HIDROCELE ABDOMINOESCROTAL GIGANTE EM LACTENTE - RELATO DE CASO

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HIDROCELE ABDOMINOESCROTAL GIGANTE EM LACTENTE - RELATO DE CASO RESUMO Revista UNILUS Ensino e Pesquisa v. 14, n. 36, jul./set. 2017 ISSN 2318-2083 (eletrônico) SAMARA PIGHINELLI ÁZAR MAYARA DE NAPOLI SILVA THAMIRES PELIN AKAMA RAFAELA BELLETTI LUCIANE BASTOS FERNANDES DE OLIVEIRA ADRIANE SAKAE TSUJITA Introdução: Hidrocele abdominoescrotal gigante (HAG) consiste em massa intraabdominal associada a grande hidrocele escrotal e é diagnosticada através do exame físico e ultrassonografia (USG). O tratamento preconizado é cirúrgico (hidrocelectomia). Caso clínico: Lactente 4 meses com abaulamento em região inguinal direita aos choros. Ao exame físico, hidrocele grande tensa à direita, anel inguinal interno livre e ausência de testículo à palpação de região inguinoescrotal esquerda. USG evidenciou hidrocele à direita e testículo esquerdo não visualizado. Submetido à laparoscopia diagnóstica. Discussão: No caso elucidado, o diagnóstico de HAG foi confirmado via laparoscopia, procedimento também essencial para investigação diagnóstica da distopia testicular esquerda. Conclusão: A hidrocele abdominoescrotal é rara e seu diagnóstico deve inferir procedimento operatório eletivo. Palavras-Chave: Hidrocele Abdominoescroal Gigante; Laparoscopia Diagnóstica; Hidrocelectomia. GIANT SCROTAL ABDOMINO HYDROCELE IN INFANTS ABSTRACT CASE REPORT Introduction: Giant abdomino-scrotal hydrocele (ASH) consists of intra-abdominal mass associated with large scrotal hydrocele and is diagnosed through physical examination and ultrasound. The surgical treatment is recommended (hydrocelectomy). Clinical case: Infant 4 months with bulging in the right inguinal region when crying. At the physical examination, large and tense hydrocele to the right, free internal inguinal ring and absence of testis to the palpation of the left inguino-scrotal region. USG showed hydrocele to the right and left testicle not visualized. Underwent diagnostic laparoscopy. Discussion: In the case elucidated, the diagnosis of ASH was confirmed via laparoscopy, a procedure also essential for diagnostic investigation of left testicular dystopia. Conclusion: Abdominosescrotal hydrocele is rare and its diagnosis must infer elective operative procedure. Keywords: Giant Hydrocele Abdominoescroal; Diagnostic Laparoscopy; Hydrocelectomy. RITA DE CÁSSIA FERNANDES SIMÕES Recebido em outubro de 2017. Aprovado em novembro de 2017. Revista UNILUS Ensino e Pesquisa Rua Dr. Armando de Salles Oliveira, 150 Boqueirão - Santos - São Paulo 11050-071 http://revista.lusiada.br/index.php/ruep revista.unilus@lusiada.br Fone: +55 (13) 3202-4100 Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 14, n. 36, jul./set. 2017, ISSN 2318-2083 (eletrônico) p. 294

SAMARA PIGHINELLI ÁZAR, MAYARA DE NAPOLI SILVA, THAMIRES PELIN AKAMA, RAFAELA BELLETTI, LUCIANE BASTOS FERNANDES DE OLIVEIRA, ADRIANE SAKAE TSUJITA, RITA DE CÁSSIA FERNANDES SIMÕES INTRODUÇÃO Hidrocele é acúmulo de líquido entre os folhetos da túnica vaginal testicular, podendo ser classificada em comunicante ou não comunicante. A comunicante é resultado da falha no fechamento do processo vaginal, mantendo um pertuito entre a cavidade peritoneal e a túnica vaginal testicular que permite assim a passagem de líquido peritoneal para o interior da túnica vaginal testicular e vice-versa. Na não comunicante, não há persistência do conduto peritoneovaginal e o líquido que se acumula é produzido pela própria túnica vaginal. A Hidrocele abdominoescrotal