GRUPO 7.2 MÓDULO 7
Índice 1. A educação e a teoria do capital humano...3 2
1. A EDUCAÇÃO E A TEORIA DO CAPITAL HUMANO Para Becker (1993), quando se emprega o termo capital, em geral, o associa à ideia monetária, como conta bancária, ações de uma empresa, linhas de montagem etc. Não obstante, apesar de todas essas ideias serem formas de capital que, por sua vez, podem gerar retorno monetário por longos períodos de tempo, existem outras, sendo uma delas o capital humano, ou seja, produto do investimento no próprio indivíduo. Para explicitar o conceito de capital humano, Schultz (1961) afirma que seu conceito pode ser entendido como a característica mais distintiva do sistema econômico. Para o autor, apesar de ser óbvio que as pessoas adquirem habilidades e conhecimentos, não é tão óbvio que estas sejam uma forma de capital. Portanto, gastos diretos com educação, saúde, treinamento, migração para um melhor aproveitamento das oportunidades de trabalho, constituem formas de capital humano, e não capital físico ou financeiro, visto que não é possível separar a pessoa do seu conhecimento, das suas habilidades, da sua saúde ou dos seus valores. Nota-se, portanto, que não só a escolaridade é fator de capital humano, mas o treinamento no desempenho do cargo (experiência) e a migração são tidos como formas de capital humano. O treinamento como complemento da qualificação para o desempenho satisfatório de funções do cargo; a migração como um indicador de ambição pessoal, no qual o trabalhador dará o máximo de si para conseguir ingressar em boa situação ocupacional e maximizar os rendimentos do seu trabalho. Para Cacciamali e Freitas (1992), em mercado competitivo o indivíduo investe, entre outras dimensões, em escolaridade, treinamento, condições de saúde, como formas de elevar sua produtividade e, consequentemente, seu rendimento, até o ponto em que a taxa de retorno esperada se iguale a sua taxa de desconto intertemporal. Além do mais, as pessoas investem em educação porque sabem que um ano a mais de estudo propicia informações adicionais que as tornam mais produtivas. Nota-se, portanto, que a questão da produtividade está vinculada ao capital humano que, segundo Schultz (1961), é com posto por três variáveis que podem ser assim entendidas: o primeiro representa, sem dúvida, o principal fator de capital humano; o segundo representa uma proxy para o chamado on the job training; finalmente, o terceiro é comumente utilizado em análises sobre o efeito do capital humano, pois representa, entre outras coisas, uma proxy para o nível de ambição dos indivíduos. A elevação da produtividade deve ser vista principalmente nas duas primeiras variáveis. A maior produtividade geraria, portanto, maior rendimento para o empregador e, por isso, maior aceitação dos indivíduos qualificados no mercado de trabalho. Portanto, a teoria do capital humano mostra como a aquisição de status e as posições de ocupação são determinadas pelas características individuais. Mas afinal como se dá investimento em capital humano? Verificou-se que o pressuposto central da teoria é que se trata de algo que é produzido, isto 3
é, produto de decisões deliberadas quer seja em educação ou em treinamento, sendo que quanto à tomada de decisão acerca do assunto, os indivíduos agem racionalmente como qualquer empresário (Pereira, 2001). Desta forma, em todas as economias modernas, o grau de educação possuído por um indivíduo correlaciona-se positivamente com os rendimentos pessoais (Pereira e Almeida, 2000). Esse ponto de vista pode ser corroborado a partir do estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada a respeito do Brasil. O documento afirma que: (...) no Brasil, a partir da década de 1960, aparecem estudos dedicados a estimar os retornos aos investimentos em educação. Seus resultados são bastante consistentes entre si e não diferem muito daqueles obtidos em outros países. Sabe-se então com segurança que as pessoas com níveis mais altos de educação têm maior probabilidade de receber salários mais elevados. Esses resultados se repetem ao longo do tempo e mostram que em média, no Brasil, a cada ano adicional de estudo, tem-se acréscimo de renda de mais de 10%. E esse retorno está entre os mais elevados do mundo (Ipea, 2006, p.121). Nesta perspectiva, vê-se que o investimento em educação tem um bom retorno aos cidadãos. Segundo a teoria do capital humano, esse ponto de vista data da década de 1960. Para Blaug (1975, p.21) uma educação adicional elevará os rendimentos futuros, e, neste sentido, a aquisição de educação é da natureza de um investimento privado em rendimentos futuros. No olhar de Almeida e Pereira (2000), há uma nítida analogia entre a produtividade física do capital e a educação, justificando-se o tratamento analítico da educação como capital humano, posto que se torna parte da pessoa que a recebe. Todavia, a educação não está relacionada apenas à remuneração do indivíduo. Relaciona-se também com o desemprego. