Sumário Introdução...9 Grécia...13 As primeiras civilizações da Grécia antiga...13 Das ruínas de Micenas a uma nova civilização...20 A civilização grega propriamente dita : séculos VIII-VI a.c....25 A vida na Grécia antiga...45 A religião e seus mitos...60 O pensamento racional...65 A arte grega...74 Das cidades-estados gregas aos impérios helenísticos...80
Roma...85 A Roma antiga: cidade e Estado...85 Como conhecer o mundo romano?...86 As origens: lendas e história...88 A República...91 A expansão romana...94 A sociedade romana...104 A vida cotidiana...122 A religião...127 A cidade romana...129 A cultura...132 Transformações no mundo romano...139 A Antiguidade tardia...145 Sugestões de leitura...149 Linha do tempo...151 Agradecimentos...155
Introdução Estamos imersos nas referências à cultura clássica, da Grécia e de Roma antigas, mesmo sem nos darmos conta. Um exemplo simples: palavras e expressões como mito, labirinto, república, democracia, senado, Édipo, Vênus, sorte lançada, entre muitas outras que fazem parte de nosso cotidiano, são heranças dos antigos gregos ou romanos. Determinados costumes, tradições e maneiras de pensar que norteiam nossas vidas hoje também se originam da Antiguidade Clássica. Não há estudante de Matemática que passe sem o teorema de Pitágoras. Não há filósofo que não conheça Platão e Aristóteles. O Juramento de Hipócrates tradicionalmente faz parte da solenidade de formatura dos médicos que prometem praticar a medicina honestamente. Muitos elementos da cultura pop filmes, games, animações, romances históricos bebem nas fon-
10 GRÉCIA E ROMA tes antigas, falam de gladiadores, imperadores romanos, deusas gregas, musas, César, Cleópatra, Cupido... e fazem grande sucesso porque continuam interessantes nos dias de hoje. Museus e exposições dedicados ao tema ao redor do mundo seguem atraindo filas de visitantes. E quem não admira os Jogos Olímpicos? Este livro leva o leitor a conhecer melhor esses povos antigos que tanta influência tiveram, e ainda têm, na civilização ocidental. Ele também quer ser um estímulo para que o leitor possa ir além e pesquise outras obras sobre o fascinante mundo dos gregos e romanos. Assim, optei por uma sequência histórica clara e por tratar de aspectos essenciais e recorrentes a respeito da Antiguidade Greco-Romana, dando destaque aos elementos que permanecem importantes para nós, hoje em dia. Aqui, apresento a trajetória das civilizações helênicas mais antigas e seu contato com o Oriente, o período obscuro, o auge clássico, o helenismo na encruzilhada de três continentes: Europa, Ásia e África. Em seguida, falo de Roma desde as origens, a República, sua crise e guerras civis, o Império, ascensão do cristianismo e o surgimento de uma nova era, a Antiguidade Tardia. Acompanhando a narrativa histórica, lembro alguns dos grandes tesouros culturais da arquitetura, da mitologia, da religiosidade, da literatura, do direito, sem me esquecer da vida cotidiana, dos saberes e dos sentimentos de nossos antepassados. Procuro também mostrar, neste livro, aspectos e temas que estiveram por um bom tempo fora da tradição historiográfica relativa ao mundo antigo, como é o caso das mulheres ou dos humildes. A cultura clássica antiga ainda está conosco por diversos motivos, dentre eles por ter sido revisitada e recriada, de tempos em tempos, ao longo da história. Assim, não é exagero dizer que não podemos compreender bem os períodos posteriores sem ter pelo menos uma noção do que foi a Antiguidade Clássica. A Idade Média (séculos V-XV) e o início da Era Moderna testemunharam grandes momentos de muito interesse pela cultura antiga, chamados de renascimento. O primeiro foi na época de Carlos Magno (747-814), quando autores latinos foram muito lidos e copiados, inspirando fortemente a produção literária da época carolíngia. De fato, a maior parte dos textos latinos que chegaram até nós foi copiada nessa época. No século XII, auge do medievo, houve novo retorno aos antigos, dessa vez com os aportes da literatura grega, seja de forma direta (vinda de Bizâncio), seja por meio da leitura das traduções árabes de autores gregos antigos. O Renascimento dos séculos XIV a XVII foi, contudo, o momento de retomada cultural mais ampla
