ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ATIVIDADES DIDÁTICO- PEDAGÓGICAS PARA A (RE) CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS BÁSICOS EM CIÊNCIAS NATURAIS NOS ANOS INICIAIS



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Transcrição:

ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE ATIVIDADES DIDÁTICO- PEDAGÓGICAS PARA A (RE) CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS BÁSICOS EM CIÊNCIAS NATURAIS NOS ANOS INICIAIS TÚRMINA, Leonir 1 MAMAN, Daniela de 2 RÖESCH, Isabel Cristina Corrêa 3 Historicamente, o currículo do ensino de Ciências Naturais, nas décadas de 20 e 30, era organizado como um conjunto de verdades clássicas, como uma coleção de conceitos e definições transmitidos aos alunos pelo professor, formando, assim, alunos receptivos e acríticos. O paradigma iluminista e antropocêntrico da ciência moderna exercia forte influência sobre a educação das Ciências. Na década de 50, os conteúdos eram transmitidos sob a forma de atividades, em que os alunos deveriam obter conhecimento para tornarem-se indivíduos com uma certa autonomia intelectual. Na década seguinte, adota-se o método científico na metodologia do ensino de Ciências, suscitando a organização dos conteúdos sob a forma de atividades problema, que eram capazes de solucionar qualquer questão da existência humana. O método científico, além de ser página de abertura dos livros de Ciências, era também a cartilha nos laboratórios. O regime militar dos anos 60 facilita a implantação de projetos com ênfase no método científico e com a marca no treinamento. O modelo econômico gerado pelo golpe militar provocou o aumento da demanda pela educação, o que, conseqüentemente, causa uma crise na educação. Essa crise justifica a assinatura de convênios entre o governo brasileiro e instituições internacionais como a Usaid. Alguns desses acordos vigoraram até 1971. Com isso, introduz-se uma rede de Centros de Treinamento de Ensino de Ciências no Brasil, visando a implementar os projetos, já que a Usaid tinha como meta uma ação mais direta nas escolas para conseguir delas mais eficácia para o desenvolvimento do país Chassot ( 2004). As perspectivas para melhorar o ensino de Ciências remontam desde os anos setenta, nos EUA, como conseqüências destes movimentos surgiram projetos curriculares tais como, Chemical Study Group (CHEM), Chemical Bond Aproach (CBA). No Brasil, o movimento relativo ao ensino de Ciências iniciou com o IBECC (Instituto Brasileiro de Ciências e 1 Pedagoga, bolsista do Projeto de Pesquisa. 2 Mestre em Educação, curso de Pedagogia da Unioeste, danielagremista@hotmail.com 3 Mestre em Educação, curso de Pedagogia da Unioeste, icroesch@hotmail.com

Cultura) depois com a FUNBEC (Fundação Brasileira para o Ensino de Ciências) com a meta de superar as deficiências existentes no Ensino de Ciências. Krasilchick (1992). Essa tendência tecnicista ganhou força na década de 70, e o ensino de Ciências Naturais passa a dar muito mais valor à quantidade de conhecimento científico a ser estudada. Dessa forma, não importava a organização dos conteúdos, que poderiam ser soltos, fragmentados, estanques e descontextualizados do meio social, cultural e ambiental do aluno. Em 1972, na Conferência sobre Desenvolvimento e meio ambiente realizada em Estocolmo, na Suécia, a posição do Brasil vem ao encontro dessa concepção. O Comitê Brasileiro alega que não tínhamos problemas de poluição. Nosso maior problema era a fome e a miséria. Necessitávamos de indústria para gerar mais empregos. A industrialização era uma marca forte de crescimento econômico que exerceu influência e se estendeu até a década de 80, em todo o mundo. A história do ensino de Ciências Naturais mostra-nos a supervalorização da apreensão de conceitos científicos em detrimento das interações que ocorrem entre esses conceitos e aquilo que vivenciamos quando nos inserimos no ambiente. Por isso, a representação do ensino de Ciências, durante muito tempo, foi a de que "aprender Ciências parece ser repetir palavras difíceis" (BIZZO, p. 30, 2002). Em nenhum dos currículos descritos acima se levou em consideração a relação da humanidade com o meio ambiente e com a sociedade e a cultura local. A vivência do método científico era confundida com metodologia de ensino de Ciências. Mais tarde, pesquisas realizadas sugerem que só a experimentação não garante sucesso da aprendizagem. As propostas curriculares não tinham por objetivo questionar a estrutura social vigente, ou ainda a maneira através da qual se fazia o desenvolvimento das sociedades. Pelo contrário, as propostas curriculares atendiam ao modelo de crescimento econômico. Com isso, esse modelo hegemônico vem implementando práticas de utilização dos recursos naturais como fontes inesgotáveis de recursos que têm por, conseqüência, a degradação ambiental observada até os dias de hoje. As propostas curriculares foram concebidas para atender a um modelo de desenvolvimento desigual que privilegiava as classes hegemonicamente constituídas em detrimento das classes populares, ressaltando interesses políticos e econômicos. Dessa forma, as relações de poder que perpassam o currículo tornaram-no conteudista, fragmentado, com ênfase na memorização, dissociado das problemáticas sociais, da realidade dos educandos e distante do agir e pensar criticamente na resolução de problemas do cotidiano.

