FORMAÇÃO CONTINUADA DE EDUCADORES DO CAMPO NO ENSINO DE GEOGRAFIA NO MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS-PB RESUMO SILVA, Genilson Oliveira Costa Graduando no Curso de Licenciatura em Geografia CFP/UFCG ggcostaesilva@gmail.com LORENZO, Ivanalda Dantas Nóbrega Di Prof. Dra no Curso de Licenciatura em Geografia CFP/UFCG ivanaldadantas@gmail.com Apresentamos reflexões acerca do Projeto de Formação Continuada de Educadores do Campo no Ensino de Geografia no Município de Cajazeiras, localizado na mesorregião do Sertão Paraibano, formação a qual, realizou-se entre os meses de maio a dezembro de 2015, junto a quinze educadores da disciplina de Geografia, de sete escolas do campo, através do Projeto de Extensão PROBEX 2015, do qual participaram cinco monitores, sendo um bolsista, educandos do curso de Licenciatura em Geografia, da Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Formação de Professores. O Projeto consistiu no desenvolvimento de dezesseis oficinas, um Encontro e uma Mostra Cultural acerca das temáticas sobre Educação do Campo e Ensino de Geografia, cuja propositura central foi discutir teoricamente, associando ao debate, a construção e a utilização de novas metodologias e linguagens e, recursos didáticos voltados ao ensino de geografia, capazes de atrair e promover a compreensão do espaço geográfico, tanto pelos educadores em formação, como pelos educandos da escola assistida e pelos próprios educandos monitores, em formação inicial. A formação continuada ocorreu de acordo com os princípios e práticas do Ensino de Geografia, visando à reorganização e execução do Projeto Político Pedagógico das escolas situadas no campo, do município de Cajazeiras, tomando como ponto de partida a atividade de extensão acadêmica, fortalecendo a formação docente dos estudantes bolsistas do curso de Licenciatura em Geografia. A organização desenvolvida na execução do Projeto constou da produção
documental em relatórios e diários, divulgados em redes sociais, além da criação de uma página no facebook para interatividade num público mais abrangente. Ao envolver a pesquisa e a extensão, fundamentou- se na perspectiva qualitativa de pesquisa-ação e no desenvolvimento de linguagens de ensino diferenciadas e diversificadas, a exemplo de trabalho de campo, imagens, vídeos, gravação, dentre outros. Os resultados obtidos demonstraram a importância e a validade do Projeto tendo em vista o desenvolvimento tendo como meta a construção do conhecimento dos saberes e ampliação da capacidade dos processos de promoção do ensino-aprendizagem. Palavras-chaves: Formação Continuada Ensino de Geografia Educação do Campo. 1. INTRODUÇÃO No mundo moderno, palco de grandes mudanças, a partir das relações entre homem e natureza aliado as próprias relações sociais acaba por desenvolver uma dinâmica bastante característica apresentada pelo sistema globalizado, mas não includente. Tendo em vista essa realidade nem sempre se percebe o espaço escolar como um espaço político capaz de acompanhar a dinâmica da sociedade. A escola pública ou os centros educacionais acabam por aderir concepções baseadas nas necessidades da sociedade como sistema, guiados pelo princípio da educação para o mundo do trabalho e, não como necessidade do próprio indivíduo. Contrária a essa perspectiva, as experiências aqui registradas foram obtidas por meio da vivência do Programa PROBEX, intitulado: FORMAÇÃO CONTINUADA DE EDUCADORES DO CAMPO NO ENSINO DE GEOGRAFIA NO MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS- PB, tendo sido coordenado pela Prof. Dra. Ivanalda Dantas Nóbrega Di Lorenzo, junto a cinco alunos da Universidade Federal de Campina Grande, do curso de Licenciatura em Geografia, do Centro de Formação e Professores. Projeto esse que teve inicio de suas atividades no mês de maio de 2015 tendo como culminância final no mês de dezembro do mesmo ano com o desenvolvimento de dezesseis oficinas, um encontro e uma Amostra Cultural, participando 15 Educadores de
