Avaliação da Situação Financeira dos Municípios Brasileiros A situação financeira dos municípios pode ser avaliada por pelo menos dois enfoques distintos: um de curto prazo e outro de médio e longo prazo. No de curto prazo, o conceito utilizado para mensurar a solvência financeira é a suficiência de caixa: a diferença entre os ativos financeiros disponíveis em caixa e as obrigações financeiras assumidas (principalmente restos a pagar). Quando os valores em caixa superam as obrigações, o município apresenta suficiência de caixa; do contrário, apresenta insuficiência de caixa. No longo prazo, devemos avaliar a situação financeira pelo grau de endividamento, o que é feito pela comparação entre a Dívida Consolida (DCL) e a receita líquida. A DCL é constituída pelos compromissos de pagamento referentes às operações de crédito e outras dívidas bancárias, além dos restos a pagar processados. Comparando esses indicadores entre os anos de 2002 e 2007, vemos uma expressiva melhora da situação financeira dos municípios: O saldo das disponibilidades, que em 2000 apresentava em situação de insuficiência de caixa, em 2002, já era suficiente e daí em diante só cresceu, sendo que entre 2002 e 2007, o grau de endividamento agregado também caiu. Esse diagnóstico foi feito a partir de dados do Finbra, um arquivo disponibilizado pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN) com os balanços orçamentários e patrimoniais de mais de 90% dos municípios. Suficiência de Caixa A Suficiência de Caixa mede a capacidade dos recursos em caixa cobrirem principalmente os restos a pagar processados e não-processados das prefeituras. Ao analisarmos este indicador, vemos que no ano de 2007, apenas 33,5% dos municípios eram devedores, ou seja, não dispunham de recursos em caixa para liquidar o total de restos a pagar. Uma melhora expressiva em relação a 2002, ano em que as prefeituras nesta situação representavam 50% do total. Em valores nominais, o total de disponibilidade somava o montante de R$ 1,370 milhões, que passou em 2007 para R$ 14,693 milhões de reais. A suficiência de caixa é calculada pela diferença entre o ativo financeiro disponível e o total de restos a pagar. Comparando esse valor com a Receita Corrente (RCL),
temos um indicador da capacidade de solvência, ou seja, capacidade de cumprimento das obrigações assumidas no curto-prazo. Na tabela seguinte, vemos a quantidade de municípios que apresentaram saldo negativo nos anos de 2002 e 2007, por unidade da federação. Em 2002, o estado com o maior percentual de municípios com saldo negativo (ou seja, insuficiência de caixa) foi Sergipe (89%); já em 2007, Roraima apresentou o pior resultado (76,9%). O menor porcentual de saldo negativo (e, portanto, maior porcentual de municípios com saldo positivo) é encontrado em Amapá em 2002 (9,1%) e Rio Grande do Sul em 2007 (5,7%). No Rio Grande do Sul, a melhoria é expressiva se compararmos o quadro de 2002, quando 23,11% dos municípios tinham saldo negativo. Em São Paulo, o porcentual de insuficiência de caixa caiu de 51,1% em 2002 para 29,7% em 2007. Em Minas, esse mesmo índice foi reduzido de 60,8% para 34,9%. UF c/ saldo positivo Suficiência de Caixa (disponibilidade de recursos menos obrigações) 2002 2007 c/ saldo negativo % total c/ saldo positivo c/ saldo negativo % total AC 17 5 22,73 18 3 14,29 AL 80 20 20,00 72 26 26,53 AM 46 11 19,30 45 6 11,76 AP 10 1 9,09 10 1 9,09 BA 188 181 49,05 186 172 48,04 CE 51 122 70,52 65 116 64,09 ES 14 63 81,82 64 12 15,79 GO 36 201 84,81 129 97 42,92 MA 69 85 55,19 95 94 49,74 MG 316 491 60,84 530 285 34,97 MS 40 37 48,05 63 14 18,18 MT 43 71 62,28 88 46 34,33 PA 57 64 52,89 41 51 55,43 PB 140 69 33,01 144 67 31,75 PE 61 107 63,69 48 132 73,33 PI 144 62 30,10 135 70 34,15 PR 184 199 51,96 305 84 21,59 RJ 45 42 48,28 53 28 34,57 RN 83 74 47,13 80 77 49,04 RO 17 30 63,83 32 19 37,25 RR 2 10 83,33 3 10 76,92 RS 376 113 23,11 464 28 5,69 SC 210 75 26,32 262 30 10,27 SE 8 65 89,04 33 38 53,52 SP 288 301 51,10 442 187 29,73 TO 33 99 75,00 76 58 43,28 BR 2.558 2.598 50,39 3.483 1.751 33,45 Fonte: STN/Finbra 2007 - Elaboração própria CNM