A partir da década de 80, as pesquisas cresceram no campo educacional, visando a enfatizar a necessidade de uma sociedade democrática, da qualidade no ensino e da busca de novas metodologias. Mas no ensino de Ciências ainda existia uma forte influência do pensamento racionalista. Pesquisas, nessa década, propõem um modelo de aprendizagem denominado "mudança conceitual". A aprendizagem é, em essência, uma atividade inteiramente racional, conjunto de atividades presididas por uma lógica inescapável. Os argumentos justificáveis e demonstráveis, em nome da ciência, seriam suficientes para que os alunos mudassem de idéias, abandonando as anteriores e adotando as aceitas pela ciência Bizzo (2002). Esse modelo tem sido altamente criticado por desconsiderar os aspectos emocionais e afetivos dos alunos. Diante dessas diferentes tendências e visões do ensino/aprendizagem das Ciências Naturais, temos de considerar que esta é uma era de rápidas e constantes transformações, de revolução nas tecnologias da informação e da comunicação e na biotecnologia que, portanto, precisam ser apreendidas em suas relações com as demais questões sociais e ambientais. Assim, o acesso e a socialização do conhecimento científico é importante para a formação de cidadãos responsáveis tanto individual quanto coletivamente, críticos e exigentes diante daqueles que tomam decisões. O ensino de Ciências nas escolas vem sendo abordado de maneira secundária quando comparado ao ensino de outras áreas do saber, como por exemplo, a Matemática e o Português, de tal modo que seus conteúdos não são desenvolvidos de forma significativa, ou seja, com a participação efetiva do aluno. O que conseqüentemente não possibilita aos alunos a habilidade investigativa, de procurar saber para compreender melhor o que está aprendendo. Desta forma, surge a necessidade de buscar desenvolver o ensino de Ciências de modo diferenciado do atual, amenizando sua fragmentação e a falta de vínculo com a realidade dos alunos. Com relação ao processo de Ensino de Ciências existem aspectos inquietantes, tais como: preocupação no que se referem à atuação do professor, os saberes necessários para o ensino de Ciências nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental e, à necessidade e a possibilidade de proporcionar aos alunos a (re) construção de noções científicas. A importância da Educação em Ciências para crianças reside no fato de as Ciências enquanto área do saber sistematizado que possibilita aos alunos desenvolverem conhecimentos que os permitirá pensarem sobre o que os rodeia intervindo/agindo de forma consciente na sociedade da qual fazem parte.

A ciência, levada a cabo energicamente, pode fornecer à humanidade o conhecimento do ambiente biofísico e do comportamento social de que esta precisa para desenvolver soluções eficazes para os problemas locais e globais; sem esse conhecimento o progresso no sentido de um mundo seguro ficará dificultado desnecessariamente. (RUTHERFORD E AHLGREN, 1995, p. 76). Um cidadão instruído em ciências é capaz de compreender conceitos e, de usá-los para fins tanto próprios quanto científicos, pois compreende não só a Ciência, como também a Matemática e a tecnologia. A organização do conhecimento a partir do conhecimento cotidiano dos alunos se constitui em uma alternativa para o Ensino de Ciências. É necessária uma reformulação dos programas de Ciências para crianças, buscando eliminar conteúdos desnecessários e, incluindo outros que propiciem a participação dos alunos na busca pela (re) elaboração dos saberes que o instrumentalize para entender ciência e tecnologia, bem como a produção destas. A NECESSIDADE DE SE ENSINAR CIÊNCIAS NA ESCOLA Os Anos Iniciais se Caracteriza por ser um nível de ensino em que o professor trabalha praticamente todas as áreas do saber (Matemática, Ciências Naturais, Português, Estudos Sociais, Educação artística, incluindo a Educação Física), ou seja, um professor polivalente. A conseqüência direta desta polivalência tem seu reflexo no Ensino de Ciências na prática escolar. Os conteúdos são trabalhos de forma reduzida tendo como base teórica o livro didático, sendo que os conteúdos, em sua maioria, se restringem a práticas experimentais. O professor se apóia nas experimentações, tenta camuflar a deficiência na sua formação acadêmica, em geral pedagogos, para facilitar tanto o seu trabalho, quanto a suposta aprendizagem dos alunos. Para a criança, o ato de descobrir a realidade exterior e a possibilidade de ação sobre esta, é uma atividade prazerosa, pois o conhecimento para ela é o seu nascimento para o mundo que a rodeia, sendo as ciências o meio para a descoberta e a (re) elaboração de seus conceitos, desde a linguagem até os nomes que o homem atribui aos fenômenos (princípio da significação). A educação em Ciências se caracteriza pela alfabetização científica, tecnológica, a qual compreende o entendimento de que ao longo dos tempos o homem produziu e reproduziu meios para sua sobrevivência, bem como, suas relações sociais, culturais e com a natureza. Para isso criou novas tecnologias, como por exemplo, o computador. Atualmente existem formas variadas de se obter o conhecimento, mas quase todas se utilizam da tecnologia. Alfabetização hoje se caracteriza por uma interpretação-ação crítica

