Educação Integral, Escola de Tempo Integral e Aluno em Tempo Integral na Escola.
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- Victorio Cerveira Monsanto
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1 Educação Integral, Escola de Tempo Integral e Aluno em Tempo Integral na Escola. Chico Poli Algumas vezes, fora da escola há até mais formação do que na própria escola. (M. G. Arroyo) É preciso toda uma aldeia para educar uma criança. (provérbio africano) Educação Integral não se confunde com escola de tempo integral nem com aluno em tempo integral na escola. Educação integral é aquela que considera o sujeito em sua condição total, multidimensional, de conhecimento, cultura, ética, memória, imaginação etc, e que tem de dar conta de todas essas dimensões. A educação é, por definição, integral, na medida em que deve atender a todas as dimensões do desenvolvimento humano, e se dá como processo ao longo de toda a vida. Assim, educação integral não seria uma modalidade de educação, mas sua própria definição. O conceito mais tradicional para definição de educação integral é aquele que considera o sujeito em sua condição multidimensional, não apenas na sua dimensão cognitiva, como também na compreensão de um sujeito que é corpóreo, tem afetos e está inserido num contexto de relações. A Escola de Tempo Integral coincide em parte com a expectativa do pleno desenvolvimento do educando ( educação integral ), se considerarmos que, para dar conta de todas as dimensões do educando, é necessário mais tempo. Mas o tempo 1
2 não é apenas o da escola; é também o dos diversos ambientes: família, casa, trabalho, comunidade etc. (Arroyo) Quando se fala em escola de tempo integral, a ênfase recai no fortalecimento da unidade escolar, com mudanças em seu interior pela atribuição de novas tarefas, mais equipamentos e profissionais com formação diversificada, pretendendo propiciar a alunos e professores uma vivência institucional de outra ordem. Uma escola de tempo integral implica considerar a variável tempo a ampliação da jornada escolar e a variável espaço colocada aqui como o próprio espaço da escola, como continente dessa extensão de tempo. (Brandão) Quando se fala em aluno em tempo integral na escola, a ênfase estaria na oferta de atividades diversificadas aos alunos no turno alternativo ao da escola, fruto da articulação com instituições multissetoriais, utilizando espaços e agentes que não os da própria escola, pretendendo propiciar experiências múltiplas e não padronizadas. Segundo Ana Maria Cavaliere, a troca com outras instituições sociais e a incorporação de outros agentes educacionais são fundamentais para o enriquecimento da vida escolar, mas as formas alternativas de ampliação do tempo educativo que não têm como centro a instituição, expõem-se aos perigos da fragmentação e da perda de direção. E, principalmente, ronda-lhes o risco de que, ao invés de servirem à melhoria da qualidade da ação educacional, atuem aprofundando ainda mais a precarização da educação. Uma estrutura descentralizada, bem coordenada, pode representar, aqui e ali, uma boa solução momentânea, mas sua difícil administração em grande escala impede seu estabelecimento como solução de grande alcance, a ser reproduzida no sistema educacional público brasileiro. 2
3 Na escola de tempo integral e no projeto do aluno em tempo integral na escola, destaca - se a concepção de educação integral como pano de fundo para fundamentar sua execução, seja na ampliação da jornada escolar, seja na articulação da escola com outros espaços públicos de aprendizagens, governamentais e não governamentais, numa perspectiva de desenvolvimento de uma escola pública que cumpra com sua função social. A escola de educação básica brasileira, especialmente aquela voltada para as classes populares, sempre foi uma escola de poucas horas diárias, pouco espaço e poucos profissionais. Anísio Teixeira, na década de 1950, já dizia que, para ser eficiente, a escola pública para todos deve ser de tempo integral para professores e alunos, como a Escola Parque de Salvador, fundada por ele, em 1950, onde as crianças seriam cuidadas, desde a alimentação, higiene e saúde até sua preparação para a cidadania. Essa escola, mais tarde, inspiraria os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) do Rio de Janeiro (anos 1980), o PROFIC - Programa de Formação Integral da Criança - em São Paulo, na década de 1980, e os Centros de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (CAICs), adotados em âmbito nacional a partir de A partir da década de 1990 (com a LDB, o ECA), o Brasil passou a pensar a educação integral (na verdade, escolas de tempo integral ) como resposta às muitas vulnerabilidades das crianças e adolescentes ( o perigo das ruas ) e ao aprimoramento contínuo da qualidade da aprendizagem. Entre as redes estaduais com práticas de ampliação do tempo de escola, destacam- se Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Estas, talvez pela própria 3
