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DECISÕES» ISS. 3. Recurso especial conhecido e provido, para o fim de reconhecer legal a tributação do ISS.

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EMB. DECL. EM AC CE ( /01). RELATÓRIO

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Com a citada modificação, o artigo 544, do CPC, passa a vigorar com a seguinte redação:

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Rio de Janeiro, 26 de julho de 2011.

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AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº /SC CÂNDIDO ALFREDO SILVA LEAL JUNIOR AGRAVANTE : FILIPI BUENO DA SILVA ADVOGADO : ELIANE EMÍLIA

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Transcrição:

EDcl nos EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.091.363 - SC (2008/0217715-7) RELATORA R.P/ACÓRDÃO EMBARGANTE ADVOGADO EMBARGADO ADVOGADO EMBARGADO ADVOGADO : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI : MINISTRA NANCY ANDRIGHI : VALQUÍRIA FEUSER BERNARDA E OUTROS : AUGUSTO OTÁVIO STERN E OUTRO(S) : CAIXA SEGURADORA S/A : MILTON LUIZ CLEVE KUSTER E OUTRO(S) : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF : LEONARDO GROBA MENDES E OUTRO(S) EMENTA DIREITO PROCESSUAL CIVIL. SFH. SEGURO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. INTERESSE. INTERVENÇÃO. LIMITES E CONDIÇÕES. INCIDENTE DE PROCESSO REPETITIVO. ART. 543-C DO CPC. 1. Nas ações envolvendo seguros de mútuo habitacional no âmbito do Sistema Financeiro Habitacional SFH, a Caixa Econômica Federal CEF detém interesse jurídico para ingressar na lide como assistente simples somente nos contratos celebrados de 02.12.1988 a 29.12.2009 período compreendido entre as edições da Lei nº 7.682/88 e da MP nº 478/09 e nas hipóteses em que o instrumento estiver vinculado ao Fundo de Compensação de Variações Salariais FCVS (apólices públicas, ramo 66). 2. Ainda que compreendido no mencionado lapso temporal, ausente a vinculação do contrato ao FCVS (apólices privadas, ramo 68), a CEF carece de interesse jurídico a justificar sua intervenção na lide. 3. O ingresso da CEF na lide somente será possível a partir do momento em que a instituição financeira provar documentalmente o seu interesse jurídico, mediante demonstração não apenas da existência de apólice pública, mas também do comprometimento do FCVS, com risco efetivo de exaurimento da reserva técnica do Fundo de Equalização de Sinistralidade da Apólice FESA, colhendo o processo no estado em que este se encontrar no instante em que houver a efetiva comprovação desse interesse, sem anulação de nenhum ato anterior. 4. Evidenciada desídia ou conveniência na demonstração tardia do seu interesse jurídico de intervir na lide como assistente, não poderá a CEF se beneficiar da faculdade prevista no art. 55, I, do CPC. 5. Na hipótese específica dos autos, tendo sido reconhecida a ausência de vinculação dos contratos de seguro ao FCVS, inexiste interesse jurídico da CEF para integrar a lide. 6. Embargos de declaração parcialmente acolhidos, sem efeitos infringentes. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, prosseguindo o julgamento, em questão de ordem cuja reapreciação foi proposta pelo Sr. Ministro Marco Buzzi, por maioria, rejeitar a afetação do feito à Corte Especial, vencido o Sr. Ministro Marco Buzzi. Em preliminar, por Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 1 de 82

maioria, decidir manter a afetação do recurso como Repetitivo, vencidos os Srs. Ministros Maria Isabel Gallotti, Villas Bôas Cueva e Raul Araújo. Quanto ao mérito, após o voto-vista da Sra. Ministra Nancy Andrighi acolhendo parcialmente os embargos de declaração, mas sem efeitos infringentes, tão somente para integração do julgado com base nos fundamentos de seu voto, no que foi acompanhada pelos Srs. Ministros Villas Bôas Cueva, Massami Uyeda, Luis Felipe Salomão, Marco Buzzi e Paulo de Tarso Sanseverino, tendo os dois últimos Ministros retificado seus votos, e do voto do Sr. Ministro Raul Araújo acompanhando a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti, que ratificou seu voto, por maioria, acolher parcialmente os embargos de declaração, sem efeitos infringentes, tão somente para integração do julgado com base nos fundamentos do voto da Sra. Ministra Nancy Andrighi, que lavrará o acórdão.votaram, no mérito, com a Sra. Ministra Nancy Andrighi, relatora para acórdão, os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva, Massami Uyeda, Luis Felipe Salomão, Marco Buzzi (retificação de voto) e Paulo de Tarso Sanseverino (retificação de voto). Votaram vencidos, no mérito, os Srs. Ministros Maria Isabel Gallotti (Relatora) e Raul Araújo. Impedido o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira. Brasília (DF), 10 de outubro de 2012(Data do Julgamento) MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 2 de 82

EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.091.363 - SC (2008/0217715-7) (f) RELATÓRIO MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI: Cuida-se de embargos de declaração opostos por VALQUÍRIA FEUSER BERNARDA contra acórdão de minha relatoria, proferido por esta 2ª Seção, cuja ementa assim dispõe: SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. SEGURO HABITACIONAL. APÓLICE PÚBLICA. FESA/FCVS. APÓLICE PRIVADA. AÇÃO AJUIZADA CONTRA SEGURADORA. INTERESSE JURÍDICO DA CEF. RECURSO REPETITIVO. CITAÇÃO ANTERIOR À MP 513/2010 CONVERTIDA NA LEI 12.409/11. 1. Ação ajuizada antes da edição da MP 513/2010 (convertida na Lei 12.409/2011) contra a seguradora, buscando a cobertura de dano a imóvel adquirido pelo autor no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação. Pedido de intervenção da CEF, na qualidade de assistente simples da seguradora. 2. O Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS) administrado pela CEF, do qual o FESA é uma subconta, desde a edição do Decreto-lei 2.476/88 e da Lei 7.682/88 garante o equilíbrio da Apólice do Seguro Habitacional do Sistema Financeiro da Habitação (Ramo 66), assumindo integralmente os seus riscos. A seguradora privada contratada é mera intermediária, prestando serviço mediante remuneração de percentual fixo dos prêmios de seguro embutidos nas prestações. 3. Diversamente, no caso de apólices de seguro privadas, cuja contratação no âmbito do SFH somente passou a ser admitida a partir da edição da MP 1.671, de 1998, o resultado da atividade econômica e o correspondente risco é totalmente assumido pela seguradora privada, sem possibilidade de comprometimento de recursos do FCVS. 4. Nos feitos em que se discute a respeito de contrato de seguro privado, apólice de mercado, Ramo 68, adjeto a contrato de mútuo habitacional, por envolver discussão entre a seguradora e o mutuário, e não afetar o FCVS (Fundo de Compensação de Variações Salariais), não existe interesse da Caixa Econômica Federal a justificar a formação de litisconsórcio passivo necessário, sendo, portanto, da Justiça Estadual a competência para o seu julgamento. Ao contrário, sendo a apólice pública, do Ramo 66, garantida pelo FCVS, existe interesse jurídico a amparar o pedido de intervenção da CEF, na forma do art. 50, do CPC, e remessa dos Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 3 de 82