Quanto às capitais, enquanto em 2002 havia 14 cidades com insuficiência de caixa, em 2007 eram apenas oito. As duas com maior saldo negativo em 2007 foram Belo Horizonte e Salvador. Comparando a suficiência de caixa com a RCL, vemos que o alto risco de insolvência observado em algumas capitais no ano de 2002 não é mais verificado em 2007. Se definirmos que cidades com saldo negativo em suficiência de caixa acima de 25% da RCL terão problemas para honrar seus compromissos, vemos que Belo Horizonte e Boa Vista em 2002 superavam este limite, agora em 2007 apresentaram um percentual de 16,3% e de 6,7% da RCL, respectivamente. Os menos solventes por este conceito em 2007 são Salvador com saldo negativo de 20,5% de sua RCL e Belo Horizonte com 16,3%. Recursos em caixa versus obrigações financeiras das Capitais 2002 2007 Municípios Suficiência (+) ou Suficiência (+) ou % da RCL insuficiência (-) insuficiência (-) % da RCL Aracaju/SE (4.862.147) (1,8) 32.900.917 6,1 Belém/PA 24.492.039 4,3 153.287.672 14,0 Belo Horizonte/MG (431.675.350) (25,5) (529.915.940) (16,3) Boa Vista/RR (34.254.769) (28,9) (23.316.754) (6,7) Campo Grande/MS 19.950.022 4,6 139.814.987 14,6 Cuiabá/MT (29.090.795) (8,8) (70.877.508) (13,1) Curitiba/PR (43.043.518) (2,5) 105.227.750 3,5 Florianópolis/SC 249.352 0,1 (57.478.250) (10,5) Fortaleza/CE 11.053.691 1,1 100.972.197 5,1 Goiânia/GO (71.027.803) (8,5) 54.555.460 3,8 João Pessoa/PB (778.150) (0,3) 42.331.326 6,8 Macapá/AP 1.807.403 1,4 92.982.792 37,5 Maceió/AL (13.099.028) (3,6) (42.185.045) (5,7) Manaus/AM 3.573.722 0,5 51.297.428 3,3 Natal/RN (31.473.169) (8,3) (65.897.219) (8,5) Palmas/TO 10.251.711 7,1 79.367.509 25,7 Porto Alegre/RS 80.044.944 5,5 159.198.361 6,9 Porto Velho/RO (5.208.384) (3,2) (22.027.337) (6,9) Recife/PE 153.832.665 16,6 222.445.049 13,1 Rio Branco/AC (3.004.149) (2,0) 43.269.879 15,7 Rio de Janeiro/RJ 1.639.799.740 28,6 2.711.849.750 31,1 Salvador/BA (103.339.983) (10,1) (442.407.115) (20,5) São Luís/MA (71.677.119) (14,2) 20.661.254 2,1 São Paulo/SP 14.733.486 0,2 1.390.673.569 7,4 Teresina/PI 22.722.527 6,4 90.145.561 12,5 Vitória/ES (1.595.445) (0,4) 202.900.044 23,4
Em termos agregados, as disponibilidades do ativo das prefeituras somavam no final de 2007 cerca de R$ 40,9 bilhões, enquanto as obrigações financeiras (essencialmente restos a pagar) perfaziam a cifra de R$ 27,1 bilhões situação oposta a de 2000, por exemplo, quando o volume de restos a pagar superava o das disponibilidades. Ou seja, em apenas cinco anos, houve uma mudança profunda na situação financeira dos municípios, que reflete não apenas os avanços institucionais impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, mas principalmente a conjuntura favorável das receitas. Dívida Consolidada (DCL) Este conceito mede o grau de endividamento de longo-prazo em que as prefeituras se encontram. É calculado somando-se as operações de crédito internas e externas de curto e longo-prazos, com as obrigações legais, tributárias e de longo prazo, com os restos a pagar processados e os precatórios, e subtraindo deste total a soma do ativo financeiro disponível, dos créditos a receber e dos empréstimos e financiamentos concedidos. Com este indicador aplicado aos dados 2007 das finanças municipais temos que, no Brasil, em 2007, dos 5.234 municípios