se afirma a partir das relações socioculturais que os difere dos outros estudantes. Além do espaço que simboliza mais que um território. Significa a identidade do grupo que lutou para conseguir juntos por isso ali está mais que um pedaço de terra existe toda uma relação sócia educativa entre o homem, mulher, criança e o jovem com os animais com a terra que representa mais que terra ela vai além disso. Os movimentos tem assumido o compromisso com a questão da Educação do Campo, em suas mudanças, afirmações e desafios deste projeto tendo um caráter próprio reivindicatório na busca dos processos de construir sua identidade como Sem Terra, que tem se afirmado através de luta por outro projeto de sociedade. Nessa luta reconhecemos outros movimentos como o Movimento Sindical do qual fazemos parte dessa luta como militantes da Educação do Campo desde 1995. Desde este momento o Movimento já estava fazendo parte da construção deste projeto de Educação ao nos juntamos na luta, incansáveis na construção e afirmação deste projeto educacional, enfrentando os desafios da contemporaneidade. Em 1998 este projeto nos chega na forma de política pública em um Curso de Graduação em Pedagogia, que chamamos de Pedagogia do Campo, com a parceria dos movimentos sociais, que no nosso caso se deu através da Comissão Pastoral da Terra (CPT) que tem seu papel tanto como construtora do projeto do curso, mas também
como parceira que vem acompanhando a nossa trajetória durante todo o percurso do curso. A CPT é o referencial na luta por Educação do Campo e tem um papel fundamental na nossa formação e no acesso à Universidade Federal da Paraíba, que era uma utopia. Ela teve um papel fundamental no acesso universidade, e transforma essa utopia em realidade. Por isso, enfatizamos que os sonhos podem se tornar realidades como foram para nós filhos de trabalhadores rurais, e assim reafirmamos a viabilidade da Educação do Campo e a importância dos movimentos sociais neste processo. Somos parte desse movimento, pois temos uma vasta experiência em Educação popular e movimentos sociais por fazer parte da CPT. Em suma reafirmamos a importância e relevância do PRONERA, na educação dos filhos (as) dos trabalhadores rurais do Campo. Através da pedagogia da alternância, a qual prever a realização de períodos alternando tempoescola vivenciados na Universidade e, tempo-comunidade com trabalhos da prática curricular nos assentamentos. A educação do campo nasce inerente ao homem e a mulher que vive no campo, detentores de um saber popular que a academia e a escola têm por obrigação valorizar e reconhecer. Como sujeitos que exercem uma ação histórica e cultural, são preponderantes para afirmar e reafirmar os parâmetros da educação do campo ancorado nos princípios de solidariedade companheirismo, ou seja, o bem comum de todos. Portanto, o nascer dessa educação não pode existir dissociado da vida do sujeito camponês e camponesa, pois ao longo dos séculos esse povo vem se afirmando em suas lutas por terra e educação, por um projeto de sociedade para humanos humanizados, que deve ser observado. São as próprias experiências do sujeito na luta do dia-a-dia que proverá uma educação camponesa que reconheça sua identidade historia e cultura onde o eixo principal dessa educação seja o próprio homem e mulher do campo, embasado nas vivências, convivências e experiências respeitando toda tradição, costumes desses povos para que de fato seja aplicada a justiça social a classe camponesa negada ao longo do tempo.
Essa educação carrega em sua construção as marcas das mãos calejadas do camponês e da camponesa. Ela vem pintada com sangue desses sujeitos mortos de forma brutal pela elite dominante. Essa educação que estamos construindo reforça os princípios humanos e o reconhecimento do protagonismo da classe camponesa tão massacrada pela ideologia dominante opressora, ela trava um debate sobre a própria marginalidade existente no nosso país, questiona e reivindica a estruturas e as engrenagens truculentas do capital desamoroso e desumano. A educação do campo tem uma preocupação com a formação do ser humano e a transformação da sociedade. Essas comunidades existem. Em nosso caso, a comunidade é o Brasil. Nosso projeto só e viável por que existe o povo brasileiro, uma imensa massa humana que se considera unida por uma histórica uma herança cultural, uma língua, um espaço geográfico, instituições politicas, problemas e potencialidades comuns (BENJAMIN, 2000, p. 22). Todavia não queremos afirmar que a Educação do Campo é a salvadora da classe camponesa e que sozinha possa reverter o êxodo rural e resolver todos os problemas existentes no campo, mas sim, afirmar que essa educação no e do campo nunca aconteceu, sempre foi tratada de forma negligente pelo estado e seus dirigentes, ou seja, uma educação pensada para e com os sujeitos do campo. 5. Considerações Finais Em suma reafirmamos a importância e relevância do PRONERA, como sendo uma política pública que tem viabilidade na educação dos filhos (as) dos trabalhadores rurais do Campo. Através da pedagogia da alternância a qual prever a realização de períodos alternados no tempo-escola e tempo-comunidade. Esta educação do Campo que estamos buscando implementa-la quanto política pública para o campo e viável por que tem a realidade dos povos do campo como ponto de partida para trabalhar o contexto onde ele estar inserido, diferentemente da educação que estar posta, que apenas discuti textos mas não discutir os contextos sócios, cultural e político.
Nos sujeitos do campo e dos movimentos sociais se afirmando no âmbito da educação Popular e reafirmando enquanto sua viabilidade na Educação do Campo, que assumem um caráter revolucionário pela sua trajetória de lutas, tanto sua luta histórica, quanto as lutas que enfrentam para permanecer no campo e por uma educação de qualidade para seus sujeitos. Por isso reafirmo que a política pública de Educação do Campo tem de fato viabilidade, por ser construída por eles e para eles, tendo um calendário especifico e diferenciado a cada realidade. A educação do campo assume uma especificidade de luta de classe pelo seu vínculo com os sujeitos sociais camponeses. Referências ARROYO, M.; CALDART, R. S.; MOLINA, M. C. (Org.). Por uma educação do campo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em 04 DE SETEMBRO. 2010. BRASIL. Ministério da Educação. Grupo Permanente de Trabalho de Educação do Campo. Referências para uma Política Nacional de Educação do Campo: Caderno de Subsídios. Brasília, 2004. CELANI, Sergio. Escola Rural: Urbanização Políticas Educacionais- São Paulo: Cortez, 1994. CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra/ Roseli Salete Caldart. 3. Ed. - São Paulo: Expressão Popular, 2004. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a práticas educativa/ Paulo Freire. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido 17. Ed. Rio de janeiro, Paz e Terra. 1987. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em artigos que se completam. 34ª ed, SP. Cortez,1997. JEZINE, Edineide, BATISTA, Maria do Socorro Xavier, MOREIRA, Orlandil de Lima (Org.). Educação Popular e Movimentos sociais. Dimensões educativas na sociedade globalizada Joao Pessoa, Editora Universitária da UFPB, 2008.
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