Interpolação polinomial de funções de uma variável

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Transcrição:

Capítulo 2 Interpolação polinomial de funções de uma variável 21 Introdução Seja f uma função real definida num intervalo [a,b] R e conhecida nos pontos x 0,x 1,,x n [a,b] Suponhamos ainda, sem perda de generalidade, que esses pontos formam uma partição do intervalo [a, b], isto é, : a = x 0 < x 1 < < x n 1 < x n = b (21) Como poderemos calcular o valor de f(x) e x [a,b], tal que x x i, i = 0,1,,n? Este problema pode ser resolvido por interpolação Em linhas gerais, o conceito de interpolação consiste em determinar uma função gerada por uma certa família de funções {φ k } n k=0, por forma a que g(x) = a 0 φ 0 (x) + + a n φ n (x), (22) f(x i ) = g(x i ), i = 0,1,,n (23) A função g nestas condições é designada por função interpoladora de f nos pontos de suporte (ou pontos de interpolação) x 0,x 1,,x n A condição (23) é designada condição de interpolação Observação 21 Nada nos garante que o problema da interpolação tenha sempre solução Por exemplo, fazendo φ 0 (x) = 1 e φ 1 (x) = x 2, não existe nenhuma função g(x) = a 0 + a 1 x 2 que passe nos pontos (1,1) e ( 1,0) O problema da interpolação tem uma grande importância prática, sobretudo no tratamento de funções para as quais se conhece apenas um conjunto finito de valores Tal situação é muito frequente, por exemplo, no contexto das equações diferenciais Quando se usam métodos numéricos para aproximar a solução de uma equação diferencial esta fica apenas conhecida num conjunto de pontos A interpolação permite assim encontrar uma função que passa por esse conjunto de pontos e que pode funcionar como uma aproximação à solução da equação diferencial Outra utilidade prática da interpolação consiste na aproximação de uma função com uma expressão analítica complicada por uma outra função mais simples que coincida com a primeira num determinado conjunto de pontos Assim, quando pretendermos operar com a primeira função podemos fazê-lo, de uma forma aproximada, recorrendo à função interpoladora 22 Interpolação polinomial de Lagrange Vamos considerar o problema de determinar um polinómio P P n (R) (espaço vectorial dos polinómios de grau menor ou igual a n com coeficientes reais) que interpole a função f nos pontos da partição Neste 10

Interpolação polinomial de funções de uma variável 11 caso, as funções geradoras {φ k } n k=0 terão de constituir uma base de P n(r), espaço de dimensão n + 1 Um exemplo é dado pela base canónica φ k (x) = x k, k = 0,1,,n (24) Observação 22 Iremos escrever P n (R) = P n ([a,b]) para evidenciar o facto de estarmos a trabalhar no intervalo [a,b] Vamos começar por demonstrar o seguinte teorema Teorema 23 (Lagrange) Seja f uma função definida nos pontos da partição (21) do intervalo [a, b] R Existe um e um só polinómio P n de grau menor ou igual a n interpolador de f nos pontos dados Demonstração: Considerando em P n ([a,b]) a base canónica (24) temos que P n P n ([a,b]) pode ser escrito na forma P n (x) = c j x n Para que este polinómio verifique as condições de interpolação j=0 f(x i ) = P n (x i ), i = 0,,n, os seus coeficientes serão determinados pela resolução do sistema linear 1 x 0 x 2 0 x n 0 1 x 1 x 2 1 x n 1 1 x 2 x 2 2 x n 2 = 1 x n x 2 n x n n c 0 c 1 c 2 c n f(x 0 ) f(x 1 ) f(x 2 ) f(x n ) Como x i x j para i j, temos que a matriz deste sistema é uma matriz de Vandermonde invertível (Exercício 224) Temos que este sistema é possível e determinado e, como tal, podemos dizer que existe um e um só polinómio P n de grau menor ou igual a n que interpola f nos pontos da partição dada A determinação do polinómio interpolador por este processo é pouco eficiente e pouco estável Quanto à eficiência, note-se que a resolução do sistema linear requer (n + 1) 3 /3 + (n + 1) 2 (n + 1)/3 multiplicações/adições (O(n 3 ) operações) Quanto à estabilidade, é possível provar que a matriz de Vandermonde do sistema é muito mal condicionada: prova-se que o número de condição da matriz é tanto maior quanto maior for a sua ordem (dada pelo grau do polinómio) Na prática verifica-se que este método não permite ir além de valores de n da ordem da dezena quando se trabalha em aritmética com 6 ou 7 decimais 221 Fórmula de Lagrange Uma forma mais eficiente de determinar o polinómio interpolador de Lagrange de uma função f nos pontos da partição (21) é obtida à custa da chamada fórmula de Lagrange Para a definir consideremos o conjunto {l i } n i=0 dos polinómios de Lagrange de grau inferior ou igual a n dados por l i (x) = n j=0 j i x x j x i x j (25) Uma vez que {l i } n i=0 constitui uma base de P n([a,b]) (Exercício 225), dado um polinómio P n P n ([a,b]), esse polinómio pode ser escrito na forma P n (x) = c i l i (x) i=0

Interpolação polinomial de funções de uma variável 12 Para que este polinómio verifique as condições de interpolação (23) os coeficientes c i terão que coincidir com os valores nodais f(x i ), i = 0,,n, pois l i (x j ) = δ i,j, onde δ i,j representa o símbolo de Kronecker { 1 i = j δ i,j = 0 i j Assim sendo, o polinómio interpolador de f nos pontos da partição dada pode ser escrito na forma P n (x) = f(x i )l i (x) (26) i=0 As expressões (26) e (25) definem a fórmula de Lagrange para calcular o polinómio interpolador de f nos pontos x 0,x 1,,x n O polinómio interpolador calculado é muitas vezes chamado polinómio interpolador de Lagrange de f nos pontos da partição (21) Notemos que a fórmula de Lagrange pode ser escrita na forma P n (x) = w(x) f(x i ) (x x i )w (x i ), (27) i=0 sendo De facto, atendendo a (28) temos que n w(x) = (x x j ) (28) j=0 w (x) = i=0 n (x x j ) w (x i ) = j=0 j i n (x i x j ), j=0 j i e como tal l i (x) = w(x) (x x i )w (x i ), o que prova o pretendido Na prática, nunca se deve reduzir o polinómio interpolador de Lagrange à sua forma canónica uma vez que esta redução pode implicar perdas de precisão Para determinar o esforço computacional necessário à obtenção do polinómio interpolador pela fórmula de Lagrange, note-se que, supondo as constantes F i = f(x i) w (x i ), i = 0,,n, calculadas a priori, o cálculo do valor do polinómio interpolador num determinado ponto pode ser dado por [ F0 P n (x) = w(x) + + F ] n x x 0 x x n Este cálculo requer n(n+1) multiplicações e n(n+2) adições, isto é, O(n 2 ) operações, o que torna a fórmula de Lagrange muito mais eficiente que o processo matricial A fórmula de Lagrange possui, no entanto, o inconveniente de obrigar a refazer os cálculos dos polinómios (25) sempre que ocorra uma alteração nos pontos de suporte Na prática esta situação acontece com frequência, por exemplo, quando pretendemos passar de P n a P n+1, pela adição de mais um ponto x n+1 ao suporte de interpolação, a fim de estudar o comportamento do erro