sete escolas do campo da rede pública do Ensino Fundamental, e da Secretária de Educação do município de Cajazeiras, situado na mesorregião do Sertão Paraibano. O objetivo geral do Projeto foi realizar a formação continuada de educadores/as de acordo com os princípios e práticas do Ensino de Geografia, no que diz respeito à Educação do Campo, com vistas à reorganização e execução do Projeto Político Pedagógico das escolas situadas no campo do município de Cajazeiras PB, tomando como ponto de partida a atividade de extensão acadêmica, fortalecendo a formação docente dos estudantes bolsistas do curso de Licenciatura em Geografia. Dentre os objetivos específicos destacamos a promoção de encontros de formação continuada para os professores do Ensino Fundamental das Escolas do Campo do município de Cajazeiras. PB, para promoção e melhoria do processo ensino-aprendizagem em Geografia nela desenvolvidos, como também, provocar a reflexão sobre a prática pedagógica, envolvendo a ação-reflexão-ação, relacionando com os pressupostos da educação popular do campo em uma relação dialógica e transdisciplinar, além de oportunizar estudos sistemáticos sobre a Educação do Campo e o Ensino de Geografia a partir das Diretrizes Operacionais da Educação Básica do Campo e do Decreto nº 7.352, de 4/11/2010, e das Diretrizes Curriculares Nacionais, de acordo com a LDBEN Nº 9.394/96 visando contribuir para o Projeto Político Pedagógico da escola e a promoção dos saberes dos sujeitos educandos. A formação incluiu o debate sobre as temáticas, Educação do Campo e Ensino de Geografia, com a proposta de discuti-las teoricamente, para que a partir do debate houvesse a construção e utilização de novas metodologias e linguagens nas aulas de Geografia, no objetivo de tornar atrativa e compensatória compreensão do espaço geográfico, pelos educadores em formação e os educandos, levando em conta o que Paulo Freire defende ao afirmar que para ensinar primeiro tem que aprender. 2. O ENSINO DE GEOGRAFIA NA PERSPECTIVA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
No campo jurídico, os primeiros passos realizados no que diz respeito à educação rural no Brasil, remete- se aos primeiros anos do século XX, período este em que ocorria na sociedade discussões em relação à importância da educação para conter o movimento migratório e, principalmente elevar a produtividade do/no campo. Conforme as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo (BRASIL, 2013, p. 267), A educação do campo tratada como educação rural na legislação brasileira, tem um significado que incorpora os espaços da floresta, da pecuária, das minas e da agricultura, mas os ultrapassa ao acolher em si os espaços pesqueiros, caiçaras, ribeirinhos e extrativistas. O campo, nesse sentido, mais do que um perímetro não- urbano, é um campo de possibilidades que dinamizam a ligação dos seres humanos com a própria produção das condições da existência social e com as realizações de sociedade humana. O Art. 28 da LDB propõe que haja medidas de adequação da escola à vida do campo, pensando justamente nos indivíduos que estão sendo educados visando compreender e valorizar os saberes, a cultura e a diversidade dos sujeitos do campo, pois segundo Kolling, Néry e Molina (1999, p. 92), educação do campo é: Identificar e resgatar os valores culturais que caracterizam os povos do campo e que são considerados essenciais para o desenvolvimento da cidadania [...], entre estas, a relação com a natureza (p.79). Sendo que A escola é um lugar privilegiado para manter viva a memória dos povos, valorizando saberes [...]. Ao apresentarem essas idéias estes autores fazem um resgate no que diz respeito aos valores culturais dos indivíduos, possibilitando assim a preservação da memória do povo camponês, fazendo valer as práticas de cuidado e manejo com o ambiente e o respeito ao modo de vida camponês. Pensar a educação do campo implica no processo de ensino direcionado de acordo com a realidade do discente, no intuito de ligar o que é visto na sala de aula com seu cotidiano. A legislação das Diretrizes operacionais (BRASIL, 2013, p. 267) orienta que a educação do campo vai além dos espaços da floresta, permeando vários espaços,