autos para a Justiça Federal. 5. Hipótese em que o contrato de seguro adjeto ao mútuo habitacional da única autora foi celebrado em condições de mercado, não sendo vinculado à Apólice Única do SH/SFH. Inexistência de interesse jurídico da CEF. Competência da Justiça Estadual. 6. Embargos de declaração acolhidos sem efeitos modificativos do julgado no caso concreto, apenas para fazer integrar os esclarecimentos acima à tese adotada para os efeitos do art. 543-C, do CPC. Em suas razões (fls. 737-757), a embargante alega, em suma, o seguinte: (i) prejuízo aos mutuários mais humildes do SFH com a possibilidade de julgamento das questões relativas a seguro habitacional pela Justiça Federal; (ii) obscuridade quanto à admissibilidade da assistência (CPC, art. 50), por ser o interesse da CEF apenas econômico e eventual; por ser uma relação de consumo (art. 101, II do CDC), equiparando-se a CEF ao ressegurador, sendo vedada a sua integração ao contraditório a qualquer título; pelo não cumprimento dos requisitos formais para o pedido de assistência (falta de prova da relação jurídica, a saber, seguro do ramo 66); pelo fato de que a lei nova não deve incidir sobre contratos anteriores à sua vigência e que a assunção de dívida dependeria de anuência da segurada; (iii) obscuridade e omissão quanto aos efeitos da intervenção relacionados aos pedidos anteriores à lei nova, bem como no que diz respeito à validade de eventual prova pericial produzida anteriormente à intervenção da CEF. A CONAN - Confederação Nacional das Associações de Moradores, apresenta manifestação às fls. 762-773 ressaltando que a base jurídica dos acórdãos anteriores era as apólices do ramo 66, sendo imprópria a utilização da expressão apólice pública. Aponta, ainda, contradições e obscuridades no acórdão recorrido. A CEF, por sua vez, apresenta impugnação aos presentes embargos de declaração (fls. 793-796), pugnando pela sua rejeição, diante da impossibilidade de acolhimento das razões da embargante. A CAIXA SEGURADORA S/A também se manifesta às fls. 799-830, defendendo a ausência de obscuridade ou omissão em todos os pontos abordados nos embargos de declaração. Petições de fls. 875-876 e 879-880 comunicando a renúncia dos Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 4 de 82

poderes que foram substabelecidos aos respectivos signatários, patronos da embargante. A embargante também se manifesta às fls. 883-886 concordando com a intervenção da CONAN e pugnando pelo acolhimento dos embargos de declaração. Por fim, a CONAN requer às fls. 888-899 vista dos autos diante do seu interesse no feito como amicus curiae. É o relatório. Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 5 de 82

EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.091.363 - SC (2008/0217715-7) (f) VOTO MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI (Relatora): Inicialmente, rejeito o pedido de intervenção no processo e vista da CONAN neste momento processual. Anoto que o art. 543-C do CPC estabelece ser faculdade do relator admitir a manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, de acordo com a relevância da matéria e conforme dispuserem as normas regimentais desta Corte Superior. A Resolução n. 8 de 2008 do STJ, que regulamenta o processamento e julgamento dos recursos repetitivos, em seu art. 3º, inciso I, prevê a possibilidade de autorização, pelo relator, de manifestação de interessados no prazo de 15 dias em momento anterior ao julgamento do recurso. Não cabe, portanto, conceder vista aos autos à referida confederação, admitindo-a como amicus curiae, em momento posterior ao julgamento do repetitivo, quando já delimitada a tese adotada para os efeitos próprios do art. 543-C do CPC. Quanto às alegações de obscuridade e omissão no acórdão embargado, verifico que não merecem acolhimento, uma vez que os tópicos debatidos nos embargos de declaração foram todos devidamente esclarecidos no acórdão embargado. Neste ponto, assinalo que a padronizada petição de embargos de declaração transcreve trechos de meu voto no REsp. 1.091.393/SC (cf. fls. 743-44 e fls. 752-53) no qual os primitivos embargos de declaração opostos pela CEF foram recebidos com efeitos modificativos do julgamento do caso concreto, ao contrário do que sucedeu no caso ora em exame. Assim, não houve, no caso concreto ora em apreciação, reconhecimento do direito da CEF de intervir como assistente, uma vez que não se trata de apólice do ramo 66, mas apólice do ramo 68. A situação jurídica da embargante em nada foi afetada pelo julgamento dos embargos de declaração, motivo pelo qual sequer interesse jurídico teria ela para justificar a oposição dos presentes embargos de declaração. De todo modo, tal como feito no REsp. 1.091.393/SC, rejeito a Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 6 de 82