Interpolação polinomial de funções de uma variável 13 222 Fórmula de Newton Consideremos as seguintes funções i 1 φ 0 (x) = 1, φ i = (x x i ), i = 1,,n j=0 Atendendo a que o conjunto {φ i } n i=0 constitui uma base P n([a,b]) (prove), existem constantes c i,i = 0,,n, tais que o polinómio interpolador de Lagrange é dado por P n (x) = c i φ i (x) (29) i=0 Para determinar c 0 note-se que, se P n (x) poder ser escrito na forma (29), temos que c 0 = P n (x 0 ) = f(x 0 ) De forma similar temos que c 1 pode ser determinado calculando P n no ponto x 1 Assim f(x 0 ) + c 1 (x x 1 ) = P n (x 1 ) = f(x 1 ) c 1 = f(x 1) f(x 0 ) x 1 x 0 Denotando por f[x 0,x 1 ] a diferença dividida de primeira ordem f(x 1) f(x 0 ) x 1 x 0 e prosseguindo de forma idêntica deduzimos que c 2 = f(x 2) f(x 0 ) f[x 0,x 1 ](x 2 x 0 ) (x 2 x 0 )(x 2 x 1 ) que denotamos por f[x 0,x 1,x 2 ] Podemos deste modo obter um processo recursivo para a determinação dos coeficientes do polinómio se atendermos à seguinte definição Definição 24 (Diferenças divididas) Seja f uma função definida nos pontos da partição (21) do intervalo [a,b] R A f[x i,x i+1 ] = f(x i+1) f(x i ) x i+1 x i chama-se diferença dividida de primeira ordem de f relativamente aos argumentos x i e x i+1 As diferenças divididas de ordem superior definem-se recursivamente Assim, define-se diferença dividida de ordem k relativamente aos argumentos x i,x i+1, x i+k, com i + k < n, por f[x i,x i+1,,x i+k ] = f[x i+1,x i+2,,x i+k ] f[x i,x i+1,,x i+k 1 ] x i+k x i Usando a definição anterior pode demonstrar-se que c i = f[x 0,,x i ], i = 1,,n Substituindo este valor na expressão (29) que define P n (x) obtemos P n (x) = f(x 0 ) + f[x 0,x 1 ](x x 0 ) + f[x 0,x 1,x 2 ](x x 0 )(x x 1 ) + + f[x 0,x 1,,x n ](x x 0 )(x x 1 ) (x x n 1 ), (210) conhecida por fórmula interpoladora de Newton das diferenças divididas Abusivamente é usual designar por polinómio interpolador de Newton o polinómio calculado por (210) Um resultado importante respeitante às diferenças divididas é o seguinte Teorema 25 As diferenças divididas são invariantes para qualquer permutação dos índices de suporte

Interpolação polinomial de funções de uma variável 14 Demonstração: Com efeito, tem-se que f[x i,x i+1 ] = f(x i+1) f(x i ) x i+1 x i = f(x i) f(x i+1 ) x i x i+1 = f[x i+1,x 1 ] Por indução conclui-se facilmente (exercício) que o mesmo acontece para as diferenças divididas de qualquer ordem A demonstração do teorema anterior poderia ter sido feita atendendo ao seguinte exercício que se demonstra por indução Exercício 221 Seja P n o polinómio interpolador de f C n+1 ([a,b]) de grau inferior ou igual a n nos pontos da partição (21) do intervalo [a,b] e w o polinómio nodal dado em (28) Mostre que se verifica a igualdade f(x i ) f[x 0,x 1,,x n ] = w (x i ) Apresentámos três processos distintos para a construção do polinómio interpolador de Lagrange de grau n quando são conhecidos n + 1 valores de uma dada função Dos processos apresentados aquele que se mostra menos eficiente é o método matricial pois não tem uma forma explícita de determinar os coeficientes do polinómio interpolador Mais ainda, a determinação destes coeficientes é feita recorrendo à resolução de um sistema de equações lineares em que a matriz deste sistema pode ser mal condicionada O processo de construção mais eficiente é o método das diferenças divididas O cálculo do polinómio interpolador usando (210) na forma encaixada (ver Exercício 222), supondo calculados os coeficientes f(x 0 ), f[x 0,x 1 ],, f[x 0,x 1,,x n ], requer apenas 2n adições/subtracções e n multiplicações/divisões, isto é, O(n) operações 223 Erro de interpolação Por definição, o polinómio interpolador coincide com a função num dado conjunto de pontos de suporte Interessa-nos saber, no entanto, se para os outros pontos do domínio da função, o polinómio interpolador constitui uma boa ou uma má aproximação para a função Nesse sentido temos o seguinte teorema Teorema 26 Seja P n o polinómio de grau menor ou igual a n interpolador da função f nos pontos da partição (21) do intervalo [a,b] Se f C n+1 ([a,b]) então, para cada x [a,b], existe ξ = ξ(x) ]a,b[ tal que e n (x) := f(x) P n (x) = f(n+1) (ξ) w(x), (211) (n + 1)! onde w é a função nodal dada em (28) Demonstração: Se x = x i, para algum i o resultado é, obviamente, válido Se x x i, i = 0,1,,n, defina-se a função auxiliar F(t) = f(t) P n (t) w(t) w(x) (f(x) P n(x)) Ora, como F(t) = 0 possui n+2 raízes distintas em [a,b], uma vez que F(x i ) = 0, i = 0,1,,n, e F(x) = 0, por aplicação do Teorema de Rolle, conclui-se que F (t) = 0 possui pelo menos n + 1 raízes distintas em ]a,b[, F (t) = 0 possui pelo menos n raízes distintas em ]a,b[ e, sucessivamente, F (n+1) (t) = 0 possui pelo menos uma raiz em ]a,b[ Seja t = ξ essa raiz Uma vez que substituindo t por ξ, obtem-se (211) F (n+1) (t) = f (n+1) (t) i=0 (n + 1)! w(x) (f(x) P n(x)), Note-se a semelhança existente entre a fórmula do erro na interpolação e na fórmula de Taylor A diferença está que, enquanto a primeira usa informação em vários pontos distintos, a segunda recorre apenas a um único ponto

Interpolação polinomial de funções de uma variável 15 Observação 27 Na prática a expressão (211) não é muito útil uma vez que o valor do ponto intremédio ξ não é conhecido Vamos seguidamente considerar algumas formas alternativas de expressar o erro 1 Pelo teorema anterior podemos determinar um majorante para o erro cometido ao substituir f pelo seu polinómio interpolador de Lagrange de grau n, P n De facto, de (211) sai que 2 Atendendo a que x,x j [a,b], temos x x j (b a) e portanto f P n f(n+1) w (212) (n + 1)! f P n f(n+1) (b a) n+1 (n + 1)! 3 Atendendo à observação anterior, podemos determinar qual o grau do polinómio interpolador de Lagrange que satisfaz alguma restrição de proximidade De facto, se considerarmos M n+1 > 0 tal que f (n+1) < M n+1 temos que, fixado ǫ > 0, poderemos determinar o valor de n tal que M n+1 (n + 1)! (b a)n+1 < ǫ Determinado o valor de n, e considerando pontos igualmente distânciados em [a, b], construímos o polinómio interpolador No resultado seguinte é estabelecida uma estimativa mais precisa para o erro cometido ao aproximar uma função pelo seu polinómio interpolador Teorema 28 Seja f uma função definida no intervalo [a,b] onde se considera a partição (21) Seja P n o polinómio interpolador de Lagrange para a função f e seja h = max i=1,,n x i x i 1 Então f P n f (n+1) h n+1 4(n + 1) (213) Demonstração: Atendendo às observações anteriores, para concluir a estimativa apresentada provemos que w hn+1 n!, 4 com w a função nodal (28) Vamos efectuar a demonstração por indução Para n = 1 temos que w(x) = (x x 0 )(x x 1 ) Assim, Como tal, w (x) = 0 x = x 0 + x 1 2 { ( ) ( ) w = max w(a), w x0 + x 1, w(b) } = 2 w x0 + x 1 h2 2 4 Suponhamos que (213) se verifica para n e provemos a sua veracidade para n + 1, isto é, que max n+1 x [a,b] j=0 x x j hn+2 (n + 1)!, 4