possibilitando a ligação entre os próprios sujeitos com o meio, com a natureza, e em seguida com o espaço geográfico. De acordo com esta legislação Por sua vez, ainda afirma que: A partir de uma visão idealizada das condições materiais de existência na cidade e de uma visão particular do processo de urbanização, alguns estudiosos consideram que a especificidade do campo constitui uma realidade provisória que tende a desaparecer, em tempos próximos, face ao inexorável processo de urbanização que deverá homogeneizar o espaço nacional. Também as políticas educacionais, ao tratarem o urbano como parâmetro e o rural como adaptação reforçam essa concepção. Logo, percebe- se que esse modelo de educação é fomentado pelo próprio processo de urbanização que vem tornando os espaços homogêneos. E como identificado antes, é visto como uma realidade provisória que tem possibilidades de inexistir. Até a década de 1970 o Brasil foi considerado como um país eminentemente agrário, dominado assim por grandes latifúndios subsidiado pela exploração dos povos do campo, iniciando com o trabalho escravo, a priori, onde muitos autores atribuem à característica de agroextrativista exportador. E mesmo assim, ou quem sabe por isso, a educação rural nunca se fez importante sua discussão. Portanto, percebemos que os indivíduos precisam entender o meio em que vivem como esse mesmo espaço pode lhes proporcionar a maximização na produção. O desafio do professor das escolas do campo, especificamente, baseia-se no construir o conhecimento e mais, em que o aluno irá desenvolvê-lo. Partindo disso é importante pensar a educação como um processo de formação, na qual haja aprendizagem significativa. Portanto, é importante que se haja o direcionamento dos olhares para o espaço em que vivem com possibilidades dos mesmos intervirem ao entenderem a relação teoria-prática de forma efetiva no lugar em que há suas relações sociais. Contudo, de acordo com o autor Christóffoli (2006), ao referir-se a educação do campo, a escola do campo tem como objetivo principal preparar os sujeitos que vivem no campo e querem melhorar sua condição de vida no meio rural, interesses esses que
envolvem a política, a cultura e a economia dos diversos grupos de trabalhadores do campo. 3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COMO PROPOSTA DE INOVAÇÃO METODOLÓGICA NO ENSINO DE GEOGRAFIA A convivência entre estudantes de graduação em formação inicial Superior e os profissionais docentes na escola, durante a formação continuada promoveu espaços de trocas e construção de conhecimentos capazes de fortalecer a práxis docente e a formação profissional docente. O significado de estar em meio aos profissionais experientes, visto que os mesmos relatavam acontecimentos da prática cotidiana docente. Portanto, desde as primeiras oficinas os alunos participantes do Projeto foram advertidos que durante todo o tempo de vigência haveria a atuação na qual houvesse uma troca de conhecimentos e experiências, realizando a ponte dos saberes, com a proposta de construir um conhecimento que partindo do compartilhamento seja útil não só na vida dos educadores, mas na vida dos próprios educandos, inclusive dos próprios graduandos. Nos momentos de planejamento e realização de atividades que corroborassem para inovar não só os momentos de encontro com os professores, mas principalmente a aula dos mesmos nas escolas, buscou-se utilizar metodologias que possibilitassem uma aprendizagem por meio do lúdico, que sem dúvidas fornecem subsídios para que os educadores aperfeiçoem sua visão de mundo na própria arte de ensinar. Assim, a metodologia desenvolvida no Projeto contemplou-se o desenvolvimento de ações com uso de recursos e linguagens diferenciadas como o vídeo, jogos eletrônicos, cartazes, trabalhos de campo, pintura, teatro, música, dentre outros. Ainda nos momentos de formação, buscava- se iniciar os encontros com dinâmicas referentes á temática escolhida para o dia. Pensava- se que além de dinamizar também fornecia novas ideias para os educares. E, como processos de produção de materiais acadêmicos apresentamos artigos científicos em eventos que versavam sobre o eixo temático Educação, como também