presentes no Finbra, somente 17 tinham suas DCL acima do permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que é de 1,2 vezes a sua Receita Corrente (RCL). Quase metade dos municípios não possui dívidas e ainda é credor (DCL negativa). Veja na tabela abaixo que a grande maioria dos municípios se concentra abaixo dos 25% da RCL. Apenas 2% apresentavam DCL acima de 50% em 2007. Dívida (DCL) em % da RCL ( 2007 ) De Até Quantidade de Municípios % total -150,00% 0,00% 2.586 49% 0,01% 25,00% 1.980 38% 25,01% 50,00% 472 9% 50,01% 75,00% 109 2% 75,01% 100,00% 55 1% 100,01% 120,00% 15 0% 120,01%... 17 0% Total 5.234 100%
Comparando os resultados para as capitais, vemos que São Paulo, em 2007, tem o maior montante de DCL em relação a sua RCL (199%), por possuir a maior dívida de longoprazo do país. Seguido por Salvador (81%), Rio de Janeiro (45%) e Belo Horizonte (44%). Macapá novamente, neste indicador, se destaca por possuir um saldo credor de (25%) de sua RCL, seguido por Vitória (22%) e Palmas (20%). Veja tabela a seguir. Endividamento das Capitais em 2007 Capital Receita Corrente Dívida Consolidada % Receita São Paulo/SP 18.815.411.579,10 37.461.382.679,80 199,1% Salvador/BA 2.154.920.465,50 1.738.158.050,51 80,7% Rio de Janeiro/RJ 8.728.458.525,60 3.927.862.516,22 45,0% Belo Horizonte/MG 3.246.548.662,22 1.438.811.097,10 44,3% Maceió/AL 743.079.562,57 277.470.541,52 37,3% Recife/PE 1.700.019.147,93 509.677.202,00 30,0% Goiânia/GO 1.439.572.029,71 363.050.436,80 25,2% Natal/RN 772.645.382,16 168.972.321,49 21,9% Cuiabá/MT 543.003.739,13 108.284.797,02 19,9% Florianópolis/SC 545.994.245,21 100.089.022,17 18,3% Rio Branco/AC 275.427.354,76 48.354.538,21 17,6% João Pessoa/PB 621.816.665,72 107.933.037,55 17,4% Porto Alegre/RS 2.303.313.009,59 226.520.252,70 9,8% Fortaleza/CE 1.980.816.228,96 114.199.672,00 5,8% São Luís/MA 971.539.524,43 25.959.575,26 2,7% Porto Velho/RO 318.632.745,99 (6.269.847,31) -2,0% Manaus/AM 1.563.913.746,00 (57.114.591,23) -3,7% Campo Grande/MS 960.460.867,86 (38.110.327,74) -4,0% Curitiba/PR 2.989.573.360,32 (131.532.996,65) -4,4% Boa Vista/RR 349.560.000,00 (30.865.333,48) -8,8% Belém/PA 1.098.163.496,00 (100.428.660,00) -9,1% Aracaju/SE 538.537.732,70 (65.936.572,27) -12,2% Teresina/PI 723.389.648,88 (107.509.337,10) -14,9% Palmas/TO 308.317.517,66 (61.144.315,90) -19,8% Vitória/ES 867.895.082,77 (188.421.713,52) -21,7% Macapá/AP 248.087.865,67 (62.215.853,46) -25,1% Fonte: STN/Finbra 2007 - Elaboração própria CNM Abaixo apresentamos a relação dos 17 municípios que em 2007 apresentação uma DCL maior que 120% de sua RCL segundo os dados do Finbra da Secretaria do Tesouro Nacional.
Maiores Endividamentos em 2007 Município UF Receita Corrente Divida Consolidada % sobre RCL Ribeirão Preto/SP SP 783.498.484,59 1.873.639.185,93 239,1% Coelho Neto/MA MA 37.174.788,98 74.219.346,57 199,6% São Paulo/SP SP 18.815.411.579,10 37.461.382.679,80 199,1% Joviânia/GO GO 8.683.974,92 14.661.127,90 168,8% Coaraci/BA BA 16.539.915,72 27.350.471,27 165,4% Conceição/PB PB 13.043.619,19 19.891.317,05 152,5% Pau Brasil/BA BA 10.220.770,21 15.420.233,35 150,9% Coremas/PB PB 9.676.484,52 14.045.827,23 145,2% Uiraúna/PB PB 8.949.534,33 12.674.016,53 141,6% Boa Ventura/PB PB 5.353.136,37 7.351.105,00 137,3% Buerarema/BA BA 13.160.805,34 17.874.193,14 135,8% Gravataí/RS RS 215.954.688,22 292.550.924,72 135,5% Piancó/PB PB 14.412.163,24 19.064.147,13 132,3% Taquaritinga/SP SP 64.399.866,02 85.091.529,46 132,1% Areia/PB PB 14.283.944,14 17.750.697,09 124,3% Igaracy/PB PB 5.770.717,95 7.163.333,71 124,1% Natividade/RJ RJ 22.729.389,33 27.638.697,13 121,6% Mais informações com o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski: (051) 9982-1717.