Interpolação polinomial de funções de uma variável 16 com a = x 0 e x n+1 = b Dado x [a,b] temos que x [a,x n ] ou x [x n,b] Consideremos, sem perda de generalidade, a primeira hipótese Então max n+1 x [a,b] j=0 o que prova o pretendido x x j = max n x [a,b] j=0 x x j x b hn+1 n! 4 (n + 1)h = hn+2 (n + 1)!, 4 Na determinação de uma estimativa para o erro cometido ao aproximar uma função pelo seu polinómio interpolador de Lagrange é usada a derivada da função que estamos a aproximar Em geral esta função é apenas conhecida pontualmente Vejamos seguidamente como podemos aproximar as derivadas que figuram na estimativa do erro utilizando apenas o valor da função nos pontos da partição do intervalo Teorema 29 Seja f uma função admitindo derivadas até à ordem n+1 contínuas em [a, b] Neste intervalo consideremos a partição (21) e seja P n o polinómio interpolador de Lagrange para a função f na partição dada Então para x [a,b] existe ξ = ξ(x) ]a,b[ tal que f[x 0,x 1,,x n ]n! = f (n) (ξ) Demonstração: Consideremos o polinómio interpolador de Lagrange (210) Temos que, para x [a, b], o erro de interpolação é dado por i 1 e(x) = f(x) P n (x) = f(x) f(x 0 ) + f[x 0,,x i ] (x x j ) A função erro tem n + 1 zeros em [a,b], e portanto, pelo Teorema de Rolle, a função derivada de ordem n tem pelo menos um zero Logo existe ξ = ξ(x) ]a,b[ tal que e (n) (ξ) = 0, isto é, o que prova o pretendido i=1 f (n) (ξ) f[x 0,,x n ]n! = 0, j=0 Observação 210 Pelo teorema anterior, para estimar a derivada de ordem n + 1 que figura em (211), podemos utilizar diferença dividida de ordem n + 2 De facto, se x [a, b], existe ξ = ξ(x) [a, b] tal que f[x 0,,x i,x,x i+1,,x n ](n + 1)! = f (n+1) (ξ) e portanto f(x) P n (x) f[x 0,,x i,x,x i+1,,x n ]w(x) Vamos agora analisar brevemente o problema da convergência do processo de interpolação Para isso, consideremos uma função f definida num intervalo [a, b] onde está definida uma partição uniforme (com n + 1 pontos) e seja P n o seu polinómio interpolador de Lagrange Provámos que f P n f (n+1) h n+1 4(n + 1), em que h = b a n Se existir uma constante positiva M tal que f (n+1) M, n N, então (b a)n+1 f P n M 4(n + 1)n n+1

Interpolação polinomial de funções de uma variável 17 Atendendo a que concluímos que lim n + f P n 0, (b a) n+1 = 0, 4(n + 1)nn+1 n + Neste caso, o processo de interpolação é convergente, isto é, o aumento do grau do polinómio implica um aumento de precisão Existem, no entanto, funções para as quais não podemos concluir que um aumento do grau do provoque um aumento da proximidade do polinómio interpolador com a função interpolada Isso acontece quando não é possível encontrar um majorante para as derivadas da função Um exemplo que ilustra esta situação foi considerado por Carl Runge em 1901 e é o apresentado no Exercício 2214 Esse exercício ilustra que, para a interpolação polinomial, podemos ter, em simultâneo, situações de convergência e de divergência 224 Zeros dos polinómios de Chebyshev Uma questão interessante consiste em saber como diminuir os erro de interpolação sem aumentar o número de pontos de suporte A fórmula (212) mostra que o erro de interpolação depende tanto de f (n+1) como de w (que depende da escolha dos pontos de interpolação) A questão interessante está em saber, para um dado n, qual a escolha dos pontos de interpolação que minimiza w A resposta pode ser dada à custa dos chamados polinómios de Chebyshev Para n = 0,1,2, e x [ 1,1] os polinómios de Chebyshev da grau n são definidos pela relação T n (x) = cos (n arccos x) Uma forma simples de provar que T n é, de facto, um polinómio, é atendendo à fórmula de recorrência (ver Exercício 2215) T n+1 (x) = 2xT n (x) T n 1 (x), n = 1,2, Observação 211 Da definição de polinómio de Chebyshev resulta imediatamente que T n (x) 1, n = 0,1,2, Assim sendo, como T n (1) = 1, temos que, em [ 1,1], T n = 1 Além disso, atendendo ao Exercício 2216, os zeros dos polinómios de Chebyshev estão todos no intervalo [ 1, 1] É fácil provar que o coeficiente do termo de maior grau de T n é a n = 2 n 1 Assim sendo, o polinómio T n := 2 1 n T n é mónico, isto é, o seu coeficiente do termo de maior grau é igual à unidade Designemos por P n ([a,b]) a classe dos polinómios mónicos de grau menor ou igual a n em [a,b] Teorema 212 O polinómio T n é de todos os polinómios de P n ([ 1,1]) o que tem menor norma, isto é, T n P, P P n ([ 1,1]) Demonstração: Sabemos que T n = 2 1 n Suponhamos que existe P P n ([ 1,1]) tal que P < 2 1 n e seja Q = T n P Então o grau de Q é menor ou igual a n 1 Por outro lado, para os valores de x k dados no Exercício 2216, Q(x k ) = T n (x k ) P(x k ) = ( 1)k 2 1 n P(x k ) Assim sendo, o polinómio Q tem n zeros pois tem sinais alternados em n intervalos e é uma função contínua Logo Q é o polinómio nulo, o que prova o resultado Observação 213 Se considerarmos o intervalo [a, b] em vez do intervalo [ 1, 1] há que efectuar a mudança de variável t = a + b 2 + b a 2 x

Interpolação polinomial de funções de uma variável 18 Este resultado permite-nos afirmar, atendendo a que w dado por (28) é um polinómio mónico, que w é mínimo quando se consideram os pontos de suporte x i = a + b 2 + b a 2 cos (2i + 1)π 2n + 2, i = 0,,n Neste caso o erro é dado por f P n (b a)n 2 n+1 (n + 1)! f(n+1) O fenómeno de interpolação também é muito sensível a erros dos dados y i = f(x i ), i = 0,,n, e a escolha criteriosa dos pontos de suporte pode, também neste aspecto, ser importante Suponhamos que o cálculo do polinómio interpolador é efectuado com os valores ŷ i = y i (1 + ǫ i ), ǫ i < ǫ Assim, os polinómios que passam por (x i,y i ) e (x i,ŷ i ) são dados, respectivamente, por e por Como tal, Temos então que a função P n (x) = P n (x) = y i l i (x) i=0 ŷ i l i (x) i=0 P n (x) P n (x) ǫ max i=0,,n y i l i (x) i=0 l i (x) descreve o factor de amplificação dos erros dos dados O seu valor máximo Λ n = max x [a,b] l i (x) é chamado constante de Lebesgue associada aos pontos de interpolação dados e ao intervalo [a, b] Esta constante pode ser calculada numericamente 225 Exercícios Exercício 222 Consideremos P n (x) = a n x n + a n 1 x n 1 + + a 1 x + a 0 e suponhamos que pretendemos calcular p(x) Ao usar P n (x) = a n x n + a n 1 x n 1 + + a 1 x + a 0 efectuamos n adições/subtracções e 2n 1 multiplicações/divisões No entanto, se considerarmos i=0 i=0 P n (x) = a 0 + x(a 1 + x(a 2 + + x(a n 1 + a n x))), designada por forma encaixada do polinómio, ao calcular p(x) só efectuamos n adições/subtracções e n multiplicações/divisões Esta forma é a base do chamado método (ou algoritmo) de Horner, que consiste formalmente nas seguintes operações: p a n ; p px + a i, i = n 1( 1)0, sendo P n (x) = p 1 Demonstre a chamada regra de Ruffini: O valor numérico de P n (x) de um polinómio P n em x é igual ao resto da divisão de P n (x) por x x

