A COLABORAÇÃO NA PESQUISA ETNOGRÁFICA: O DIÁLOGO ENTRE ESCOLA E UNIVERSIDADE
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- Ester Ferretti Abreu
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1 A COLABORAÇÃO NA PESQUISA ETNOGRÁFICA: O DIÁLOGO ENTRE ESCOLA E UNIVERSIDADE Autora: Lorena Valin Mesquita Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - lm_valin@hotmail.com Coautora: Roberta Souza de Uzêda Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) robertauzeda@bol.com.br Orientadora: Carmen Lúcia Guimarães de Mattos Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - carmenlgdemattos@globo.com INTRODUÇÃO Este trabalho tem por objeto de estudo a colaboração na pesquisa em educação, através dos dados de uma pesquisa etnográfica realizada pelo Núcleo de Etnografia em Educação (netedu), intitulada por Gênero e Pobreza: Práticas, Políticas, Teorias e Tecnologias Educacionais - Imagens de Escolas. O objetivo é discutir a interação entre escola e universidade, como a troca de experiências e realidades presentes nesses espaços, resultando em reflexões importantes para pensar o diálogo entre estes dois níveis de educação. É parte dos resultados da pesquisa realizada na escola estadual no município de Nova Iguaçu, que teve início no ano de 2011 e foi finalizada em 2013, contou com a participação de alunos, professores e gestores. A colaboração é uma ação para o desenvolvimento de um processo democrático, que oportuniza e valoriza a voz de todos. A escola deve ser um espaço de discussão que envolve os diferentes sujeitos que a compõe, pois através dessa articulação acredita ser possível minimizar os problemas internos e o fracasso escolar. A pesquisa etnográfica é intrinsecamente democrática pela centralidade que se dá ao pesquisado de expressar sua opinião e de se fazer ouvir. Por isso, acreditase que a etnografia é um meio que permiti a elaboração de um processo colaborativo e ao ser realizado no campo da educação, pode propiciar a reflexão da dinâmica do processo de ensinoaprendizagem e do sistema que rege a escola.
2 O presente estudo se mostra como relevante por apresentar resultados de uma pesquisa colaborativa entre escola e universidade, minimizando o distanciamento entre teoria e prática e por envolver diferentes sujeitos tanto do âmbito escolar, quanto do universitário. A metodologia que norteou o presente estudo foi a revisão de dados da pesquisa etnográfica: Gênero e Pobreza: Práticas, Políticas, Teorias e Tecnologias Educacionais - Imagens de Escolas. A etnografia é uma epistemologia social, que tem grande importância para aquele que é excluído ou identificado como diferente, onde se busca conhecer a realidade do sujeito da pesquisa a partir da imersão do pesquisador no campo e ao ouvir e considerar as informações que o pesquisado traz. Mattos (2011) afirma que fazer etnografia é dar voz a uma minoria silenciosa, é estar presente no mundo do outro, mundo este que parece não existir mais. A pesquisa foi realizada em uma escola estadual, localizada no município de Nova Iguaçu. A equipe de pesquisadores contou com professores universitários nacionais e internacionais, alunos da graduação, mestrando e doutorando. Em relação aos sujeitos da escola, participaram deste estudo alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, professores e gestores. Foram realizadas entrevistas com todos os integrantes da escola, já citados, acerca da realidade escolar e sobre os temas de violência escolar e gênero. Os alunos do Ensino Médio foram integrados como pesquisadores e participaram ativamente das reuniões mediadas pelos etnógrafos, para análise dos vídeos de entrevistas e das salas de aula junto aos professores e gestores. Os encontros para as discussões aconteceram nas dependências da escola e da universidade. Para Mattos (2011, p.32) na abordagem etnográfica o pressuposto maior é que o lugar do participante é como agente da pesquisa. Tornar o agente em pesquisador possibilita que ele construa e se aproprie dos dados da pesquisa, podendo repensar sobre sua prática, a partir do momento que esse processo exige que se distancie do papel que lhe convém nesse espaço e se coloque na posição daquele que explora, tornando o familiar estranho. É interessante ressaltar a troca em espaços diferentes, onde a universidade rompe com o muro que a cerca tanto para ir ao encontro da escola, como para possibilitar que a escola entre na universidade. A colaboração na pesquisa etnográfica educacional é um ponto relevante a se destacar por contribuir significativamente para um melhor entendimento dos processos interativos neste campo. A colaboração entre universidade e escola