alegação de que a tese estabelecida para os efeitos do art. 543-C do CPC cause prejuízo aos mutuários do SFH, em face da possibilidade de intervenção da CEF nas hipóteses de apólice do ramo 66 (do que não se cogita no caso dos autos) e conseqüente remessa dos autos à Justiça Federal. Isso porque esta intervenção se daria, segundo a regra do art. 50, parágrafo único do CPC, como assistente simples, recebendo a CEF o feito no estado em que se encontra, mantendo-se os atos decisórios anteriores ao pedido de assistência. Nesse sentido: MEDIDA CAUTELAR VISANDO CONFERIR EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO ESPECIAL. DECISÃO TERATOLÓGICA. DIFERENÇA ENTRE ASSISTÊNCIA SIMPLES E LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO QUANTO À POSIÇÃO DAS AGÊNCIAS REGULADORAS NO PROCESSO ENTRE AS PARTES. PERICULUM IN MORA CONSISTENTE NA POSSIBILIDADE DE NULIFICAÇÃO DO PROCESSO. (...) 5. Assistência simples não se confunde com litisconsórcio necessário, por isso que, na primeira hipótese, o terceiro ingressa no processo voluntariamente e, na segunda, a intromissão é iussu iudicis, sob pena, nesse último caso, de ineficácia da sentença (inutiliter data) (art. 47, parágrafo único, do CPC). 6. A anulação do processo por falta de intervenção ab ovo do assistente simples revela error in procedendo manifesto, por isso que o assistente pega o processo no estado em que se encontra, muito embora o seu ingresso possa implicar no deslocamento da competência, aliás, assentada liminarmente, pelo E. STJ em Conflito de Competência com provimento já exarado. (...) (MC 9.275/AM, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/04/2005, DJ 23/05/2005, p. 148) Assim, a questão relativa aos efeitos da decisão que defere a assistência da CEF nas demandas em que se discute o seguro habitacional com apólices do ramo 66 está devidamente esclarecida no acórdão embargado. No caso dos autos, frise-se, tendo em vista a natureza da apólice (ramo 68), não haverá sequer intervenção da CEF a justificar a remessa dos autos à Justiça Federal. Outro ponto a ser destacado é que o interesse jurídico da CEF/FCVS/FESA, independentemente da entrada em vigor da Lei n. 12.409/11, foi exaustivamente esclarecido nas razões do acórdão embargado, não havendo Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 7 de 82

obscuridade alguma na qualificação jurídica da CEF de administradora do FCVS/FESA, a legitimar a sua intervenção no feito como assistente simples nos casos envolvendo a apólice do ramo 66 ajuizados antes da edição da medida provisória convertida na referida lei. Tal como ressaltado no acórdão embargado, a apólice do seguro habitacional, ramo 66, é garantida pelo FCVS desde a entrada em vigor do Decreto-lei 2.476/88, seguindo-se a Lei 7.682/88, que deu nova redação ao art. 2.406/88. A CEF centraliza as atividades administrativas e os recursos do Seguro Habitacional desde o ano 2.000 (Portaria 243/MF). Não foi, portanto, a Lei 12.409/11 que transferiu este encargo para o FCVS, donde não há que se falar em retroatividade da lei nova em prejuízo de direito dos mutuários. A nova lei apenas aboliu a prestação de serviços pelas seguradoras privadas ao sistema do Seguro Habitacional do SFH (ramo 66), serviço pelo qual eram remuneradas com percentual fixo do valor dos prêmios, remuneração esta não dependente do grau de sinistralidade do período. Patente, portanto, a existência de relação jurídica entre a seguradora e a CEF/FCVS/FESA, anterior à Lei 12.409/11, pela qual já estava o referido fundo obrigado a garantir o equilíbrio da apólice do SH/SFH, com o uso, se necessário, de recursos orçamentários da União. Também deve ser afastado o argumento de que a relação de consumo impediria a assistência da CEF, uma vez que eventual aplicação do CDC ao caso em tela não teria o condão de equiparar a CEF ao ressegurador. Na apólice pública, ramo 66, não há resseguro exatamente porque não há riscos a serem transferidos ou compartilhados pelas seguradoras, conforme destacado no voto do Ministro Marcos Vilaça, transcrito no acórdão embargado (fl. 716). O equilíbrio do sistema é garantido pelo FCVS e não por meio de resseguro ou cosseguro. Além disso, eventual garantia da apólice pelo FCVS afastaria as disposições do CDC contrárias à legislação específica do SFH, na linha da jurisprudência pacífica desta Corte Superior: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. FCVS. COBRANÇA DE SEGURO. Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 8 de 82

INAPLICABILIDADE DAS NORMAS DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR CONTRÁRIAS À LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA. ALEGADA ABUSIVIDADE. NECESSIDADE DE REEXAME DE MATÉRIA DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. 1. A Primeira Seção desta Corte, no julgamento do REsp 489.701/SP, de relatoria da Ministra Eliana Calmon (DJ de 16.4.2007), decidiu que: (a) "o CDC é aplicável aos contratos do Sistema Financeiro da Habitação, incidindo sobre contratos de mútuo"; (b) "entretanto, nos contratos de financiamento do SFH vinculados ao Fundo de Compensação de Variação Salarial - FCVS, pela presença da garantia do Governo em relação ao saldo devedor, aplica-se a legislação própria e protetiva do mutuário hipossuficiente e do próprio Sistema, afastando-se o CDC, se colidentes as regras jurídicas". 2. Na hipótese, contudo, a verificação da alegada abusividade da cláusula que prevê a cobrança do seguro, frente aos valores usualmente praticados no mercado, somente poderia ser feita mediante análise de matéria eminentemente fática, providência inviável em sede de recurso especial, conforme o que dispõe a Súmula 7/STJ. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1073311/RJ, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/04/2009, DJe 07/05/2009) O tema, aliás, não foi debatido no acórdão recorrido, o mesmo ocorrendo quanto às alegações de descumprimento dos requisitos formais necessários à admissão da CEF como assistente simples, que não foram sequer mencionados na minuta e contraminuta de agravo na instância de origem e nem nas contrarrazões aos recursos especiais (fls. 178-198 e 201-226). Não há que se falar, portanto, em obscuridade ou omissão quanto a pontos que não foram sequer discutidos nas instâncias ordinárias e muito menos trazidos nas razões e contrarrazões do recurso especial. Em face do exposto, rejeito os embargos de declaração. É como voto. Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 9 de 82