Interpolação polinomial de funções de uma variável 19 2 Dividindo P n (x) por x x obtém-se P n (x) = (x x)q n 1 (x) + r, onde q n 1 é um polinómio de grau inferior ou igual a n 1 e r uma constante Usando o algoritmo de Horner construa um algoritmo que permita determinar r e os coeficientes de q n 1 (algoritmo de Ruffini) 3 Calcule o valor de p 5 (x) = x 5 + x 4 4x 3 x 2 12 em x = ±1, ±2, ±3, ±4, ±6, ±12 4 Quais as soluções inteiras de um polinómio de grau n de coeficientes inteiros? Exercício 223 Conhecem-se as coordenadas de cinco pontos de uma curva plana, que representa uma região de uma peça em corte Determine o polinómio de Lagrange de grau 4 que interpola a referida curva sabendo que os pontos de coordenadas conhecidas são: P 1 = (1,2), P 2 = (2,1), P 3 = (3,1), P 4 = (4,25) e P 5 = (5,4) Determine ainda valores aproximados para as ordenadas dos pontos cujas abcissas são 0, 25 e 6 Exercício 224 Sejam x 0,x 1,,x n, n + 1 pontos distintos de R Mostre que a matriz de Vandermonde que lhe está associada V (x 0,,x n ) verifica det V (x 0,,x n ) = (x j x k ) 0 j<k n Exercício 225 Prove que {l i } n i=0 constitui uma base de P n([a,b]) Exercício 226 Use o polinómio interpolador de Lagrange para determinar log 245 sabendo que Determine uma estimativa para o erro cometido x i 22 23 24 25 26 log x i 034242 036173 038021 039794 041497 Exercício 227 Na seguinte tabela são dados diferentes valores para o peso específico p da água a diferentes temperaturas t (em graus centígados): t 0 1 2 3 p 0999871 0999928 0999969 0999991 Usando interpolação linear, quadrática e cúbica, determine uma aproximação para p quando t = 4 o C usando a fórmula interpoladora de Lagrange e de Newton Compare os resultados obtidos sabendo que o valor exacto é 1000000 Exercício 228 Escreva a fórmula interpoladora de Newton das diferenças divididas usando o algoritmo de Horner Exercício 229 Pretende-se construir uma tabela para a função f(x) = e x, com x [0,1] Considere o valor de e com 5 casas decimais correctas e uma partição com pontos igualmente distanciados Determine o diâmetro da partição a considerar de modo que o polinómio interpolador de Lagrange permita obter uma aproximação para f com um erro inferior a 10 6 Exercício 2210 Considere a função f(x) = ln(x + 1), x [1,3] Determine o polinómio interpolador de Lagrange que aproxima f em [1,3] com um erro inferior a 10 2 Exercício 2211 Determine uma aproximação para o instante na da passagem do perigeu da Lua em Março, 1999, a partir dos valores tabelados para as zero horas de cada dia; indique também a distância (em raios médios da Terra) da Terra à Lua nesse instante dia 19 20 21 distância 57071 56955 57059

Interpolação polinomial de funções de uma variável 20 Exercício 2212 Determine uma aproximação para a declinação aparente de Vénus para o dia 8 de Maio de 1999, às 18h30m45s, por interpolação cúbica a partir das Efemérides Astronómicas (onde está tabelada para cada dia, às zero horas) dia 7 8 9 10 δ i +5 o 51 47 55 +6 o 22 25 20 +6 o 52 54 57 +6 o 23 14 96 Exercício 2213 O censo da população dos Estados Unidos, entre 1930 e 1980, produziu os seguintes resultados: Ano 1930 1940 1950 1960 1970 1980 População ( 10 3 ) 123203 131669 150697 179323 203212 226505 Use um método de diferenças finitas apropriado para estimar a população nos anos de 1920, 1965, e 2000 Sabendo que a população no ano de 1920 era de 105711 10 3, o que pode inferir quanto à precisão das aproximações obtidas para os anos de 1965 e 2000? Exercício 2214 Considere a função (de Runge) f(x) = 1/(1 + 25x 2 ), x [ 1,1] 1 Verifique graficamente que f P 3 f P 8, em que P 3 e P 8 são, respectivamente, os polinómios de Lagrange de grau 3 e 8 interpoladores de f em partições uniformes de [ 1,1] 2 Verifique numericamente que, quando se considera a função de Runge, os polinómios interpoladores P n divergem em 0726 x 1 Exercício 2215 Obtenha a fórmula de recorreência e conclua que T n é, de facto, um polinómio T n+1 (x) = 2xT n (x) T n 1 (x), n = 1,2,, Exercício 2216 Mostre que o polinómio de Chebyshev T n tem os seus zeros localizados nos pontos e os extremos localizados em x k = cos (2k 1)π, k = 1,,n, 2n x k = cos kπ n, k = 0,,n, nos quais T n (x k ) = ( 1)k Exercício 2217 Mostre numericamente que, quando se consideram pontos igualmente distanciados no intervalo [a,b], se tem Λ 20 3 10 4, Λ 40 10 10 e quando se consideram os pontos de Chebyshev Λ n 3, (n 30), Λ n 4, (n 100)

Interpolação polinomial de funções de uma variável 21 23 O polinómio interpolador de Lagrange segmentado 231 Caso linear Consideremos um intervalo [a,b] e uma partição dada por (21) Denotemos por P1 0 ( ) o conjunto de todas as funções contínuas em [a,b] que, quando restringidas a cada um dos intervalos [x i 1,x i ], i = 1,,n, da partição, coincidem com um polinómio de grau menor ou igual a um (polinómio que, em geral, varia com i) Se S 1 P1 0( ) dizemos que S 1 é uma função linear por segmentos ou um polinómio segmentado linear (na partição ) Observação 214 Note-se que, em geral, nos pontos x i as funções S 1 P1 0 ( ) apresentam descontinuidadas da derivada Consideremos agora o problema da interpolação Seja f uma função conhecida nos pontos da partição do intervalo [a,b] Pelo que foi visto na secção anterior, existe um e um só polinómio segmentado linear S 1 P 0 1 ( ) tal que S 1 (x i ) = f(x i ), i = 0,1,,n Nestas condições, S 1 é chamado o polinómio interpolador (de Lagrange) segmentado linear de f nos pontos de Temos que S (1) 1 (x) x [x 0,x 1 ] S (2) 1 (x) x [x 1,x 2 ] S 1 (x) = S (i) 1 (x) x [x, i 1,x i ] S (n) 1 (x) x [x n 1,x n ] onde S (i) 1 pode ser escrita na forma seguinte (fórmula de Newton) ou ainda (fórmula de Lagrange) S (i) 1 (x) = f(x i 1) + f[x i 1,x i ](x x i 1 ), S (i) 1 (x) = f(x i 1) x x i x i 1 x i + f(x i ) x x i 1 x i x i 1 O que podemos dizer quanto ao erro que se comete ao aproximar f por uma função S 1 P 0 1 ( )? Suponhamos que x [x i 1,x i ] Então, pelo que foi visto na secção anterior, temos que, nesse intevalo, onde (como vimos) e e (i) i, := f S (i) 1 i, := max f(x) S(i) 1 = f(2) i, w (i) i,, x [x i 1,x i ] 2 w (i) i, := Temos então que, sendo h i = x i x i 1, max (x x i 1)(x x i ) = 1 x [x i 1,x i ] 4 (x i x i 1 ) 2 f (2) i, = Considerando agora o erro no intervalo [a,b], max x [x i 1,x i ] f(2) (x) e (i) i, = f(2) i, h 2 i 8 e := f S 1,