gigante (HAG) é uma entidade rara e apresentase como uma massa intra-abdominal associada a uma grande hidrocele escrotal. Constitui a evolução de uma hidrocele não comunicante que, devido ao aumento progressivo da pressão no interior da túnica vaginal, aumenta em direção cranial, distendendo as paredes do processo vaginal parcialmente patente que se obliterou em sua porção mais cranial, e estendendo-se para o espaço abdominal extraperitoneal. O diagnóstico pode ser feito pelo exame físico com palpação de massa abdominal em contiguidade com a hidrocele, confirmado ao exame radiológico como ecografia (ultrassonografia - USG). O tratamento preconizado para esta doença é cirúrgico, com hidrocelectomia.¹ CASO CLÍNICO Lactente de 4 meses diagnosticado com hidrocele congênita gigante caracterizada por abaulamento em região inguinal direita aos choros. Foi encaminhado pelo pediatra para o ambulatório de cirurgia pediátrica para avaliação e seguimento. Ao exame físico, detectou-se hidrocele grande tensa à direita, com anel inguinal interno livre e ausência de testículo à palpação de região inguino-escrotal esquerda. O exame ultrassonográfico evidenciou hidrocele à direita e testículo esquerdo não visualizado. O paciente foi submetido a cirurgia eletiva e durante indução anestésica foi palpada massa cística intrabdominal em contiguidade com a hidrocele à direita, sugerindo hidrocele abdominoescrotal. Foi realizada punção em bolsa testicular direita, afim de se evitar complicações devido à introdução dos trocaters em região abdominal, com retirada de 200ml de liquido amarelo citrino. Iniciado procedimento operatório por laparoscopia diagnóstica que identificou grande tumoração cística com parede espessa proveniente do anel inguinal direito adentrando a cavidade abdominal (hidrocele à direita). Visualizado Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 14, n. 36, jul./set. 2017, ISSN 2318-2083 (eletrônico) p. 295

HIDROCELE ABDOMINOESCROTAL GIGANTE EM LACTENTE - RELATO DE CASO GIANT SCROTAL ABDOMINO HYDROCELE IN INFANTS CASE REPORT ducto deferente esquerdo em seu trajeto anatômico habitual através de anel inguinal profundo juntamente com os vasos espermáticos rudimentares, optado por exploração da região inguinal esquerda. Realizado incisão transversa em região inguinal direita, abertura por planos anatômicos, apreensão de hidrocele com dissecção inferior e liberação completa desta ao dartos em escroto. Feito dissecção superior da hidrocele através do anel inguinal profundo (AIP) direito e realizado a redução completa da hidrocele abdominal para a região inguinal. Após apreensão da parede da hidrocele intrabdominal através do AIP e da ressecção de sua membrana, observou-se um testículo alongado sendo realizado biópsia e inversão da túnica vaginal com Vicryl 5.0. Fixação subdártica testicular à direita. Exploração de região inguinal esquerda, diagnosticado testículo atrófico. Realizada orquiectomia esquerda. O anatomopatológico do fragmento do testículo direito evidenciou testículo pré-pubere sem sinais de malignidade, enquanto que do testículo esquerdo mostrou ausência de tecido testicular viável e ausência de sinais de malignidade. Paciente evoluiu com boa resposta operatória, recebendo alta hospitalar após dois dias de internação. DISCUSSÃO A hidrocele abdominescrotal gigante (HAG) foi descrita pela primeira vez em 1834 por Dupuytren², sendo que o primeiro caso na população pediátrica foi relatado por Syme³ somente em 1861. Bickle 4 foi, no entanto, o responsável por nomear tal condição somente em 1919. Algumas teorias foram levantadas em relação