frente as tecnologias de comunicação (oral, visual e escrita) e, não mais se restringe ao simples ato de ler e escrever. As pessoas carecem de uma alfabetização que os possibilitem agir frente aos avanços tecnológicos, como entender sua utilização e linguagens. as transformações que ocorreram no mundo neste último século mesmo no Brasil, um pais em desenvolvimento, as tecnologias já estão presentes no cotidiano das pessoas. e a forma para democratizar este desenvolvimento é a construção dos conhecimentos necessários a sobrevivência deste indivíduo neste sociedade em constante transformação em termos de avanços tecnológicos. A escola é a instituição que detém o poder de instrumentalizar os indivíduos para que estes possam produzir e se utilizar destes avanços, para isso é necessário que a escola e, em específico o professor trabalhe numa perspectiva de democrática e autônoma. POSSIBILIDADE DE SE ENSINAR CIÊNCIAS PARA CRIANÇAS A proposta de ensino construída para aprendizagem dos alunos, não é apenas no que se refere a sua participação ativa, em termos de manusear materiais de laboratório, de realização de experiências, como por exemplo, constatar que o Ar existe, ocupa espaço e, pode ter seu volume reduzido. É preciso ir além, o que remete a ação cognitiva, ao raciocínio, a compreensão e a atribuição de significado as idéias incorporadas ao pensamento já existente. Alguns professores de Anos Iniciais afirmam que alunos em idades entre 6-12, alunos do Ensino Fundamental, não possuem capacidade de compreensão, quanto a conceitos científicos. De acordo com Weissmam (1998) é preciso que o professor saiba diferenciar a Ciência escolar da Ciência do cientista, sendo que, o conhecimento escolar toma como referência a Ciência do cientista o estudo contempla uma turma. O conhecimento escolar de Ciências se caracteriza por uma transformação do conhecimento científico, ou seja, por uma adequação deste conhecimento para ser ensinado no meio escolar. Quanto à aprendizagem por parte das crianças, o trabalho com turmas de Anos Iniciais comprova que estas crianças são capaze s de compreender e pensar sobre conhecimentos amplos sobre fenômenos científicos que os cercam, superando o conhecimento espontâneo e se encaminhando para o conhecimento sistematizado, científico. A inquietação com o que ensinar sobre Ciências Naturais na faixa etária de 9-11 anos, precisa ultrapassar o aspecto da preocupação e partir para um estudo sobre o que realmente é relevante, em termos de procedimentos e conceitos de acordo com as demandas da comunidade escolar. A partir dos pressupostos teóricos de Vigotsky que, inicialmente o indivíduo formula conceitos a partir de uma relação direta que estabelece com a realidade

concreta, aos poucos ela vai isolando determinados atributos do objeto, rumo a abstrações e generalizações cada vez mais complexos. Então, buscamos compreender como o processo de ensino e de aprendizagem sofre influência do meio em que o indivíduo vive através do ensino de Ciências Naturais nas três áreas (Biologia, Física e Química). ESTRATÉGIA DE AÇÃO Nossa proposta para trabalhar com a educação em Ciências nos Anos Iniciais parte do pressuposto de que o aluno traz consigo para a sala de aula um conhecimento organizado, mas espontâneo e, tem por objetivo a (re) elaboração deste conhecimento espontâneo com base no conhecimento que lhe é apresentado durante os encontros destinados a disciplina de Ciências, como também a sua capacidade para produzir textos informativos. Este trabalho de elaboração e implementação de atividades para o Ensino de Ciências Naturais propõem uma perspectiva de ensinar questões ligadas às ciências, a sociedade e a tecnologia, bem como uma maneira diferenciada de conduzir as aulas, em relação ao modelo tradicional de ensino, isto é, tendo como referência teórica apenas o livro didático e, considerando o processo de aprendizagem dos alunos como resultado de memorização sem compreensão. Assim, tem como objetivo principal a elaboração, implementação e avaliação da aprendizagem dos alunos através de atividades didático-pedagógicas. A proposta de ensino de Ciências Naturais, elaborada e implementada, em duas turmas de quarta série, teve por base os pressupostos mencionados acima, ou seja, a importância e a necessidade de se ensinar Ciências para crianças em idades entre 9 e 11 anos de idade e, a possibilidade de ensinar conteúdos de Ciências, uma vez que se caracterizam por uma transposição didática do conhecimento científico, bem como a capacidade das crianças em compreender estes conhecimentos sistematizados. As temáticas trabalhadas com a quarta série do Ensino Fundamental foram AMBIENTE E POLUIÇÃO DO AR; PLANETA TERRA, UNIVERSO, POLUIÇÃO AMBIENTAL E ECOLOGIA, sendo cada temática dividida em Módulos Didáticos compreendendo um total de duas horas-aula cada módulo, num período que correspondeu a seis meses na Escola da Municipal, em Francisco Beltrão - PR. O trabalho de implementação dos módulos didáticos se constitui numa tentativa de superar a fragmentação existente no Ensino de Ciências. A estruturação dos módulos ocorreu após análise e reestruturação dos conteúdos programáticos propostos no programa da escola,