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em 2002, um indivíduo com nível médio incompleto, tinha 17,6% de probabilidade de estar desempregado. Por outro lado, ao completar o ensino médio, suas chances de desemprego caíam para 10,9%. E caso tivesse o superior incompleto, era de apenas 5,4%. Portanto, educação é também excelente seguro-desemprego (Ipea, 2006, p.121). Depreende-se, portanto, que investimento em capital humano é tanto um elemento qualitativo quanto quantitativo. Qualitativo no sentido de que o indivíduo adquire habilidades e conhecimentos que contribuem para o seu bem-estar, e quantitativo porque, ao adquirir essas habilidades, o indivíduo melhora sua produtividade, o que se reflete na sua renda real. Neste sentido, pode-se dizer que as habilidades permitem às pessoas tomarem decisões com mais consciência e ponderação, o que por sua vez traz benefícios indiretos à sociedade. O estudo do Ipea adverte que há, contudo, uma inferência da teoria do capital humano que é bem mais frágil. Observou-se uma forte tendência de tomar os benefícios individuais da educação e extrapolá-los para a sociedade. O perigo aqui é o que se denomina falácia de composição. O que é verdade para o indivíduo maior escolaridade implica mais renda pessoal pode não ser verdade para a sociedade como um todo. Ainda que se verifique que, em geral, quanto maior a escolaridade média de uma sociedade maior é o seu PIB, analistas mais cuidadosos concordam que não 4
se pode usar dados sobre indivíduos para afirmar que se todos tiverem mais educação, a economia crescerá, melhorando a renda de todos. Esse pode e parece ser o caso, mas não fica demonstrado pela extrapolação do individual para o macrossocial (Ipea, 2006). Embora a sugestão seja prudente, é notório que os investimentos em educação resultam em dois tipos de efeitos: sociais e privados. Os efeitos sociais são as externalidades decorrentes da educação de um indivíduo, que compreendem um vasto número de indicadores de uma sociedade (Pereira, 2001; Mcmahon, 2007). Por sua vez, os efeitos privados de uma elevação do nível de educação são os impactos exclusivamente sobre os indivíduos, resultantes de um aumento da sua capacidade produtiva e de um melhor estoque de qualificações que, mesmo sendo gerais, os posicionam em situações privilegiadas em relação àqueles que não os obtiveram (Pereira, 2001). Concorda-se com o autor, que na perspectiva do capital humano o investimento em educação e a aquisição de conhecimento e capacidades úteis à vida produtiva são resultados do investimento deliberado das pessoas em si mesmas, cuja finalidade é a formação e ampliação de seu capital humano, para obterem rendimentos cada vez mais elevados. Mas não é só isso, o fator preponderante para explicar o crescimento do PIB entre estados é o capital humano (Ipea, 2006). A cada ano adicional de escolaridade média da UF está associada uma elevação de 36% a 38% do PIB (Souza, 1999). Sabe-se, contudo, que algumas conjecturas podem ser feitas acerca da questão do investimento em educação. Uma hipótese bastante razoável é que hoje as restrições na quantidade, na qualidade e na distribuição da educação são severos condicionantes do crescimento. Mas expandir e melhorar a educação não serão suficientes para o avanço da economia e o desenvolvimento social. Isto ocorre porque há muitos outros fatores em jogo e qualquer um que se desarranje é suficiente para bloquear o desenvolvimento. Portanto, pode-se dizer que a educação é necessária, mas não suficiente para o crescimento, assim como o crescimento econômico é necessário, mas não suficiente para o desenvolvimento social. Todavia, acredita-se que por meio do valor econômico da educação como uma forma de investimento, procura-se, no presente trabalho, dar sustentação à tese de que um maior investimento em educação proporciona um melhor desenvolvimento social. 5