ao seu mecanismo de formação. Dupuytren propôs que a pressão excessiva da hidrocele inguino-escrotal faz com que parte dela se estenda e forme seu componente intra-abdominal². Uma segunda teoria propõe que a alta pressão intra-escrotal da hidrocele faz com que o conduto vaginal desenvolva uma espécie de válvula na altura do anel inguinal interno 5. A terceira diz que o componente abdominal é formado por um divertículo peritoneal, ou por um defeito da região inguinal profunda 6,7. Outros autores como Sasidharan et al8 acreditam que a hidrocele abdominal se estenda para a região inguinal devido ao aumento da pressão desta hidrocele. A incidência de hidrocele abdominoescrotal entre as crianças varia de 0,17 a 3,1% entre todos os casos de hidrocele 5. Embora exista cerca de 80 casos que foram relatados na literatura desde 20009, o número de relatos de HAG vem aumentando recentemente devido ao amplo uso da USG na avaliação do aumento da bolsa testicular. Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 14, n. 35, abr./jun. 2017, ISSN 2318-2083 (eletrônico) p. 296

SAMARA PIGHINELLI ÁZAR, MAYARA DE NAPOLI SILVA, THAMIRES PELIN AKAMA, RAFAELA BELLETTI, LUCIANE BASTOS FERNANDES DE OLIVEIRA, ADRIANE SAKAE TSUJITA, RITA DE CÁSSIA FERNANDES SIMÕES Várias complicações de HAG foram relatadas na literatura como hidroureteronefrose 10, linfedema 11, dismorfismo testicular 12 e apendicite 13. Há poucos relatos sobre a associação de HAG com testículos retidos. O diagnóstico é baseado no exame físico e na presença de hidrocele escrotal que se estende para a cavidade abdominal, formando assim uma massa abdominal, ambos de característica cística 14. No exame bimanual, a compressão da hidrocele leva ao aumento de seu componente abdominal, e a compressão abdominal leva ao aumente de seu componente escrotal. A redução manual do componente escrotal resulta em uma redução temporária do tamanho da hidrocele. Contudo o tamanho inicial da mesma pode ser reestabelecido através da transferência do conteúdo abdominal para a região escrotal, fenômeno conhecido como 15 A ultra-sonografia (USG) geralmente é suficiente para confirmar a suspeita inicial da presença de HAG e é útil para detectar patologias testiculares associadas. Tomografia computadorizada (TC) ou ressonância nuclear magnética (RNM) podem ser usados para demonstrar o componente abdominal da HAG em casos em que exista dúvida diagnóstica. Embora o diagnóstico diferencial mais comum seja hérnia inguinal indireta 14, deve-se considerar também neoplasia testicular, outros tipos de hidrocele, cisto epididimal, epididimite, torção testicular e hematoma16. Deve-se ainda diferenciar de tumores císticos abdominais da criança, em casos de massas que se estendem para o espaço retroperitoneal e região do hipogástrio. Nos casos de HAG, a correção cirúrgica é o tratamento de escolha. Sua indicação precoce se faz necessária pelo risco de traumas por compressão nas estruturas da região inguinal e escrotal 16, reduzindo o potencial de dismorfismo testicular. 17 Não existe consenso sobre a melhor abordagem cirúrgica e técnica apropriada. Várias técnicas cirúrgicas foram descritas para o tratamento da ASH, como a abordagem abdominal, escrotal inguinal ou combinadas. A laparoscopia é um importante artifício para pacientes com outras anomalias como testículos contralaterais não palpáveis ou hérnias inguinais recorrentes. Excisão completa do saco da hidrocele é recomendada para evitar a recorrência. 18 Crianças com HAG não complicada ou que apresentam alto risco cirúrgico podem seguir seguramente com tratamento conservador, através de exame físico periódico e exames ultrassonográficos. 