3 A colaboração no contexto educacional é uma alternativa para refletir sobre o cotidiano escolar e promover intervenções. Colaborar significa trabalhar junto em prol de um objetivo comum, através da ajuda mútua. É preciso que todos os envolvidos estejam dispostos a realizar as atividades individuais e coletivas. Em concordância com Lukde e Cruz (2005) e Mattos (1995) a parceria entre universidade e escola é primordial para reverter o quadro de falência educacional. De acordo com Mattos (2011), as discussões realizadas entre o corpo escolar e os pesquisadores da universidade contribuíram para repensar as práticas e a dinâmica escolar dos professores, alunos e gestores. O exercício cotidiano se torna invisível para aquele que está imerso nela, dessa forma a intervenção de alguém que não está integrado nesse espaço pode ajudar a identificar os problemas que interferem na qualidade do ensino. Além disso, a colaboração favorece a delimitação do que é imprescindível ser pesquisado. Percebeu-se, assim como Erickson (1989), que o diálogo seria a melhor ferramenta para que toda ideia, crítica e observação de ambos os lados fossem colocados em pauta. A partir das entrevistas evidenciou-se a recorrência de falas expressivas sobre a situação de violência intra e extramuros da escola. Diante disso o netedu realizou na universidade uma oficina sobre bullying envolvendo os participantes da pesquisa que fazem parte da escola, no propósito dessa discussão ser uma ponte para uma ação dentro do âmbito escolar. Para o enfrentamento da realidade exposta os alunos decidiram realizar uma encenação teatral que foi apresentada na escola e também na UERJ 1. Essa relação viabilizou o contato dos alunos do Ensino Médio com a dinâmica acadêmica. A colaboração aconteceu de forma tão efetiva que a pesquisa conseguiu fomento de bolsas científicas para os alunos do Ensino Médio. Os discentes sobre a orientação e colaboração de seus docentes desenvolveram artigos acerca da pesquisa e apresentara em um congresso nacional 2. Com isto, foi possível oportunizar a experiência do meio cientifico a alunos e professores da rede pública de ensino. Esta pesquisa, apesar de finalizada, se consolidou e atualmente alunos e professores continuam a integrar o grupo de pesquisa, participando das reuniões e atividades. 1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 2 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
4 Para os integrantes do meio acadêmico este tipo de trabalho possibilita à universidade a consolidação do seu tripé de atuação para a formação do novo profissional, ou seja, o ensino, a pesquisa e a extensão, além de favorecer a aproximação da teoria com a prática. Como mostra Ludke e Cruz (2005, p.85) A separação entre teoria e prática no esforço de formação, colocado, em geral, em posição precedente a teoria, vindo a prática sempre depois, por meio de estágios de duração insuficiente e, sobretudo, de concepção precária. Portanto, foi possível romper com a formação precária mencionada pela autora, a partir do momento em que se deu abertura aos alunos universitários para o envolvimento com a pesquisa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base no relatório, essa parceria da escola com a pesquisa etnográfica colaborativa, faz com que o professor construa estratégias e críticas para intervir e moldar os diversos contextos do processo formador do aluno. Não é possível determinar os resultados no decorrer da pesquisa, mas por outro lado, é possível determinar como se dará esse processo, a partir do momento em que ambos envolvidos permitam-se ouvir e falar daquilo que lhe convém: sejam experiências, possíveis soluções ou até mesmo suas expectativas. Dessa forma há uma real necessidade de envolver, com mais ênfase, os professores e alunos inseridos nas escolas as pesquisas produzidas pelos professores pesquisadores das universidades, concebendo a pesquisa colaborativa como uma mediação favorável para a melhoria de ambos os trabalhos docentes, uma vez que a mesma é também formadora. Portanto, espera-se que a pesquisa possa contribuir para a construção de conhecimentos relevantes, desafiando professores e alunos a tornarem-se pesquisadores e que pesquisadores possam contribuir para esse processo de descoberta, acreditando que o conhecimento pode ser construído em colaboração. REFERENCIAL ERICKSON, Frederic. Research currents: learning and collaboration in teaching. Reprint from Language Arts, March, p
5 MATTOS, Carmem Lúcia Guimarães. Etnografia crítica de sala de aula: o professor pesquisador e o pesquisador professor em colaboração. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 76, n. 182/183, MATTOS, Carmem Lúcia Guimarães de. A pesquisa em colaboração com o professor: vivências de campo em etnografia crítica da sala de aula. In: MATTOS,Carmem Lúcia Guimarães de; CASTRO, Paula Almeida (Org.). Etnografia e educação: conceitos e usos. Campina Grande: EDUEPB, p MATTOS, Carmen Lúcia Guimarães de. GÊNERO E POBREZA: Práticas, Políticas e Teorias Educacionais Imagens de escolas. Relatório final de Pesquisa. CNPq. UERJ. NETEDU: Rio de Janeiro, LÜDKE, Menga; CRUZ, Gisele Barreto da. Aproximando Universidade e Escola de Educação Básica pela pesquisa. Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 125, p , maio/ago
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