4 natureza das administrações estaduais, têm apresentado a tendência de investimento nos moldes do modelo escola de tempo integral, onde os alunos ficam na instituição de sete horas da manhã às quatro e meia da tarde, e recebem três refeições diárias, aulas de reforço, oficinas de música, dança, teatro, informática etc. A LDB, no seu Artigo 2º, ao afirmar que A educação... tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando... está focando a educação integral, lembrando, antes (Artigo 1º), que a educação se dá em vários locais diferentes: na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Portanto, a própria LDB deixa claro que a formação humana não se dá apenas na escola, embora seja a escola um espaço privilegiado de educação, uma vez que foi criada com objetivos socioeducativos específicos: fornecer a crianças e jovens condições de adquirir conhecimentos e habilidades tipicamente escolares necessários ao exercício pleno da cidadania (leitura, escrita, cálculo etc), e ser um espaço de socialização secundária (interação com grupos externos às relações familiares e o convívio sistemático com pares). Na formação humana, tem-se de levar em conta todos os demais tempos e espaços, que são importantes e que devem dialogar entre si. A educação integral é uma tarefa que não pode ser exclusiva da escola e das secretarias de educação. Ao contrário, ela prevê necessariamente a integração e interlocução das agendas, políticas e, na medida do possível, receitas e orçamentos das mais diferentes frentes: esporte, cultura, assistência social, habitação, transportes, planejamento etc. - Comumente, traçando um paralelo entre todas essas ações, o que caracteriza uma política de educação integral é uma articulação intersetorial. (Cavaliere) 4
5 A proposta de ampliação do tempo diário de permanência das crianças na escola merece análises de diferentes naturezas. Tanto aspectos relacionados à viabilidade econômica e administrativa quanto ao tipo de utilização pedagógica das horas adicionais são de grande importância. Construir uma escola, a mais justa possível, a mais democrática possível, com papel socializador efetivo, atenta aos novos saberes e questões do conhecimento, muito provavelmente incluirá a ampliação do seu tempo e a estabilidade de seus atores. (Brandão). O mais importante, no entanto, é que haja uma educação integral e de qualidade. Escola de Tempo Integral e programas para alunos em tempo integral na escola são importantes, mas são acessórios. A Finlândia tem, talvez, a melhor escola pública do mundo. Lá a jornada escolar é curta (máximo de 6 horas diárias) e o calendário anual é reduzido (188 dias letivos). Observação: o Congresso entendeu que a expressão mais adequada seria Educação Escolar Integral, uma vez que se trata especificamente de escolas e não de outros ambientes formadores. Com relação às Escolas de Tempo Integral, lembrou-se que, se elas funcionam bem, o programa deve ser estendido a toda a rede, e dentro das normas que regem o magistério público estadual, sem discriminações. Ainda, sendo um programa eficiente, deve-se tornar uma política de Estado não apenas de governo para que não fique sujeita a conveniências político-partidárias de momento. Autores citados: Miguel Gonzales Arroyo O direito ao tempo de escola. Cadernos de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas - n. 65,
6 Ana Maria Cavaliere Escolas de tempo integral versus alunos em tempo integral Revista Em Aberto, Brasília, v. 22, n. 80, p , abr Zaia Brandão - Escola de tempo integral e cidadania escolar - Revista Em Aberto, Brasília, v. 22, n. 80, p , abr (Em Aberto revista do INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - do MEC) 6
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