Interpolação polinomial de funções de uma variável 22 temos que e = max i=1,,n e(i) i, = f(2) h 2, 8 com h = max i=1,,n h i Este limite superior para o erro permite demonstrar que o processo de interpolação linear por segmentos é convergente De facto, se f (2) é limitada, à medida que o número de pontos da partição aumenta (h diminui) o erro tendo para zero, ou seja, o polinómio segmentado linear tende para a função a interpolar uniformemente em [a,b] Observação 215 A interpolação linear segmentada possui vantagens em relação à interpolação (global) de Lagrange Note-se que, se n for muito grande, o cálculo do polinómio interpolador de Lagrange (global) P n envolve muito mais operações que o cálculo do polinómio interpolador linear segmentado S 1 Além disso, como foi visto, o facto de n aumentar não implica que o polinómio interpolador de Lagrange P n tenda para a função a interpolar, mesmo que essa função seja infinitamente diferenciável A desvantagem que o processo da interpolação segmentada linear apresenta relativamente à interpolação de Lagrange é que o polinómio P n é infinitamente diferenciável enquanto que S 1 pode nem sequer possuir derivadas contínuas nos pontos da partição Como poderemos construir uma base no espaço P1 0 ( )? Para responder a esta questão, vamos determinar as funções {φ j } n j=0 tais que, para todo o S 1 P1 0( ), S 1 (x) = f(x j )φ j (x) j=0 As funções {φ j } n j=0 nas condições pretendidas terão que ser lineares por segmentos e ser tais que φ j(x i ) = δ i,j, i,j = 0,1,,n, por forma a que S 1 seja interpolador de f nos pontos de Assim, não é difícil de verificar que os gráficos de φ j, j = 0,,n, serão os das funções chapéu dadas na Figura 21 Como é evidente, estas funções constituem uma base de P 0 1 ( ) 1 j=0 1 j=n 08 08 06 06 04 04 02 02 x 0 x 1 x i-1 x i x i+1 x n-1 x n x 0 x 1 x i-1 x i x i+1 x n-1 x n 1 j=i, 0<i<n 08 06 04 02 x 0 x 1 x i-1 x i x i+1 x n-1 x n Figura 21: Gráficos das funções chapéu φ j

Interpolação polinomial de funções de uma variável 23 e Não é difícil de ver que as funções chapéu têm as seguintes expressões analíticas (prove): onde h i = x i x i 1 φ i (x) = 232 Caso quadrático x x i 1 h i x [x i 1,x i ] x x i+1 h i+1 x [x i,x i+1 ] 0 x [a,x i 1 ] [x i+1,b], i = 1,,n 1, x x 1 h 1 x [a,x 1 ] 0 x [a,x n 1 ] φ 0 (x) =, φ n (x) = 0 x [x 1,b] x [x n 1,b] x xn h n Seja P 0 2 ( ) o conjunto das funções contínuas em [a,b] que, quando restritas a um intervalo [x i 1,x i ], i = 1,,n, da partição dada por (21), coincidem com um polinómio do segundo grau Se S 2 P 0 2 ( ) dizemos que S 2 é uma função quadrática por segmentos Observação 216 Note-se que, nos nós da partição, a função S 2 apresenta, em geral, descontinuidades na sua derivada Seja f uma função conhecida nos pontos da partição do intervalo [a, b] Suponhamos ainda que conhecemos a função nos pontos intermédios x i 1/2 ]x i 1,x i [, i = 1,,n Assim, existe um e um só S 2 P2 0 ( ) que interpola a função f tanto nos pontos da partição como nos pontos intermédios considerados Esse polinómio é dado por S (1) 2 (x) x [x 0,x 1 ] S (2) 2 (x) x [x 1,x 2 ] S 2 (x) = S (i) 2 (x) x [x, i 1,x i ] S (n) 2 (x) x [x n 1,x n ] onde S (i) 2 pode ser escrita na forma seguinte (fórmula de Newton) S (i) 2 (x) = f(x i 1) + f[x i 1,x i 1/2 ](x x i 1 ) + f[x i 1,x i 1/2,x i ](x x i 1 )(x x i 1/2 ), ou ainda (fórmula de Lagrange) 2 (x) = f(x (x x i 1/2 )(x x i ) i 1) (x i 1 x i 1/2 )(x i 1 x i ) S (i) (x x i 1 )(x x i+1 ) +f(x i 1/2 ) (x i 1/2 x i 1 )(x i 1/2 x i ) +f(x i ) (x x i 1)(x x i 1/2 ) (x i x i 1 )(x i x i 1/2 ) Exemplo 217 Consideremos a função f(x) = sin πx,x [ 1 2, 3 2 ], e, neste intervalo a partição x 0 = 1 2, x 1 = 1 e x 2 = 3 2 Determine o polinómio interpolador de Lagrange quadrático interpolador de f nos pontos da partição e nos pontos intermédios x 1/2 = 3 4 e x 3/2 = 5 4,

Interpolação polinomial de funções de uma variável 24 Resolução: em que e É imediato que o polinómio pretendido é dado por S 2 (x) = S (1) 2 (x) = sin π (x 3 4 )(x 1) 2 ( 1 2 3 4 )(1 2 1) + sin 3π 4 S (2) 2 (x) = sin π(x 5 4 )(x 3 2 ) (1 5 4 )(1 3 2 ) + sin 5π 4 S (1) 2 (x) x [1 2,1] S (2) 2 (x) x [1, 3 2 ], (x 1 2 )(x 1) ( 3 4 1)(3 4 1 2 ) + sin π(x 1 2 )(x 3 4 ) (1 1 2 )(1 3 4 ),x [1 2,1] (x 1)(x 3 2 ) ( 5 4 1)(5 4 3 2 ) + sin 3π 2 (x 1)(x 5 4 ) ( 3 2 1)(3 2 5 4 ),x [1, 3 2 ] O que podemos dizer quanto ao erro cometido que ao aproximar f por S 2 P2 0 ( )? Tal como foi efectuado para o caso linear podemos provar que com e := f S 2 = f(3) 3! w (i) i, := max i=1,,n w(i) i,, max (x x i 1)(x x i 1/2 )(x x i ) x [x i 1,x i ] Como é que poderemos construir uma base para o espaço P2 0 ( )? Vamos responder a esta questão determinando as funções {φ j } n j=0 e {φ j 1/2} n j=1 tais que, para todo o S 2 P2 0( ), S 2 (x) = f(x 0 )φ 0 (x) + ( f(xj 1/2 )φ j 1/2 (x) + f(x j )φ j (x) ) j=1 Consideremos φ j, j = 0,,n como sendo a função quadrática por segmentos que toma o valor 1 em x = x j e 0 nos restantes nós da partição bem como nos pontos intermédios Para j = 1,,n, consideremos φ j 1/2 como sendo a função quadrática por segmentos que toma o valor 1 em x = x j 1/2 e se anula nos restantes pontos intermédios bem como nos pontos da partição Assim, não é difícil de verificar que os gráficos de φ j, j = 0,,n, e φ j 1/2, j = 1,,n, são os das chamadas funções bigode, dadas nas Figuras 22 e 23, respectivamente Como P2 0 ( ) é um espaço vectorial de dimensão 2n + 1 (prove) temos que estas funções constituem uma base de P2 0( ) Tal como para o caso das funções chapéu, prova-se facilmente que as funções bigode têm as seguintes expressões analíticas: (x x i 1 )(x x i 1/2 ) (x i x i 1 )(x i x i 1/2 ) x [x i 1,x i ] φ i (x) = (x x i 1/2)(x x i+1 ) (x i x i 1/2 )(x i x i+1 x [x i,x i+1 ], i = 1,,n 1, e 0 x [a,x i 1 ] [x i+1,b] (x x 1/2 )(x x 1 ) (x 0 x 1/2 )(x 0 x 1 ) x [a,x 1 ] φ 0 (x) = φ n (x) = φ i 1/2 (x) = 0 x [x 1,b] 0 x [a,x n 1 ] (x x n 1 )(x x n 1/2 ) (x n x n 1 )(x n x n 1/2 ) x [x n 1,b] (x x i 1 )(x x i ) (x i 1/2 x i 1 )(x i 1/2 x i ) x [x i 1,x i ] 0 x [a,x i 1 ] [x i+1,b],,