EDcl nos EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.091.363 - SC (2008/0217715-7) (f) ESCLARECIMENTO EM FACE DA QUESTÃO DE ORDEM MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI: Sr. Presidente, na condição de Relatora, eu gostaria de observar que esta manifestação, trazida com o nome de "questão de ordem", é mera reiteração dos argumentos já lançados nos embargos de declaração por mim relatados e apreciados na assentada de hoje. Não trazem novidade alguma e nem nenhum requerimento, salvo o pedido de alteração do decidido na assentada anterior. Assim, embora chamado de "questão de ordem", trata-se, na verdade, de um memorial, não protocolado, cuja leitura pela Presidência da Seção, em recurso desprovido de possibilidade de sustentação oral, obtiveram os embargantes. Todos os pontos reiterados na "questão de ordem" foram exaustivamente abordados no meu voto e não alteram o meu ponto de vista. Causa espécie que o signatário deste memorial dê a entender que esta Seção julgou os embargos de declaração anteriores sem saber do que se tratava, de forma errada, divorciada do conteúdo dos autos. Foi, como não poderia deixar de ser, um julgamento consciente, amplamente fundamentado, unânime, proferido pela Segunda Seção, na assentada anterior. Além do minucioso voto condutor do acórdão de minha lavra, integra também o acórdão declaração de voto da Ministra Fátima Nancy Andrighi, corroborando a conclusão adotada pela Seção. Em relação a essa alegação de aplicação de lei superveniente, ela foi devidamente enfrentada no voto do acórdão ora embargado e, também, no voto que acabei de proferir nos presentes embargos de declaração, o qual deixa claro que o aporte dos recursos do FCVS para cobrir esse sistema do seguro habitacional data do ano de 1988. Não é novidade da lei de 2011. Portanto, não há retroação alguma. Fosse o caso de um sinistro ocorrido após a entrada em vigor da Lei 12.409/2011, o deferimento ou a negativa da cobertura seria já diretamente feito pela CEF, em nome do FCVS, e não pela seguradora privada, que não presta mais serviços ao ramo 66 do SH/SFH. Mas, como no caso, o alegado sinistro foi anterior, quando havia a atuação da seguradora privada ré, a ação foi voltada corretamente contra a seguradora privada, mas há uma relação jurídica entre a ré (seguradora) e o FCVS, representado pela Caixa, relação jurídica essa que é ditada por normas em vigor desde o ano de 1988, e que justifica o ingresso da CEF como assistente simples. Esclareço, ainda, não é correta a afirmação constante da "questão de ordem" de que faltaria prequestionamento ao recurso especial. O acórdão embargado transcreve o acórdão recorrido do Tribunal Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 10 de 82

de Santa Catarina, que diz o seguinte (fls. 118-19 dos autos do REsp. 1.091.363/SC) : Verifica-se que a discussão em tela limita-se ao tema da cobertura securitária, cuja relação jurídica restringe-se à mutuária do SFH e a seguradora, com a qual firmou seguro obrigatório, para a obtenção de indenização no caso de avarias ocorridas no seu imóvel. Sucede que, a Caixa Econômica Federal - CEF, nos termos da Portaria do Ministério da Fazenda n. 243, de 28.7.2000, assumiu a administração do Seguro Habitacional do Sistema Financeiro da Habilitação - SFH, nele incluído o Fundo de Equalização de Sinistralidade da Apólice de Seguro Habitacional - FESA, para ser gerenciado como uma sub-conta do Fundo de Compensação de Variações Salariais - FCVS, o qual também é administrado pela Caixa, nos termos da Lei n. 10.150/2000. O FESA, antes gerido pelo Instituto de Resseguros do Brasil - IRB, é um fundo constituído por repasses do superávit dos prêmios pagos pelos mutuários do SFH, deduzidas as taxas de administração e sinistros pagas aos segurados, sendo que, na hipótese de insuficiência de recursos, após limitados os pagamentos de indenizações e utilizados os recursos da "conta movimento" e da "reserva técnica", o FCVS, que é composto de contribuições dos mutuários e dos agentes financeiros, bem como de dotações orçamentárias da União, "por intermédio da Caixa, transferirá à sociedade seguradora o valor integral das indenizações devidas e não pagas" (art. 12, e seus parágrafos, da Portaria n. 243/2000). Conclui-se, portanto, que o FESA, apesar de administrado pela CEF, é formado por capital exclusivamente privado. E que, somente em situação excepcional há comprometimento do FCVS para suprir o capital deficitário, ocasião em que deve ser devidamente demonstrada a utilização de recursos públicos. Assim, não há justificativa para a intervenção da CEF (...)" Isso é o que diz o acórdão recorrido, ou seja, a questão veio devidamente prequestionada da origem e foi debatida no recurso especial. Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 11 de 82

Reitero que o sistema legal em vigor desde 1988 prevê a cobertura do déficit do sistema do seguro habitacional pelo FCVS, sendo este fundo suprido também por recursos orçamentários da União. Embora os embargantes se esforcem para argumentar, na linha do entendimento do acórdão do TJ/SC, que somente em caráter excepcional são utilizados recursos públicos, ressalta memorial da lavra do advogado Luís Roberto Barroso que a Lei Orçamentária da União em 2005, por exemplo, destinou ao FCVS, apenas para a cobertura do déficit do Seguro Habitacional, R$ 11.794.157,00 (DOU de 24.1.2005, p. 1311); em 2006, R$ 45.814.558,00; em 2007, R$ 124.325.839,00 e, em 2008, R$ 164.423.493,00. Em 2009, o orçamento da União previu R$ 138.803.475,00 para a cobertura do déficit do Seguro Habitacional; em 2010, R$ 150.461.875,00 e em 2011, R$ 235.789.672,00. Em síntese, a solução dada à questão de direito federal foi diversa do entendimento adotado na origem e com ela não concordam os embargantes; não se prestam, todavia, os embargos de declaração para insistir em argumentos já analisados e refutados pelo Tribunal. ESCLARECIMENTO QUANTO À COMPETÊNCIA INTERNA Com relação à questão da competência interna agora aventada pelo Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, devo esclarecer que a 2ª Seção julgou embargos de declaração em repetitivo já julgado por esta Seção, sob a relatoria do Sr. Ministro Carlos Fernando Mathias. Não se cogitou de que o processo não fosse da competência da Segunda Seção, em momento algum, nem no julgamento do repetitivo e nem no julgamento dos primeiros embargos de declaração. A questão controvertida sempre foi, desde a origem, a natureza do FESA. O FESA é uma sub-conta do FCVS. Teria a 2ª Seção se tornado incompetente em função do resultado do julgamento do recurso especial? Para a ele negar provimento, decidindo pela natureza privada do FESA, a competência seria da 2ª Seção, mas para prover o recurso, como feito na assentada anterior (primeiros embargos de declaração), a competência seria da 1ª Seção ou da Corte Especial? Caberia afetar à Corte Especial o julgamento de segundos embargos de declaração de acórdão de mérito da 2ª Seção? Observo que a questão, do ponto de vista prático, é bastante delicada, porque em muitos esses processos há mutuários/segurados da Apólice 66 e mutuários/segurados da Apólice 68. Embora tal distinção tenha origem em uma legislação que data de 1988 (apólice do ramo 66), a possibilidade apólice contratada no mercado (ramo 68) somente foi admitida a partir de 1998, com a MP 1.671/98. Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 12 de 82