14 Como complicações do tratamento cirúrgico há transecção do ducto deferente14 e hematoma escrotal. 19 No caso relatado o diagnóstico de hidrocele abdominoescrotal foi confirmado no intra-operatório através da laparoscopia, procedimento também essencial para investigação diagnóstica da distopia testicular esquerda. Acredita-se que durante acompanhamento pré-operatório o provável aumento progressivo da pressão no interior da túnica vaginal em direção cranial, estendendo-se para o espaço abdominal extraperitoneal tenha dado origem a hidrocele abdominoescrotal. CONCLUSÃO A hidrocele abdominoescrotal é uma forma rara de apresentação e seu diagnóstico deve inferir procedimento operatório eletivo, porém, o mais precoce possível, pelo risco de lesões traumáticas de estruturas do cordão espermático. REFERÊNCIAS 1. MEDEIROS, A.S.O.L et al. (2015) Hidrocele Abdominoescrotal Gigante Bilateral: Relato De Caso Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 14, n. 36, jul./set. 2017, ISSN 2318-2083 (eletrônico) p. 297

HIDROCELE ABDOMINOESCROTAL GIGANTE EM LACTENTE - RELATO DE CASO GIANT SCROTAL ABDOMINO HYDROCELE IN INFANTS CASE REPORT 2. Dupuytren G. Lesons orales de clinique churgicale. Paris, France7 Baliere; 1839. p. 705. 3. Syme J. Abdominal hydrocel. BMJ 1861;2:139. 4. Bickle LW. Abdominal or bilocular hydrocele. BMJ 1919;2:13. 5. Saharia PC, Brunsther B, Abrams MW. Abdominoscrotal hydrocele. Case report and review of the literature. Z Kinderchir 1983;38:353 5 6. Nagar H, Kessler A. Abdominoscrotal hydrocele in infancy: a study of 15 cases. Pediatr Surg Int 1998;13:189-90. 7. Mohamed AA, Stockdate EJ, Varghese J, et al. Abdominoscrotal hydroceles: little place for conservation. Pediatr Surg Int 1998;13: 186-8. 8. Mohamed AA, Stockdate EJ, Varghese J, et al. Abdominoscrotal hydroceles: little place for conservation. Pediatr Surg Int 1998;13: 186-8. 9. Avolio L, Chiari G, Caputo MA, Bragheri R. Abdominoscrotal hydrocele in childhood: is it really a rare entity? Urology. 2000; 56:1047 9. 10. Klin B, Efrati Y, Mor A, Vinograd I. Unilateral hydroureteronephrosis caused by abdominoscrotal hydrocele. J Urol. 1992; 148:384 6 11. Krasna IH, Solomon M, Mezrich R. Unilateral leg edema caused by abdominoscrotal hydrocele: elegant diagnosis by MRI. J Pediatr Surg. 1992;27:1349 51 12. Chamberlain SA, Kirsch AJ, Thall EH, Emanuel ER, Hensle TW. Testicular dysmorphism associated with abdominoscrotal hydroceles during infancy. Urology. 1995;46:881 2 13. Yarram SG, Dipietro MA, Graziano K, Mychaliska GB, Strouse PJ. Bilateral giant abdominoscrotal hydroceles complicated by appendicitis. Pediatr Radiol. 2005;35:1267 70. 14. Cuervo JL, Ibarra H, Molina M (2009) Abdominoscrotal hydrocele: its particular characteristics. J Pediatr Surg 44:1766 1770 15. Wlochynski T, Wassermann J, Generowicz Z (1993) Abdominoscrotal hydrocele in childhood. J Pediatr Surg 28:248 250 16. Park J, Gioia K, Wasnick RJ (2009) Abdominoscrotal hydrocele in infancy with incorporated epididymal tissue. J Pediatr Urol. doi:10. 1016/j.jpurol.2009.06.008 17. abdominoscrotal hydrocele: a not so benign condition. J Urol 180:2611 2615 18. Kara, Taylan. Radiologic findings of a giant unilateral abdominoscrotal hydrocele associated with undescended testis. J Med Ultrasonics. 2013; 40:65 67 19. Ghosh A, McNally J (1997) Unusual presentation of bilateral abdominoscrotal hydrocele in a child. J Pediatr Surg 32:1743 1744 Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 14, n. 35, abr./jun. 2017, ISSN 2318-2083 (eletrônico) p. 298