INTRODUÇÃO 11 dos antigos, a partir de uma abertura maior para a literatura politeísta e para as artes greco-latinas, produzindo criações literárias e artísticas com vínculos diretos com a Antiguidade Clássica. De Michelangelo a Shakespeare, do rio das amazonas (guerreiras da mitologia clássica) à literatura do padre Vieira, há uma grande proximidade com o mundo greco-romano. Além desses períodos de retomada explícita do mundo antigo, há na História muitas releituras e interpretações posteriores; algumas seguem marcantes em pleno século XXI. O mais íntimo do ser humano seus sentimentos, desejos e frustrações tem sido pensado à luz da tragédia grega, da literatura erótica latina e grega, das artes antigas e de suas representações. A obra de Freud é um caso bem conhecido, mas muitos outros pensadores influentes também beberam nas fontes clássicas. Karl Marx se doutorou com uma tese sobre Demócrito e usou muito de seu conhecimento sobre gregos e romanos para pensar sobre questões sociais. Movimentos proletários do passado se inspiraram na revolta de Espártaco. No campo da ciência, Epicuro está na base da teoria da Física Quântica! Pensando no contexto brasileiro, vemos que, por exemplo, a religiosidade marcada por variadas manifestações de fé tem forte relação com a Antiguidade. O cristianismo, em quaisquer de suas denominações, remete ao Mediterrâneo antigo, em particular aos pensamentos paradigmáticos de São Paulo e Santo Agostinho, ambos os personagens devedores da cultura greco-romana, sem a qual não teriam desenvolvido suas ideias. Já o sincretismo bem brasileiro entre a religiosidade cristã e os influxos indígenas e africanos pode ser mais bem compreendido à luz do conhecimento da mescla cultural que prosperou no mundo helenístico e romano (e que deu origem ao próprio cristianismo, também resultado de mistura). Estudiosos que procuraram pensar o Brasil e os brasileiros, como Raymundo Faoro e Darcy Ribeiro, demonstraram, de um modo ou de outro, que nossa vida social também está imbuída de conceitos e valores ancorados na Antiguidade. O grande historiador Sérgio Buarque de Holanda, por exemplo, cunhou a expressão homem cordial, aquele que baseia suas relações nos afetos do coração, para destacar que nossos relacionamentos pessoais são marcados, tanto na vida privada como na pública, pelo nexo familiar e pelos laços de compadrio. Esse tipo de questão aparece neste livro. O primeiro objetivo da obra consiste em tornar mais conhecido o que sentimos sem muitas vezes perceber: a presença da cultura greco-
12 GRÉCIA E ROMA romana na atualidade, no mundo e no Brasil. Mas um segundo objetivo, igualmente importante, é destacar justamente as diferenças entre presente e passado. O fascínio da História está não só em nos encontrarmos em outros tempos e lugares, mas também em, no contato com o distinto, com o que nos causa estranheza, admiração ou ojeriza, recordarmos que somos humanos, com uma imensa variedade de comportamentos e costumes. Por isso mesmo procurei mostrar, nas páginas que se seguem, também aquilo que chama a atenção pelo inusitado ou curioso. Semelhanças e diferenças nos levam a compreender melhor nossa própria humanidade. Os antigos nos servem como advertência: somos humanos, porque somos diferentes. Outras espécies de animais comportam-se mais ou menos da mesma maneira, sem grande diferença no tempo ou no espaço. Os humanos são filhos da cultura e não podem ser desvencilhados dela. Cada uma tem sua riqueza e nos ensina que não há comportamentos naturais, mas aqueles que dependem sempre de uma cultura específica, desenvolvida em circunstâncias temporais e espaciais determinadas. Este livro é, pois, um convite, leitor, para que você se aprofunde e se encante pela Antiguidade grega e romana. * Procurei dar conta nesta obra do grande crescimento da produção brasileira sobre o mundo clássico, ainda que de maneira muito parcial. A publicação de traduções de autores gregos e latinos aumentou muito nos últimos anos e, hoje, já podemos ler muitos dos principais clássicos em português. A formação de estudiosos expandiu-se, de modo que há toda uma literatura especializada que tem sido publicada em livros e revistas, tanto no Brasil, como no estrangeiro. Tentei dar mostra dessa riqueza de produção com a inclusão de títulos de livros publicados por brasileiros. Isso demonstra a maturidade da pesquisa no Brasil e permite ao leitor aprofundar-se nos mais variados aspectos da História Antiga, pelas mãos dos nossos próprios concidadãos. São muitas as obras interessantes e dei apenas um gostinho disso; em cada uma delas há muitas dicas mais.