Entre 1998 e 2009 (ano da edição da MP 478/2009) foi possível a migração da apólice pública para privada. Na maioria dos processos não está identificada a natureza da apólice. A Primeira Seção sempre foi competente para processos de contratos garantidos pelo FCVS, e a Segunda Seção para processos de contratos sem FCVS. Quando se discutia apenas sobre a liquidação do saldo devedor, que é uma das funções do FCVS, não havia problema: contratos sem FCVS, na Segunda Seção, e contratos com FCVS na Primeira Seção. Agora se verifica que mesmo os contratos cujo saldo devedor não ostenta garantia de quitação pelo FCVS podem estar vinculados a uma apólice de seguro habitacional garantida pelo FCVS (ramo 66). Portanto, o que acontece? São duas ordens de problema. Em primeiro lugar, nessas ações de seguro habitacional, milhares, que estão tramitando, em algumas o segurado é titular de apólice privada. Foi o que aconteceu nesse processo da Valquíria Bernarda, circunstância só identificada quando do julgamento dos primitivos embargos de declaração. Neste REsp. 1.091.363-SC não há apólice garantida pelo FCVS. O FCVS é utilizado só como fundamento equivocado na discussão da causa. Nós não estamos admitindo a participação da Caixa, estamos dizendo que não há risco de afetar o sistema do FCVS, que o interesse é meramente privado. Seria o caso, portanto, de mandar para a Primeira Seção só o outro processo (REsp. 1.091.393) e não esse, embora as alegações deduzidas no recurso especial sejam idênticas e, em muitos casos, os acórdãos recorridos também sejam padronizados? Como triar estes processos na distribuição para definir a competência interna no STJ? Então, o primeiro ponto é esse. Nesse caso da Valquíria, não há FCVS, sem dúvida não há interesse jurídico da CEF/FCVS, não há competência da Justiça Federal e nem da 1ª Seção. No outro caso (REsp. 1.091.393), temos sete mutuários/segurados: um, cuja apólice é privada, e seis com apólice vinculada ao FESA/FCVS. Então, a questão que fica para a meditação, em face do relevante questionamento ora trazido pelo Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, é se devemos desmembrar esses processos aqui no STJ. O meu voto propôs apenas o desmembramento na origem. Apenas nos casos em que a ação tramitou na Justiça Estadual, após o pedido de ingresso da CEF, havendo envolvimento do FESA (apólice ramo 66), devem ser anulados os atos decisórios posteriores ao pedido de intervenção. Estas causas, quando processadas na Justiça Federal, com a intervenção da CEF, se chegarem em grau de recurso especial ao STJ, serão, ao meu sentir, da competência da Primeira Seção. Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 13 de 82

CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA SEÇÃO Número Registro: 2008/0217715-7 EDcl nos EDcl no REsp 1.091.363 / SC Números Origem: 20060003715 20070198571 EM MESA JULGADO: 23/05/2012 Relatora Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI Ministro Impedido Exmo. Sr. Ministro : ANTONIO CARLOS FERREIRA Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETI Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. HENRIQUE FAGUNDES FILHO Secretária Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER RECORRENTE ADVOGADO RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO ADVOGADO AUTUAÇÃO : CAIXA SEGURADORA S/A : MILTON LUIZ CLEVE KUSTER E OUTRO(S) : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF : LEONARDO GROBA MENDES E OUTRO(S) : VALQUÍRIA FEUSER BERNARDA E OUTROS : AUGUSTO OTÁVIO STERN E OUTRO(S) ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Sistema Financeiro da Habitação - Seguro EMBARGANTE ADVOGADO EMBARGADO ADVOGADO EMBARGADO ADVOGADO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO : VALQUÍRIA FEUSER BERNARDA E OUTROS : AUGUSTO OTÁVIO STERN E OUTRO(S) : CAIXA SEGURADORA S/A : MILTON LUIZ CLEVE KUSTER E OUTRO(S) : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF : LEONARDO GROBA MENDES E OUTRO(S) CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: Após o voto da Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti rejeitando os embargos de declaração, pediu VISTA antecipadamente o Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino. Aguardam os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Nancy Andrighi, Massami Uyeda, Luis Felipe Salomão e Raul Araújo. Impedido o Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira. Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 14 de 82

Brasília, 23 de maio de 2012 ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER Secretária Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 15 de 82

EDcl nos EDcl no RECURSO ESPECIAL Nº 1.091.363 - SC (2008/0217715-7) (f) RELATORA EMBARGANTE ADVOGADO EMBARGADO ADVOGADO EMBARGADO ADVOGADO : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI : VALQUÍRIA FEUSER BERNARDA E OUTROS : AUGUSTO OTÁVIO STERN E OUTRO(S) : CAIXA SEGURADORA S/A : MILTON LUIZ CLEVE KUSTER E OUTRO(S) : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF : LEONARDO GROBA MENDES E OUTRO(S) VOTO-VISTA O EXMO. SR. MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO: Presidente, pedi vista dos autos na sessão do dia 23 de maio de 2012 diante das extremas peculiaridades do caso em julgamento. A questão processual controvertida nestes recursos especiais repetitivos (REsp n.º 1.091.393/SC e REsp n.º 1.091.363/SC) é aparentemente simples, situando-se na definição do interesse da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL e, portanto, na competência, se da Justiça Estadual ou da Justiça Federal, para o julgamento das ações relativas a contratos de seguro vinculados a mútuos habitacionais no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação- SFH. Superada a discussão do mérito, a dificuldade, neste momento, se concentra nas consequências da revisão jurisprudencial operada por esta Segunda Seção, questão veiculada nos presentes embargos de declaração, mas que, de qualquer forma, poderia e, como se verá, deveria ser apreciada de ofício. Desenvolverei a minha análise em seis tópicos, enfocando o tratamento a ser conferido aos efeitos do acórdão embargado: a) Acórdão da relatoria do Ministro Carlos Fernando Mathias no julgamento do recurso especial; b) Acórdão da relatoria da Ministra Maria Isabel Gallotti no julgamento dos embargos declaratórios; Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 16 de 82