Interpolação polinomial de funções de uma variável 25 1 j=0 1 j=n 08 08 06 06 04 04 02 02 x 0 x 1 2 x 1 x i-1x i-1 2 x i x i+1 2x i+1 x n-1x n-1 2 x n x 0 x 1 2 x 1 x i-1x i-1 2 x i x i+1 2x i+1 x n-1x n-1 2 x n 1 j=i, 0<i<n 08 06 04 02 x 0 x 1 2 x 1 x i-1x i-1 2 x i x i+1 2x i+1 x n-1x n-1 2 x n Figura 22: Gráficos das funções bigode φ j 1 08 06 04 02 x 0 x 1 2 x 1 x i-1 x i-1 2 x i x i+1 2 x i+1 x n-1 x n-1 2 x n Figura 23: Gráficos das funções bigode φ j 1/2

Interpolação polinomial de funções de uma variável 26 233 Caso geral Consideremos, de novo, a função f definida num intervalo [a,b] Neste intervalo consideremos a partição dada em (21) e ainda os pontos intermédios x i (m 1)/m < x i (m 2)/m < < x i 2/m < x i 1/m, pertencentes ao intervalo ]x i 1,x i [, i = 1,,n Pelo que foi visto anteriormente, podemos concluir que existe um e um só S m P 0 m( ) conjunto das funções contínuas em [a,b] que coincidem com um polinómio de grau m quando restritas a um intervalo [x i 1,x i ], i = 1,,n, da partição tal que e dado na forma S m (x i ) = f(x i ), i = 0,,n, (214) S m (x i (m j)/m ) = f(x i (m j)/m ), i = 1,,n, j = 1,,m 1, (215) S m (x) = S m (1) (x) x [x 0,x 1 ] S m (2) (x) x [x 1,x 2 ] S m (i) (x) x [x i 1,x i ] S m (n) (x) x [x n 1,x n ] onde S (i) m pode ser escrita na forma seguinte (fórmula de Newton) S (i) m (x) = f(x i 1 ) + f[x i 1,x i (m 1)/m ](x x i 1 ) + + f[x i 1,x i (m 1)/m,,x i ](x x i 1 )(x x i (m 1)/m ) (x x i 1/m ) O que poderemos dizer relativamente ao erro cometido ao aproximar a função f pelo polinómio interpolador de Lagrange segmentado S m (x)? Atendendo ao que foi feito para os casos anteriores, é fácil concluir o seguinte resultado Teorema 218 Seja f uma função com derivadas contínuas até à ordem m + 1 em ]a,b[, com m N Consideremos a partição dada em (21) e ainda os pontos x i (m j)/j, j = 1,,m 1, em cada intervalo ]x i 1,x i [, i = 1,,n Nestas condições, se S m P 0 m( ) verifica (214) (215) então, com f S m f(m+1) (m + 1)! w (i) i, = max x [x i 1,x i ] j=0 max i=1,,n w(i) i,, m x x i (m j)/m 234 Exercícios Exercício 231 Mostre que a transformção linear S 1 (S 1 (x 0 ),,S 1 (x n )) que aplica P1 0( ) em Rn+1 é bijectiva e conclua que P1 0 ( ) é um espaço vectorial de dimensão n + 1 Exercício 232 Determine o polinómio interpolador de Lagrange segmentado linear para a função f tal que x i 0 025 05 075 1 f(x i ) 1 125 1 15 1

Interpolação polinomial de funções de uma variável 27 Exercício 233 Calcule o polinómio interpolador de Lagrange segmentado quadrático para a função do exercício anterior Exercício 234 Determine o polinómio interpolador de Lagrange segmentado linear para uma função f supondo que esta é conhecida nos pontos a = x 0 < x 1 < x 2 = b Exercício 235 Particularize o resultado do exercício anterior para a função f(x) = cos x, x [0,π] e aproxime cos(20 o ), indicando um majorante para o erro cometido Exercício 236 Determine o polinómio interpolador de Lagrange segmentado de grau 2 para uma função f que se conhece nos pontos Exercício 237 Particularize o exercício anterior para a = x 0 < x 1/2 < x 1 < x 3/2 < x 2 < x 5/2 < x 3 = b f(x) = 1 1 + x2, x [ 1,1] Exercício 238 Determine o polinómio interpolador de Lagrange segmentado cúbico para uma função f supondo que esta é conhecida nos pontos a = x 0 < x 1/3 < x 2/3 < x 1 < x 4/3 < x 5/3 < x 2 = b Exercício 239 Particularize o resultado do exercício anterior para a função f(x) = sin x, x [0,2π], indicando um majorante para o erro cometido Exercício 2310 Prove que se x i 1/2 = x i 1 + x i 2 o limite superior para o ero cometido na interpolação quadrática segmentada é dado por com h = x i x i 1, i = 1,,n f S 2 f(3) 3h 3, 216 Exercício 2311 Considere a seguinte tabela de valores da gravidade específica do ácido fosfórico como função da percentagem de H 3 PO 4 H 3 PO 4 (%) Grav esp 0 10000 1 10038 2 10092 4 10200 6 10309 8 10420 10 10532 12 10647 14 10764 16 10884 18 11008 20 11134 22 11263 24 11395 26 11529 28 11665 30 11805 H 3 PO 4 (%) Grav esp 35 1216 40 1254 45 1293 50 1335 55 1379 60 1426 65 1475 70 1526 75 1579 80 1633 85 1689 90 1746 92 1770 94 1794 96 1819 98 1844 100 1870

Interpolação polinomial de funções de uma variável 28 1 Aproxime os dados usando interpolação polinomial Comente os resultados obtidos 2 Use a função determinada por interpolação para tabelar a gravidade específica obtida para percentagens de 0,5,10,,100 de H 3 PO 4 Exercício 2312 Durante a sedimentação da reação de saponificação entre quantidades equimolares de hidróxido de sódio e acetato de etilo, a concentração c (g mole/litro) de cada reagente varia com o tempo t (min) de acordo com a equação 1 c = 1 c 0 + kt, onde c 0 é a concentração inicial e k (litro/g mole min) é a constante de reacção Foram obtidos os seguintes resultados em laboratório à temperatura de 77 o F: 1/c 247 324 384 450 523 656 876 102 154 192 t 1 2 3 4 5 7 10 12 20 25 1 Obtenha uma estimativa para a concentração inicial 2 Obtenha uma estimativa para a concentração ao fim de 15 minutos e compare-a com a solução obtida em laboratório (ao fim de 15 minutos obteve-se 1/c = 135) 24 Interpolação de Hermite O objectivo da interpolação de Hermite é o de representar uma função f por um polinómio que seja interpolador de f em alguns pontos do seu domínio e que a sua derivada seja interpolador da derivada de f nesses mesmos pontos Isto é, supondo que f é diferenciável, vamos procurar um polinómio H tal que f(x i ) = H(x i ) f (x i ) = H (x i ), i = 0,1,,n (216) Quando tal situação acontece dizemos que f e H são funções que 2-osculam (osculam 2 vezes) os pontos x i, i = 0,1,,n, ou que H é um polinómio 2-osculador de f nos pontos x i, i = 0,1,,n 241 Existência e unicidade O próximo teorema estabelece a existência e unicidade do polinómio de grau inferior ou igual a 2n + 1 que verifica (216) Além disso, indica-nos um processo que permite a sua determinação Teorema 219 Seja f C 2n+2 ([a,b]) e x 0,x 1,,x n pontos distintos em [a,b] Existe um e um só polinómio H 2n+1 de grau menor ou igual a 2n + 1 que verifica (216) Demonstração: Atendendo às condições impostas, o polinómio terá que ser de grau inferior ou igual a 2n + 1 Para provar a sua existência vamos considerar as funções h i (x) = [1 2l i(x i )(x x i )]l i (x) 2 e h i (x) = (x x i )l i (x) 2, i = 0,,n, com l i, i = 0,,n, os polinómios de Lagrange (26) Como se pode verificar facilmente h i (x j ) = δ i,j, h i(x j ) = 0, i,j = 0,,n, e Assim, o polinómio h i (x j ) = 0, h i(x j ) = δ i,j, i,j = 0,,n H 2n+1 (x) = [f(x i )h i (x) + f (x i )h i (x)] i=0