na qual as atividades foram implementadas, no que refere às temáticas: Ar, Universo e Ecologia. As atividades seguem como proposição metodológica os Três Momentos Pedagógicos Delizoicov & Angotti (1991), que se caracteriza por: Problematização Inicial, Organização do Conhecimento e Aplicação do Conhecimento. A elaboração das atividades compreende desde questionamentos acerca das concepções dos alunos sobre o conteúdo que está sendo desenvolvido, como o contato com o texto que aborda o tema numa linguagem científica e acessível a este nível de ensino e, inclusive a produção escrita dos alunos, contendo suas considerações sobre o conteúdo. A partir da elaboração e implementação e avaliação das atividades foi possível constatar um crescimento por parte dos alunos em relação a sua aprendizagem, quando se depararam com uma forma diferenciada de desenvolver um tema, no sentido de não se trabalhar um conteúdo somente seguindo o livro didático, mas desenvolvendo o conteúdo de acordo com realidade mediata do aluno, utilizando para isso de textos informativos (Revista Superinteressante, Ciência Hoje das Crianças, textos coletados na Internet). Sendo possível verificar claramente através da produção textual do aluno, o seu entendimento sobre as atividades desenvolvidas, na medida em que expõe suas concepções sobre o que compreendeu do conteúdo. Constatou-se que o envolvimento no planejamento das atividades implementadas, de forma consciente tentando alcançar a melhoria quanto ao ensino de Ciências, possibilita aos alunos o entendimento dos fenômenos naturais que o cercam, na sua totalidade. CONSIDERAÇÕES PÓS-IMPLEMENTAÇÃO DAS ATIVIDADES Pode-se afirmar que a elaboração das atividades a partir de uma reestruturação do Programa de conteúdos propostos pela escola e, sua posterior implementação contribuíram para se pensar que atividades são significativas para a aprendizagem dos alunos, baseando-se numa perspectiva de alfabetização científica e tecnológica, para desafiar o professor a não utilizar somente conteúdos livrescos, como também a trabalhar a partir das idéias prévias dos alunos. As atividades didático-pedagógicas caracterizam-se como uma forma de possibilitar um processo de ensino e de aprendizagem, no qual o aluno é sujeito ativo na (re) elaboração dos novos saberes com os quais vai interagindo. Deste modo a busca por uma proposta de ação diferenciada da atual desenvolvida pelas escolas da rede municipal, torna-se essencial quando propõe em sua essência a busca por uma escola democrática, que propicie aos alunos uma (re) construção dos próprios saberes, a partir da relação entre os conteúdos, uma escola

que ofereça aos alunos uma alfabetização científica matemática e tecnológica que os possibilitem interferirem no mundo em que vivem. REFERÊNCIAS: BIZZO, Nélio. Ciências: fácil ou difícil? São Paulo: Ática, 2002. CHASSOT, A.. Ensino de Ciências no começo da segunda metade do século da tecnologia. In: LOPES, A. C. e MACEDO, E. (Orgs) Currículo de Ciências em debate. São Paulo: Papirus, 2004 DELIZOICOV, D., ANGOTTI. J. A. Metodologia do ensino de ciências. São Paulo: Cortez, 1991. KRASILCHIC, M. O professor e o currículo das Ciências. São Paulo: EPU, 1992. LOPES, Alice Casimiro et al. Currículo de Ciências em debate. Campinas/SP: Papirus, 2004. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: Ciências Naturais. Brasília: MEC/ Secretaria de Educação Fundamental, 1998. RUTHERFORD, F. J. E AHLGREN, A. Ciência para todos. Lisboa: Gradiva..1995. WEISSMANN, H. (org.). Didática das Ciências Naturais. Porto Alegre: Artmed, 1998.