c) Breve panorama da evolução jurisprudencial da técnica da modulação dos efeitos das decisões judiciais; d) A técnica da modulação de efeitos na hipótese de revisão jurisprudencial e a possibilidade de sua utilização por este Superior Tribunal de Justiça: e) Solução preconizada para os recursos especiais repetitivos em julgamento; f) Caso concreto (REsp n.º 1.091.363/SC). Passo ao exame individualizado de cada um dos tópicos. a) Acórdão da relatoria do Ministro Carlos Fernando Mathias no julgamento do recurso especial: No acórdão relatado pelo Ministro Carlos Fernando Mathias, proferido no primeiro julgamento dos presentes recursos especiais repetitivos, foi reconhecida, nas ações relativas a contratos de seguro vinculados a mútuos habitacionais no âmbito do SFH, a inexistência de interesse da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL e, desta forma, foi afirmada a competência da Justiça Estadual. Para tanto, afirmou-se, entre outros fundamentos, que a controvérsia diria respeito apenas à relação jurídica travada entre mutuário e seguradora e que não haveria, de outro lado, comprometimento do Fundo de Compensação de Variações Salariais- FCVS. A ementa do julgamento foi redigida da seguinte forma: RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. AÇÃO EM QUE SE CONTROVERTE A RESPEITO DO CONTRATO DE SEGURO ADJECTO A MUTUO HIPOTECÁRIO. LITISCONSÓRCIO ENTRE A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL/CEF E CAIXA SEGURADORA S/A. INVIABILIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. LEI Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 17 de 82

N. 11.672/2008. RESOLUÇÃO/STJ N. 8, DE 07.08.2008. APLICAÇÃO. 1. Nos feitos em que se discute a respeito de contrato de seguro adjeto a contrato de mútuo, por envolver discussão entre seguradora e mutuário, e não afetar o FCVS (Fundo de Compensação de Variações Salariais), inexiste interesse da Caixa Econômica Federal a justificar a formação de litisconsórcio passivo necessário, sendo, portanto, da Justiça Estadual a competência para o seu julgamento. Precedentes. 2. Julgamento afetado à 2a. Seção com base no Procedimento da Lei n. 11.672/2008 e Resolução/STJ n. 8/2008 (Lei de Recursos Repetitivos). 3. Recursos especiais conhecidos em parte e, nessa extensão, não providos. (REsp 1091363/SC, Rel. Ministro CARLOS FERNANDO MATHIAS (JUIZ FEDERAL CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/03/2009) Importante ressaltar que o entendimento adotado neste julgamento representou a cristalização, em sede de recurso especial repetitivo, da jurisprudência que este Superior Tribunal de Justiça, e esta Segunda Seção, vinha afirmando há praticamente duas décadas. Neste sentido, a fim de demonstrar o quão antiga e consolidada era a jurisprudência no assunto, destaco os seguintes precedentes: REGIMENTAL. SEGURO HABITACIONAL. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA ESTADUAL. SÚMULA 7. REEXAME DE PROVAS. SÚMULAS 283 E 284/STF. - Nas ações em que se discute contrato de seguro adjecto ao mútuo hipotecário, a competência para o respectivo processo e julgamento é da Justiça Estadual; a lide aí se trava entre seguradora e mutuário, sem que a sentença possa, de modo algum, comprometer os recursos do Sistema Financeiro de Habitação. Precedentes. - Se o acórdão recorrido concluiu, com base na prova e na interpretação do contrato de seguro, que os danos sofridos por imóveis estão inseridos na cobertura reclamada, o STJ não pode rever tal conclusão (Súmula 7). (AgRg no REsp 811.069/PR, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/12/2007) Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 18 de 82

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. SISTEMA FINANCEIRO HABITACIONAL. SEGURO. É DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR AÇÕES PROPOSTAS CONTRA ENTIDADE PRIVADA, VERSANDO SOBRE O CONTRATO DE SEGURO HABITACIONAL. CONFLITO CONHECIDO E DECLARADA A COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO. (CC 18198/RS, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, SEGUNDA SECAO, julgado em 13/08/1997) b) Acórdão da relatoria da Ministra Maria Isabel Gallotti no julgamento dos embargos declaratórios: Opostos, porém, embargos de declaração em face do acórdão relatado pelo Ministro Carlos Fernando Mathias, esta Segunda Seção a partir do minucioso voto da Ministra Maria Isabel Gallotti, que assumiu a relatoria em substituição ao antigo relator adotou entendimento integralmente contrário ao que até então prevalecia. Para a delimitação do interesse da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL em intervir nas ações relativas a seguros vinculados a mútuos habitacionais e da Justiça competente, foi estabelecida uma distinção entre apólices privadas, Ramo 68, e apólices públicas, Ramo 66. Assim, enquanto nas apólices privadas não há interesse da CEF e o julgamento compete, de toda forma, à Justiça Estadual, nas apólices públicas o interesse se justifica tendo em vista a possibilidade de comprometimento do FCVS, o que impõe o acolhimento do pedido de intervenção da CEF como assistente simples e a remessa dos autos à Justiça Federal. Destaco a ementa do julgamento: SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. SEGURO HABITACIONAL. APÓLICE PÚBLICA. FESA/FCVS. APÓLICE PRIVADA. AÇÃO AJUIZADA CONTRA SEGURADORA. INTERESSE JURÍDICO DA CEF. RECURSO REPETITIVO. CITAÇÃO ANTERIOR À MP 513/2010 CONVERTIDA NA LEI Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 19 de 82

12.409/11. 1. Ação ajuizada antes da edição da MP 513/2010 (convertida na Lei 12.409/2011) contra a seguradora, buscando a cobertura de dano a imóvel adquirido pelo autor no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação. Pedido de intervenção da CEF, na qualidade de assistente simples da seguradora. 2. O Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS) administrado pela CEF, do qual o FESA é uma subconta, desde a edição do Decreto-lei 2.476/88 e da Lei 7.682/88 garante o equilíbrio da Apólice do Seguro Habitacional do Sistema Financeiro da Habitação (Ramo 66), assumindo integralmente os seus riscos. A seguradora privada contratada é mera intermediária, prestando serviço mediante remuneração de percentual fixo dos prêmios de seguro embutidos nas prestações. 3. Diversamente, no caso de apólices de seguro privadas, cuja contratação no âmbito do SFH somente passou a ser admitida a partir da edição da MP 1.671, de 1998, o resultado da atividade econômica e o correspondente risco é totalmente assumido pela seguradora privada, sem possibilidade de comprometimento de recursos do FCVS. 4. Nos feitos em que se discute a respeito de contrato de seguro privado, apólice de mercado, Ramo 68, adjeto a contrato de mútuo habitacional, por envolver discussão entre a seguradora e o mutuário, e não afetar o FCVS (Fundo de Compensação de Variações Salariais), não existe interesse da Caixa Econômica Federal a justificar a formação de litisconsórcio passivo necessário, sendo, portanto, da Justiça Estadual a competência para o seu julgamento. Ao contrário, sendo a apólice pública, do Ramo 66, garantida pelo FCVS, existe interesse jurídico a amparar o pedido de intervenção da CEF, na forma do art. 50, do CPC, e remessa dos autos para a Justiça Federal. 5. Hipótese em que o contrato de seguro adjeto ao mútuo habitacional da única autora foi celebrado em condições de mercado, não sendo vinculado à Apólice Única do SH/SFH. Inexistência de interesse jurídico da CEF. Competência da Justiça Estadual. 6. Embargos de declaração acolhidos sem efeitos modificativos do julgado no caso concreto, apenas para fazer integrar os esclarecimentos acima à tese adotada para os efeitos do art. 543-C, do CPC. (EDcl no REsp 1091363/SC, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 09/11/2011) Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 20 de 82