Interpolação polinomial de funções de uma variável 29 tem grau inferior ou igual a 2n + 1 e verifica (216) Falta apenas provar a unicidade Seja Q 2n+1 outro polinómio de grau inferior ou igual a 2n + 1 que verifica (216) e R 2n+1 (x) = H 2n+1 (x) Q 2n+1 (x) Como R 2n+1 (x i ) = R 2n+1 (x i) = 0, para i = 0,,n, temos que este polinómio de grau inferior ou igual a 2n+1 tem 2n+2 zeros o que implica que terá que ser o polinómio nulo Assim sendo, provámos a unicidade pretendida O único polinómio de grau menor ou igual a 2n + 1 que verifica as condições (216) é também chamado polinómio interpolador de Hermite de f nos pontos x 0,x 1,,x n Observação 220 Note-se que, tal como na interpolação de Lagrange, se m for o número de condições impostas para a determinação do polinómio interpolador, o seu grau é m 1 A obtenção do polinómio interpolador de Hermite pode ser feita de várias maneiras Vamos apresenta-la neste curso numa forma que generaliza o polinómio interpolador de Newton das diferenças divididas Consideremos a mudança de variável z 0 = x 0, z 1 = x 0, z 2 = x 1, z 3 = x 1,, z 2n = x n, z 2n+1 = x n Uma vez que z 2i = z 2i+1 = x i, i = 0,,n, não podemos definir as diferenças divididas No entanto, atendendo a que f[z 2i,z 2i+1 ] = f[x i,x i ] lim x x i f[x,x i ] = lim x xi f(x) f(x i ) x x i = f (x i ), podemos definir as diferenças divididas generalizadas para pontos não distintos na forma f[x i,x i ] := f (x i ) Pelo Teorema do Valor Médio de Lagrange generalizado podemos ainda definir f[x i,x i,,x }{{} i ] = f(r) (x i ) (217) r! r+1 vezes Com esta notação pode verificar-se facilmente que o polinómio interpolador de Hermite de grau 2n + 1 nos pontos da partição (21) é dado por (verifique para n = 1) 2n+1 i 1 H 2n+1 (x) = f(z 0 ) + f[z 0,z 1,,z i ] (x z j ) i=1 = f(x 0 ) + f (x 0 )(x x 0 ) j=0 +f[x 0,x 0,x 1 ](x x 0 ) 2 + f[x 0,x 0,x 1,x 1 ](x x 0 ) 2 (x x 1 ) + + f[x 0,x 0,,x n,x n ](x x 0 ) 2 (x x 1 ) 2 (x x n 1 ) 2 (x x n ) O polinómio interpolador de Hermite pode assim ser determinado recorrendo à tabela das diferenças divididas generalizadas, tabela essa onde cada ponto aparece repetido duas vezes Exemplo 221 Determine o polinómio interpolador de Hermite de grau mínimo para a função f(x) = sin x em [0, π 2 ]

Interpolação polinomial de funções de uma variável 30 Resolução: Temos x i f(x i ) f[, ] f[,, ] f[,,, ] 0 0 1 4 2π 0 0 π 2 2 π 2 1 4 0 π 2 1 π 16+4π π 3 π 2 Logo H 3 (x) = x + 4 2π π 2 x 2 16 + 4π π 3 x 2 (x π 2 ) = x[1 + x[ 0231 0921(x π 2 )]] 242 Erro de interpolação O estudo do erro na interpolação de Hermite consiste na generalização do estudo efectuado para a interpolação de Lagrange de acordo com o seguinte teorema Teorema 222 Seja H 2n+1 o polinómio, de grau menor ou igual a 2n + 1 interpolador de Hermite da função f nos pontos distintos x 0,x 1,,x n [a,b] Se f C 2n+2 ([a,b]) então para cada x [a,b] existe ξ = ξ(x) ]a,b[ tal que e(x) = f(x) H 2n+1 (x) = f(2n+2) (ξ) (2n + 2)! w2 (x), (218) onde w é a função dada por (28) Demonstração: Se x = x i, para algum i o resultado está provado Se x x i, i = 0,1,,n, definamos a função auxiliar F(t) = f(t) H 2n+1 (t) w(t)2 w(x) 2 (f(x) H 2n+1(x)) Como F(t) = 0 possui 2n + 3 raízes (n + 1 zeros duplos x i, i = 0,,n e uma raiz simples x) temos, por aplicação do Teorema de Rolle generalizado, que F (2n+2) (t) = 0 possui, pelo menos, uma raiz em ]a,b[ Seja ξ essa raiz Uma vez que F (2n+2) (t) = f (2n+2) (t) substituindo t por ξ obtém-se o resultado pretendido (2n + 2)! w(x) 2 (f(x) H 2n+1 (x)), Observação 223 Tal como no caso da interpolação de Lagrange podemos efectuar as seguintes observações 1 Pelo teorema anterior, podemos determinar um majorante para o erro cometido ao substituir f pelo seu polinómio interpolador de Hermite de grau n, H 2n+1 De facto, de (218) sai que: f H 2n+1 f(2n+2) w 2 (2n + 2)! 2 Atendendo a que x,x j [a,b], temos que x x j (b a) e portanto f H 2n+1 f(2n+2) (b a) 2n+2 (2n + 2)!

Interpolação polinomial de funções de uma variável 31 3 Uma vez que com h = max i=1,,n (x i x i 1 ), temos que w hn+1 n!, 4 f H 2n+1 f (2n+2) h 2n+2 (n!) 2 16(2n + 2)! Observamos que dependendo do comportamento de f (2n+2) podemos, ou não, concluir que o aumento do grau do polinómio interpolador de Hermite implica uma diminuição do erro cometido ao aproximar a função por este polinómio Uma forma de minimizar o erro consiste na utilização de polinómios interpoladores de Hermite segmentados 243 Interpolação de Hermite segmentada Consideremos um intervalo [a, b] e uma partição dada por (21) Designemos por polinómio segmentado cúbico (ou função cúbica por segmentos) na partição dada por (21), uma função S contínua em [a, b] que, quando restringida a cada um dos intervalos [x i 1,x i ], i = 1,,n, da partição, coincide com um polinómio de grau menor ou igual a três Neste caso, dizemos que S P 1 3 ( ) Seja f uma função conhecida nos pontos da partição (21) Como se sabe, existe um e um só polinómio segmentado cúbico S H tal que S H (x i ) = f(x i ) S H (x i) = f (x i ), i = 0,1,,n Nestas condições, S H é chamado o polinómio interpolador (de Hermite) segmentado cúbico de f nos pontos de (21) Temos que S (1) H (x) x [x 0,x 1 ] S (2) H (x) x [x 1,x 2 ] S H (x) = S (i) H (x) x [x, i 1,x i ] onde S (i) H pode ser escrita na forma seguinte S (n) H (x) x [x n 1,x n ] S (i) H (x) = f(x i 1) + f (x i 1 )(x x i 1 ) + f[x i 1,x i 1,x i ](x x i 1 ) 2 +f[x i 1,x i 1,x i,x i ](x x i 1 ) 2 (x x i ) O que foi feito para S H P3 1( ) poderia ser generalizado para S H P2m+1 1 ( ), desde que se conhecesse a função f e a sua derivada nos pontos de e nos pontos intermédios x i (m j)/m ]x i 1,x i [, com j = 1,,m 1, i = 1,,n (Determine a expressão analítica de S H P2m+1 1 ( ) nas condições descritas) Vamos agora estudar o erro que se comete ao apoximar f por S H P2m+1 1 ( ) apresentando o seguinte teorema do erro, cuja demonstração resulta imediatamente do Teorema 222 Teorema 224 Seja f uma função com derivadas contínuas até à ordem 2m + 2 em ]a,b[, com m N Consideremos a partição dada em (21) e ainda os pontos x i (m j)/j, j = 1,,m 1, em cada intervalo ]x i 1,x i [, i = 1,,n Nestas condições, se S H P2m+1 1 ( ) oscula duas vezes com f os pontos de bem como os pontos intermédios x i (m j)/j, j = 1,,m 1, i = 1,,n, então f S H f(2m+2) (2m + 2)! max i=1,,n (w(i) ) 2 i,,