exposições de fotografias referentes às atividades realizadas durante todo o ano de vigência do projeto. Igualmente, foram desenvolvidas mídias eletrônicas para informação sobre o Projeto e a construção de relatórios a cada encontro realizado, seja nos grupos de estudos, seja nos encontros de formação continuada. Quanto as questões relacionadas á interdisciplinaridade no ensino de Geografia nas escolas, como também o de outras disciplinas, como a Matemática, a Biologia, a História e outras, acaba por se tornar um verdadeiro desafio para os profissionais da educação, em função da necessidade de acompanhar as exigências da sociedade atual, especialmente quando os planos educacionais e os Organismos Multilaterais permeiam a idéia da educação para o mundo do trabalho. Nos momentos de planejamento foram discutidas possibilidades de inovar as aulas tornando-as mais atrativas, no intuito de que os mesmos atuassem em suas escolas de maneira inovadora e, além de tudo, proveitosa, no caso de Geografia, por meio do uso das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) como o computador e, mesmo sabendo das limitações de cada educador e escolas participantes, levando em conta seus locais de atuação, buscou-se desenvolver essas atividades em outros espaços como a Universidade e a Escola Básica, além da utilização de espaços da Secretaria de Educação do Município destinados à realização dos encontros de formação. Nesse encontro um dos desafios observados verificou-se na dificuldade que os Educadores apresentavam ter ao estar em frente a um computador. Uns não tinham controle sobre o mouse, outros ainda não sabiam realizar pesquisas na internet, em fim, sendo necessária a intervenção em muitos momentos, para esclarecer dúvidas, fato esse que se reflete em muitas cidades, em muitas escolas, no cotidiano de muitos professores. Além disso, foi estimulada a produção de material didático como seleção de textos que corroborassem para o ensino de geografia, como também o uso de maquetes na representação de espaços diversos. Assim, discutimos os conhecimentos geográficos, outras áreas do saber. Nos textos trabalhados foram expostos os conteúdos referentes ás categorias da Geografia, sempre no intuito de fomentar a ligação entre o espaço de vivência do alunado ao que é visto na sala de aula. E de maneira lúdica, a busca pela
excelência na construção do conhecimento tem de ser entendida primeiramente, por parte dos que fazem parte da educação, para então assim a informação que é veiculada nesse sistema globalizado possa não apenas informar, mas gerar conhecimento. Ainda, foi trabalhado com os educadores, o trabalho de campo, visando á construção de um conhecimento seguro. Sendo entendido que não é preciso deslocar-se para muito distante da escola para se ter uma boa aula. Logo, os mesmo entendem que o laboratório das aulas de Geografia é o mundo que os cerca, visto isso, o que muitas vezes falta é o incentivo, como também a própria educação tradicional, que se sente ligada somente ao livro didático. Logo, é importante resaltar que o uso do livro é de fundamental importância no processo de ensino e aprendizagem, porém, seu uso unicamente não possibilita que o aluno construa o conhecimento desejado. 4. CONSIDERAÇÕES O Projeto PROBEX, a partir do Projeto Formação Continuada de Educadores do Campo no Ensino de Geografia do Município de Cajazeiras, possibilitou troca de conhecimentos e experiências contributivas à prática docente. O mesmo desencadeou mudanças na perspectiva de ver o processo de ensino e aprendizagem, podendo intervir de maneira mais significativa na construção do conhecimento, logo, ao ansiar por uma educação não mais tradicional, entendemos o lúdico como ferramenta que amplia o campo da produção do conhecimento e, não mais na memorização, na forma de ensino que não tem pretensões sérias e precisas no decorrer dos Anos Iniciais. Portanto, essa vivência baseou-se na troca de conhecimentos, seja por parte dos educadores em formação, seja pelos educandos graduandos participantes como monitores no Projeto. Considerando a importância de uma educação que pense e trabalhe na perspectiva multidisciplinar as experiências vivenciadas foram importantes na formação de graduandos considerando a relevância dos temas discutidos e das trocas consolidadas. 5. REFERÊNCIAS
WIZNIEWSKY, Carmen Rejane Flores.; MOURAD, Leonice Aparecida de Fátima Alves, organizadoras. Educação, Memória e Resistência Popular na Formação Social da América Latina Porto Alegre: 1º Ed. Evangraf, 2016. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Brasília, DF, 2013. CHRISTÓFFOLI, Pedro Ivan. Produção pedagógica dos movimentos sociais e sindicais. In Molina, Mônica Castagna. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Agrário Educação do Campo e Pesquisa: questões para reflexão. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2006.