Na prática, o novo entendimento repercute apenas nos processos referentes a apólices públicas, em que o reconhecimento do interesse da CEF determinará, nos termos do art. 109, I, da Constituição, a remessa dos autos à Justiça Federal, provocando indesejáveis e gravosas consequências. Esta circunstância não passou despercebida pela Ministra Maria Isabel Gallotti, que assim se manifestou nos embargos de declaração do REsp n.º 1.091.393/SC: Com efeito, não há prejuízo aos mutuários do SFH com a possibilidade de intervenção da CEF nas causas relativas à apólice do ramo 66 e consequente remessa dos autos à Justiça Federal, uma vez que a intervenção se dará, quando for o caso, segundo a regra do art. 50, parágrafo único, do CPC, como assistente simples, recebendo a CEF o feito no estado em que se encontra, mantendo-se os atos decisórios anteriores ao pedido de assistência. No entanto, ainda que a CEF ingresse nos autos como assistente simples, recebendo o processo no estado em que se encontra, haverá, como ressaltou a própria Ministra no acórdão embargado, a declaração da nulidade das decisões eventualmente proferidas após a formulação do pedido de intervenção, o que perigosamente ensejará a desconstituição das situações fáticas formadas a partir destas decisões. E, considerando que a CEF, especialmente após o acórdão n.º 1.924/2004, do Tribunal de Contas da União, vem veiculando os seus pedidos de intervenção logo no início do procedimento, a nulidade possui a aptidão de atingir praticamente todos os atos decisórios constantes dos autos, instaurando inevitável quadro de insegurança jurídica. Necessária, portanto, a modulação dos efeitos da revisão jurisprudencial realizada por esta Segunda Seção no acórdão embargado, a fim de preservar a Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 21 de 82

segurança jurídica e resguardar a confiança daquelas partes e daqueles magistrados que pautaram a sua conduta com base na consolidada jurisprudência deste STJ. c) Breve panorama da evolução jurisprudencial da técnica da modulação dos efeitos das decisões judiciais: A modulação dos efeitos das decisões judiciais não constitui inovação recente, sendo praticada há pelo menos cinquenta (50) anos no Direito Comparado. Na década de sessenta, segundo o relato de Fábio Martins de Andrade (Modulação em matéria tributária : o argumento pragmático ou consequencialista de cunho econômico e as decisões do STF. São Paulo: Quartier Latin, 2011, p. 224), a Suprema Corte Norte-Americana, na maior parte das vezes em causas de natureza penal, passou a utilizar e a desenvolver a técnica da modulação dos efeitos, sendo imprescindível a menção do caso Linkletter v. Walker, julgado em 1965, em que se rejeitou a aplicação retroativa do precedente firmado no caso Mapp v. Ohio. Nada obstante, a modulação dos efeitos das decisões judiciais, segundo ressaltou Eduardo García de Enterría (Justicia constitucional: la doctrina prospectiva en la declaración de ineficacia de las leyes inconstitucionales. In: Revista de Direito Público, v. 22, n. 92, p. 5-16, out./dez. 1989), rapidamente se expandiu, dela fazendo uso, em 1976, o Tribunal de Justiça da União Europeia e, em 1979, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos, o que mais tarde ainda se verificou, em 1989, na Espanha. No interessante caso apreciado pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos, entre cujos julgadores figurava o jurista espanhol mencionado, o Tribunal, após reconhecer, perante o Estado da Bélgica, a igualdade entre os filhos matrimoniais e os não-matrimoniais, optou por conferir eficácia ex Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 22 de 82

nunc à decisão, evitando, assim, a revisão de inúmeros inventários processados naquele país. No Brasil não foi diferente, havendo a técnica da modulação se desenvolvido especialmente após a estatuição do art. 27 da Lei 9.868/99, cujo enunciado é o seguinte, verbis: Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. Muito possivelmente em razão da influência deste dispositivo legal, a modulação dos efeitos, em nosso país, sempre esteve, tradicionalmente, atrelada ao controle concentrado de constitucionalidade, sendo inúmeros, nos dias de hoje, os exemplos de sua utilização por parte do Supremo Tribunal Federal. A inexistência de previsão legal, contudo, não impediu a limitação, pelo Supremo, dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade no âmbito do controle difuso de constitucionalidade, sendo por demais marcante, a este respeito, o precedente firmado, em 2006, no Habeas Corpus (HC) n.º 82.959, relativo à progressão do regime de cumprimento da pena nos crimes hediondos. Ademais, ao contrário do que se possa pensar, a rica jurisprudência de nossa Suprema Corte revela, ainda, a utilização da técnica da modulação dos efeitos também na hipótese de revisão jurisprudencial, tanto de questões de direito material como de questões de direito processual. Paradigmáticos, neste aspecto, os Mandos de Segurança (MS) n.º 26.602, 26.603 e 26.604, em cujo julgamento o Supremo Tribunal Federal, após reconsiderar a sua jurisprudência concernente à perda do mandato legislativo Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 23 de 82