Interpolação polinomial de funções de uma variável 32 com (w (i) ) 2 i, = max x [x i 1,x i ] j=0 m x x i (m j)/m 2 Como é que poderemos construir uma base para o espaço P3 1 ( )? Para responder a essa questão, comecemos por notar que P3 1 ( ) é um espaço vectorial de dimensão 2n+2 Determinemos agora as funções {φ j } n j=0 e {φ j} n j=1 tais que, para todo o S H P3 1( ), S H (x) = ( f(xi )φ i (x) + f (x i )φ i (x) ) i=1 Consideremos φ i,φ i P3 1( ), i = 0,,n, tais que, para todo i,j = 0,,n, φ i(x j ) = δ ij, φ i (x j) = 0, φ i (x j ) = 0, φ i(x j ) = δ ij Prove que as funções φ i,φ i P3 1 ( ), i = 0,,n, pretendidas têm as seguintes expressões analíticas (prove): (x i x i 1 ) 2(x x i ) (x i x i 1 (x x ) i 1 ) 2 x [x i 1,x i ] φ i (x) = (x i x i+1 ) 2(x x i ) (x i x i+1 (x x ) 3 i+1 ) 2 x [x i,x i+1 ], i = 1,,n 1, e 0 x [a,x i 1 ] [x i+1,b] (x 0 x 1 ) 2(x x 0 ) (x 0 x 1 (x x ) 3 1 ) 2 x [a,x 1 ] φ 0 (x) =, 0 x [x 1,b] 0 x [a,x n 1 ] φ n (x) =, (x n x n 1 ) 2(x x n) (x n x n 1 (x x ) 3 n 1 ) 2 x [x n 1,b] (x x i )(x x i 1 ) 2 (x i x i 1 x [x ) 2 i 1,x i ] φ i (x) = (x x i )(x x i+1 ) 2 (x i x i+1 x [x ) 2 i,x i+1 ], i = 1,,n 1, 0 x [a,x i 1 ] [x i+1,b] (x x 0 )(x x 1 ) 2 (x 0 x 1 x [a,x ) φ 0 (x) = 2 1 ], 0 x [x 1,b] 0 x [a,x n 1 ] φ n (x) = (x x n)(x x n 1 ) 2 (x n x n 1 x [x ) 2 n 1,b] 244 Polinómios osculadores Para finalizar esta secção vamos generalizar o raciocínio efectado na obtenção do polinómio interpolador de Hermite para determinar polinómios que osculem os pontos de suporte mais do que duas vezes Suponhamos que, dada uma função f suficientemente diferenciável, queremos determinar um polinómio H N que verifique d j f dx j (x i) = dj H N dx j (x i ), i = 0,,n, j = 0,,r i (219) Quando tal situação acontece dizemos que f e H N são funções que r i -osculam (osculam r i vezes) o ponto x i, i = 0, 1, n Apresentemos o seguinte teorema sem demonstração

Interpolação polinomial de funções de uma variável 33 Teorema 225 Existe um único polinómio H N, de grau menor ou igual a N, com que satisfaz (219) N = n + r j, A determinação do polinómio referido no teorema anterior pode ser feita de forma análoga à do polinómio interpolador de Hermite Não iremos considerar o caso geral mas sim um exemplo elucidativo j=0 Exemplo 226 Seja f uma função definida num intervalo [a,b] e suponhamos são dados os valores f(a),f(b),f (a),f( b) e f (a) Determine o polinómio H 4 (x) que verifica H 4 (a) = f(a),h 4 (b) = f(b),h 4 (a) = f (a),h 4 (b) = f (b),h 4 (a) = f (a) Resolução: O polinómio H 4 (x) vai petencer ao espaço dos polinómios de grau menor ou igual a 4 Neste espaço as funções 1,(x a),(x a) 2,(x a) 3,(x a) 3 (x b), são linearmente independentes e portanto H 4 (x) = C 0 + C 1 (x a) + C 2 (x a) 2 + C 3 (x a) 3 + C 4 (x a) 3 (x b) Determinemos as constantes atendendo às condições impostas a este polinómio Atendendo a que H 4 (a) = f(a) vem C 0 = f(a) Atendendo a que H 4 (a) = f (a) obtemos C 1 = f (a) = f[a,a] Atendendo a que f (a) = H 4 (a) vem C 2 = f (a)/2 e que pode ser representado por f[a,a,a] De facto, comecemos por notar que e portanto Mas, f[a,a + h,a + h + k] = f(a + h + k) f(a + h) k = f[a + h,a + h + k] f[a,a + h] h + k f(a + h) f(a) h f(a + h + k) f(a + h) k, h + k = f[a,a + h,a + h + k](h + k) f(a + h) f(a) = f (a)h + ho(h), f(a + h + k) f(a + h) = f( a + h)k + ko(k), em que O(h) e O(k) denotam quantidades que convergem para zero com h e k respectivamente Substituindo vem f[a,a + h,a + h + k](h + k) = f (a + h) + O(k) f (a) O(h) Consideremos, na igualdade anterior o limite quando h 0,k 0 Existindo este limite, em particular existe quando h = k e deduzimos e portanto podemos considerar lim lim f[a,a + h,a + h + k] = f (a) h 0 k 0 2 f[a,a,a] = f (a) 2 De H 4 (b) = f(b) deduzimos uma expressão para C 3 e, facilmente se obtém, C 3 = f[a,a,a,b]

Interpolação polinomial de funções de uma variável 34 Considerando H 4 (b) = f (b) vem C 4 = f (b) f[a,a] 2f[a,a,a](b a) 3f[a,a,a,b](b a) 2 (b a) 3, e, tem-se C 4 = f[a,a,a,b,b] Substituindo, vem finalmente H 4 (x) = f(a) + f[a,a](x a) + f[a,a,a](x a) 2 +f[a,a,a,b](x a) 3 + f[a,a,a,b,b](x a) 3 (x b) O polinómio anterior pode ser construído utilizando a tabela das diferenças divididas para os seguintes pontos (y i,g(y i )),i = 0,,4, com y 0 = a,y 1 = a,y 2 = a,y 3 = b,y 4 = b e e atendendo a que g(y 0 ) = g(y 1 ) = g(y 2 ) = f(a), g(y 3 ) = g(y 4 ) = f(b) g[y 0,y 1 ] = f[a,a] = f (a) g[y 0,y 1,y 2 ] = f[a,a,a] = f (a)/2 g[y 2,y 3 ] = f[b,b] = f (b) g[y 3,y 4 ] = f[b,b] = f (b) De acordo com o efectuado no exercício anterior, apresentamos, de seguinda, um exemplo numérico Exemplo 227 Determine polinómio interpolador de uma função f para o suporte f(0) = 1, f (0) = 2, f(1) = 0, f (1) = 10 e f (1) = 40 Resolução: O polinómio pretendido pode ser determinado com a ajuda de seguinte tabela x i f(x i ) f[, ] f[,, ] f[,,, ] f[,,,, ] 0 1 2 0 1 3 1 6 1 0 9 5 10 11 1 0 20 10 1 0 Assim H 4 (x) = 1 2x + 3x 2 + 6x 2 (x 1) + 5x 2 (x 1) 2 = 1 + x[ 2 + x[3 + (x 1)[6 + 5(x 1)]]]