pelo desligamento partidário, conferiu, a partir de certa data no tempo, eficácia prospectiva à decisão. Para melhor visualização dos Colegas, transcrevo a parte da ementa do MS n.º 26.603 relativa à modulação de efeitos: (...) REVISÃO JURISPRUDENCIAL E SEGURANÇA JURÍDICA: A INDICAÇÃO DE MARCO TEMPORAL DEFINIDOR DO MOMENTO INICIAL DE EFICÁCIA DA NOVA ORIENTAÇÃO PRETORIANA. - Os precedentes firmados pelo Supremo Tribunal Federal desempenham múltiplas e relevantes funções no sistema jurídico, pois lhes cabe conferir previsibilidade às futuras decisões judiciais nas matérias por eles abrangidas, atribuir estabilidade às relações jurídicas constituídas sob a sua égide e em decorrência deles, gerar certeza quanto à validade dos efeitos decorrentes de atos praticados de acordo com esses mesmos precedentes e preservar, assim, em respeito à ética do Direito, a confiança dos cidadãos nas ações do Estado. - Os postulados da segurança jurídica e da proteção da confiança, enquanto expressões do Estado Democrático de Direito, mostram-se impregnados de elevado conteúdo ético, social e jurídico, projetando-se sobre as relações jurídicas, inclusive as de direito público, sempre que se registre alteração substancial de diretrizes hermenêuticas, impondo-se à observância de qualquer dos Poderes do Estado e, desse modo, permitindo preservar situações já consolidadas no passado e anteriores aos marcos temporais definidos pelo próprio Tribunal. Doutrina. Precedentes. - A ruptura de paradigma resultante de substancial revisão de padrões jurisprudenciais, com o reconhecimento do caráter partidário do mandato eletivo proporcional, impõe, em respeito à exigência de segurança jurídica e ao princípio da proteção da confiança dos cidadãos, que se defina o momento a partir do qual terá aplicabilidade a nova diretriz hermenêutica. - Marco temporal que o Supremo Tribunal Federal definiu na matéria ora em julgamento: data em que o Tribunal Superior Eleitoral apreciou a Consulta nº 1.398/DF (27/03/2007) e, nela, respondeu, em tese, à indagação que lhe foi submetida. (...) (MS 26603, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 04/10/2007, DJe-241 DIVULG 18-12-2008 PUBLIC 19-12-2008 EMENT VOL-02346-02 PP-00318) Como se pode ver, a justificativa para a modulação dos efeitos no MS n.º Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 24 de 82

26.603, relatado pelo Ministro Celso de Mello, residiu no reconhecimento, em favor dos jurisdicionados, da existência de uma legítima confiança, fundada na anterior jurisprudência, de que os atos de desligamento partidário não teriam como consequência a perda do mandato. A legítima confiança, no entanto, de acordo com o que se afirmou, somente se verificou até a resposta, pelo Tribunal Superior Eleitoral, à Consulta n.º 1.398/DF, que foi, assim, fixada como marco temporal de eficácia do novo entendimento jurisprudencial. A técnica da modulação dos efeitos possibilitou também a atribuição, pelo Supremo Tribunal Federal, de efeitos prospectivos às revisões jurisprudenciais procedidas quando do julgamento da Questão de Ordem (QO) suscitada no Inq. n.º 687-4 e do CC n.º 7.204, referentes, assim como os presentes recursos especiais repetitivos, à questão da competência: EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. PROCESSO CRIMINAL CONTRA EX-DEPUTADO FEDERAL. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA. INEXISTÊNCIA DE FORO PRIVILEGIADO. COMPETÊNCIA DE JUÍZO DE 1º GRAU. NÃO MAIS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. CANCELAMENTO DA SÚMULA 394. 1. Interpretando ampliativamente normas da Constituição Federal de 1946 e das Leis nºs 1.079/50 e 3.528/59, o Supremo Tribunal Federal firmou jurisprudência, consolidada na Súmula 394, segunda a qual, "cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício". 2. A tese consubstanciada nessa Súmula não se refletiu na Constituição de 1988, ao menos às expressas, pois, no art. 102, I, "b", estabeleceu competência originária do Supremo Tribunal Federal, para processar e julgar "os membros do Congresso Nacional", nos crimes comuns. Continua a norma constitucional não contemplando os ex-membros do Congresso Nacional, assim como não contempla o ex-presidente, o ex-vice-presidente, o ex-procurador-geral da República, nem os ex-ministros de Estado (art. 102, I, "b" e "c"). Em outras palavras, a Constituição não é explícita em atribuir tal Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 25 de 82

prerrogativa de foro às autoridades e mandatários, que, por qualquer razão, deixaram o exercício do cargo ou do mandato. Dir-se-á que a tese da Súmula 394 permanece válida, pois, com ela, ao menos de forma indireta, também se protege o exercício do cargo ou do mandato, se durante ele o delito foi praticado e o acusado não mais o exerce. Não se pode negar a relevância dessa argumentação, que, por tantos anos, foi aceita pelo Tribunal. Mas também não se pode, por outro lado, deixar de admitir que a prerrogativa de foro visa a garantir o exercício do cargo ou do mandato, e não a proteger quem o exerce. Menos ainda quem deixa de exercê-lo. Aliás, a prerrogativa de foro perante a Corte Suprema, como expressa na Constituição brasileira, mesmo para os que se encontram no exercício do cargo ou mandato, não é encontradiça no Direito Constitucional Comparado. Menos, ainda, para ex-exercentes de cargos ou mandatos. Ademais, as prerrogativas de foro, pelo privilégio, que, de certa forma, conferem, não devem ser interpretadas ampliativamente, numa Constituição que pretende tratar igualmente os cidadãos comuns, como são, também, os ex-exercentes de tais cargos ou mandatos. 3. Questão de Ordem suscitada pelo Relator, propondo cancelamento da Súmula 394 e o reconhecimento, no caso, da competência do Juízo de 1º grau para o processo e julgamento de ação penal contra ex-deputado Federal. Acolhimento de ambas as propostas, por decisão unânime do Plenário. 4. Ressalva, também unânime, de todos os atos praticados e decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, com base na Súmula 394, enquanto vigorou. (Inq 687 QO, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 25/08/1999) EMENTA: CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA JUDICANTE EM RAZÃO DA MATÉRIA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PATRIMONIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DO TRABALHO, PROPOSTA PELO EMPREGADO EM FACE DE SEU (EX-)EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. ART. 114 DA MAGNA CARTA. REDAÇÃO ANTERIOR E POSTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/04. EVOLUÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PROCESSOS EM CURSO NA JUSTIÇA COMUM DOS ESTADOS. IMPERATIVO DE POLÍTICA JUDICIÁRIA. Numa primeira interpretação do inciso I do art. 109 da Carta de Outubro, o Supremo Tribunal Federal entendeu que as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente do trabalho, ainda que movidas pelo empregado contra seu Documento: 1150871 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 14/12/2012 Página 26 de 82